William dormia tranquilamente ao meu lado enquanto eu acariciava seu cabelo, reparando pela primeira vez no quanto suas orelhas eram grandes e pontudas.
Admirei o seu corpo, vendo como sua barriga subia e descia suavemente enquanto ele respirava. Pousei minha mão em seu peito e senti seu coração bater num ritmo constante, fazendo minha boca salivar mais uma vez.
Ele não era exatamente bonito, sua beleza era selvagem, máscula e pouco comum, mas seu sangue era realmente bom e despertava minha fome ainda mais.
William abriu os olhos lentamente e franziu o cenho quando me viu. Ele se sentou na cama e levou a mão ao pescoço, onde eu o havia mordido na noite anterior.
- O que foi? - perguntei preocupada.
William me olhou confuso por um tempo antes de me responder.
- Por um momento pensei que havia sido um sonho... - ele falou em voz baixa - É melhor eu ir embora.
- Agora? Por quê? - eu quis saber.
William me encarou e eu pude ver certo medo em seu olhar, e também arrependimento.
- Eu não deveria... Nós não deveríamos...
Ergui as sobrancelhas, aguardando sua explicação.
- Eu preciso ir embora. - ele disse convicto, se levantando para pegar suas roupas do chão.
O dia já havia amanhecido e nós estávamos na minha casa.
Me sentei na cama e observei enquanto ele se vestia rapidamente, evitando olhar para mim.
Eu não estava entendendo qual era o problema dele. Depois de tudo o que havíamos feito, no riacho e na minha cama, ele agora agia como se eu o tivesse obrigado, ou algo parecido.
Mas se era isso o que ele queria, por mim não fazia diferença. Seria até melhor se ele me deixasse em paz.
...
Mais tarde eu fui até o quintal para ver o jardim.
Eu gostava de ver as flores e de cuidar delas, achava-as magnificas, assim como tudo naquele mundo enorme que eu antes desconhecia. Era muito interessante ver a forma como a natureza agia e reagia a certas coisas, isso me deixava curiosa e ao mesmo tempo admirada.
De repente eu ouvi o som de passos atrás de mim, mas não precisei me virar para saber quem era, pois reconheceria o cheiro dele em qualquer lugar.
William se aproximou devagar e parou a poucos passos de mim.
- Oi. - ele disse em voz baixa.
- O que você quer? - perguntei, ainda de costas.
- Nada. Eu só queria me desculpar por ter ido embora daquele jeito.
- Se desculpar? - perguntei confusa, ao me virar.
- É... Bom, eu tenho a impressão de que te deixei chateada.
- Ah, você tem? - debochei - Não se preocupe comigo, eu vou sobreviver.
William revirou os olhos e sorriu.
Ele parecia estranho, estava um pouco pálido, e havia alguma coisa errada, mas eu não sabia dizer o que era.
- Já que é assim... - ele disse - Eu posso te fazer um pedido?
- Depende... - respondi desconfiada - O que você quer?
- Quero que me morda de novo. - respondeu sério.
Me afastei, totalmente surpresa com o pedido dele.
- Isso pode ser perigoso. Eu posso matar você, sabia?
- Está preocupada comigo? - zombou ele com um meio sorriso.
Revirei os olhos mais uma vez.
Realmente não devia fazer diferença para mim se ele morreria ou não, mas por algum motivo eu o queria vivo, ao menos por um tempo.
William inclinou a cabeça, deixando o pescoço à mostra, e eu engoli em seco, me lembrando da fome que eu ainda sentia.
Me afastei um pouco e segurei sua mão, levando-a em direção à boca. Se eu ia fazer isso, então preferia fazer de maneira que não o machucasse tanto, mesmo sabendo que as feridas iriam se cicatrizar logo depois da mordida - o que sempre acontecia, e eu não sabia o porquê.
Encostei minha boca em seu pulso e percebi que ele ficou tenso. Engoli em seco mais uma vez e o mordi.
Percebi que daquela vez foi mais fácil, como se meus dentes estivessem mais afiados, e eu não precisei fazer muita força para perfurar a pele dele.
William soltou um gemido alto e apertou meu braço com sua mão livre, fechando seus olhos e inclinando a cabeça para trás, totalmente entregue a um prazer que por algum motivo eu o fazia sentir - fazia todos sentirem.
Eu não havia reparado muito na primeira vez que o mordi, mas havia algo de diferente no sangue dele, talvez por ele ser uma mutação.
Precisei reunir toda a minha força de vontade para me afastar antes de fazê-lo desmaiar.
Senti algo estranho acontecendo com o meu corpo, e me surpreendi ao olhar para minha mão e perceber que minhas unhas estavam mais encurvadas e com a língua senti que meus dentes estavam realmente mais afiados.
William olhou para mim com as sobrancelhas erguidas.
- O que aconteceu com a minha mão? - perguntei assustada.
- Acho que o meu DNA se misturou com o seu.
Não entendi nada.
- Isso é permanente?
- Acho que não.
Respirei fundo tentando pensar.
Talvez fosse apenas como quando eu mordia pessoas bêbadas e sentia tontura. Se fosse só por causa do sangue então se eu me alimentasse de outra pessoa minhas mãos voltariam ao normal, em teoria.
Olhei para William e percebi que, de certa forma, ele também estava diferente, mais vívido, apesar de ainda pálido.
Me perguntei quais seriam os efeitos da minha mordida nele, já que ele era o primeiro que eu havia deixado vivo.
William se aproximou mais e me puxou pela cintura.
- Acho que seria ótimo repetir a dose de ontem à noite, não acha?
Sorri de volta para ele e mordi o lábio em expectativa.
Eu tinha muitas perguntas em minha cabeça e muitas dúvidas sobre ele e o sobre eu mesma também, mas naquele momento eu me deixei levar pelos instintos, como fazia quase sempre, e guardei as perguntas para outro momento.
Se passaram três dias sem que William aparecesse de novo e eu aproveitei a sua ausência para voltar à minha rotina.Me aventurei em lugares um pouco mais distantes da minha casa e me alimentei de uma ou duas pessoas desafortunadas que encontrei.Com o passar desses dias minhas unhas, dentes e todos os outros resquícios do DNA de William sumiram e eu comecei até a sentir falta dele.Eu estava bem ciente
No fim acabei concordando em deixar William vivo até eu poder analisar melhor a situação.Talvez não fosse muito inteligente da minha parte, mas ele poderia ser a minha melhor chance de continuar livre. Eu poderia usá-lo e depois descarta-lo quando não precisasse mais dele.Me sentei em sua cama e encarei o chão, pensando em qual seria meu próximo passo.- Tem mais uma coisa que e
Acordei de manhã totalmente sozinha.Estranhei o frio da cama ao perceber que William não estava lá, mas notei um pedaço de papel deixado em cima do travesseiro."Volto logo." - era tudo o que dizia.Me levantei e tomei um banho rápido para me preparar. Provavelmente iríamos embora assim que ele voltasse. Nós continuamos a viagem de carro até escurecer, então William entrou numa estrada de terra e estacionou o carro entre as árvores de uma pequena mata, num lugar bem escondido, para podermos dormir um pouco.Não era muito seguro, mas naquele momento nenhum lugar era.William não queria chamar a atenção dos humanos ou da polícia, o que significava que teríamos de trocar de carro mais uma vez, evitar sermos vistos, e talvez até fazer algumas mudanças na aparência antes de andarmos em publicCapítulo 7
William acordou parecendo um zumbi. Ele estava tremendo e suando frio, e seus olhos estavam fundos.Comecei a ficar preocupada com ele.- Você esta bem? - perguntei mais uma vez ao vê-lo se sentar no sofá pesadamente.- Estou. - respondeu ele com a respiração pesada. - Só preciso descansar um pouco.Acenei com a cabeça mesmo sabendo que aquilo não era totalmente verdade.V-Seis deu um sorriso torto e se levantou indo em direção ao banheiro.- Onde você vai? - perguntei desconfiada.- Tomar um banho.Ela sorriu ainda mais e continuou andando.Bufei e cruzei os braços e decidi que eu também deveria ir. Havia dois banheiros na casa e eu precisava aproveitar que ela estava ocupada, pois não queria deixá-la sozinha com William, não quando ele estava tão debilitado.Entreguei a arma na mão dele e fu
Abri os olhos assustada.Eu não sabia onde estava, mas William estava deitado ao meu lado, dormindo.O sol brilhava lá fora, incomodando meu olhos, e eu me perguntei há quanto tempo eu estaria desmaiada.Assim que me sentei na cama senti uma ânsia horrível e corri para o banheiro, vomitando um líquido azul estranho que deixou um gosto amargo na minha boca.Lavei a boca com abundância de água, depois resolvi escovar os dentes para tirar aquele gosto horrível. Onde eu estava com a cabeça para beber aquela porcaria?Saí do banheiro e vi William se remexer na cama. Ele se virou e abriu os olhos, percebendo que eu não estava ali, e então se sentou e seus olhos encontraram os meus.Eu não sabia se continuava com raiva dele e o enchia de socos ou se fingia que não me importava.- Cinco... - ele sussurrou.Fiquei parada encar
Nossa viagem de carro não demorou tanto daquela vez. Logo nós entramos em uma cidade e passeamos por ela até encontrarmos um hospital, que era um prédio branco e azul com uma escada e uma rampa que levavam a uma única porta dupla.- Então... Qual é o plano? - perguntei.William baixou os olhos pensativo.- Teremos que entrar lá e... fingir estar doente.- Acho que será mais realista se um de nós realmente estiver doente. - comentou V-Seis ao olhar para mim. - ou machucada.Eu a encarei sorrindo.- Concordo. O que acha de quebrarmos a sua perna? Ou podemos arrancar a sua língua.Ela me lançou um olhar de raiva, mas não falou mais nada.- Ótimo. - resmungou William - Vamos apenas dizer que a V-Seis está doente e que é nossa filha. - decidiu ele - Entramos lá, vamos até a sala de raio-x e lá veremos
Saímos da cidade o mais rápido possível, pois precisávamos estar longe dali o quanto antes. Ainda estávamos com os rastreadores e não sabíamos se os GPG estavam nos seguindo ou não. Na verdade eu achava estranho que eles ainda não tivessem feito outra tentativa de nos capturar.Encontramos outro hotel no meio da estrada onde paramos pela primeira vez.Nós três entramos no quarto e só então eu reparei na sacola que William segurava na mão.- O que é isso? - perguntei.Ele olhou para a sacola e deu de ombros.- Apenas algumas coisas que peguei no hospital.Levantei as sobrancelhas para ele, esperando uma explicação melhor.- Peguei algumas faixas, algodão, álcool, seringas, anestesia, e algumas outras coisas, caso a gente precise. - ele disse jogando a sacola sobre a cama.Me sentei pesadamente sobre