Ferman Aksoy A noite no hospital parecia interminável. A explosão no escritório de Leyla ainda rodava na minha cabeça como um filme ruim. Eu estava sentado ao lado dela, observando-a respirar tranquilamente enquanto descansava. Apesar do susto e da situação em que nos encontramos, ela parecia milagrosamente ilesa. Mas eu sabia que aquilo estava longe de terminar. Meu celular vibrou no bolso do jaleco, tirando-me dos meus pensamentos. Olhei para a tela e vi o nome de Emir, meu irmão. Ele raramente ligava sem um motivo sério. Levantei-me devagar para não acordar Leyla e saí do quarto, fechando a porta atrás de mim. — Emir, fala rápido. Ainda estou no hospital com Leyla. A voz do meu irmão veio baixa e urgente. — Ferman, temos um problema... ou talvez uma solução. Meu coração apertou. — O que você quer dizer? Emir respirou fundo antes de continuar. — O pai da Leyla está com o cara que deixou o pacote na empresa dela. As palavras atingiram-me como um soco. — O quê? On
Leyla Aksoy A luz da manhã entrava pela janela do quarto do hospital, aquecendo suavemente minha pele. Pisquei algumas vezes, tentando me ajustar à claridade. Minha cabeça ainda estava pesada, como se os eventos do dia anterior fossem um sonho confuso. Mas a expressão preocupada no rosto de Ferman, que estava sentado ao meu lado segurando minha mão, me trouxe de volta à realidade. — Bom dia, meu amor — ele disse, a voz baixa e carregada de alívio ao perceber que eu estava acordada. — Bom dia... — minha voz saiu rouca, e ele imediatamente me ofereceu um copo d'água. Depois de alguns goles, me senti um pouco mais presente. Ele acariciou minha mão e, com um sorriso suave, disse: — Você está bem o suficiente para ir para casa. Vou cuidar de tudo. Concordei, sentindo uma mistura de cansaço e gratidão. Ferman nunca saíra do meu lado, e isso era reconfortante. Em pouco tempo, estávamos no carro, a caminho de sua casa, onde sua família nos esperava para o café da manhã. A casa e
Leyla Ylmaz Na manhã seguinte, acordei com o som distante de pássaros cantando. A luz suave do sol entrava pelas cortinas, mas minha mente estava longe da paz que aquele cenário tentava me oferecer. Ferman ainda dormia ao meu lado, sua respiração tranquila. Observei-o por um momento, sentindo o peso do amor que compartilhávamos, mas também o peso do que eu precisava fazer. Levantei-me com cuidado, para não acordá-lo, e me vesti. O reflexo no espelho me encarava com olhos determinados. Havia algo em meu peito que precisava ser dito, mesmo que doesse. Peguei minha bolsa e desci as escadas em silêncio. Minutos depois, eu estava no carro a caminho do cassino do Kemal. Não demorei muito para chegar. Alguns dos seus homens me lançaram um olhar surpreso, mas não disse nada quando passei direto em direção à sala dele. Bati na porta, mas não esperei resposta. Entrei com passos firmes e fechei a porta atrás de mim. Kemal estava sentado em sua cadeira de couro, com papéis espalhados pela mes
Leyla YlmazDepois de sair da sala de Kemal, caminhei pelo corredor, tentando manter a postura firme. O som dos meus passos era abafado pelo carpete, mas meu coração batia alto o suficiente para ecoar em meus ouvidos. Antes que eu alcançasse a porta da saída, um dos homens de Kemal, alto e com uma expressão séria, bloqueou meu caminho. — Senhorita Leyla, preciso que volte. O senhor Kemal quer falar com você. Olhei para ele com desgosto e respondi: — Eu não tenho mais nada para falar nem escutar, então saia da minha frente. Ele cruzou os braços, como se estivesse preparado para resistir. — Isso não será possível, senhorita. O seu pai me pediu que a levasse até ele. Cruzei os braços, encarando-o. — Ou o quê? Vai pegar essa sua arma e atirar em mim? — Provoquei, apontando para a arma que ele discretamente tentava esconder sob o paletó. — Como imaginei. Agora, saia da minha frente. Antes que ele pudesse responder, ouvi a voz de Kemal atrás de mim, grave e carregada de algo
Ferman AksoyCheguei ao cassino de Kemal com o estômago revirado. Já era irritante o suficiente saber que Leyla poderia estar ali sem me dizer nada, mas vê-la parada na porta, como se o mundo ao redor não existisse, fez algo dentro de mim explodir. Desci do carro e caminhei em sua direção, minha voz saindo mais ríspida do que eu pretendia. — Imaginei que estivesse aqui. Você quer me deixar louco, Leyla? Como vem até aqui sem me dizer nada? Ela me lançou um olhar indiferente, fingindo que nem me escutava. Um táxi se aproximava, e, sem hesitar, ela estendeu a mão para pará-lo. — Leyla! Estou falando com você! — gritei, mas ela já abria a porta do táxi. Antes que eu pudesse entrar também, ela fechou a porta com força e ordenou ao motorista que seguisse. Pisquei incrédulo por um segundo antes de correr para o meu carro. Liguei o motor e segui o táxi, minha irritação apenas crescendo a cada quilômetro percorrido. "Como ela ousa me ignorar assim?"pensei, o volante quase sendo e
Leyla Ylmaz Quando Ferman me soltou, por um instante pensei em afastá-lo, em reerguer a muralha que sempre mantive entre nós. Mas, em vez disso, fiz o que meu coração gritava há tempos. Segurei seu rosto entre as mãos e o beijei. Foi um beijo carregado de dor, desejo e todas as palavras que não consegui dizer antes. Quando nos separamos, seus olhos brilharam com uma intensidade que quase me fez recuar, mas eu não podia perder o foco agora. — Preciso ir até a sala da Eliza — disse, tentando recuperar o controle. Ele levantou, mas não me impediu. Apenas assentiu, observando-me sair com o mesmo olhar que sempre me desarmava. Ao entrar na sala de Eliza, ela levantou os olhos, surpresa, mas manteve sua habitual expressão desdenhosa. Fechei a porta atrás de mim e coloquei a pequena caixa sobre a mesa dela. — Não se preocupe, não é uma bomba. — Minha voz saiu fria, mas controlada. — Eu não sou o tipo de pessoa que tenta assassinar inocentes. E esse bebê que está no seu ventre é um
Ferman Aksoy Leyla. Sempre Leyla. A mulher era um enigma envolto em caos, e naquele dia, o caos parecia ter decidido se instalar no meu hospital. Desde a manhã, ela havia sido o tema recorrente na minha mente. E não por boas razões. As lembranças da nossa última discussão estavam frescas, cortantes. Eu tentava afastá-las enquanto analisava relatórios, mas a cada palavra que lia, sentia a irritação crescer como uma febre. —Ferman, estás sempre a complicar.— ela dizia, como se eu fosse o problema. Não importava que fosse ela a desafiar tudo, desde protocolos a bom senso, tinha nela como se fosse algo tão difícil e complicado se casar. O hospital estava cheio, mas não era só o movimento que me incomodava. Havia uma inquietação no ar, uma sensação de que algo estava para acontecer. Eu sabia reconhecer esses sinais, mesmo sem querer. Passei o dia com a cabeça cheia, tentando lidar com pacientes e ignorar o incômodo crescente que Leyla estava me causando com sua necessidade de não cas
Leyla Ylmaz Eu estava entre os bombeiros, ajudando os feridos a sair do prédio. As sirenes misturavam-se com gritos e o estalar das chamas, enquanto o cheiro de fumaça impregnava cada pedaço de ar. Nunca pensei que algo assim pudesse acontecer na minha empresa, e a culpa era como um peso nos meus ombros. — Mais um aqui!— gritei, apontando para uma mulher com queimaduras graves. Dois bombeiros correram para ajudá-la, e eu virei-me para procurar outro sobrevivente. O coração batia acelerado, mas mantinha-me focada. Foi então que o vi. Do outro lado do caos, a maca. Dois paramédicos carregavam alguém, e o mundo pareceu parar quando reconheci quem era. —Ferman! Não pensei. Larguei o que estava fazendo e corri até ele. — Não!— gritei, sentindo as pernas fraquejarem. Ele estava inconsciente, o rosto manchado de fuligem, o peito subindo e descendo de forma irregular. Atirei-me para o lado dele antes que o colocassem na ambulância. — Ele vai ficar bem, não vai?— perguntei aos