Leyla YlmazDepois de sair da sala de Kemal, caminhei pelo corredor, tentando manter a postura firme. O som dos meus passos era abafado pelo carpete, mas meu coração batia alto o suficiente para ecoar em meus ouvidos. Antes que eu alcançasse a porta da saída, um dos homens de Kemal, alto e com uma expressão séria, bloqueou meu caminho. — Senhorita Leyla, preciso que volte. O senhor Kemal quer falar com você. Olhei para ele com desgosto e respondi: — Eu não tenho mais nada para falar nem escutar, então saia da minha frente. Ele cruzou os braços, como se estivesse preparado para resistir. — Isso não será possível, senhorita. O seu pai me pediu que a levasse até ele. Cruzei os braços, encarando-o. — Ou o quê? Vai pegar essa sua arma e atirar em mim? — Provoquei, apontando para a arma que ele discretamente tentava esconder sob o paletó. — Como imaginei. Agora, saia da minha frente. Antes que ele pudesse responder, ouvi a voz de Kemal atrás de mim, grave e carregada de algo
Ferman AksoyCheguei ao cassino de Kemal com o estômago revirado. Já era irritante o suficiente saber que Leyla poderia estar ali sem me dizer nada, mas vê-la parada na porta, como se o mundo ao redor não existisse, fez algo dentro de mim explodir. Desci do carro e caminhei em sua direção, minha voz saindo mais ríspida do que eu pretendia. — Imaginei que estivesse aqui. Você quer me deixar louco, Leyla? Como vem até aqui sem me dizer nada? Ela me lançou um olhar indiferente, fingindo que nem me escutava. Um táxi se aproximava, e, sem hesitar, ela estendeu a mão para pará-lo. — Leyla! Estou falando com você! — gritei, mas ela já abria a porta do táxi. Antes que eu pudesse entrar também, ela fechou a porta com força e ordenou ao motorista que seguisse. Pisquei incrédulo por um segundo antes de correr para o meu carro. Liguei o motor e segui o táxi, minha irritação apenas crescendo a cada quilômetro percorrido. "Como ela ousa me ignorar assim?"pensei, o volante quase sendo e
Leyla Ylmaz Quando Ferman me soltou, por um instante pensei em afastá-lo, em reerguer a muralha que sempre mantive entre nós. Mas, em vez disso, fiz o que meu coração gritava há tempos. Segurei seu rosto entre as mãos e o beijei. Foi um beijo carregado de dor, desejo e todas as palavras que não consegui dizer antes. Quando nos separamos, seus olhos brilharam com uma intensidade que quase me fez recuar, mas eu não podia perder o foco agora. — Preciso ir até a sala da Eliza — disse, tentando recuperar o controle. Ele levantou, mas não me impediu. Apenas assentiu, observando-me sair com o mesmo olhar que sempre me desarmava. Ao entrar na sala de Eliza, ela levantou os olhos, surpresa, mas manteve sua habitual expressão desdenhosa. Fechei a porta atrás de mim e coloquei a pequena caixa sobre a mesa dela. — Não se preocupe, não é uma bomba. — Minha voz saiu fria, mas controlada. — Eu não sou o tipo de pessoa que tenta assassinar inocentes. E esse bebê que está no seu ventre é um
Ferman Aksoy Leyla. Sempre Leyla. A mulher era um enigma envolto em caos, e naquele dia, o caos parecia ter decidido se instalar no meu hospital. Desde a manhã, ela havia sido o tema recorrente na minha mente. E não por boas razões. As lembranças da nossa última discussão estavam frescas, cortantes. Eu tentava afastá-las enquanto analisava relatórios, mas a cada palavra que lia, sentia a irritação crescer como uma febre. —Ferman, estás sempre a complicar.— ela dizia, como se eu fosse o problema. Não importava que fosse ela a desafiar tudo, desde protocolos a bom senso, tinha nela como se fosse algo tão difícil e complicado se casar. O hospital estava cheio, mas não era só o movimento que me incomodava. Havia uma inquietação no ar, uma sensação de que algo estava para acontecer. Eu sabia reconhecer esses sinais, mesmo sem querer. Passei o dia com a cabeça cheia, tentando lidar com pacientes e ignorar o incômodo crescente que Leyla estava me causando com sua necessidade de não cas
Leyla Ylmaz Eu estava entre os bombeiros, ajudando os feridos a sair do prédio. As sirenes misturavam-se com gritos e o estalar das chamas, enquanto o cheiro de fumaça impregnava cada pedaço de ar. Nunca pensei que algo assim pudesse acontecer na minha empresa, e a culpa era como um peso nos meus ombros. — Mais um aqui!— gritei, apontando para uma mulher com queimaduras graves. Dois bombeiros correram para ajudá-la, e eu virei-me para procurar outro sobrevivente. O coração batia acelerado, mas mantinha-me focada. Foi então que o vi. Do outro lado do caos, a maca. Dois paramédicos carregavam alguém, e o mundo pareceu parar quando reconheci quem era. —Ferman! Não pensei. Larguei o que estava fazendo e corri até ele. — Não!— gritei, sentindo as pernas fraquejarem. Ele estava inconsciente, o rosto manchado de fuligem, o peito subindo e descendo de forma irregular. Atirei-me para o lado dele antes que o colocassem na ambulância. — Ele vai ficar bem, não vai?— perguntei aos
Leyla Aksoy Os dias seguintes foram um teste de paciência, mas também de fé. Ver Ferman tão vulnerável, dependente de máquinas e medicação, era um contraste com o homem confiante e teimoso que eu conhecia. Ele recuperava lentamente, cada dia uma pequena vitória. — Sabes, Leyla,— disse ele numa manhã, enquanto os enfermeiros ajustavam a cama. — Não gosto de depender de ninguém. Sentei-me ao lado dele, segurando a mão que já começava a recuperar a firmeza. — E achas que eu gosto de depender de ti?— provoquei, tentando aliviar o ambiente. — Mas estamos juntos para tudo e por tudo. Ele riu baixinho, mas os olhos dele estavam sérios. — Me salvou, não foi? — Os bombeiros que ajudaram.— Evitei o olhar dele, mas sabia que não conseguiria fugir por muito tempo. — Não estou a falar dos bombeiros.— A voz dele era mais firme. — Eu te ouvi Leyla. Mesmo quando estava inconsciente. Eu sabia que estava lá. As palavras dele fizeram-me engolir em seco. Não esperava que ele se le
Leyla Ylmaz A felicidade parecia ter alcançado seu ápice. Era como se todo o sofrimento e as batalhas tivessem ficado para trás. Mas, no fundo, sempre soube que a vida tinha uma maneira cruel de testar até mesmo os momentos mais doces. Estávamos no salão de festas do meu casamento, cercados de amigos e familiares, brindando ao futuro. Ferman estava ao meu lado, segurando minha mão como se nunca mais fosse soltar. Eu estava prestes a me levantar para cumprimentar uma amiga quando os oficiais entraram. A conversa no salão parou abruptamente, e todos os olhares se voltaram para eles. — Leyla Aksoy? — perguntou o mais alto, com uma expressão indecifrável. Levantei-me, ainda tentando processar o que estava acontecendo. — Sim, sou eu. — Precisamos conversar. É sobre o incêndio na sua empresa. Senti como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Ferman, ao meu lado, ficou imediatamente tenso. Ele deu um passo à frente, colocando-se quase como um escudo entre mim e os oficia
Leyla Ylmaz Aksoy A viagem até a delegacia foi um silêncio absoluto. Ferman segurava minha mão com força, como se temesse que eu fosse desaparecer a qualquer momento. Eu, por outro lado, estava tentando manter a cabeça erguida, mas a verdade era que meu coração estava um caos. Cada palavra dita pelos oficiais ecoava na minha mente como um sino insistente. Chegando lá, fomos levados para uma sala fria e iluminada por uma luz artificial que parecia drenar qualquer resquício de calor humano. O oficial que falara comigo no salão abriu uma pasta e colocou algumas folhas sobre a mesa. — Antes de começarmos, quero que saibam que temos motivos para acreditar que o incêndio foi premeditado e que o alvo era específico. Senti o corpo de Ferman enrijecer ao meu lado. Ele nunca fora um homem paciente, e o tom evasivo do oficial estava claramente testando seus limites. — Vamos direto ao ponto, então — ele disse, com os olhos firmes. — Quem foi o responsável? O oficial suspirou, como se