Sienna aguardou, com paciência, o momento em que seu irmão voltaria a falar.Não demorou muito, embora ele continuasse olhando para fora quando tornou a falar, mais como se estivesse conversando consigo mesmo:— Eu e Serena brigamos porque ela se cansou de que eu adiasse tanto meu retorno ao Brasil. Ela não entende as minhas obrigações — lamentou Stephen, entristecido por compreender a namorada melhor do que ela o compreendia.A irmã balançou a cabeça:— Não se pode culpá-la, não é mesmo? Se estivesse no lugar dela, e meu novo namorado viajasse, dando diferentes desculpas para adiar sua volta a cada telefonema, eu também ficaria aborrecida.Stephen a encarou, os olhos claros arregalados:— Eu não dei desculpas! Minhas razões foram todas reais, e bem sérias.Sienna revirou os olhos. Ah, homens!— Sim, a questão de Brasília, o seminário na Argentina, o ataque cardíaco do vovô, tudo bem.— Então vim passar as festas de fim de ano aqui para ficar com ele mais um pouco, já que os médicos p
Stephen decidiu se torturar um pouquinho.Não era novo fazer isso como exercício mental ultimamente.Relembrou cada reação de Serena. Ela havia ficado triste com a morte dos companheiros dele em Brasília, e surpresa de que Stephen precisasse partir direto para a Argentina sem voltar ao Rio.Foi compreensiva com a doença de seu avô, e chorosa quando se falaram no Natal, que ela passou com a família de Mariana. Ela não foi para a casa dos pais.Ele perguntou se não seria melhor ficar com a própria família, mas ela disse que não. Stephen não insistiu.A imagem da amada na tela, desfazendo-se em pranto, não saía de sua cabeça. Novamente teve aquela sensação estranha de que o humor de Serena oscilava de forma inquietante. Ela não era assim no início. Stephen ligou diariamente naquela semana. Combinaram que as ligações partiriam sempre dele, por conta do trabalho, dos horários... Durante toda a última semana do fim de ano, as conversas foram carinhosas, cheias de promessas e saudade.Muita
O telefone ─ o convencional, sobre a mesa ─ soou estridente e quase o fez pular da cadeira. Só as pesoas da empresa usavam aquele número. — Beckinsale — respondeu, já recomposto.— Stephen? Aqui é o Lúcio.Empertigou-se. Havia quanto tempo que não lhe falavam em português? E por que o amigo estava ligando? Seria algum problema na empresa? Ou, pensou esperançosamente, um recado de Serena? — Oi, Lúcio.O amigo hesitou:— Eh...Tudo bem?— Sim. E com você? — Stephen perguntou, cautelosamente.— Tudo certo. Descobri que tenho jeito com as palavras, e tenho auxiliado o setor de promoções — respondeu, com um ponta de orgulho na voz.— Sim, eu soube. Tem sido elogiado pelo pessoal daí.— Estou ligando da empresa. Aproveitando um minuto de folga antes do fim do expediente, sabe...— Ah.— Pois é.Os dois se mantiveram num silêncio desconfortável.— Quando você volta, Stephen? — Lúcio indagou de modo abrupto.— Serena o pediu para perguntar?— Não. Se ela souber que estou ligando pra vo
Fechou os olhos por alguns instantes, ainda com o aparelho junto ao ouvido. Havia escutado a voz de Serena, e ela parecia muito nervosa. Por que estaria tão tensa? Teria algo a esconder? O que, afinal, Felipe estava ansioso para contar-lhe? Sobre um novo namorado? Um velho amante? A mente trabalhava a todo vapor, imaginando sua garota aos beijos com outros homens.Não, não seria possível!Ela o amava!E ele a amava também. Pertenciam um ao outro e nada nem ninguém mudaria isso, nem mesmo uma briguinha tola iniciada por uma artista de temperamento quente. Não o permitiria. Teclou o número de sua secretária e a instruiu para que providenciasse uma passagem para o Rio de Janeiro, o mais rápido possível, e mandasse avisar aos outros sócios que estava de partida. No apartamento de Serena, bem longe dali, havia um estridente bate boca entre pessoas que habitualmente eram amigas e pacígficas:— Me deve um celular — retrucou Serena, olhando para seu telefone, espatifado no chão da sala.— N
Stephen havia esquecido completamente do Carnaval. Somente quando já estava dentro do avião, ao escutar involuntariamente a conversa animada de outros passageiros, Stephen se dera conta de que estava acontecendo o segundo dia da festa popular mais famosa do Brasil. Tinha sorte de que lhe arranjassem uma passagem em meio ao caos do país em alta temporada de turismo! Se tivesse tentado vir dois dias antes, talvez nem conseguisse, mas a festa já estava a meio caminho, e, afinal, ele vinha de Primeira Classe, o que já lhe garantia certo privilégio.Pelo que sabia, o Rio de Janeiro fervilhava nessa época.Serena já havia lhe dito que adorava Carnaval. Que ótimo!Ele tenso como as cordas de um violino recém afinado, e Serena, provavelmente relaxada, divertindo-se ao seguir os blocos de rua, usando pouca roupa e pulando com um monte de homens desinibidos a sua volta. Rilhou os dentes. Mais uma razão para deixar a bagagem em casa, tomar uma ducha rápida e seguir diretamente até o apartamento
Ela apenas observou Stephen, silenciosa.O CEO foi se aproximando dos presentes já abertos, pegando com cuidado cada peça de roupinha minúscula que o bebê havia ganho, fazendo com que parecessem ainda menores nas suas mãos grandes.Não havia dúvida que estava encantado com o que via. Seus olhos brilhavam como se tivessem estrelas dentro.A emoção era tão patente que Serena se sentiu ainda pior do que quando ele lhe lançou um olhar acusatório e magoado.Joana, Luíza e Mariana se aproximaram dele instantaneamente. Não demorou para que outras amigas também fizessem a mesma coisa, todas apressando-se em mostrar-lhe os presentes e aliviar a tensão no ar. Além da intenção óbvia de acalmar o ambiente, havia mais uma razão para tanta boa vontade, e Serena era bem consciente disso nesse momento: o nova-iorquino parecia haver passado mel em si mesmo. Estava tão atraente que era impossível não ajuntar um bando de mulheres em volta, tal qual abelhas, ansiosas por consolar o belo papai de expressã
Stephen desceu as escadas como um furacão, sem olhar nada a volta, xingando e chutando o vácuo, dando vazão, enfim, à fúria cega que quase o fizera surtar no apartamento de Serena.Como havia conseguido manter a voz em tom moderado era um mistério a ser estudado no futuro. Talvez o fato de que sua namorada podia gostar de plateia, mas ele não. Sua namorada? Não, não mais. Não podia simplesmente pegar a coisa no ponto em que deixara e recomeçar o relacionamento. Não com alguém que o havia traído da forma mais vil. Serena sabia que ele queria um filho, uma família. Como pôde esconder isso dele? Que cretina! E o pior, como ele podia ter errado tanto ao analisar o caráter dela? Sempre fora ótimo nisso, o que lhe trouxe muito sucesso no trabalho e na vida.Estaria fadado a se apaixonar por mulheres que não lhe davam valor algum? A ser tão desconsiderado, inspirar tão pouca confiança? Ter sido abandonado por Carly havia sido ruim, mas ser deixado por Serena fora 10 vezes pior, mesmo estando
Stephen se retesou. Ela estava apavorada? Por que não conversou com ele? Como podia ter imaginado que ele, logo ele, teria uma atitude perversa em relação à ela, e seu bebê? Ela não o conhecia mesmo!— Eu não sou como esse pateta alemão!— Ele também não é um pateta. Klaus é um cara legal, não sei o que deu nele para se comportar daquele jeito com a Roberta.— Hum... Legal como Hitler... — resmungou Stephen, ressentido.Os amigos riram novamente.— Ele tava muito pirado — asseverou Gui.— É! Esqueça isso, cara. O casal já até está junto novamente, de boa. — completou Lipe.— E eu, sem ter nada a ver com isso, me dei mal. A Serena é que estava “pirada”! Mina louca!— Reclamou Stephen, com o sotaque se sobressaindo ainda mais com a raiva que sentia.— Hormônios de gravidez, amigo, muito pior que qualquer TPM. As mulheres se comportam feito loucas — comentou Gui. — Quando minha esposa, ou melhor, minha ex-esposa engravidou, parecia um animal feroz a maior parte do tempo, querendo arrancar