Serena revirou os olhos. Era óbvio que não queria outro cara, mas estava com muita vontade de trocar aquele ali, diante dela. Pelado e com cara de cachorrinho triste.Serena meneou a cabeça, fitando os azulejos:— Meus pais ficariam arrasados, só para início de conversa. Eles nunca entenderiam... Não me surpreenderia se achassem que ainda sou virgem! — Ela sacudiu os braços, aflita: — A filha se tornar uma mãe solteira seria uma grande decepção... Stephen, tenho certeza que essa relação de pais e filhos é universal, e você entende isso! Não posso simplesmente um dia decidir ter um filho sozinha, porque meu namorado achou que estava na hora de ser pai!Stephen sentiu o ânimo voltar. Ela não temia ter um filho dele! No entanto, acharia que teria que fazer tudo sozinha, se isso acontecesse. O que era absurdo! Por que ela presumiria tal coisa?— O que está falando, meu amor? — Stephen virou-a para que ficasse de frente para ele: — Acha que se eu a engravidasse a deixaria sozinha para cria
Serena estava listando na cabeça que precisavam treinar mais Billie Eilish, Sia, Ariana Grande, Miley Cirrus, e Taylor Swift, que estavam sendo especialmente pedidas ultimamente. Talvez pudesse inserir um pouco de Reneé Rapp também. E mais um pouco de repertório nacional, era sempre bom ter cartas na manga...Enquanto pensava que roupa colocaria para ir ao ensaio na garagem de Gui, seu celular tocou. Sorriu, achando que fosse Stephen. Vendo a imagem de Mariana na tela do aparelho, deu de ombros e atendeu.— Oi, Mariana!— Consegui falar com a Roberta!— Ah, que bom! Ela está bem? Por que não foi ao São Balthazar no domingo?As amigas haviam ficado preocupadas com a falta de Roberta. Ninguém do grupo costumava faltar aos encontros no hospital a não ser por alguma razão muito forte.— O marido entrou com o divórcio.— Oh... Pensei que ainda tivessem chance... — Serena ficou triste. O casal vivia bem, apaixonado, até cerca de um ano atrás. Como as coisas haviam descambado para a separaçã
Stephen entrou no bar enquanto a banda, com seus membros sentados em banquinhos no palco, e os instrumentos abandonados ao fundo, terminava de cantar, à capella, “The scientist”, imediatamente emendando “Paradise”, do Coldplay. Um homem mexia nos fios próximos aos aparelhos. Aparentemente, haviam tido problemas com a eletricidade, e o grupo precisara improvisar para agradar a assistência.O público explodiu em aplausos e assovios ao fim da canção, e o silêncio voltou a reinar, enquanto aguardavam, em agradável expectativa, a próxima música. Quando Lucio começou a cantar “93 million miles”, logo sendo acompanhado por Gui, Diogo, Lipe, e finalmente, por Serena, as palmas entusiasmadas quase sobrepuseram-se às vozes dos cantores. Stephen sentiu a tranquilidade lhe inundar pouco a pouco, ao ouvir as harmoniosas vozes. O dia havia sido terrivelmente tenso. Não, tenso era pouco. Trágico era a palavra. Depois de cumprimentar alguns conhecidos e recostar-se no balcão, ele comentou com Jô:—
Stephen estava preocupado.Precisava viajar na manhã seguinte, em caráter de emergência, e apesar de Serena ter sido muito receptiva quanto a isso por telefone, ele mesmo não estava satisfeito com o arranjo. Afinal precisaria ficar cerca de uma semana fora, resolvendo uma grave situação na filial de Brasília, longe da mulher que amava.E a questão não era só profissional, mas também pessoal. Um acidente de carro havia colocado o chefe administrativo e o chefe de marketing em estado grave no hospital. Estavam no mesmo automóvel, voltando de uma reunião, quando foram abalroados por um caminhão desgovernado, que os fez capotar em alta velocidade.Corriam sério risco de não sobreviverem, e tanto a equipe da filial como a família dos acidentados, precisavam de apoio. E os dois homens eram amigos de Stephen. Como desejava pedir que Serena o acompanhasse na viagem! Mas depois do que Bill despejara venenosamente sobre ela, dizendo que Stephen tentaria de várias formas afastá-la de seus compr
Agora, olhando para trás, Stephen se apegava a todas as lembranças agradáveis, das pequeninas às grandes, e vasculhava a mente, de forma incessante, procurando todos os sinais de insatisfação que detectara na voz de Serena. A partir de qual momento exatamente...?Era um exercício masoquista, provavelmente, mas tentava entender se poderia ter evitado afinal a briga que pusera fim no relacionamento entre eles. Não que se preocupasse muito com “o fim”, pois sabia que assim que retornasse ao Rio, iria atrás de sua sereia e a recuperaria. Era persistente, seguro de si mesmo, e se conseguira ter sucesso na primeira vez, não seria um pequeno atrito à distância que os separaria em definitivo. Fazia quase cinco meses que estava fora do Brasil. E no mínimo, dois meses que não ouvia a voz melódica de Serena.Ela não atendia mais suas ligações depois da última discussão. Certamente os malditos identificadores de chamada o denunciavam, mesmo quando não usava seu número particular, informando ao re
Stephen James Beckinsale deu uma boa espiada na fachada do bar na outra calçada e parou um instante, estudando o ambiente. A maior parte do grupo formado pelo pessoal do escritório já atravessava a rua e se aglomerava na porta de entrada. As letras grandes e luminosas anunciavam o lugar como “O Encanto da Lua”, enquanto letras menores, piscando, faziam alarde de “música ao vivo todas as noites”. Stephen sorriu, imaginando o que haveria lá dentro, e, com seu português ainda carregado de sotaque nova-iorquino, indagou ao colega que estava mais próximo dele, o gerente administrativo Ethan Owerton:— É isto que os brasileiros chamam “pé sujo”, Ethan?Ethan soltou uma risada alta. Já vivia no Brasil há três anos, então estava mais do que familiarizado com gírias e ambientes locais, e divertiu-se com a expressão pejorativa na boca de seu amigo e conterrâneo. O novo diretor executivo, Stephen, havia chegado cerca de três meses antes, dos Estados Unidos, aonde se situava a matriz da White Cor
Os três homens atravessaram a rua para juntar-se ao restante do grupo, que havia entrado no bar. Assim que Davis empurrou a porta de vidro blindado, a música vinda de dentro envolveu Stephen até os ossos.O interior do bar não era muito iluminado, como seria mesmo de imaginar em um ambiente com música ao vivo, mas era bem amplo, limpo e charmoso. Havia muitas mesinhas espalhadas pelo local, todas ocupadas, e uma pista de dança próxima ao palco baixo, onde uma banda tocava ao fundo, sob pequeninas lâmpadas coloridas de neon. À frente dos músicos, sentada num banco alto, estava a cantora, com um foco de mínima intensidade sobre o microfone diante dela, criando um efeito de luz e sombra que remetia a uma boate antiga de subúrbio, dos anos trinta ou quarenta. Era perfeito para a melodia que estava sendo cantada: Smooth operator.Havia um pouco de neblina, efeito criado por gelo seco, e só faltava o aroma de cigarro para lançar a todos, por completo, no clima íntimo e ligeiramente transgre
— O que vocês querem ouvir agora? — ela indagou, simpática, com sua voz encantadora ressoando através do salão graças ao microfone.— Toxic! Toxic!Os gritos vinham, em sua maioria, das mesas ocupadas pelo grupo White Corp, e Stephen Beckinsale espantou-se ao descobrir que um dos que mais gritava o nome da música era Ethan. Sério que seu amigo gostava de Britney Spears? Teve que rir. Em poucos segundos todo o bar estava gritando a mesma coisa, e Serena havia apontado o microfone na direção dos clientes, divertindo-se com a algazarra, a mão livre descansando na cintura. Quando os gritos diminuíram, ela voltou a falar: — Ah! Toda semana vai ser isso? — Ela fingiu aborrecimento: — Vocês não enjoam de sempre escutarem a mesma música?— Não!!! — gritaram em resposta.Serena deu uma risada, e o som baixo e rouco que saiu da garganta da moça fez muitos homens no recinto estremecerem. O diretor executivo da White foi um deles.— Seja feita a vossa vontade! — ela respondeu.— Oh, boy! Steph