Quando Serena saiu do banheiro, parou em frente ao grande espelho que ficava no recuo estratégico próximo à porta. Retocou o batom e ajeitou o cabelo, tendo um sobressalto ao ver a imagem de Bill refletida. O advogado da White Corp estava apoiado na parede do corredor, bem na passagem. Olhava-a fixamente.— Oi de novo, Serena.— Oi — ela respondeu, fria. Guardou o batom na bolsa de mão e virou-se para deixar o local.— Sempre me deixou de queixo caído com suas performances, Serena.— Obrigada. — Como ela imaginava, ele a reconhecera desde o primeiro momento. Provavelmente viera cumprimentar Stephen exatamente por isso.Ao tentar passar, Bill barrou-lhe o caminho.— Quero deixar com você meu telefone. — A voz dele era baixa e sedutora.— Não vou precisar dos serviços de um advogado — Serena respondeu, sem sequer olhar a mão estendida dele.— Tem meu número privado no cartão. Talvez precise dele em breve.— Não, obrigada.— Não seja tola, Serena. Aprecio que não seja uma interesseira, m
Serena abriu os olhos bem devagar, sentindo a luz do dia infiltrar-se pela cortina. Lentamente teve a percepção de que estava de bruços, nua, com Stephen agarrado às suas costas, também nu, a perna esquerda pesando sobre a dela, a direita esticada ao longo da sua. Haviam feito amor à noite passada com uma doçura inesquecível.Cada vez ficava melhor, maior intimidade, mais integração e reconhecimento. Era tão perfeito, que mesmo agora, sem olhar Stephen, tinha consciência de que ele também havia despertado. A confirmação veio quando sentiu a excitação dele crescendo junto a ela, e os beijos cálidos que começaram a ser depositados em seus ombros.Stephen passou a língua provocativamente em toda a extensão da marca do biquíni de Serena, mordiscou-a, em alguns pontos suavemente, em outros com os dentes apertando mais, mantendo-se na linha tênue que separava dor e prazer. Ela gemia, contorcendo-se embaixo dele. Moveu o rosto, querendo beijá-lo.Suas bocas se encontraram, e logo Serena pe
Serena pulou da cama, pegando as roupas que havia deixado numa poltrona próxima à porta, e correu para o banheiro. Ele respirou fundo antes de se levantar e a seguir. O fato de Serena ter pego suas roupas para ir embora depois do banho significava que não estava nada satisfeita, mesmo após aquele ato sublime de amor. Será que não percebia o que haviam atingido juntos? Nem assim admitiria amá-lo?Serena estava debaixo do chuveiro, preparando-se para usar a duchinha.Ele estalou a língua:— Serena, sabe que isso não adianta... — Ah, pior é não fazer nada! — ela gritou, se sentindo impotente: — Merda, Stephen! Merda, merda!Stephen cruzou os braços, em pé, ao lado do box. Sua garganta estava seca, e teve dificuldade de falar:— Calma, Serena.Ela balançou a cabeça, furiosa:— Calma? Calma, Stephen? Sabe quantas mulheres ficam grávidas por causa de um descuido como o nosso? — Estava prestes a chorar, mas não o encarava. Mal podia consigo mesma... um bebê... como poderia...? Ela dev
Serena revirou os olhos. Era óbvio que não queria outro cara, mas estava com muita vontade de trocar aquele ali, diante dela. Pelado e com cara de cachorrinho triste.Serena meneou a cabeça, fitando os azulejos:— Meus pais ficariam arrasados, só para início de conversa. Eles nunca entenderiam... Não me surpreenderia se achassem que ainda sou virgem! — Ela sacudiu os braços, aflita: — A filha se tornar uma mãe solteira seria uma grande decepção... Stephen, tenho certeza que essa relação de pais e filhos é universal, e você entende isso! Não posso simplesmente um dia decidir ter um filho sozinha, porque meu namorado achou que estava na hora de ser pai!Stephen sentiu o ânimo voltar. Ela não temia ter um filho dele! No entanto, acharia que teria que fazer tudo sozinha, se isso acontecesse. O que era absurdo! Por que ela presumiria tal coisa?— O que está falando, meu amor? — Stephen virou-a para que ficasse de frente para ele: — Acha que se eu a engravidasse a deixaria sozinha para cria
Serena estava listando na cabeça que precisavam treinar mais Billie Eilish, Sia, Ariana Grande, Miley Cirrus, e Taylor Swift, que estavam sendo especialmente pedidas ultimamente. Talvez pudesse inserir um pouco de Reneé Rapp também. E mais um pouco de repertório nacional, era sempre bom ter cartas na manga...Enquanto pensava que roupa colocaria para ir ao ensaio na garagem de Gui, seu celular tocou. Sorriu, achando que fosse Stephen. Vendo a imagem de Mariana na tela do aparelho, deu de ombros e atendeu.— Oi, Mariana!— Consegui falar com a Roberta!— Ah, que bom! Ela está bem? Por que não foi ao São Balthazar no domingo?As amigas haviam ficado preocupadas com a falta de Roberta. Ninguém do grupo costumava faltar aos encontros no hospital a não ser por alguma razão muito forte.— O marido entrou com o divórcio.— Oh... Pensei que ainda tivessem chance... — Serena ficou triste. O casal vivia bem, apaixonado, até cerca de um ano atrás. Como as coisas haviam descambado para a separaçã
Stephen entrou no bar enquanto a banda, com seus membros sentados em banquinhos no palco, e os instrumentos abandonados ao fundo, terminava de cantar, à capella, “The scientist”, imediatamente emendando “Paradise”, do Coldplay. Um homem mexia nos fios próximos aos aparelhos. Aparentemente, haviam tido problemas com a eletricidade, e o grupo precisara improvisar para agradar a assistência.O público explodiu em aplausos e assovios ao fim da canção, e o silêncio voltou a reinar, enquanto aguardavam, em agradável expectativa, a próxima música. Quando Lucio começou a cantar “93 million miles”, logo sendo acompanhado por Gui, Diogo, Lipe, e finalmente, por Serena, as palmas entusiasmadas quase sobrepuseram-se às vozes dos cantores. Stephen sentiu a tranquilidade lhe inundar pouco a pouco, ao ouvir as harmoniosas vozes. O dia havia sido terrivelmente tenso. Não, tenso era pouco. Trágico era a palavra. Depois de cumprimentar alguns conhecidos e recostar-se no balcão, ele comentou com Jô:—
Stephen estava preocupado.Precisava viajar na manhã seguinte, em caráter de emergência, e apesar de Serena ter sido muito receptiva quanto a isso por telefone, ele mesmo não estava satisfeito com o arranjo. Afinal precisaria ficar cerca de uma semana fora, resolvendo uma grave situação na filial de Brasília, longe da mulher que amava.E a questão não era só profissional, mas também pessoal. Um acidente de carro havia colocado o chefe administrativo e o chefe de marketing em estado grave no hospital. Estavam no mesmo automóvel, voltando de uma reunião, quando foram abalroados por um caminhão desgovernado, que os fez capotar em alta velocidade.Corriam sério risco de não sobreviverem, e tanto a equipe da filial como a família dos acidentados, precisavam de apoio. E os dois homens eram amigos de Stephen. Como desejava pedir que Serena o acompanhasse na viagem! Mas depois do que Bill despejara venenosamente sobre ela, dizendo que Stephen tentaria de várias formas afastá-la de seus compr
Agora, olhando para trás, Stephen se apegava a todas as lembranças agradáveis, das pequeninas às grandes, e vasculhava a mente, de forma incessante, procurando todos os sinais de insatisfação que detectara na voz de Serena. A partir de qual momento exatamente...?Era um exercício masoquista, provavelmente, mas tentava entender se poderia ter evitado afinal a briga que pusera fim no relacionamento entre eles. Não que se preocupasse muito com “o fim”, pois sabia que assim que retornasse ao Rio, iria atrás de sua sereia e a recuperaria. Era persistente, seguro de si mesmo, e se conseguira ter sucesso na primeira vez, não seria um pequeno atrito à distância que os separaria em definitivo. Fazia quase cinco meses que estava fora do Brasil. E no mínimo, dois meses que não ouvia a voz melódica de Serena.Ela não atendia mais suas ligações depois da última discussão. Certamente os malditos identificadores de chamada o denunciavam, mesmo quando não usava seu número particular, informando ao re