Convencer Serena a aceitar que lhe comprasse um vestido bonito e caro não foi simples, nem fácil, mas a perspectiva de vê-la usando algo presenteado por ele, Stephen, sem carregar lembranças de um ex-namorado qualquer, fez sua insistência valer a pena.A vendedora mostrava um modelo exclusivo, como todos da loja:— Vermelho definitivamente é a sua cor!Serena fitou o vestido justo, de decote escandaloso e costas nuas, e conteve um olhar de censura à moça que o mostrava:— Você não entendeu. É um jantar de negócios, não posso ir vestida com algo tão chamativo. Pedi algo elegante.Stephen alisava o vestido exageradamente sedutor com um sorriso malicioso. Serena procurou ignorá-lo.Olhou direto nos olhos da funcionária da loja: — E sóbrio. — enfatizou Serena, para que não houvesse mais dúvida ou perda de tempo. Se não se apressassem, o horário ficaria apertado, e não queria atrapalhar Stephen.A vendedora abriu a boca para defender o vestido, mas então o observou melhor e assentiu:— Est
Serena apoiou o peso do corpo sobre o pé esquerdo, já começando a olhar discretamente em volta, procurando um lugar para se sentar. O sapato alto não machucava, mas ficar parada muito tempo cansava, ainda mais quando a conversa a que era obrigada ouvir não lhe era muito interessante. Os assuntos em pauta não variavam: negociatas de empresas líderes no mercado de comunicações, aquisições, parcerias, os valores de suas ações na bolsa. Embora todos os presentes fossem amáveis, no geral muito mais agradáveis do que imaginava que pudessem ser, ainda assim estava ficando entediada. O jantar havia transcorrido bem, agora estavam no momento “coquetel de confraternização e troca de informações úteis”, como Serena observou, ironicamente.Assim que o representante de uma grande emissora de tv afastou-se deles, empolgado com a parceria recém efetuada entre sua empresa e a White, Stephen voltou-se para Serena, com um sorriso malandro no rosto:— Em breve poderemos ir embora, e você não morrerá de
Quando Serena saiu do banheiro, parou em frente ao grande espelho que ficava no recuo estratégico próximo à porta. Retocou o batom e ajeitou o cabelo, tendo um sobressalto ao ver a imagem de Bill refletida. O advogado da White Corp estava apoiado na parede do corredor, bem na passagem. Olhava-a fixamente.— Oi de novo, Serena.— Oi — ela respondeu, fria. Guardou o batom na bolsa de mão e virou-se para deixar o local.— Sempre me deixou de queixo caído com suas performances, Serena.— Obrigada. — Como ela imaginava, ele a reconhecera desde o primeiro momento. Provavelmente viera cumprimentar Stephen exatamente por isso.Ao tentar passar, Bill barrou-lhe o caminho.— Quero deixar com você meu telefone. — A voz dele era baixa e sedutora.— Não vou precisar dos serviços de um advogado — Serena respondeu, sem sequer olhar a mão estendida dele.— Tem meu número privado no cartão. Talvez precise dele em breve.— Não, obrigada.— Não seja tola, Serena. Aprecio que não seja uma interesseira, m
Serena abriu os olhos bem devagar, sentindo a luz do dia infiltrar-se pela cortina. Lentamente teve a percepção de que estava de bruços, nua, com Stephen agarrado às suas costas, também nu, a perna esquerda pesando sobre a dela, a direita esticada ao longo da sua. Haviam feito amor à noite passada com uma doçura inesquecível.Cada vez ficava melhor, maior intimidade, mais integração e reconhecimento. Era tão perfeito, que mesmo agora, sem olhar Stephen, tinha consciência de que ele também havia despertado. A confirmação veio quando sentiu a excitação dele crescendo junto a ela, e os beijos cálidos que começaram a ser depositados em seus ombros.Stephen passou a língua provocativamente em toda a extensão da marca do biquíni de Serena, mordiscou-a, em alguns pontos suavemente, em outros com os dentes apertando mais, mantendo-se na linha tênue que separava dor e prazer. Ela gemia, contorcendo-se embaixo dele. Moveu o rosto, querendo beijá-lo.Suas bocas se encontraram, e logo Serena pe
Serena pulou da cama, pegando as roupas que havia deixado numa poltrona próxima à porta, e correu para o banheiro. Ele respirou fundo antes de se levantar e a seguir. O fato de Serena ter pego suas roupas para ir embora depois do banho significava que não estava nada satisfeita, mesmo após aquele ato sublime de amor. Será que não percebia o que haviam atingido juntos? Nem assim admitiria amá-lo?Serena estava debaixo do chuveiro, preparando-se para usar a duchinha.Ele estalou a língua:— Serena, sabe que isso não adianta... — Ah, pior é não fazer nada! — ela gritou, se sentindo impotente: — Merda, Stephen! Merda, merda!Stephen cruzou os braços, em pé, ao lado do box. Sua garganta estava seca, e teve dificuldade de falar:— Calma, Serena.Ela balançou a cabeça, furiosa:— Calma? Calma, Stephen? Sabe quantas mulheres ficam grávidas por causa de um descuido como o nosso? — Estava prestes a chorar, mas não o encarava. Mal podia consigo mesma... um bebê... como poderia...? Ela dev
Serena revirou os olhos. Era óbvio que não queria outro cara, mas estava com muita vontade de trocar aquele ali, diante dela. Pelado e com cara de cachorrinho triste.Serena meneou a cabeça, fitando os azulejos:— Meus pais ficariam arrasados, só para início de conversa. Eles nunca entenderiam... Não me surpreenderia se achassem que ainda sou virgem! — Ela sacudiu os braços, aflita: — A filha se tornar uma mãe solteira seria uma grande decepção... Stephen, tenho certeza que essa relação de pais e filhos é universal, e você entende isso! Não posso simplesmente um dia decidir ter um filho sozinha, porque meu namorado achou que estava na hora de ser pai!Stephen sentiu o ânimo voltar. Ela não temia ter um filho dele! No entanto, acharia que teria que fazer tudo sozinha, se isso acontecesse. O que era absurdo! Por que ela presumiria tal coisa?— O que está falando, meu amor? — Stephen virou-a para que ficasse de frente para ele: — Acha que se eu a engravidasse a deixaria sozinha para cria
Serena estava listando na cabeça que precisavam treinar mais Billie Eilish, Sia, Ariana Grande, Miley Cirrus, e Taylor Swift, que estavam sendo especialmente pedidas ultimamente. Talvez pudesse inserir um pouco de Reneé Rapp também. E mais um pouco de repertório nacional, era sempre bom ter cartas na manga...Enquanto pensava que roupa colocaria para ir ao ensaio na garagem de Gui, seu celular tocou. Sorriu, achando que fosse Stephen. Vendo a imagem de Mariana na tela do aparelho, deu de ombros e atendeu.— Oi, Mariana!— Consegui falar com a Roberta!— Ah, que bom! Ela está bem? Por que não foi ao São Balthazar no domingo?As amigas haviam ficado preocupadas com a falta de Roberta. Ninguém do grupo costumava faltar aos encontros no hospital a não ser por alguma razão muito forte.— O marido entrou com o divórcio.— Oh... Pensei que ainda tivessem chance... — Serena ficou triste. O casal vivia bem, apaixonado, até cerca de um ano atrás. Como as coisas haviam descambado para a separaçã
Stephen entrou no bar enquanto a banda, com seus membros sentados em banquinhos no palco, e os instrumentos abandonados ao fundo, terminava de cantar, à capella, “The scientist”, imediatamente emendando “Paradise”, do Coldplay. Um homem mexia nos fios próximos aos aparelhos. Aparentemente, haviam tido problemas com a eletricidade, e o grupo precisara improvisar para agradar a assistência.O público explodiu em aplausos e assovios ao fim da canção, e o silêncio voltou a reinar, enquanto aguardavam, em agradável expectativa, a próxima música. Quando Lucio começou a cantar “93 million miles”, logo sendo acompanhado por Gui, Diogo, Lipe, e finalmente, por Serena, as palmas entusiasmadas quase sobrepuseram-se às vozes dos cantores. Stephen sentiu a tranquilidade lhe inundar pouco a pouco, ao ouvir as harmoniosas vozes. O dia havia sido terrivelmente tenso. Não, tenso era pouco. Trágico era a palavra. Depois de cumprimentar alguns conhecidos e recostar-se no balcão, ele comentou com Jô:—