Serena despertou lentamente, com a familiar dificuldade que tinha ao obrigar-se a levantar cedo todos os domingos, depois de uma noite longa de trabalho, e ainda com o agravante que adentrara a madrugada conversando com Stephen, e deixando-se enredar em seu charme. Não sabia dizer quando adormecera, mas provavelmente havia sido logo depois que ele começara a acariciar seus cabelos.Até ali se lembrava, do aconchego de estar mais uma vez enroscada com ele na cama improvisada na sala, tão perto que quase podia contar suas pestanas douradas, do perfume delicioso e másculo dele, e daquele carinho relaxante. Sorriu, espreguiçando-se. Só então percebeu que Stephen estava com um braço sobre o corpo dela, com a mão, grande e bonita, sobre seu seio. Tentou movimentar-se com cuidado, para levantar-se sem precisar despertá-lo.— Aonde você vai? — indagou Stephen, quase num resmungo, abrindo um olho. Percebendo onde estava sua mão, escorregou-a rapidamente para baixo: — Ops, desculpe... A mão d
Stephen observava, fascinado, as três donas da casa se apertarem na cozinha, rindo e brincando, enquanto aprontavam a feijoada e seus acompanhamentos, conseguindo efetuar o milagre supremo de não atrapalharem umas as outras ao se movimentarem no espaço exíguo. Elas não haviam permitido que ele ajudasse, pedindo apenas que sentasse e relaxasse, com um copo de caipirinha na mão, feita por Luíza. Claro que estar entre três mulheres bonitas, cozinhando para ele, e se desfazendo em agrados, fazia-lhe pensar um pouco em como a vida de um sheik em seu harém devia ser ma—ra—vi—lho—sa. Teve o bom senso de não expressar o pensamento em voz alta, para sua própria segurança. Afinal havia facas afiadas na cozinha, então apenas sorriu consigo mesmo.A bebida era boa, a companhia melhor ainda. Sentia-se como se estivesse entre amigos de longa data. Era estranho, e ao mesmo tempo, muito natural. Apaixonara-se por Serena, e quase tão instantaneamente quanto, pelas melhores amigas dela. Evidentemente n
Serena observava Stephen à mesa, como fizera desde cedo. Na maior parte do tempo de modo discreto, algumas vezes bem diretamente. Era complicado apenas quantificar o tempo que o conhecia. Havia só dois dias, porém muitas e muitas horas juntos de conversa, de riso, de silêncio e até de sono. Não podia negar que criaram um elo, e que o elo de alguma forma se estendera aos amigos dela. Luíza, Jô, e Lipe agora, adotaram Stephen sem reservas, como se ele fosse um velho colega da escola, tratando-o com aquele tipo de camaradagem que sempre ressurge quando reencontramos um antigo companheiro de farras, seja qual tipo de farra for, escolar, adolescente, adulta. O homem tinha magnetismo, não se podia discutir quanto a isso. Se fosse um cantor, arrastaria legiões atrás dele, se fosse político, ah, o céu seria o limite! Suspeitava, no entanto, que ele nunca teria anseios tão grandiosos. Apesar da privilegiada posição financeira que alcançara — ele havia contado que viera de uma família de posse
— Você está mesmo bem? — indagou Stephen, enquanto dirigia, olhando Serena rapidamente.— Já perguntou isso, sei lá, umas dez vezes!— Por que me importo! Estava pálida quando levantou da mesa, ficou horas tomando banho, e quando saiu de dentro do banheiro, estava com cara de doente! Horas tomando banho e cara de doente! Francamente! Stephen era um exagerado. Ela bufou:— Ah, obrigada!Ele lhe concedeu um sorriso magnânimo:— Mesmo com cara abatida você continua gata. Só acho que se não está bem, não deveria forçar. — Sua mão direita deixou o volante, e repousou sobre a perna de Serena, a ponta dos dedos roçando languidamente na área que a saia não cobria.— Disse o rapaz que não força a barra para conseguir o que quer... — respondeu, áspera, observando os dedos dele moverem-se lentamente sobre ela, subindo na direção da virilha.— Hum, seu humor estava melhor de manhã. — ele pressionou os dedos sobre a pele dela.— Certo, então vou repetir: foi um mau estar passageiro, devido ao can
Stephen seguiu ao lado de Serena, contendo-se para não sorrir ostensivamente, e não fazer mais nenhum comentário engraçadinho. Estava satisfeito porque ela não insistira em que ele devia ir embora, sinal que o estava aceitando. Feliz com sua reação calorosa ao beijo, confirmação de que o desejava. Sabia que havia errado ao pôr a mão entre as pernas dela, que se antecipara, mas simplesmente não aguentou de curiosidade para saber se ela ficava tão excitada quanto ele quando estavam juntos, e mais ainda, se beijando. Só queria ver se ela estava úmida, nada demais. Que mal havia nisso?Infelizmente ela não o deixara conferir, e ele estava tão perto de chegar lá... Serena estava de olhos fechados, toda lânguida, e de repente: “No, boy, keep calm!” Ah! Tinha um auto-controle dos diabos, aquela mulher. — E trate de tirar esse sorrisinho depravado da boca!— Depravado? — ele repetiu, numa mistura cômica de surpresa e indignação: — Me??Stephen parou um instante, pensando sobre as palavras
Stephen concordou, engolindo em seco, e entendendo porque a moça estava tão concentrada antes de entrar na enfermaria. Esse era um dos trabalhos que Serena fazia regularmente? Meu Deus, isso não era nada fácil! Uma enfermeira forte, com cara de diretora de escola, os cumprimentou assim que entraram:— Mariana, trouxe o maridão hoje?Mariana riu.— Oh, não. O Ângelo precisa ficar com as crianças para que eu venha, Vanessa. Esse é Stephen, namorado da Serena.— Hum, a Serena tem bom gosto... — Sorriu para ele.Stephen apenas devolveu o sorriso. Depois que a enfermeira se afastou, inclinou-se um pouco na direção de Mariana, sentindo que com ela podia ser bem franco, pois exalava compreensão e bondade:— Na verdade, ainda estou tentando ser namorado da Serena — explicou Stephen, em voz baixa — e ela está um pouco relutante.Mariana não expressou qualquer sinal de questionamento em seus semblante. — Serena nunca trouxe nenhum rapaz à Casa, então você tem alto valor para ela. Creio que va
Stephen respirou fundo. Estava surpreso em como aquele fim de semana se mostrara produtivo e transformador. Antes achava sua nova vida, na América do sul, monótona, e previsível, mas agora não. Tudo graças a Serena.Que coisa! Estava mesmo apaixonado, além de cheio de desejo e admiração. Precisava montar uma boa estratégia para que Serena também se apaixonasse e se entregasse por inteiro, e bem rápido, antes que ele endoidasse de vez com aquele estado de ansiedade e excitação, como um rapazinho que nunca tivera namorada antes. ****Serena não conseguia afastar de sua mente a imagem de Stephen sentado no auditório da Casa São Baltazar, olhando-a num misto de carinho, admiração e desejo. O que se passava exatamente na cabeça dele? Mesmo agora, horas depois do americano tê-la deixado em casa, e já há algum tempo sentada em seu banquinho no palco do “Encanto da Lua”, ainda não pudera afastar seus pensamentos da presença marcante de Stephen. Era a noite de músicas românticas no bar, at
Agradeceu intimamente que seu trabalho estivesse acabando por hoje. Cantou “Eu te devoro”, e pediu, como tradicionalmente fazia, a sugestão para última canção da noite.Stephen gritou “I’m yours”, e ela não pode deixar de rir da rapidez da resposta, e da potência de sua voz sobre a de todos os outros do bar.Voltou-se aos rapazes da banda e pediu:— Devon Barley, pessoal.E quando ela soltou sua bela voz revendo mentalmente toda a letra, como em uma tradução simultânea, entendeu a mensagem. Dizia para abrir a mente, abrir seus planos já que é livre, olhar seu coração e ver que tem amor, amor, amor... (look into your heart, and you”ll find love, love, love...)Poderia de fato pôr suas inseguranças de lado por aquele homem? Por uma nova tentativa de romance?Pouco depois estava na porta de sua casa sentada no confortável banco da Pajero de Stephen. Joana e Luíza, que haviam aproveitado a carona, já tinham saltado do carro e entrado no prédio, mas o casal ainda queria usufruir de um