Como se sentiu a esse respeito? Ela pensou um pouco a respeito, então respondeu:— Quando eles casaram? Foi esquisito, mas não fiquei triste, sinceramente. E já voltamos a nos falar, eu os vejo quando vou visitar meus pais. São felizes e já tem um filho.Stephen ficou aliviado, mas não permitiu que sua satisfação fosse demonstrada. Anos a fio trabalhando com empresários calculistas e sem coração o haviam treinado bem para mascarar seus sentimentos e assim fazer jogadas eficientes no campo financeiro. E e em outros campos também.— Voltou a namorar... ahn...firme, depois desse tal Alberto?A pergunta foi feita em tom falsamente incente. Naturalmente ele queria saber mais sobre Serena, sobre seu passado, e sobre o coração dela. — Tive mais dois ou três namoros, desastrosos. E finalmente na última tentativa, pior que as outras, vi que definitivamente não sou boa para analisar o caráter das pessoas. — Serena olhou Stephen fixamente.— Então por causa de algumas escolhas ruins está pens
Serena despertou lentamente, com a familiar dificuldade que tinha ao obrigar-se a levantar cedo todos os domingos, depois de uma noite longa de trabalho, e ainda com o agravante que adentrara a madrugada conversando com Stephen, e deixando-se enredar em seu charme. Não sabia dizer quando adormecera, mas provavelmente havia sido logo depois que ele começara a acariciar seus cabelos.Até ali se lembrava, do aconchego de estar mais uma vez enroscada com ele na cama improvisada na sala, tão perto que quase podia contar suas pestanas douradas, do perfume delicioso e másculo dele, e daquele carinho relaxante. Sorriu, espreguiçando-se. Só então percebeu que Stephen estava com um braço sobre o corpo dela, com a mão, grande e bonita, sobre seu seio. Tentou movimentar-se com cuidado, para levantar-se sem precisar despertá-lo.— Aonde você vai? — indagou Stephen, quase num resmungo, abrindo um olho. Percebendo onde estava sua mão, escorregou-a rapidamente para baixo: — Ops, desculpe... A mão d
Stephen James Beckinsale deu uma boa espiada na fachada do bar na outra calçada e parou um instante, estudando o ambiente. A maior parte do grupo formado pelo pessoal do escritório já atravessava a rua e se aglomerava na porta de entrada. As letras grandes e luminosas anunciavam o lugar como “O Encanto da Lua”, enquanto letras menores, piscando, faziam alarde de “música ao vivo todas as noites”. Stephen sorriu, imaginando o que haveria lá dentro, e, com seu português ainda carregado de sotaque nova-iorquino, indagou ao colega que estava mais próximo dele, o gerente administrativo Ethan Owerton:— É isto que os brasileiros chamam “pé sujo”, Ethan?Ethan soltou uma risada alta. Já vivia no Brasil há três anos, então estava mais do que familiarizado com gírias e ambientes locais, e divertiu-se com a expressão pejorativa na boca de seu amigo e conterrâneo. O novo diretor executivo, Stephen, havia chegado cerca de três meses antes, dos Estados Unidos, aonde se situava a matriz da White Cor
Os três homens atravessaram a rua para juntar-se ao restante do grupo, que havia entrado no bar. Assim que Davis empurrou a porta de vidro blindado, a música vinda de dentro envolveu Stephen até os ossos.O interior do bar não era muito iluminado, como seria mesmo de imaginar em um ambiente com música ao vivo, mas era bem amplo, limpo e charmoso. Havia muitas mesinhas espalhadas pelo local, todas ocupadas, e uma pista de dança próxima ao palco baixo, onde uma banda tocava ao fundo, sob pequeninas lâmpadas coloridas de neon. À frente dos músicos, sentada num banco alto, estava a cantora, com um foco de mínima intensidade sobre o microfone diante dela, criando um efeito de luz e sombra que remetia a uma boate antiga de subúrbio, dos anos trinta ou quarenta. Era perfeito para a melodia que estava sendo cantada: Smooth operator.Havia um pouco de neblina, efeito criado por gelo seco, e só faltava o aroma de cigarro para lançar a todos, por completo, no clima íntimo e ligeiramente transgre
— O que vocês querem ouvir agora? — ela indagou, simpática, com sua voz encantadora ressoando através do salão graças ao microfone.— Toxic! Toxic!Os gritos vinham, em sua maioria, das mesas ocupadas pelo grupo White Corp, e Stephen Beckinsale espantou-se ao descobrir que um dos que mais gritava o nome da música era Ethan. Sério que seu amigo gostava de Britney Spears? Teve que rir. Em poucos segundos todo o bar estava gritando a mesma coisa, e Serena havia apontado o microfone na direção dos clientes, divertindo-se com a algazarra, a mão livre descansando na cintura. Quando os gritos diminuíram, ela voltou a falar: — Ah! Toda semana vai ser isso? — Ela fingiu aborrecimento: — Vocês não enjoam de sempre escutarem a mesma música?— Não!!! — gritaram em resposta.Serena deu uma risada, e o som baixo e rouco que saiu da garganta da moça fez muitos homens no recinto estremecerem. O diretor executivo da White foi um deles.— Seja feita a vossa vontade! — ela respondeu.— Oh, boy! Steph
Brincar com os meninos mais ainda? Stephen indagou-se, assustado. Mais um pouco desse tipo de brincadeira e a rapaziada ia sair do local com as calças vergonhosamente úmidas e pegajosas!Mas Serena realmente queria dizer “brincar”, e então começou a cantar “Single ladies”, ao mesmo tempo em que fazia subir ao palco duas jovens, de improviso, para imitar a coreografia de Beyoncé, principalmente no momento em que repetia o refrão“ Then you should have put a ring on it “(Então deveria ter colocado um anel nisso), indicando o dedo que deveria ter recebido uma aliança. As moças dançavam jogando os cabelos de um lado para o outro, cheias de energia, e os músicos da banda faziam um coro bem humorado.Stephen riu e relaxou, voltando a sentar-se para beber sua cerveja. Juliana, a telefonista, pôs um copo na frente de Stephen:— Chefe, toma conta pra mim? — pediu e saiu correndo para perto do palco, querendo participar da brincadeira dançante.Davis riu da expressão surpresa de Stephen.— Fui p
Stephen havia se remexido, irrequieto, quando viu Serena debruçar-se sobre o teclado do seu companheiro de trabalho, favorecendo aos espectadores atentos com uma boa parcela de seus atributos posteriores, arredondados e convidativos, mas quando ela se sentou e começou a cantarolar A-ha com tanta suavidade, aí sim sentiu sua imaginação de fato voar. Fantasiou fazer amor com aquela sereia à beira mar, quando o entardecer e as gaivotas enfeitavam o céu, e o calor era suficiente para deixá-los ainda mais dispostos para um sexo criativo e desinibido.O olhar dela subitamente vindo pairar sobre ele foi um prêmio à parte. Teve vontade de levantar e ir ao seu encontro, tirar-lhe do palco e levá-la imediatamente ao seu apartamento para se amarem a noite inteira. Que mulher tentadora! My God!Pelo que conhecia de cantores de boate — e aquele bar parecia uma — Serena estava desacelerando o público para fazer uma pausa ou encerrar seu trabalho por hoje, então ele manteve-se mais atento ainda aos
Serena saiu do banheiro de senhoras já sentindo-se melhor, após lavar o rosto, molhar os pulsos e prender os cabelos. Caramba, sentia-se quente, muito quente. E não era por causa da dança, e nem porque o local estava abafado e cheio, nada disso. Ela sabia muito bem qual a razão de estar afogueada, e era aquele deus louro sentado a um canto do bar. Mas não se deixaria abalar por isso, beberia alguma coisa e voltaria ao palco para finalizar sua apresentação. Mal alcançou o corredor e foi abordada por Francisco. Deu um pulo para trás, de susto.— Chico! Quase me mata do coração!— Desculpe. Queria falar com você, gata. Você está me evitando a semana toda!Serena apressou o passo para sair logo do corredor apertado, sendo seguida de perto pelo colega de trabalho. Tudo o que ela menos queria agora era lidar com Francisco, ou Chico — como todos costumavam chamá-lo — um dos segurança-faz-tudo do bar, com quem mantivera um relacionamento amizade-caso. Ficaram juntos algumas vezes, numa época