“Para onde você está indo, Seraphina?” minha voz ecoa no amplo salão, carregada de desconfiança.
Seraphina está à porta, uma mão repousando suavemente no batente enquanto a luz da manhã derrama sobre sua figura. O silêncio que compartilhou comigo durante o café da manhã pesa no ar, um abismo entre nós.
Esta foi a primeira noite em cinco anos que não compartilhamos o mesmo quarto. A separação física parecia inevitável depois da nossa última discussão, uma rixa que carregava mais do que palavras amargas. O silêncio no castelo, quebrado apenas pelo ocasional tilintar de talheres ou o sussurro de criados distantes, não era mais confortável.
Após a discu
“Me diga, Caelum... Assim que essa humana despertar, você terá a ousadia de levá-la ao castelo?” A voz de Seraphina cortou o ar como um chicote, seu tom carregado de ciúmes e raiva, duas emoções que raramente vi nela de forma tão explícita. Sua postura era rígida, quase desafiadora, mas eu podia perceber, nas pequenas inflexões de sua voz e no brilho vacilante de seus olhos dourados, que havia algo mais por trás daquela frieza. “Começará a dividir a cama com ela?”Meu olhar se fixou nela, e por um momento, tudo o que vi foi o lampejo de insegurança que cruzou o rosto de Seraphina. Um breve momento de vulnerabilidade, logo abafado pelo seu exterior gelado.Nesse momento me dei conta de algo que até então não havia parado p
Eu desabo na poltrona no quarto de hospital da Aria, exausto. O cansaço físico de dias sem dormir adequadamente começa a pesar em meus ombros, mas o fardo emocional é ainda mais esmagador. A poltrona é desconfortável, dura, mas agora não faz diferença. O peso das responsabilidades, das dúvidas e da crescente tensão com Seraphina estão sobrecarregando cada parte de mim. O quarto ao redor é silencioso, exceto pelo leve zumbido dos aparelhos médicos e o som rítmico, mas cada vez mais forte, do coração de Aria batendo no monitor. Essa batida constante traz uma sensação de alívio que aquece meu próprio coração.Minha mente está tumultuada pelos últimos relatos de Asher, mas por agora, eu tento me focar apenas em Aria. Sua pele, que antes pa
“Claro, primo. O que te aflige?” Caelum responde com um tom de voz preocupado. Ele está atento, como sempre esteve, apesar do peso evidente que agora paira sobre seus ombros de monarca. O título de rei trouxe a ele uma seriedade nova, um ar de responsabilidade que, embora já existisse antes, agora parece moldar cada um de seus movimentos.Eu ajeito a postura, sentindo a pressão do momento. Caelum não é apenas meu primo mais velho; ele sempre foi algo entre um mentor e um irmão para mim. Crescemos juntos, compartilhando segredos, sonhos e, eventualmente, as responsabilidades pesadas que vêm com a nossa linhagem. Mas agora ele é rei, um soberano cuja palavra carrega o destino de uma nação, e isso altera a dinâmica entre nós, cria uma distância sutil, mas inegável. Os dias que se seguiram trouxeram uma sensação de volta à normalidade, mas essa normalidade vinha com um eco profundo de pensamentos que eu não podia simplesmente afastar. A rotina voltou a ocupar seu lugar no meu dia a dia. No entanto, havia uma leveza no meu coração agora que o antídoto fora administrado a Aria. O veneno que quase a ceifou não era mais uma ameaça imediata, e com isso, meu peito não carregava mais o mesmo peso. Ainda assim, Aria permanecia em minha mente, como uma sombra que não se desvanece, um fantasma que sussurra nos momentos de silêncio, me deixando inquieto, atormentado pelo que poderia ter sido e pelo que ainda poderia ser.A luz que entrava pela janela do escritório real, filtrada pelas longas cortinas de veludo azul, tingia o ambiente com uma tonalidade suave, quase melanc&oacuCapítulo 52 – Caelum
Visitar Isolde é, sem dúvida, a pior coisa que Caelum poderia ter planejado. A mera ideia de passar tempo no castelo da mãe dele me dá náuseas. Estamos tentando consertar o que sobrou do nosso casamento, ou pelo menos é isso que ele insiste em acreditar. Mas, para mim, é tudo uma farsa. A ideia de passar um tempo juntos para "recuperar" o que se perdeu é insuportável. E com tantas opções de lugares, ele escolhe o castelo de sua mãe?A conversa com Caelum no banheiro ressoa ainda em minha mente. Foi por um fio que Caelum não descobriu Karin ali, nos nossos aposentos. A lembrança de Karin, deitado na nossa cama, ainda traz uma satisfação maliciosa ao meu coração. A verdade é que eu precisava de Karin, muito mais do que estava disposta a admitir. Quando liguei para ele, imploran
“Você deveria estar bebendo tanto, Seraphina?” Isolder indaga, suas sobrancelhas arqueadas em minha direção. "Uma rainha não deve se permitir tais indulgências."Minha mão se fecha ainda mais envolta da taça, agora quase colada aos meus lábios. O que eu mais desejo é gritar que não existe vinho suficiente no mundo para me ajudar a suportar sua presença, mas ao invés disso, visto minha armadura de esposa ferida, aquela que aprendi a usar tão bem recentemente. Caelum, depois de nosso último confronto, está repleto de remorso. E eu sei que posso usar isso. Com um simples jogo de palavras, consigo dobrar o rei à minha vontade, e isso inclui manipular sua mãe, por mais astuta que ela seja."Perdão, minha senhora," murmuro, baixando
“Me diga, meu filho, o que de fato traz você até aqui?” minha mãe questiona com a voz mais suave. Sem a minha esposa por perto, minha mãe é muito mais tranquila. A voz de minha mãe, embora suave, traz uma carga oculta de autoridade, como se mesmo nas perguntas triviais houvesse uma expectativa de controle. Ela se recosta levemente na poltrona de jardim, seus olhos verdes fixos em mim com uma calma que é quase desconcertante. Sem a presença de Seraphina, a frieza habitual de minha mãe se dissolve, e a figura materna que um dia conheci reaparece, ainda que de forma breve e calculada.O jardim onde estamos é amplo e exuberante, um verdadeiro refúgio isolado das pressões do reino. Flores coloridas, altas e cheias de vida, se estendem ao redor como um manto vibrante de cores, o perfume suave das pétalas de l&ia
O ambiente ao nosso redor está carregado de uma tensão silenciosa quando o carro finalmente para na garagem do palácio. Eu viro o rosto e encaro Seraphina, buscando algum sinal de que esses últimos dias no interior fizeram alguma diferença. Mas o que vejo é o mesmo semblante cansado, o mesmo sorriso fraco que não chega aos olhos, como se ela estivesse vestindo uma máscara apenas por obrigação."Achei que alguns dias fora, no interior com minha mãe, poderia nos ajudar a melhorar as coisas," digo, tentando parecer otimista, mesmo que eu não sinta essa esperança em mim. "Na próxima vez, iremos para algum lugar só nós dois."Seraphina, no entanto, não reage como eu esperava. Seu sorriso permanece inexpressivo, quase como se tivesse sido esculpido e