A chegada ao hospital é apressada. O carro para bruscamente, os freios guinchando, e Asher já desce gritando ordens para os enfermeiros de plantão. O pronto-socorro parece uma cena caótica, um misto de luzes fluorescentes brancas e o cheiro pungente de antisséptico que se mistura com o aroma metálico de sangue ainda fresco. Minhas pernas quase não respondem ao sair do carro, como se o peso de Aria em meus braços tivesse o dobro, o triplo do que realmente é. Seus batimentos cardíacos, que consigo ouvir com minha audição aguçada, estão fracos, muito fracos, um tamborilar quase imperceptível que me corrói por dentro.
Cada segundo parece uma eternidade enquanto a coloco sobre a maca. O desespero escorre pelas minhas veias junto ao som da voz dos enfermeiros que, ofegantes, fazem perguntas que mal consigo responder.
"Ela foi envenenada com Icor Noturno," expli
“Você quer que eu faça o quê?” Seraphina questiona, a incredulidade e irritação transbordando em sua voz como uma tempestade prestes a se manifestar. Seus olhos dourados faíscam com uma fúria que ainda está contida, mas perigosamente à beira de escapar. Os cabelos ruivos dela parecem ganhar vida, brilhando como chamas enquanto ela se vira bruscamente para me encarar, o movimento tão abrupto que parece uma ameaça velada, como se até mesmo o ar ao redor dela respondesse à sua raiva crescente.Eu mantenho meu olhar firme no dela, sem desviar, mesmo sentindo o peso da tensão que cresce entre nós.“Você me ouviu, Seraphina,” digo, o tom seco e impaciente, tentando conter a exaustão e a angústia que borbulham por dentro. "
O ódio queima em minhas veias como fogo vivo enquanto observo Caelum sair do quarto com passos pesados, o eco reverberando nas paredes.A porta se fecha com um estrondo surdo, mas o som não alivia a fúria que me consome por dentro. A vontade de gritar, de liberar toda a raiva que se agita como uma tempestade em meu peito, é quase incontrolável. Desejo destruir tudo ao meu redor — cada pedra desse maldito castelo, cada objeto inútil que nos cerca, e especialmente meu marido. O homem que ousou me trair, que ousou levantar a mão contra mim por causa de uma humana.Minha garganta ainda arde, latejando com a lembrança do toque bruto de Caelum. O ato violento me pegou de surpresa, algo que jamais esperei dele. Nunca, em todos os anos que estivemos juntos, ele havia perdido o controle de seu lycan de forma
“Para onde você está indo, Seraphina?” minha voz ecoa no amplo salão, carregada de desconfiança.Seraphina está à porta, uma mão repousando suavemente no batente enquanto a luz da manhã derrama sobre sua figura. O silêncio que compartilhou comigo durante o café da manhã pesa no ar, um abismo entre nós.Esta foi a primeira noite em cinco anos que não compartilhamos o mesmo quarto. A separação física parecia inevitável depois da nossa última discussão, uma rixa que carregava mais do que palavras amargas. O silêncio no castelo, quebrado apenas pelo ocasional tilintar de talheres ou o sussurro de criados distantes, não era mais confortável.Após a discu
“Me diga, Caelum... Assim que essa humana despertar, você terá a ousadia de levá-la ao castelo?” A voz de Seraphina cortou o ar como um chicote, seu tom carregado de ciúmes e raiva, duas emoções que raramente vi nela de forma tão explícita. Sua postura era rígida, quase desafiadora, mas eu podia perceber, nas pequenas inflexões de sua voz e no brilho vacilante de seus olhos dourados, que havia algo mais por trás daquela frieza. “Começará a dividir a cama com ela?”Meu olhar se fixou nela, e por um momento, tudo o que vi foi o lampejo de insegurança que cruzou o rosto de Seraphina. Um breve momento de vulnerabilidade, logo abafado pelo seu exterior gelado.Nesse momento me dei conta de algo que até então não havia parado p
Eu desabo na poltrona no quarto de hospital da Aria, exausto. O cansaço físico de dias sem dormir adequadamente começa a pesar em meus ombros, mas o fardo emocional é ainda mais esmagador. A poltrona é desconfortável, dura, mas agora não faz diferença. O peso das responsabilidades, das dúvidas e da crescente tensão com Seraphina estão sobrecarregando cada parte de mim. O quarto ao redor é silencioso, exceto pelo leve zumbido dos aparelhos médicos e o som rítmico, mas cada vez mais forte, do coração de Aria batendo no monitor. Essa batida constante traz uma sensação de alívio que aquece meu próprio coração.Minha mente está tumultuada pelos últimos relatos de Asher, mas por agora, eu tento me focar apenas em Aria. Sua pele, que antes pa
“Claro, primo. O que te aflige?” Caelum responde com um tom de voz preocupado. Ele está atento, como sempre esteve, apesar do peso evidente que agora paira sobre seus ombros de monarca. O título de rei trouxe a ele uma seriedade nova, um ar de responsabilidade que, embora já existisse antes, agora parece moldar cada um de seus movimentos.Eu ajeito a postura, sentindo a pressão do momento. Caelum não é apenas meu primo mais velho; ele sempre foi algo entre um mentor e um irmão para mim. Crescemos juntos, compartilhando segredos, sonhos e, eventualmente, as responsabilidades pesadas que vêm com a nossa linhagem. Mas agora ele é rei, um soberano cuja palavra carrega o destino de uma nação, e isso altera a dinâmica entre nós, cria uma distância sutil, mas inegável. Os dias que se seguiram trouxeram uma sensação de volta à normalidade, mas essa normalidade vinha com um eco profundo de pensamentos que eu não podia simplesmente afastar. A rotina voltou a ocupar seu lugar no meu dia a dia. No entanto, havia uma leveza no meu coração agora que o antídoto fora administrado a Aria. O veneno que quase a ceifou não era mais uma ameaça imediata, e com isso, meu peito não carregava mais o mesmo peso. Ainda assim, Aria permanecia em minha mente, como uma sombra que não se desvanece, um fantasma que sussurra nos momentos de silêncio, me deixando inquieto, atormentado pelo que poderia ter sido e pelo que ainda poderia ser.A luz que entrava pela janela do escritório real, filtrada pelas longas cortinas de veludo azul, tingia o ambiente com uma tonalidade suave, quase melanc&oacuCapítulo 52 – Caelum
Visitar Isolde é, sem dúvida, a pior coisa que Caelum poderia ter planejado. A mera ideia de passar tempo no castelo da mãe dele me dá náuseas. Estamos tentando consertar o que sobrou do nosso casamento, ou pelo menos é isso que ele insiste em acreditar. Mas, para mim, é tudo uma farsa. A ideia de passar um tempo juntos para "recuperar" o que se perdeu é insuportável. E com tantas opções de lugares, ele escolhe o castelo de sua mãe?A conversa com Caelum no banheiro ressoa ainda em minha mente. Foi por um fio que Caelum não descobriu Karin ali, nos nossos aposentos. A lembrança de Karin, deitado na nossa cama, ainda traz uma satisfação maliciosa ao meu coração. A verdade é que eu precisava de Karin, muito mais do que estava disposta a admitir. Quando liguei para ele, imploran