Capítulo 67 Don Alexei Kim Malu mantinha os olhos no tablet, analisando cada detalhe com precisão cirúrgica. Não parecia hesitante, mas sim completamente segura. Isso me deixou inquieto e, ao mesmo tempo, mais confiante na decisão. — Se estivermos certos, ele estará lá com pelo menos dois homens — ela falou, ainda olhando o mapa. — Não subestimem o Anton. Ele é astuto, não estará sozinho, com certeza. — Não se preocupe, ele não vai escapar dessa vez — respondi, seco, enquanto destravava a pistola no meu colo. O trajeto até o depósito levou cerca de dez minutos. O local era típico de alguém que queria desaparecer: isolado, pouco movimentado e estrategicamente próximo ao porto. Assim que nos aproximamos, dei a ordem para apagar os faróis. Paramos cerca de 200 metros antes da entrada. — Nazar, leve três homens para a lateral. Quero cobertura. Eu e Malu entraremos pela frente com o restante. Quero ele vivo, mas não hesitem se for preciso derrubar algum soldado.
Capítulo 68 Don Alexei Kim Malu estava ao meu lado, concentrada, enquanto os soldados limpavam o caminho. O depósito era um labirinto de sombras e ecos, mas minha mente estava focada em apenas uma coisa: Anton. Ele já estava algemado, não ia escapar de novo. De repente, percebi um movimento rápido atrás de algumas caixas. Fiz sinal para que Malu e os outros parassem, mas antes que eu pudesse dar a ordem, senti alguém puxando minha manga. Era Ivete, claro, quem mais? De onde surgiu, caralho? — Tem outro ali! Tá se achando ninja, o safado! — sussurrou ela, apontando para o canto onde o homem tentava se esconder. Fechei os olhos por um segundo, tentando manter a calma. — Ivete, não é o momento pra... — Me deixa atirar, Don!? — ela me interrompeu com aquela confiança cômica que Malu contou que ela tinha. Já ajeitava a arma nas mãos como se fosse uma atiradora de elite. — Minha senhora me ensinou a mirar no peito pra acertar o pé, mas posso mirar no pé e acert
Capítulo 69 Don Alexei Kim Ainda sentia o cheiro metálico do sangue impregnado nas minhas mãos, mesmo depois de tê-las limpado. No carro, Malu estava ao meu lado, quieta. Ela segurava as próprias mãos com força, os dedos entrelaçados em uma tentativa desesperada de conter o tremor. Sua respiração era curta, quase imperceptível, mas eu via o esforço que fazia para manter a cabeça erguida. Minha mente estava uma merda. O que fiz com Anton... era necessário, mas aquilo não apagava o peso no meu peito. Ele era meu irmão, por mais que fosse um traidor. Só que Malu... Malu era tudo para mim, e ele ousou falar o que não devia, tocar em memórias que nunca deveriam ser revisadas, além de me trair de tantas maneiras, inclusive com... Selena. — Você está tremendo, Malu. — Quebrei o silêncio, sem tirar os olhos da estrada. Ela balançou a cabeça, como se quisesse negar, mas suas mãos a traíam. Estendi a minha sobre as dela, tentando transmitir alguma segurança, mesmo ainda suj
Capítulo 70 Maria Luíza Duarte As cicatrizes da noite passada ainda estavam ali, não apenas nas marcas invisíveis que Alexei carregava, mas também na tensão no ar. Eu podia ver a fúria latente em cada movimento dele, o jeito como os ombros permaneciam rígidos e como o maxilar se apertava. Ele não precisava dizer nada; eu conhecia cada nuance daquele homem. E naquele momento, ele estava à beira de explodir. Peguei sua mão enquanto caminhávamos de volta para os corredores. — Vamos buscar a Sofia. Ela deve estar acordada agora. — Minha voz saiu leve, tentando suavizar o peso que parecia esmagar Alexei. Ele olhou para mim de relance, ainda preso nos próprios pensamentos, mas assentiu. Chegamos ao quarto onde Sofia dormia sob os cuidados de sua babá, a Neide. A pequena estava deitada no berço, com as bochechas rosadas e o sono tranquilo que só os bebês parecem ter. Por um momento, o mundo pareceu parar. Peguei-a nos braços com cuidado, e aquele cheirinho de bebê me t
Capítulo 71 Maria Luíza Duarte Com Sofia no colo, acompanhei dona Olga em direção ao meu quarto. Ela caminhava devagar, apoiando-se levemente na parede, enquanto eu mantinha o passo ajustado ao dela. Esse silêncio profundo entre nós me incomoda, que pena a dona Olga não poder falar. Eu sentia que, de alguma forma, ela estava mais presente, mais conectada ao momento do que em qualquer outra ocasião. Quando chegamos, ajudei-a a sentar na poltrona próxima à janela. A luz suave do sol iluminava seu rosto pálido, e ela fechou os olhos por um instante, respirando fundo. Era como se, por breves segundos, ela estivesse se reconectando com o mundo ao seu redor. Ajeitei Sofia no carrinho ao lado e me sentei diante de dona Olga, segurando uma caderneta e um lápis que peguei na cômoda. Meu coração batia acelerado. Precisava entender o que havia despertado nela aquele estado de alerta momentâneo no café da manhã. — Dona Olga, a senhora consegue escrever? — perguntei com cuidado,
Capítulo 72 Maria Luíza Duarte — Com quem você estava falando, Zaia? — perguntei, a voz dura, segurando o celular para que ela visse que eu sabia sobre a ligação interna. Ela ficou pálida, mas se levantou rapidamente, tentando parecer controlada. — Não é ninguém da conta de vocês. Me devolva isso agora! — respondeu alto, Ivete pegou a bandeja do café e acertou na testa dela, parecia zonza. Antes que ela pudesse avançar novamente, segurei seu braço, meu rosto estava queimando de raiva. — Não é da minha conta? Você estava falando de mim. Planejando "desaparecer" comigo! Quem está te ajudando aqui? Quem é ele? Porque eu ouvi, claramente. Zaia tentou se soltar, mas Ivete interveio novamente, bloqueando sua saída. — Não vai sair daqui sem responder, sua cobra! — disse Ivete, cruzando os braços. Zaia olhou de uma para a outra, o medo em seus olhos agora impossível de esconder. Ela tentou abrir a boca para responder, mas hesitou, claramente buscando uma saída. — Eu… não e
Capítulo 73 Maria Luíza Duarte Precisei virar o rosto ao ouvir o grito de Zaia com o sangue que escorreu onde Alexei cortou. Zaia tentou recuar, balançando a cabeça em negação, enquanto lágrimas escorriam pelo rosto e ela negava olhando pra mão, mas seu outro punho ainda permanecia preso. — Senhor, eu juro... eu não fiz nada! Eles estão inventando tudo isso! Só segui ordens do senhor Anton — ela implorou, parecia desesperada. O pai de Alexei cruzou os braços, um gesto que parecia mais ameaçador do que qualquer palavra. — Você acha que sou tolo, Zaia? Acha que não sei o que acontece sob o meu teto? — Ele se aproximou, a sombra dele cobrindo o rosto dela. — Você não percebeu, mas estava sendo observada o tempo todo. Agora sei que era você a dar calmantes para a Olga. Alexei me contou mais cedo dos resultados que Fred lhe trouxe, agora sabemos quem foi. — Não! Não sei de nada! — se desesperou. Alexei ergueu uma sobrancelha, surpreso com a declaração. — O
Capítulo 74 Maria Luíza Duarte Alexei estava inquieto. Movia-se pela sala como um leão enjaulado, cruzando os braços e descruzando, a testa franzida. Não conseguia disfarçar a tensão, mesmo tentando manter uma máscara de calma para o pai, Nazar e Zaia. Eu já o conhecia o suficiente para perceber que ele estava à beira de um colapso interno. — Alexei, vamos sair daqui um pouco — sugeri, tocando de leve em seu braço. Ele me olhou surpreso, como se tivesse esquecido que eu estava ali. Não era um convite, mas uma ordem disfarçada de gentileza. — Eu... — Ele hesitou, lançando um olhar para Nazar e seu pai, que conversavam em tons baixos. — Acho que não posso deixar... — Pode sim. Nazar sabe o que está fazendo. Pode terminar isso — interrompi, firme. — Você precisa respirar um pouco, ou não vai conseguir pensar direito. Ele finalmente cedeu, soltando um suspiro pesado e assentindo, seu pai ficou olhando, mas permaneceu na sala com Nazar e Fred. Deixamos o local,