Uma família para o cafajeste
Uma família para o cafajeste
Por: Oliverdocinho
Capítulo 1

Capítulo 1

Sarah

— Você consegue, você consegue. — repito meu mantra diário, ao terminar de tomar banho e sair do banheiro para me trocar para ir a mais uma entrevista de emprego.

Ao chegar no quarto, solto um suspiro e busco uma roupa para vestir hoje.

Minha vida nunca foi fácil e tenho plena consciência disso.

Nascida em uma família rígida e tradicional, sou a mais nova de quatro irmãos.

Caíque, meu irmão mais velho, é formado em engenharia e trabalha em uma construtora. Alexandre, meu segundo irmão mais velho, é policial e faz parte do distrito 53º da barra da tijuca, ele trabalha com o delegado Gustavo e são melhores amigos. Rafael, meu terceiro irmão, que é apenas um ano mais velho do que eu, acabou de se formar em jornalismo e é editor da revista Pradafashion.

Já eu, me chamo Sarah Bernard e tenho 24 anos.

Estou no último período do curso de administração e hoje é minha entrevista em uma das maiores empresas de tecnologia do país, a Ferreirastecnology e, eu estou extremamente nervosa.

Não é fácil para mim, conseguir um bom emprego. Já venho tentando isso há vários meses, desde que meu contrato como estagiaria em uma rede hotel se encerrou.

Muitas empresas têm preconceito com pessoas gordas, pois julgam que não se adéquam a estética exigida por elas. E, concorrer a uma vaga de secretária é ainda mais complicado, visto que a aparecia conta muito no trabalho com o público.

Todavia, eu estou confiante que irei conseguir essa vaga, eu preciso desse emprego, na verdade, preciso dele para poder ter minha instabilidade financeira e conseguir me sustentar sozinha.

Eu ainda moro com os meus pais, mas pretendo mudar isso logo, logo.

Termino de me arrumar e me olho no espelho.

— Até que não estou feia. — resmungo, torcendo o lábio e passando a mão pela roupa escolhida.

Optei por uma saia – lápis na cor preta e uma blusa de seda na cor branca. Ela é de manda cumprida e esconde meus braços gordos. Porém, não evita marcar meus seios fartos.

Esse é um problema que não posso resolver, pois tenho seios bem grandes e qualquer roupa posta em meu tronco os evidenciam. Esse é um fato do meu corpo que eu particularmente ódio. Sempre pareço vulgar nas roupas que uso.

Soltando um suspiro e me dando por vencida de que outra roupa não irá melhorar minha aparecia, pego minha bolsa, confiro meus documentos e saio do meu quarto.

Desço as escadas da minha casa e grito por minha mãe. Ela está na cozinha preparando o almoço.

— Mãe, eu já estou indo para a entrevista. — avisei-a da porta da cozinha.

— Que Deus te abençoe e consiga esse emprego, minha filha. — deseja.

— Obrigada, mãe. — lhe mandei um beijo no ar e saí de casa.

Meu irmão, Rafael, já estava me esperando em seu carro, ele me daria uma carona, pois seu trabalho é na mesma região que a empresa onde farei minha entrevista fica.

— E aí, maninha, como vai?

Ele tem passado mais tempo na casa da namorada do que aqui em casa e por isso quase não nos vemos. Quer dizer, quase namorada, pois eles vivem em um rolo, mas nunca se assumem de fato. Tudo entre eles é complicado.

— Vou bem, Rafa. Mas estou muito nervosa. — confesso.

— Você vai conseguir, é inteligente e muito esforçada, fora que é linda e esses seus olhos azuis encantam qualquer um.

— São os seus olhos de irmão que me acham tudo isso. — falei sorrindo em sua direção.

— Não, Sarah você e linda e precisa enxergar isso. O que aquele idiota fez não tem nada a ver com você e sim por ele ser um mau-caráter.

— Eu sei disso, Rafa, mas às vezes é tão difícil ter que lidar com os olhares julgadores das outras pessoas sobre você só por não se encaixar no padrão que eles ditam como certo. — falei cabisbaixa.

Eu sempre sofri preconceito devido ao meu peso em excesso.

Os olhares muitas vezes de nojo me deixavam e deixam muito mal. Muitos não entendem e até julgam que isso é algo da minha cabeça, que me faço de vítima, mas só quem passou e passa por algum tipo de preconceito sabe o quanto isso dói e machuca.

— Mas você não precisa se encaixar, irmã, basta ser apenas quem você é. Viver com quer e ser feliz.

— Estou tentando, — digo, sem querer me prolongar no assunto. Falar sobre isso dói demais, me faz ficar triste e reviver meus traumas. — Mas vamos mudar de assunto. — sorrio para afugentar o clima ruim que se abateu sobre mim.

Rafael sorri e coloca o carro em movimento seguindo para o nosso destino.

— O que você quer saber sobre mim? — perguntou rindo.

Meus irmãos me conheciam como ninguém e todos eram muitos protetores comigo.

— Quando vai parar de enrolar a Ângela e se casar com ela?

— Mas é ela quem está me enrolando, por mim nós já teríamos casado há muito tempo.

Gargalhei, pois isso era realmente verdade. Ângela é uma mulher linda, alta e com curvas poderosas. Eles trabalham juntos na revista, ele como editor e ela como redatora. Ela é uma mulher bem resolvida e já tem sua vida toda arquitetada e deve ter medo que isso mudar quando ela se casar.

Ângela tem cinco anos a mais do que meu irmão Rafael e sempre impôs esse fato para não assumir o romance dos dois.

Dos meus irmãos apenas Rafael namora, Caíque já é casado e Alexandre é um galinha de carteirinha que não quer compromisso com ninguém. Todos meus três irmãos são malhados, com olhos azuis como os meus. Isso é herança de família, a família do meu pai é francesa, eles vieram para o Brasil no intuito de fugir da guerra e ficaram aqui até morrerem.

Com a abolição da escravatura gerou necessidade de mão de obra para o trabalho principalmente na lavoura, havendo assim incentivo por parte do Governo Brasileiro em fortalecer a imigração europeia para o país, e meus avós viram ali a oportunidade de construir uma vida em um novo país e longe das guerras.

Meu pai nasceu aqui no Brasil, mas seus traços são franceses e nós, os filhos, herdamos isso dele.

Chegamos ao prédio da empresa e me despedi do meu irmão.

— Boa sorte — desejou ele, me dando um beijo na testa.

— Obrigada! — sorri e beijei seu rosto. — Bom trabalho! — desejei e saí do carro dele.

Ao estar do lado de fora do carro, lhe mandei um beijo no ar e Rafael me mandou outro.

Respirei fundo, girei nos meus calcanhares e caminhei para dentro do prédio da empresa para qual eu iria fazer a entrevista de emprego.

O edifício era lindo e tinha cerca de 8 andares. Sua fachada era bem moderna, toda sua fachada era de vidro e havia canteiros com palmeiras, arbustos e flores na frente do prédio.

Era um edifício muito bonito mesmo. 

— Olá! Bom dia! — cumprimentei a recepcionista assim que cheguei ao hall de entrada do prédio.

Ela me olhou de cima a baixo com expressão de nojo e um ar de superioridade que me fez se sentir constrangida.

Dando-me um sorriso forçado, ela perguntou meu nome.

— Bom dia. Qual seu nome e em que posso ajudá-la? — sua voz saiu mecânica, forçada. Ela não queria me atender, na certa me julgando inapropriada para estar em um lugar como aquele. 

— Sarah Bernard. — respondi com educação, sorrindo em sua direção e tentando ser o mais natural possível, apesar de querer sair correndo desse lugar.

— Eu vim para a entrevista com o senhor Henrique Ferreira.

Ela digitou algo no computador e ao conferir que eu realmente estava com a entrevista marcada, me encaminhou para o local onde ela seria realizada.

— Sua entrevista está marcada para as 10h00min e você pode esperar no 5º andar que é o andar do senhor Henrique.

— Obrigada! — me virei para sair, mas ainda ouvi seu comentário maldoso.

— Até parece que o Henrique vai contratar uma gorda dessa para ser sua secretária. Isso só mancharia a imagem dele nos jantares de negócios.

Senti meus olhos ardem e a vontade de chorar fechar minha garganta, mas eu precisava ser forte e tentar conseguir esse emprego para poder ter minha independência financeira. Eu não me deixaria desmoronar agora em casa, eu choraria, mas não aqui.

Entrei no elevador e apertei o botão do 5º andar rezando para que meu futuro chefe não fosse preconceituoso como ela e me desse o emprego.

Eu tenho formação suficiente para preencher a vaga. E até uma melhor do que a que eu estava concorrendo, mas o medo dos olhares julgadores me fazia querer o cargo mais simples e que permitisse que eu mostrasse meu potencial para no futuro conseguir ocupar o cargo que tanto almejo.

Fui recebida pela atual secretária de Henrique, ela era uma mulher mais velha e me tratou super bem.

As 10h, eu fui chamada para a entrevista e meu coração disparou ao entrar na sala e ver quem seria meu chefe.

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