Três

— Eu, vim pelo… Bom, ela me trouxe pelo emprego.

Estava nervosa e não iria negar, e quanto mais ele se aproximava, menos a voz saia, as palavras fugiam de sua mente. Pôde notar mais de perto a cor dos olhos, era lindo, mais bonito do que qualquer pessoa.

— Da onde você é? - Questionou, a garota corou como se fosse uma grande adolescente… Isso era charmoso, bem diferente das outras garotas que adentraram seu quarto naquela semana. Céus, a menina ali não era nada do tipo que dormia em sua cama.

— Do norte da cidade. De um lugar onde tem barulho e luz, um lugar onde parece ter vida, bem diferente daqui. - O homem levantou as sobrancelhas, surpreso.

— O que? Acha que não tem luz o suficiente? Quer dizer que algo está morto? Que? Eu? - Apontou para si. — Tá dizendo que aqui não tem animação? - Ela balançou a cabeça, assentindo. — Eu não gosto de barulho.

— Deu para notar - desviou o olhar, e vendo que ele não disse mais nada, voltou a encará-lo encontrando uma face confusa, — Digo… Eu acho que ninguém iria querer se aproximar de um lugar assim.

— Ainda sim, você está aqui. - Ela suspirou agarrando a alça de sua bolsa, pronta para correr. Mordeu os lábios que eram delicadamente observados por ele. A garota era bonita. Embora não fossem nada comparadas as mulheres que estiveram ali durante todo aquele mês. — Eu sou Levi Santiago, aposto que escutou meu nome por aí em algum lugar, as pessoas gostam de falar.

— Na verdade não. Não ando acompanhando tanto assim o mundo dos famosos. Mas eu queria dizer que estou aqui para preencher a vaga de emprego. A Sra. Mirela disse que precisava de alguém para servi-lo em particular e eu tenho experiência. - Ele estreitou os olhos, descruzou os braços se aproximando mais da garota dando uma leve volta.

Seu cheiro era doce, um perfume barato qualquer, tinha certeza. Mas como ela tinha experiência para o que ele queria? Ela não parecia ser aquele tipo de mulher, era doce e linda. Mas as aparências enganam, não é? Hora essa…

— Eu não acho que você se encaixe no que eu procuro. Por favor, saia e chame Mirela para mim. - Ela ergue uma sobrancelha, o que foi? Ela não iria obedecer. — Peço com toda delicadeza do mundo, para você sair e mandar aquela mulher entrar. - Foi debochado enquanto voltava para seu lugar.

— Espera, como é que é? - Ele parou voltando-se para ela. Odiava quando não atendiam aos seus comandos ou questionavam algo que ele ordenava, encarou-a novamente, agora com mais curiosidade em saber o que diabos ela ainda estava fazendo ali. — Eu disse que tenho experiência e já trabalhei servindo outros lugares. E eu… Eu… Eu preciso do emprego. - Deu um passo a frente sabendo que podia até está fazendo besteira, mas não pensaria duas vezes se fosse para salvar seu irmão. — Eu preciso do emprego então se me der uma chance, prometo não decepcionar.

— Você quer mesmo a vaga de emprego, meu bem? - Ela demorou a balançar a cabeça concordando, o tom da voz dele tinha mudado, estava mais grave e charmosa. O que era aquilo? Algum tipo de hipnotismo? Era normal sentir o corpo arrepiar mesmo quando foi tocada?

— Sim. Eu quero. - Afirmou forte e determinada, e ele riu um sorriso que a desaminou completamente. Não era gentil, mesmo que parecesse tão bonito.

— Então tira a roupa.

— O que você disse? - Questionou.

— Eu tenho certeza que aquela mulher lá embaixo não te disse nada do que eu quero. E você não pode preencher a vaga. Mas se você está dizendo que quer o emprego e prometendo que não vai me decepcionar, então me prova, tira a roupa e vamos começar.

— Eu não vou tirar a roupa, seu tarado. - Brigou empinando novamente o nariz, a petulância assustou o outro, o surpreendendo. — Achei que servi-lo particularmente queria dizer-

— Dizer que você seria o meu passa tempo preferido. - Ela deu outro passo para trás. — Eu não quero uma empregada para me servir chá, eu quero uma mulher em que eu possa tê-la quando quiser, na minha cama.

— Então você arrume uma esposa, seu idiota. Que tipo de homem anuncia que quer uma empregada e a manda tirar a roupa?

— Eu pedi uma submissa, não uma empregada. - Ela desviou o olhar — Eu avisei que estava no lugar errado, e ainda assim, disse que estava errado. Então me prove que eu estava errado, tire as roupas e vamos nos divertir. Eu pago muito bem por momentos únicos. Se estiver precisando tanto assim do emprego, não vai se importar.

— Eu prefiro esfregar essa cara inteira ajoelhada, completamente ridícula e sem cor duas vezes por dias, ao ter que tirar a roupa e deixar que você me toque - Bradou zangada — Você é um grande babaca, será que não tem respeito?

— Como é que é? - Ele se espantou, desde quando uma pessoa lhe tratava daquela forma? Ainda mais uma mulher como aquela?

— Isso mesmo que você ouviu. Você é um doente e maluco. E não se pode chamar uma mulher assim, de submissa, você acha que é algo deus do mundo. Que ridículo. Como você é ridículo - Bradou mais alto, achando cada vez mais absurdo.

— Com… Com quem você acha que está falando? - Ele voltou a caminhar em sua direção — Você está achando que pode falar comigo do jeito que quiser? Está errada. Uma coisa é você não querer ficar, outra é me ofender e eu nem disse nada.

— Você já falou o suficiente, seu psicopata - Deu as costas a ele indo em direção a porta. Além de gritar, o ofender não lhe obedecer deu as costas como se não fosse nada. — Você não pode tratar as mulheres desse jeito, é por isso que não arrumou nenhuma para ficar ao seu lado.

— Com todo dinheiro que eu pago, não quero ter que escutar nenhum tipo de reclamação. - Bradou a seguindo. Ela não tinha o direito de sair falando aquilo como se o conhecesse.

A frase “com todo dinheiro que eu pago” a fez vacilar no caminho, mas mesmo assim, abriu a porta voltando ao corredor e seguiu adiante.

— Parece que nem mesmo com uma fortuna alguém é capaz de ficar e te aturar - Ele a alcançou no topo da escada a puxando pelo braço, o contato a fez estremecer e nem era de medo. Aquela pegada tão firme, como via em filmes, a arrepiou por completo, no entanto, não podia se deixar levar por isso. Voltou a encarar os olhos negros combinando com os cabelos dele, e até sentiu sua garganta secar. Ele era bonito, até demais. — O que está fazendo? - Sua pergunta saiu trêmula. — Me solta.

— Ninguém fala assim comigo desse jeito, e vai embora como se não fosse nada.

— Você está achando que é deus do mundo ou alguma outra coisa importante? Que deplorável ter que pagar alguém para o que? Dormir com você? O que adianta ter toda essa beleza se é tão insuportável que nem pagando uma fortuna, tem alguém? - ela puxou o braço enquanto ele articulava alguma frase para dizer, mas a surpresa de ouvir aquilo de alguém era maior. — Eu vou embora agora. E não me segure, não me toque, não me siga, não me procure. Babaca!

Desceu as escadas correndo até está fora daquele lugar. Parou do lado de fora em frente ao carro de Mirela e poderia até voltar para pedir uma carona, mas ela simplesmente correu em pela estrada e só pararia quando não pudesse nem ver a torre daquela casa.

Do topo da escada, Levi encarava a porta ainda aberta, seus punhos se fecharam com tanto ódio que mal conseguia caber em seu grande corpo. Como que uma mulher daquela aparecia do nada falava tudo aquilo para si e saia correndo? Ninguém falava assim com ele. Encarou toda a sala embaixo avistando os olhos arregalados de Mirela perto da porta da cozinha e podia adivinhar que as outras estavam por perto.

Ele desceu as escadas a vendo tentar fugir, mas não foi rápido o suficiente, sabia que viria briga.

— O que você acha que está fazendo? Quando mandei que buscasse outra das minhas garotas, achei que estivesse procurando no lugar certo, então você me traz uma desclassificada sem contar o que tinha que fazer. Sentiria pena da garota se ela não fosse tão petulante e respondona.

— No lugar certo? Quantas e quantas mulheres eu te trouxe aqui nas últimas semanas e as mandou ir embora. Achei que estivesse procurando algo novo. Já que nenhuma das outras foram aceitas. - Explicou calma, não queria se estressar. — Você é exigente demais e age como se todo mundo tivesse errado, e não fosse o suficiente.

— E nenhuma é. - Cruzou os braços — Traga outra. Eu pago você muito bem para fazer o que eu mando e quando eu mando. Então faça o seu trabalho. - Mirela assentiu ainda com ódio. Ele deu costas para ir embora, mas parou. — Qual é o nome daquela mulher?

— Mel Albuquerque.

— Mel. - Ele repetiu o nome dando um sorriso de lado. — O nome é doce, mas ela é amarga. Pode me trazê-la novamente?

— Tenho certeza que você é bem amargo e duvido que ela volte aqui, você assustou a menina. - Ele fechou a cara e Mirela tomou seu rumo rapidamente.

De fato, poderia ser que ele tinha assustado, sabia que ela não era aquele tipo de garota, mas ela veio pelo dinheiro, e estava disposto a pagar para tocar seu rosto bonito, o cabelo longo e ruivo. Linda e sorridente.

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