Quatro

Quanto mais andava para longe daquela casa, mais queria sumir e não voltar nunca mais. Quando parou no meio daquele labirinto sem saber para onde caminhar, ela olhou ao redor, procurou saber onde realmente estava e o que podia fazer, mas nada, nada. De repente se assustou até com o toque do celular dentro do bolso, o tirou na mesma hora e o desespero tomou conta do seu peito quando viu que era o número do hospital.

— Alô? - Ela engoliu a seco — Já estou a caminho.

E desatou a correr ainda mais até chegar ao hospital.

— Como esta meu irmão? – Perguntou desesperada quando chegou à porta do quarto. — Ele piorou, ficou melhor? Por favor, não me assuste desse jeito.

— Sim, sim, apenas a pressão subiu ele ficou um pouco mal. O médico veio rápido e tudo ficou bem. – Disse a mulher. Mel sentou no banco do lado da porta.

— Ah meu Deus, eu fiquei com medo de algo ter acontecido. Estava muito longe, eu corri peguei alguns ônibus. Saco!

— Não preciso repetir o que digo todos os dias; ele precisa de uma cirurgia o mais rápido possível. Acha que câncer é alguma brincadeira?

— Eu sei que ele precisa – olhou para o irmão do vidro que tinha na porta do quarto. — Estou procurando um emprego.

— E quando vai conseguir? – a menina se calou. — Espero que seja antes dele passar mal, e não conseguimos mais salvá-lo – deu seu aviso antes de ir embora. Mel sentou no banco de novo, derrotada.

Ela precisava do emprego, de verdade, mas não tinha como arrumar algo tão rápido e que pagasse o valor necessário, quer dizer… tirar a roupa para aquele homem? Dormir com ele? Nem mesmo tinha ficado sozinho num quarto com um homem e de repente aquele arrogante lhe deu uma ordem? Não. Obvio que ela não aceitaria ser obrigada a fazer nada. Não era esse tipo de mulher.

Bateu a cabeça na parede ao lado de fora do quarto, o corredor não estava tão movimentado, mas sua alma estava o coração agitado. Sentia que a qualquer momento tudo iria desabar, mas ela não podia desistir, não podia e não iria. Levantou devagar parando novamente em frente à porta do quarto de Maurício, o olhou pelo vidro, a criança dormindo tranquilamente, parecia um anjo, um anjo que ela não deixaria morrer.

***

Ele podia ter qualquer mulher na sua cama para seu prazer imensurável, contudo, nem todas as mulheres vêm com a função obedecer a um homem tanto na cama como fora dela.

Levi não era um homem tão ruim assim, era sorridente quando estava perto de uma de suas submissas e gostava de esta no comando. Dava tudo que elas queriam desde dinheiro a casas e joias desde que elas fizessem o que gostava.

Todas as outras submissas que passaram por suas mãos, foram bem tratadas a sua maneira, contudo, nem todas elas sabiam diferenciar um sexo por prazer e dinheiro e ter um relacionamento. Se apaixonar ou casar não estava nos seus planos, não estava e nunca estaria e ele sempre deixou isso bem claro, então porque elas insistiam nisso?

Casamentos não terminavam bem, não importava o quanto um homem fizesse para mantê-lo de pé. Afinal, o seu pai tentou, ele deu amor, carinho, deu tudo de si para sua mãe, e mesmo assim, ela foi embora com o melhor amigo achando que estava saindo por cima, deixando para trás um rastro de dor, sofrimento e um filho esquecido.

Por esse motivo, um relacionamento sério com casamento e filhos não estava em seus planos. Não corria o risco de se apaixonar por nenhuma mulher, porque todas elas eram iguais. Não importava o quanto desse amor, carinho e desejo, elas sempre iriam embora sem se importar. Ganhavam dinheiro, jóias, um quarto com todas as regalias que uma mulher merecia. E novamente, elas iam embora. Mas, amor de verdade? Isso ele não sentia, então não daria a ninguém algo que não tinha.

Parado em frente a grande janela do quarto, a única coisa que ele conseguia pensar era na garota que saiu de sua casa há exatamente duas semanas sem olhar para trás. Correu dali como se ele fosse uma praga. Será que ele era algum tipo de praga? Se fosse, ele entendia, não é? Todos foram embora.

— Droga… - Murmurou zangado. Mirela ainda fazia seu trabalho em trazer algumas garotas, mas nenhuma parecia como ela… não estava procurando por Mel e seus cabelos ruivos, mas não iria negar o quanto ela era bonita e charmosa, e aquela língua afiada?

Faria mal ir atrás dela? E fazê-la entender que quem deveria está no comando de tudo era ele.

Voltou para sua mesa trabalhando ardentemente durante todo aquele dia até o anoitecer. Tomou um banho quente e até pensou em ligar para seu pai, mas não iria voltar a trabalhar lá. Aquele lugar era uma droga. Não tinha silêncio, não tinha paz. Ele era o auxiliar do pai, na empresa de publicações Santiago em Seant.

Só assumia o cargo de líder quando o pai viajava para outras cidades, enquanto isso ele preferia trabalhar em casa para não ter estresse e o melhor de tudo, teria mais tempo para suas fantasias sexuais.

Parou em frente à mesa grande, poderia voltar a trabalhar, mas nada o fazia se concentrar direito. Andou pelo quarto, tomou outro banho, e assim que voltou para o quarto, escutou as batidas e a voz de Mirela do outro lado no corredor. Mandou-a entrar enquanto ia para sua mesa.

— Espero que tenha tido mais sorte. - Murmurou zangado a vendo desfilar por seu quarto até a mesa.

— Trouxe o que me pediu. - Por um momento, Levi ergueu a cabeça achando que veria aquela mulher novamente atravessar o quarto com toda sua timidez à língua afiada, mas tudo que ganhou foi uma pasta marrom jogada em cima da mesa. — É pra você, pode abrir.

— Documentos? - Perguntou ao olhar para do documento para a secretária. — Não acha que já tenho muitos para olhar e analisar?

— É sobre a garota que você assustou. Talvez depois de você ler tudo isso, vai entender porque ela foi embora, correu de você. - Revirou os olhos. — Eu vou continuar buscando alguém para ficar aqui, mas isso fica sendo difícil sabendo você não é o tipo de homem que consegue atrair mulheres quando abre a boca.

— Vou ignorar o que você acabou de falar e crê que está apenas querendo ser engraçado, o que é um erro porque também detesto piadas sem graça, e as que têm graça também - Jogou de volta o envelope na mesa. Cruzou os braços fixando o olhar em Mirela que apenas suspirou abaixando a cabeça.

Queria surtar e dar no rosto, mas tudo bem. Tudo bem.

— Eu não quero um documento e ler sobre a garota que saiu dessa casa correndo como se eu fosse uma praga - Mirela o olhou — O que? Acha que sou algum tipo de praga? É isso? - Ela não respondeu. Se dissesse que sim, podia ser que ele a mandaria embora, e ganhava tão bem, ainda que sentisse ódio o tempo todo.

— Sr. Levi, eu não faço ideia de onde ela pode está no momento.

— Se todo mundo soubesse onde ela está no momento, não a mandaria procurar. Vai. - Ordenou e a outra deu a volta surtando, mas foi.

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