Lia PerroniO tempo que fiquei no escritório da Dra. Silva foi o suficiente para que o tempo passasse rapidamente. Agora são dez e cinquenta. Meu celular toca, e eu vejo o nome de Marcelo na tela. Eu sinto um arrepio na espinha ao atender a ligação.— Aonde você está? — é a primeira coisa que ele fala, com uma voz autoritária e desconfiada.Eu respiro fundo e tento manter a calma.— Estou no centro, te encontro em frente à escola de Esmel — eu digo, tentando soar natural e despreocupada.Marcelo pausa por um momento antes de responder.— Está bem, mas não se atrase — ele diz, com uma ameaça velada na voz.Eu sinto um frio na espinha ao ouvir as palavras de Marcelo. Eu sei que ele está desconfiado e que eu preciso ter cuidado. Eu respiro fundo e tento me acalmar.— Não me atrasarei — eu digo, tentando soar confiante.Marcelo desliga a ligação sem dizer mais nada. Eu fico olhando para o celular, sentindo-me ansiosa e preocupada. Eu sei que o encontro com Marcelo não será fácil.Pego um
Lia Perroni Eu senti um alívio imenso quando o almoço em família finalmente chegou ao fim. Não precisaria mais fingir ser a esposa perfeita e feliz. — Bom, temos que ir agora — disse minha sogra, com um sorriso que não chegava aos olhos. — Querida, qualquer dia desses passe lá em casa para colocarmos a conversa em dia. E traga a Esmel, sinto falta da minha neta. Eu sorri sem jeito, sentindo-me desconfortável com a ideia de ter que visitar minha sogra novamente. — Claro, sogra, será um prazer! — eu disse, forçando um sorriso. Esmel começou a se mexer na cadeira, inquieta. — Mamãe, quero ir ao banheiro! — ela disse. Eu peguei a mão dela. — Vamos lá, enquanto isso seu pai vai pagando a conta — eu disse, indo em direção ao banheiro com Esmel. Os olhos de Marcelo me seguiram, desconfiados. Eu pude sentir seu olhar pesado sobre mim, como se ele suspeitasse de algo. Eu tentei ignorar, mas não pude evitar sentir um arrepio na espinha. No banheiro, Esmel começou a falar sobre o almoç
Lia Perroni Eu corri para fora do escritório e fui para a cozinha, onde estava Esmel com Luz. Eu sabia que Marcelo não faria nada comigo na presença da nossa filha.— O que houve, mamãe? — Esmel perguntou, notando o olhar desesperado no meu rosto.Eu sorri, ainda um pouco abatida.— Nada, querida. Só estava conversando com seu pai sobre alguns assuntos — eu disse, tentando manter a calma.Nesse momento, o grito de Marcelo interrompeu a cozinha. Ele estava gritando por mim, e pelo tom, ele estava furioso.— Sua vadia! — Marcelo disse, entrando na cozinha. Ele marchou até mim e me deu um tapa no rosto.Com o tapa, eu caí no chão. Esmel gritou assustada, e o meu lábio começou a sangrar. Esmel desmaiou, e só nesse instante Marcelo percebeu a presença da nossa filha.Luz, que viu toda a cena, correu para socorrer Esmel.— Não toque na minha filha! — Marcelo disse, empurrando Luz e pegando Esmel no colo.Eu me levantei do chão e corri para o lado da minha filha, preocupada.— Olha o que vo
Lia PerroniNo dia seguinte, acordei com Esmel agarrada à minha cintura. Uma onda de náusea tomou conta de mim e me levantei correndo da cama, seguindo para o banheiro para vomitar.Eu me apoiei na pia, sentindo-me fraca e desorientada. A náusea era intensa e eu não conseguia controlar o meu estômago. Esmel entrou no banheiro atrás de mim, olhando para mim com preocupação.— Mamãe, você está bem? — ela perguntou, sua voz cheia de ansiedade.Eu assenti com a cabeça, tentando tranquilizá-la.— Sim, querida, estou bem. Só estou me sentindo um pouco mal — eu disse, tentando sorrir.Mas Esmel não parecia convencida. Ela se aproximou de mim e me abraçou, como se quisesse me proteger.— Eu não quero que você fique doente, mamãe — ela disse, sua voz trêmula.Eu a abracei de volta, sentindo-me grata pela preocupação da minha filha.— Eu vou ficar bem, querida. Prometo — eu disse, tentando transmitir confiança.Já que Esmel estava acordada e de pé, decidi arrumá-la para a escola.Dei um banho n
Lia Perroni Arregalo os olhos ao escutar a voz de Marcelo, me viro para ele lentamente, sentindo um arrepio na espinha. Seu olhar é penetrante, e posso sentir a desconfiança emanando dele. — Ah, você chegou na hora certa — digo, forçando um sorriso natural. — Eu e Luz estávamos apenas... espalhando ratoeira pela casa. Temos alguns filhotes de rato aqui, então tome cuidado para não pisar em nenhuma. Marcelo se aproxima de mim, seu rosto tão colado que posso sentir sua respiração quente em meu rosto. Seu olhar é intensamente desconfiado. — Verdade? — ele pergunta, sua voz cheia de dúvida. Eu assinto com a cabeça, tentando manter a calma. — Então você deve demitir Luz — Marcelo conclui, sua voz firme. — Ela não está fazendo o seu trabalho direito. Meu coração afunda. Não posso deixar que Marcelo demita Luz, ela é minha única aliada na casa. — Não! — digo, um pouco alto demais. — Quero dizer, não há necessidade de demiti-la. São apenas filhotes de rato, e já coloquei reméd
Lia Perroni Abro os olhos e me encontro em um quarto branco, conectada a aparelhos. Olho ao redor, constatando que estou em um hospital. — Mamãe! — Esmel grita, passando pela porta. Ela ainda está com o uniforme da escola e seu rosto está manchado de lágrimas. — Esmel? O que você está fazendo aqui? — pergunto, abraçando minha filha. — Mamãe... — Esmel diz, com a voz embargada pelo choro. — A senhora está bem agora? Papai falou que a senhora caiu da escada e quase perdeu meu irmãozinho. É verdade que vou ter um irmão? — ela pergunta, com os olhos brilhando. Encaro-a, confusa, e levo a mão à barriga. — Então, eu não o perdi... — sussurro, incrédula. Esmel me olha, curiosa. — O que você disse, mamãe? — ela pergunta. Sorrio, emocionada. — Nada, meu amor! Onde está seu pai? — pergunto. Milhões de perguntas invadem minha mente. Eu realmente estou grávida, e Marcelo ajudou a salvar meu bebê, como pedi antes de desmaiar. Mas o que ele pretende fazer? O que ele quer em
Lia Perroni Eu nunca pensei que fugiria de minha própria vida. Mas aqui estou eu, sentada no banco do passageiro de um ônibus, com minha filha Esmeralda dormindo ao meu lado. Eu olhei para trás, para a cidade que deixei para trás. A cidade onde eu conheci Marcelo, o homem que prometeu me amar para sempre, mas que me transformou em uma prisioneira em minha própria casa. Nós nos conhecemos em uma festa, e ele foi charmoso e atencioso. Eu era uma jovem e ingênua, e acreditei que ele era o amor da minha vida. Mas logo após o casamento, tudo mudou. Ele se tornou controlador e possessivo, e eu comecei a perder minha liberdade. Me lembro perfeitamente da primeira vez que ele me bateu. Eu ainda estava grávida de Esmeralda, e ele estava bêbado. "Você é minha", ele disse, enquanto me batia. Eu pensei em fugi, mas o medo dele me encontra e acaba sendo pior, me fez acovardar. Mas desta vez, eu estava determinada a escapar. O ônibus parou em uma pequena cidade no interior do México. E
Lia Perroni No dia seguinte, acordo bem cedo e me arrumo, preparo o café e chamo Esmel.— Bom dia, mamãe! — disse ela, esticando os braços.— Bom dia, meu amor! — eu disse, abraçando-a.Nós tomamos o café juntas e eu a ajudei a se preparar para o primeiro dia de escola.— Estou nervosa, mamãe — disse ela.— Tudo vai dar certo, meu amor. Você vai fazer amigos e aprender coisas novas — eu disse, tentando tranquilizá-la.Kairós chegou pontualmente para nos levar à escola.— Bom dia! — disse ele, sorrindo.— Bom dia! — eu disse, sentindo meu coração bater mais rápido.Na escola, a diretora nos recebeu com um sorriso.— Bem-vinda, Esmeralda! — disse ela.Esmeralda sorriu.— Obrigada — disse ela.Depois de se despedir de Esmel, Kairós me ofereceu uma carona até a loja.— Obrigada — eu disse.No caminho, conversamos sobre nossos planos para o dia.— Você tem planos para o fim de semana? — perguntou ele.Eu hesitei.— Não sei. Ainda estou me adaptando — eu disse.— Eu posso te mostrar a cida