Lia Perroni O impacto da voz de Esmel pareceu atingir Marcelo como um raio. Sua mão afrouxou o aperto em meus cabelos, e ele se virou lentamente para encarar a figura frágil no topo da escada. A raiva em seu rosto deu lugar a uma expressão confusa, quase atordoada.— Esmel... meu amor... o que você está fazendo aí? — ele perguntou, sua voz surpreendentemente suave, quase um sussurro. Era como se a presença da filha tivesse acionado um interruptor, fazendo emergir uma faceta paterna que eu raramente via.As lágrimas escorriam livremente pelo rosto de Esmel enquanto ela descia hesitantemente alguns degraus, seus olhinhos fixos em mim, caída no chão.— Você está machucando a mamãe... por que você está fazendo isso? Ela não fez nada de ruim — sua voz infantil ecoava pelo silêncio da casa, carregada de uma tristeza inocente que era muito mais cortante do que qualquer grito.Marcelo pareceu cambalear diante das palavras da filha. Ele soltou meu cabelo completamente e se levantou, seus olho
KairósOs olhos de Esmel cravaram-se em mim, carregados de uma fúria infantil avassaladora. Naquele instante, o peso da arma em minha mão pareceu insuportável, e ela escorregou dos meus dedos, caindo no chão com um baque seco que ecoou no silêncio brutal da casa.Senti meu corpo paralisar, o choque me atingindo como uma onda gelada. A cena diante de mim era um pesadelo palpável: Marcelo inerte, Esmel coberta de sangue, e o ódio puro e desconsolado emanando daquela pequena figura. Minha mente estava um turbilhão de emoções conflitantes – o alívio de ter evitado uma tragédia maior, a culpa por ter tirado uma vida, e, acima de tudo, a dor lancinante no olhar de Esmel. Não havia palavras, não havia reação possível que pudesse amenizar a devastação daquele momento. Eu estava petrificado, sem saber o que dizer ou como reagir diante da acusação silenciosa e dolorosa daquela criança.— Você! Você matou o meu pai! Eu te odeio! Eu quero que você morra! — Esmel gritou, sua voz infantil rasgada p
Lia PerroniO enterro de Marcelo pairava sobre nós como uma sombra densa, um evento íntimo e doloroso reservado àqueles que compartilhavam o laço do sangue ou da proximidade. Kairós estava lá, uma presença silenciosa e constante que eu não conseguia decifrar completamente. Sei que sua devoção a mim o impulsionava, mas a complexidade da situação nos envolvia em uma névoa de incerteza. Amava Kairós profundamente, mas Marcelo... Marcelo havia sido meu marido, o pai da minha filha. Eu ansiava por justiça, por vê-lo pagar por seus crimes, mas não por este fim tão abrupto e trágico.Apesar de suas falhas como esposo, para Esmel, Marcelo era o mundo, o melhor pai em seus pequenos anos. E, em sua essência, ele a amava com uma intensidade palpável, uma afeição que, no fundo, eu sempre soube ser genuína. O medo, a constante ameaça que ele representava para mim, turvaram meus pensamentos, me impedindo de enxergar com clareza. Agora, diante do caixão, a verdade se impunha: Marcelo jamais teria ma
Lia Perroni Dois anos haviam transcorrido desde a tragédia que marcou nossas vidas. Eva, agora uma menina esperta e curiosa, com seus dois anos de idade, irradiava a alegria que preenchia os espaços vazios da nossa casa. A vida, com sua resiliência inata, havia encontrado um novo ritmo, uma nova normalidade.No entanto, nem tudo havia se resolvido completamente. Kairós continuava conosco, sua presença constante um lembrete silencioso do passado. Nosso relacionamento, antes tão vibrante e apaixonado, agora se movia em um terreno delicado, marcado pela cautela e pela hesitação. A sombra da morte de Marcelo ainda pairava sobre nós, um fantasma que se recusava a ser silenciado.Esmel, apesar do tempo transcorrido, ainda carregava a dor da perda e a raiva contra Kairós. Para ela, ele era o homem que havia tirado seu pai, uma figura complexa e dolorosa em sua pequena vida. A cada interação, a cada olhar, a hostilidade silenciosa se manifestava, criando uma barreira entre nós.Eu, por minha
Lia PerroniKairós me deitou suavemente na cama, seus olhos fixos nos meus, a paixão ardendo em seu olhar. Ele se posicionou sobre mim, seu corpo emanando um calor familiar e desejado. Seus lábios desceram para o meu pescoço, beijando e chupando a pele macia com uma delicadeza que me fez suspirar. Um gemido baixo escapou dos meus lábios, a excitação se acumulando em meu corpo, minha intimidade pulsando com uma necessidade urgente.— Kairós... — sussurrei seu nome, a voz rouca e carregada de desejo.Ele ergueu a cabeça, seus olhos encontrando os meus, uma chama ardente dançando em seu olhar.— Hum? — ele murmurou, a voz grave e rouca, como se estivesse lutando para manter o controle.A impaciência me consumiu, a necessidade de tê-lo dentro de mim se tornando insuportável. A hesitação, a cautela, tudo se dissipou diante da urgência do momento.— Me fode, Kairós — declarei, a voz carregada de desejo e determinação.A intensidade do meu desejo o surpreendeu, mas ele não hesitou. Seus olho
Lia PerroniA luz suave da manhã filtrava pelas cortinas, tingindo o quarto com um tom dourado e aconchegante. Senti um calor familiar se espalhando por minhas costas, e um gemido baixo escapou dos meus lábios quando senti Kairós me penetrar lentamente, preenchendo-me com sua presença quente e desejada.— Kairós... — sussurrei seu nome, a voz rouca e sonolenta.— Bom dia, vadia gostosa — ele murmurou, a voz grave e rouca, enquanto me beijava suavemente no pescoço. — Dormiu bem?— Hum... melhor agora — respondi, arfando quando ele se moveu dentro de mim, a sensação me despertando completamente.Ele riu baixinho, o som vibrando contra minha pele, e começou a se mover dentro de mim em um ritmo lento e sensual, estocadas profundas e prazerosas que me faziam gemer.— Você é tão apertada, Lia. Tão quente... — ele sussurrou, a voz rouca e carregada de desejo, enquanto suas mãos exploravam minhas curvas, apertando minha cintura e acariciando meus seios.— Ah, Kairós... isso é tão bom... — gem
Lia PerroniDei um beijo rápido em Kairós, peguei Eva no colo e saí do apartamento, sentindo o peso da tensão pairar no ar. Perto do elevador, Esmel me esperava, sua expressão ainda fechada e séria.— Quando você chegar da escola, vamos conversar — declarei, minha voz firme e determinada.Ela me encarou, seus olhos desafiadores.— Sobre o quê? Eu só disse a verdade. Não entendo por que tenho que aturar esse homem aqui em casa. Ele matou o meu pai. Não gosto dele. Quero que ele vá embora e nos deixe em paz de uma vez por todas.Suspirei, sentindo a frustração e a impotência me invadirem.— Não vamos ter essa conversa agora, Esmel. Estamos atrasadas. — Apertei o botão do elevador, rezando para que ele chegasse logo. — E você não fala assim dele.As portas se abriram, e entramos no elevador em silêncio, a tensão palpável entre nós. Eva, alheia à nossa discussão, balbuciou alegremente, tentando chamar nossa atenção.— Mamãe... papa... — ela dizia, estendendo os bracinhos para mim e para E
Esmel PerroniA mamãe queria que eu gostasse do Kairós, que perdoasse ele, mas eu não consigo. O papai morreu por causa dele, e isso não sai da minha cabeça. Eu sei que o papai não era um santo, mas ele era o meu papai, e o Kairós não tinha o direito de tirar ele de mim.O vovô disse que o Kairós só fez aquilo pra ficar com a mamãe, e que ele nem se arrependeu de verdade. E agora a mamãe tá com ele de novo, como se nada tivesse acontecido. Eu não quero morar com o homem que matou o meu pai.Eu já decidi, vou morar com a vovó e o vovô. Já arrumei minha mochila com minhas roupas e meus brinquedos. Não quero ficar nem mais um dia nessa casa, principalmente agora que a mamãe resolveu ficar com ele.Eu não consigo entender como ela pode esquecer o papai assim. Eu não consigo, e não vou fingir que tá tudo bem. Não vou aguentar ver o Kairós todos os dias, como se fosse da família. Eu preciso ir embora.— O que você está fazendo, querida? — mamãe perguntou, entrando no meu quarto e vendo que