Nicolas Santorini A notícia que Jhulietta me dera sobre meu filho querer retornar à escola me animou profundamente. Ethan se recusava a ir desde o incidente com a mãe e o bullying e mesmo minhas ameaças veladas não surtiam efeito. Era dilacerante ver meu filho naquela situação, isolado do mundo, preso a uma dor que eu, em grande parte, havia causado. A perspectiva de vê-lo retomar a vida social, aprender, interagir com outras crianças, era como um bálsamo para minha alma atormentada. Gostaria de ter me sentado e conversado com Jhulietta sobre isso, expressar minha gratidão de forma mais eloquente, mas ela se retirou da cozinha rapidamente, deixando-me sozinho com meus pensamentos. Quando terminei meu lanche, fui até o quarto de Ethan e o observei dormir tranquilamente. Na cabeceira da cama, repousava sua medalha, o símbolo tangível de sua conquista na feira de ciências. Passei a mão delicadamente pela superfície fria do metal, um sorriso involuntário brotando em meus lábios. Meu f
Ethan SantoriniRespirei fundo, segurando a alça da mochila com força. A escola parecia enorme de novo, como se eu tivesse me esquecido do tamanho dela. Agradeci a tia Jujubinha e ao meu pai pelo apoio e entrei. O corredor estava cheio de alunos, conversando e rindo. Senti um frio na barriga, mas me forcei a continuar andando.Cheguei na minha sala e a professora, Dona Clotilde, me viu e abriu um sorriso.— Ethan! Que bom te ver de volta! Sente-se, por favor.A sala toda olhou para mim. Senti minhas bochechas corarem, mas fui até uma carteira vazia perto da janela e me sentei. Um menino de óculos redondos e uma menina numa cadeira de rodas me olharam com um sorriso.— Que bom que você voltou, Ethan! — disse o menino.— Sentimos sua falta! — completou a menina.— Obrigado — respondi, timidamente.A aula começou e, apesar de algumas matérias estarem um pouco atrasadas, consegui acompanhar a maior parte. A tia Jujubinha tinha me ajudado muito. Quando o sinal tocou para o lanche, Aurélia,
Jhulietta DuarteUm mês havia se passado, e eu estava feliz por Ethan estar se adaptando bem à escola novamente. Apesar de algumas crianças zombarem dele ocasionalmente, ele tem lidado de forma admirável. Sua amizade com Viollet, Aurélia e Emanuel tem sido positiva. Sempre que os pais permitem, os três vêm passar o dia com ele. Por vezes, tento deixá-los a sós para fazerem coisas de crianças, mas Ethie faz questão que eu esteja por perto.Minha relação com Nicolas, por outro lado, continua estagnada. Não sinto mais o desprezo que sentia no início, mas nossa interação se limita a conversas esporádicas na cozinha, nosso local de encontro quase que oficial.Hoje, Ethan pediu para visitar os avós, e Nicolas sugeriu que eu o levasse. Ao chegar, fui recebida por Gina, a governanta da casa, a quem Ethan chama carinhosamente de "tia Gina". A casa era grandiosa, e fiquei imaginando Nicolas correndo por ali na infância, explorando cada canto.Depois que minha mãe foi assassinada, nunca tive um
A madrugada parecia mais longa do que o habitual. O relógio na cabeceira marcava 3h20, mas o tempo parecia congelado. Minhas mãos tremiam enquanto passava os dedos pelos lençóis úmidos de suor. O pesadelo ainda pulsava em minha mente, como uma cicatriz recém-aberta. As lembranças dos gritos da minha mãe, do cheiro metálico do sangue e do olhar frio do meu pai estavam tão nítidas que era como se tudo estivesse acontecendo novamente.Engoli em seco, tentando afastar as imagens, mas a sombra escura do passado continuava a pairar. Levantei-me da cama com cuidado para não fazer barulho. A casa estava silenciosa, exceto pelo som baixo do vento lá fora. Eu precisava de ar, de espaço. Peguei meu casaco no cabideiro e desci as escadas.Caminhei até a área da piscina. O reflexo da lua na água parecia uma miragem distante, mas ainda assim reconfortante. Sentei-me no chão frio, abraçando os joelhos, e deixei as lágrimas caírem livremente. Chorava por tudo: pela dor que nunca desapareceu, pela cri
Nicolas Santorini.Eu ainda sentia o gosto do beijo de Jhulietta quando voltei para dentro de casa naquela madrugada. Ela tinha uma leveza que me fazia querer parar o tempo, como se o mundo inteiro pudesse esperar enquanto estávamos juntos. Mas, ao mesmo tempo, havia um peso nela, algo que ela carregava sozinha e que eu mal conseguia decifrar.Na manhã seguinte, acordei cedo, como de costume. O cheiro de café fresco já preenchia o ambiente quando desci para a cozinha. Ethan estava sentado à mesa, com os olhos brilhando e uma animação contagiante.— Olha quem acordou animado outra vez! — comentei, pegando uma xícara de café.— Bom dia, papai! Hoje, depois da escola, tem jogo de futebol. Você vai, né? — ele perguntou com um sorriso de orelha a orelha.Hesitei. A verdade é que eu tinha uma reunião importante marcada para a tarde, algo que não podia adiar. Respirei fundo antes de responder.— Filho, hoje eu tenho uma reunião importante, mas, se der, eu vou. Prometo tentar.O sorriso de Et
O som do despertador ecoou pela casa, mas eu já estava acordado. A conversa com Ethan na noite anterior não saía da minha cabeça. *"Já estou acostumado."* Essas palavras estavam cravadas em mim como um lembrete do quanto eu tinha falhado. Não era isso que eu queria para ele, para nós. Levantei-me, determinado a mudar. A vida não vinha com manual, mas eu sabia que precisava tentar ser um pai melhor, mais presente. Ethan merecia isso. Desci para tomar café, e ele já estava à mesa, quieto, distraído com os próprios pensamentos. Puxei a cadeira e me sentei. — Bom dia, campeão — cumprimentei, tentando soar leve. — Bom dia, pai — respondeu ele, sem sorrir. Ele ainda estava chateado com minha ausência no jogo. Dona Neuza me serviu os ovos e se retirou, deixando-nos a sós. — Filho, podemos conversar um pouco? — perguntei. Ele me olhou com curiosidade, mas assentiu. — Sobre o que? — Sobre ontem. Sei que não fui ao jogo, e isso te chateou. — Não precisa pedir desculpas de no
Jhulietta Duarte A brisa noturna era suave, trazendo consigo o cheiro do mar que parecia abraçar o resort. Nicolas e eu caminhávamos lado a lado por uma trilha pavimentada que levava até a praia. O silêncio entre nós não era desconfortável, mas sim tranquilo, quase cúmplice. À nossa frente, as luzes do resort se mesclavam com as estrelas acima, criando um cenário quase mágico. Decidi quebrar o silêncio, minha curiosidade me impulsionando. — Quantos resorts sua família tem mesmo? — perguntei, olhando para ele de soslaio. Ele deu um meio sorriso, aquele tipo de sorriso que sempre parecia carregado de mistério e segurança. — Dezesseis, no total — respondeu casualmente, como se fosse algo comum. Arregalei os olhos, surpresa. — Dezesseis? Isso é muita coisa, Nicolas! Ele riu baixinho, balançando a cabeça. — Na verdade, não. Além dos resorts, temos vinte hotéis espalhados pelo Brasil. Parei de andar por um momento, processando a informação. — Vinte hotéis e dezesseis re
Quando Nicolas me beijou, senti como se o mundo ao meu redor desaparecesse. Era intenso, mas ao mesmo tempo delicado, como se ele tivesse cuidado para não ultrapassar nenhum limite. — Podemos ir para um lugar mais reservado? — ele perguntou, sua voz baixa e suave. Seguimos até um local mais afastado, onde o som das ondas parecia quase um sussurro ao fundo. Quando ele voltou a me beijar, tudo o que eu queria era me deixar levar. Mas, quando senti seu peso ligeiro enquanto ele se inclinava sobre mim, foi como se eu tivesse sido transportada de volta para aquele dia. Meu corpo congelou, o pânico tomou conta, e, antes que eu pudesse me controlar, gritei. — Não! — Minha voz ecoou no silêncio da noite enquanto eu o empurrava com força. Me afastei rapidamente, abraçando meus joelhos, as lágrimas já rolando pelo meu rosto. Meu corpo tremia tanto que eu mal conseguia respirar. — Me desculpa... me desculpa, Nicolas... — murmurei entre soluços, a vergonha me esmagando. Ele fi