Jhulietta DuarteEstava colocando Ethan para dormir quando ele me chamou de volta.— O que houve, meu amor? — perguntei, sentando ao lado dele.— Mamãe, podemos sair amanhã? Só eu e você? — Ele me olhou com expectativa.— Onde você quer ir?— No shopping e depois ao cinema. Saiu um filme novo e quero muito assistir.— Claro que sim, meu amor. Vamos ter um dia muito divertido.— Obrigado, mamãe!Sorri, acariciando seus cabelos antes de dar-lhe um beijo na testa.Quando cheguei ao quarto, Nicolas desligou o notebook e me chamou para sentar ao seu lado.— Amanhã, Ethie e eu vamos ao shopping. Ele me convidou para assistir a um filme.Nicolas sorriu.— Nosso filho gosta tanto de você. Às vezes, parece até que ele não gosta de mim.— Para com isso, ele te adora.— Mas gosta mais de você. — Ele suspirou, rindo. — Mas tudo bem, até eu gosto mais de você do que de mim.Ri junto com ele e, depois de trocarmos um carinho, nos ajeitamos para dormir.Na manhã seguinte, terminei de me arrumar e de
Respirei fundo, tentando manter a calma. — Cinco minutos. — Repeti. — E então, você vai me deixar em paz. Diogo assentiu. — Obrigado. Mas acho melhor irmos para um lugar mais reservado. Você sabe que estou sendo procurado pela polícia. A ideia de ficar sozinha com ele, ainda mais com Ethan ao meu lado, me deixava desconfortável. Mas não queria uma cena no meio do shopping, principalmente com Ethan ali. Olhei ao redor e avistei uma cafeteria próxima. — Vamos para lá. Ele concordou, e segurei firme a mão de Ethan enquanto caminhávamos até a cafeteria. Meu coração estava acelerado, e meu estômago revirava. Eu não sabia o que Diogo queria me dizer, mas tinha certeza de que não era nada que eu gostaria de ouvir. Assim que entramos, escolhi uma mesa perto da janela. Ethan sentou ao meu lado, e Diogo ficou à nossa frente. — O que você quer? — Perguntei sem rodeios. Diogo entrelaçou os dedos sobre a mesa e me olhou com intensidade. — Sei que você me odeia pelo que fiz co
Diogo LimaApertei os punhos com força enquanto caminhava até o carro de Coiote, meu coração batendo rápido, mas não de nervosismo. Eu estava irritado. A pirralha era mais teimosa do que eu imaginava. Jhulietta podia ser minha filha, mas tinha o dom de me tirar do sério. Abri a porta do carro e entrei, batendo-a com força. Coiote, ao volante, me olhou com um sorriso torto, já acostumado com meu mau humor. — E aí, como foi? — perguntou ele, acendendo um cigarro e tragando com calma. Passei a mão pelo rosto, irritado. — Aquela garota é insuportável. Parece que herdou minha teimosia. Coiote soltou uma gargalhada baixa. — Bom, ela é sua filha. — O filho da puta continuou rindo e olhei torto para ele que não se importou. — Vai se foder! Ele ergueu as mãos em rendição, ainda rindo. — E então? Conseguiu o que queria? Soltei um riso seco, sem humor. — Não cedeu a nada. Não quer me dar um centavo, acha que é dona da verdade. Mas mal sabe ela que a vida não é tão preto n
Você acredita que o nosso destino já está traçado de alguma forma?Eu nunca acreditei muito nisso... até meu caminho se cruzar com o de um lindo menino de olhos azuis. Através dele, encontrei mais do que buscava na vida. E tudo começou naquele final de tarde…Sou Jhulietta Duarte, professora em uma escola pública no coração da cidade. Sabe o que essa profissão me ensinou? Que a rotina simplesmente não existe. Crianças são imprevisíveis. Uma pergunta inesperada, um pequeno acidente ou um olhar carregado de uma tempestade silenciosa podem transformar um dia comum em um verdadeiro enigma.Depois de uma semana exaustiva, tudo o que eu queria era chegar em casa, tirar os sapatos, preparar um chá quente e me perder em um filme qualquer. Nada de surpresas.O relógio se aproximava das seis e meu trajeto até o ponto de ônibus era sempre o mesmo: ruas calmas, crianças rindo ao longe, um cachorro latindo, o murmúrio do trânsito ao fundo.Mas hoje… havia algo diferente.O silêncio parecia pesado,
A situação era tão irreal que parecia um sonho distorcido. Eu, uma professora de escola pública, estava agora enclausurada no banco de trás de um carro luxuoso, a mão pequena de Ethan apertando a minha com uma força quase desesperada. O homem a nossa frente emanava uma aura de tensão palpável. Sua postura rígida, os olhos fixos na estrada como se fugisse de algo, denunciavam uma batalha interna, um turbilhão de emoções contido a duras penas. — Senhor… — tentei quebrar o silêncio denso que nos envolvia como uma mortalha. — Santorini. Nicolas Santorini — respondeu ele, sem desviar o olhar da estrada. A voz grave e autoritária ecoou no interior do carro, revelando um homem acostumado a comandar. Engoli em seco. O sobrenome soava familiar, uma vaga lembrança que dançava à margem da minha memória, sem se concretizar. — Senhor Santorini, não quero me intrometer, mas… acho que precisamos conversar sobre o que aconteceu. Um suspiro impaciente escapou de seus lábios, como se minha ten
Nicolas Santorini Chegar em casa sempre me proporcionava uma trégua efêmera. Um breve alívio antes da exaustão inevitável. Meu dia, como tantos outros, fora uma maratona de reuniões intermináveis, a frieza dos contratos e o peso das decisões cruciais. Tudo o que ansiava era o silêncio reconfortante do meu lar e a presença de Ethan, mesmo que nossos encontros, desde a partida de Laura, fossem permeados por uma melancolia persistente. Assim que cheguei minha casa estava silenciosa. Normalmente, a essa hora, Ethan jogando ou brincando. Fechei a porta atrás de mim, um pressentimento incômodo se instalando em meu peito. — Ethan? — chamei, a voz ecoando no vazio. O silêncio respondeu. A calma que eu tanto buscava se esvaiu, dando lugar a uma crescente apreensão. Caminhei pela casa e cada passo aumentava a angústia. O quarto de Ethan estava impecável, um péssimo sinal. Meu filho era a personificação da desordem infantil. Inspecionei embaixo da cama, dentro do closet, vasculhei cada
Jhulietta Duarte O dia na escola transcorreu entre a sinfonia usual de vozes infantis, risadas contagiantes e os desafios inerentes ao desenvolvimento. Ensinar era mais do que uma profissão, era a minha paixão, a força motriz que me impelia adiante. No entanto, mesmo em meio à rotina, a imagem de Ethan e o eco de sua voz me chamando de “mamãe” persistiam em minha mente. Aquele gesto, apesar de toda a sua estranheza, havia plantado uma semente de afeto em meu coração.Enquanto organizava meus materiais após o expediente, uma mensagem inesperada vibrou em meu celular. Era de Nicolas Santorini. A mensagem, concisa e direta, contrastava com a imagem fria que eu tinha dele."Ethan insiste em vê-la. Se estiver disponível, venha até minha casa. Ele parece mais tranquilo com sua presença."Relendo a mensagem, tentei decifrar o que motivara aquele convite. Desespero? Pragmatismo? Ou algo mais? A mera possibilidade de rever Ethan me trouxe um calor reconfortante. Aos poucos, as visitas foram s
Nicolas SantoriniAs palavras de Ethan martelavam em minha mente como uma acusação silenciosa: “Eles dizem que sou órfão. Que minha mãe não me aguentou.” A crueldade infantil, tão brutal quanto inesperada, me confrontava com minha própria negligência. Eu estava falhando com meu filho, deixando-o à mercê de um mundo implacável.O restante do jantar se arrastou em um silêncio constrangedor. Ethan, absorto em seus próprios pensamentos sombrios, mal tocou na comida. Jhulietta, com uma delicadeza admirável, tentava amenizar a atmosfera pesada, mas seus esforços eram em vão. Eu apenas observava, perdido em um turbilhão de culpa e arrependimento. Quando Ethan finalmente pediu licença para se retirar, um alívio momentâneo pairou na sala de jantar. Mas a conversa que se seguiu prometia ser ainda mais difícil.Jhulietta me encarou, um misto de desconforto e determinação em seus olhos.— Ele não deveria passar por isso. — Sua voz era suave, mas carregada de convicção.— Acha que eu não sei? — re