Diogo LimaApertei os punhos com força enquanto caminhava até o carro de Coiote, meu coração batendo rápido, mas não de nervosismo. Eu estava irritado. A pirralha era mais teimosa do que eu imaginava. Jhulietta podia ser minha filha, mas tinha o dom de me tirar do sério. Abri a porta do carro e entrei, batendo-a com força. Coiote, ao volante, me olhou com um sorriso torto, já acostumado com meu mau humor. — E aí, como foi? — perguntou ele, acendendo um cigarro e tragando com calma. Passei a mão pelo rosto, irritado. — Aquela garota é insuportável. Parece que herdou minha teimosia. Coiote soltou uma gargalhada baixa. — Bom, ela é sua filha. — O filho da puta continuou rindo e olhei torto para ele que não se importou. — Vai se foder! Ele ergueu as mãos em rendição, ainda rindo. — E então? Conseguiu o que queria? Soltei um riso seco, sem humor. — Não cedeu a nada. Não quer me dar um centavo, acha que é dona da verdade. Mas mal sabe ela que a vida não é tão preto n
A cada minuto que passava, me sentia mais inquieta. Meu café esfriava na xícara enquanto minha mente rodava em um turbilhão de pensamentos. O que estava prestes a descobrir? Será que Diogo estava mesmo mentindo ou havia um fundo de verdade nas palavras dele? Sacudi a cabeça, afastando essa possibilidade. Minha mãe sempre foi um exemplo para mim, uma mulher forte, determinada, que batalhou para me criar sozinha. Não podia ser verdade. Não queria que fosse verdade. Olhei para o relógio no celular, contando os minutos até que o senhor Giovanni chegasse. Ele era a única pessoa que poderia esclarecer isso para mim, a única pessoa que conheceu minha mãe bem o suficiente para desmentir essa acusação absurda. Minutos depois, vi a figura imponente do senhor Giovanni entrando na cafeteria. Ele vestia um terno escuro, como sempre, e parecia carregado de preocupação. Assim que me viu, caminhou até minha mesa e se sentou à minha frente, analisando-me com atenção. — Jhulietta, o que acontec
Giovanni Santorini O dia estava nublado, como se o céu quisesse refletir o que eu sentia por dentro. Cada passo que eu dava até a empresa de Nicolas parecia mais pesado do que o anterior, e o turbilhão de pensamentos na minha mente parecia não dar trégua. Eu sabia que precisava conversar com ele, precisava entender até onde ele estava disposto a ir para afastar aquele homem da vida de Jhulietta.A porta do escritório de Nicolas estava entreaberta quando cheguei, e ao entrar, vi meu filho sentado em sua cadeira, os olhos fixos na tela do computador, mas sua mente provavelmente em algum outro lugar. Ele levantou o olhar ao me ver entrar e fez um gesto com a cabeça, convidando-me a me sentar.— Pai, aconteceu alguma coisa? — Ele perguntou, a expressão carregada de preocupação.— Estava com Jhulietta e resolvi dar uma passadinha aqui.— Aconteceu algo com ela? A Jhulie não me ligou.Me acomodei na cadeira à frente de sua mesa, observando-o por um momento antes de falar. Nicolas sempre fo
Nicolas SantoriniO dia seguia tenso. A conversa com meu pai ainda ecoava em minha mente, e as palavras dele estavam gravadas como um estigma. Ele sempre soubera como manipular as situações, e agora eu me via diante de um dilema. Diogo Lima, o homem que parecia ser a sombra constante sobre a vida de Jhulietta, não dava sinais de desistir, e eu estava determinado a tirar esse peso das costas dela de uma vez por todas.Caminhei até a janela de meu escritório e olhei para o horizonte, onde as nuvens ainda pairavam no céu cinza, refletindo o caos que parecia estar à minha volta. Eu tinha um objetivo claro: afastar Diogo da vida de Jhulietta. Eu sabia que ele não era um homem qualquer, que jogava sujo e que só se importava com poder e dinheiro. A proposta que meu pai sugerira – uma oferta financeira – era o que eu precisava para alcançar o que queria. Mas, para isso, eu precisava do número de Diogo, e Pedro, o único que poderia conseguir isso, era a minha única esperança.Puxei o celular d
Você acredita que o nosso destino já está traçado de alguma forma?Eu nunca acreditei muito nisso... até meu caminho se cruzar com o de um lindo menino de olhos azuis. Através dele, encontrei mais do que buscava na vida. E tudo começou naquele final de tarde…Sou Jhulietta Duarte, professora em uma escola pública no coração da cidade. Sabe o que essa profissão me ensinou? Que a rotina simplesmente não existe. Crianças são imprevisíveis. Uma pergunta inesperada, um pequeno acidente ou um olhar carregado de uma tempestade silenciosa podem transformar um dia comum em um verdadeiro enigma.Depois de uma semana exaustiva, tudo o que eu queria era chegar em casa, tirar os sapatos, preparar um chá quente e me perder em um filme qualquer. Nada de surpresas.O relógio se aproximava das seis e meu trajeto até o ponto de ônibus era sempre o mesmo: ruas calmas, crianças rindo ao longe, um cachorro latindo, o murmúrio do trânsito ao fundo.Mas hoje… havia algo diferente.O silêncio parecia pesado,
A situação era tão irreal que parecia um sonho distorcido. Eu, uma professora de escola pública, estava agora enclausurada no banco de trás de um carro luxuoso, a mão pequena de Ethan apertando a minha com uma força quase desesperada. O homem a nossa frente emanava uma aura de tensão palpável. Sua postura rígida, os olhos fixos na estrada como se fugisse de algo, denunciavam uma batalha interna, um turbilhão de emoções contido a duras penas. — Senhor… — tentei quebrar o silêncio denso que nos envolvia como uma mortalha. — Santorini. Nicolas Santorini — respondeu ele, sem desviar o olhar da estrada. A voz grave e autoritária ecoou no interior do carro, revelando um homem acostumado a comandar. Engoli em seco. O sobrenome soava familiar, uma vaga lembrança que dançava à margem da minha memória, sem se concretizar. — Senhor Santorini, não quero me intrometer, mas… acho que precisamos conversar sobre o que aconteceu. Um suspiro impaciente escapou de seus lábios, como se minha ten
Nicolas Santorini Chegar em casa sempre me proporcionava uma trégua efêmera. Um breve alívio antes da exaustão inevitável. Meu dia, como tantos outros, fora uma maratona de reuniões intermináveis, a frieza dos contratos e o peso das decisões cruciais. Tudo o que ansiava era o silêncio reconfortante do meu lar e a presença de Ethan, mesmo que nossos encontros, desde a partida de Laura, fossem permeados por uma melancolia persistente. Assim que cheguei minha casa estava silenciosa. Normalmente, a essa hora, Ethan jogando ou brincando. Fechei a porta atrás de mim, um pressentimento incômodo se instalando em meu peito. — Ethan? — chamei, a voz ecoando no vazio. O silêncio respondeu. A calma que eu tanto buscava se esvaiu, dando lugar a uma crescente apreensão. Caminhei pela casa e cada passo aumentava a angústia. O quarto de Ethan estava impecável, um péssimo sinal. Meu filho era a personificação da desordem infantil. Inspecionei embaixo da cama, dentro do closet, vasculhei cada
Jhulietta Duarte O dia na escola transcorreu entre a sinfonia usual de vozes infantis, risadas contagiantes e os desafios inerentes ao desenvolvimento. Ensinar era mais do que uma profissão, era a minha paixão, a força motriz que me impelia adiante. No entanto, mesmo em meio à rotina, a imagem de Ethan e o eco de sua voz me chamando de “mamãe” persistiam em minha mente. Aquele gesto, apesar de toda a sua estranheza, havia plantado uma semente de afeto em meu coração.Enquanto organizava meus materiais após o expediente, uma mensagem inesperada vibrou em meu celular. Era de Nicolas Santorini. A mensagem, concisa e direta, contrastava com a imagem fria que eu tinha dele."Ethan insiste em vê-la. Se estiver disponível, venha até minha casa. Ele parece mais tranquilo com sua presença."Relendo a mensagem, tentei decifrar o que motivara aquele convite. Desespero? Pragmatismo? Ou algo mais? A mera possibilidade de rever Ethan me trouxe um calor reconfortante. Aos poucos, as visitas foram s