O carro deslizou silenciosamente pelas ruas ainda vazias da cidade. O céu começava a clarear, tingindo o horizonte de tons alaranjados e rosados. Apesar da tranquilidade exterior, meu peito estava tomado por uma tensão difícil de ignorar.Diogo não era um homem confiável. Eu sabia disso. Mas, se havia uma chance de resolver essa situação sem envolver Jhulietta ainda mais, eu tentaria.Durante o trajeto, minha mente trabalhava em diversas possibilidades. E se ele recusasse? E se tentasse me chantagear? E se essa fosse apenas uma armadilha?Eu não podia permitir que nada disso acontecesse.— Chegamos, senhor.O motorista parou em frente a um pequeno galpão abandonado na parte mais afastada da cidade. O local era exatamente como eu imaginava: discreto e perfeito para um encontro que ninguém precisava saber.Ajustei a pasta de couro em minhas mãos e saí do carro.— Fique por perto — instruí ao motorista. — Se algo parecer errado, chame a polícia.Ele assentiu, mas eu não pretendia deixar
Diogo LimaSaí do galpão segurando firme a pasta cheia de dinheiro. A adrenalina ainda pulsava no meu corpo, e um sorriso vitorioso brincava nos meus lábios. Nicolas achava que tinha me comprado, mas ele não fazia ideia de que eu sempre jogava para ganhar. Entrei no carro e dirigi até o esconderijo onde Coiote estava me esperando. Ele era um dos poucos em quem eu confiava, alguém que sempre esteve ao meu lado nos piores momentos. Assim que parei o carro, ele saiu do barraco e assoviou. — Pelo visto, deu tudo certo, hein? — Ele sorriu, encostando no vidro da janela. — Melhor do que eu imaginava. Santorini pagou sem questionar. Coiote riu e bateu no teto do carro. — Então bora comemorar. Vem comigo, tenho um lugar perfeito pra gente tomar uma e pensar no futuro. Hesitei por um momento. Queria sumir dali o quanto antes, mas um último encontro com um velho amigo antes de desaparecer não parecia má ideia. — Beleza. Mas sem perder muito tempo. Troquei de carro, indo no del
Jhulietta Duarte Fazia sete dias desde que tudo aconteceu.Sete dias desde que Diogo Lima desapareceu e, agora, seu corpo havia sido encontrado.A notícia se espalhou rapidamente, e eu soube assim que liguei a televisão pela manhã. Não senti absolutamente nada ao ver as imagens do local onde ele foi encontrado. Nenhuma tristeza, nenhuma culpa, nada. Apenas um vazio onde, talvez, outra pessoa sentiria algo.Ele nunca fez parte da minha vida de verdade. Nunca foi um pai, nunca se importou comigo. Ele era apenas um nome, um fantasma que ameaçava minha paz de tempos em tempos. E agora, ele era apenas passado.Senti Nicolas se aproximar antes mesmo de ouvi-lo falar. Ele parou ao meu lado, olhando para a tela por alguns segundos antes de me encarar.— Você está bem?Desviei os olhos da TV para ele. Nicolas parecia mais sério do que o normal, como se esperasse alguma reação específica minha.— Pelo incrível que pareça, estou aliviada. — Confessei, soltando um suspiro longo. — Não tenho moti
Os últimos dias foram intensos. Entre os treinos, os jogos e todas as emoções recentes, minha casa nunca esteve tão cheia de energia. Mas hoje era um dia diferente. Hoje, Ethan finalmente receberia suas notas finais e descobriria se havia passado de ano.Eu sabia que ele tinha se esforçado. Passou horas estudando, revisando, perguntando dúvidas. Mas, ainda assim, ele estava ansioso. Desde o momento em que acordou, sua inquietação era visível.— Mamãe, quando sai a nota? — Ele apareceu na cozinha enquanto eu terminava de preparar o café da manhã.— Daqui a pouco. O site da escola disse que às dez.Ele olhou para o relógio na parede e fez uma careta.— Isso é muito tempo!Ri baixinho, colocando uma xícara de café na mesa. Nicolas, que estava sentado ao meu lado lendo algumas mensagens no celular, ergueu os olhos para o filho.— E se você relaxar um pouco? Tomar café da manhã, assistir um desenho, fazer qualquer coisa que não envolva ficar olhando para o relógio?Ethan bufou.— Fácil par
Chegamos à pizzaria pouco depois das sete da noite. Ethan estava tão animado que mal conseguia ficar parado no carro.— Mamãe, você acha que eles já chegaram? — Ele perguntou, balançando as pernas no banco.— Provavelmente, amor. Mas, se não chegaram, podemos esperar um pouquinho.— Espero que sim! — Ele sorriu, empolgado, e saiu do carro assim que estacionei.A noite estava agradável, com uma leve brisa trazendo o cheiro irresistível de pizza assando no forno a lenha. A pizzaria era um lugar aconchegante, com decoração rústica e um espaço infantil amplo. Assim que entramos, avistamos Aurélia com sua mãe, Lidiana, sentadas em uma das mesas ao lado da área de jogos. Ethan acenou para Aurélia e correu até ela, já pegando as alças da cadeira de rodas para ajudá-la a se movimentar.— Oi, gente! — Cumprimentei com um sorriso, tirando minha bolsa do ombro.— Oi, Jhulietta! — Lidiana sorriu. — Oi, Ethan!— Oi, tia Lidiana! — Ethan respondeu animado.Antes que pudéssemos dizer mais alguma coi
Ethan SantoriniA pizzaria estava bem animada hoje. As luzes coloridas da área de jogos piscavam sem parar, e o cheiro delicioso de pizza estava por toda parte. Eu já tinha brincado bastante com meus amigos e comido muito, mas ainda não estava nem um pouco cansado!— Ethan, vamos brincar! — Emanuel chamou, puxando Violet pela mão. Os dois saíram correndo para os brinquedos.Eu ia atrás deles, mas senti um toquinho no meu braço. Era Aurélia.— Espera um pouco. — Ela falou baixinho, segurando alguma coisa na mão.Fiquei curioso e voltei para perto dela. Aurélia pegou um cartão colorido e um embrulho pequeno da bolsa que estava pendurada na cadeira de rodas.— É para você. — Ela estendeu os presentes para mim.Meus olhos brilharam. Eu amava ganhar presentes! Peguei o cartão primeiro e abri, lendo as letras desenhadas à mão:"Para o meu melhor amigo Ethan, o garoto mais legal que eu conheço. Obrigada por sempre me ajudar e por ser tão incrível. Quando a gente crescer, eu ainda quero ser s
Jhulietta DuarteO relógio marcava poucos minutos para a meia-noite. A cidade estava iluminada pelos fogos que já começavam a pipocar no céu, e eu podia ouvir o burburinho animado das pessoas ao redor, comemorando a chegada de um novo ano.Fechei os olhos por um instante, permitindo-me absorver cada detalhe daquela noite. A brisa leve bagunçava meus cabelos, e o cheiro do mar misturava-se ao aroma delicioso da ceia que havíamos preparado. Tudo parecia perfeito. Tudo parecia um sonho.Abri os olhos e olhei para a mesa, onde Ethan ria animado, contando algo para Nicolas, que ouvia com atenção, um sorriso divertido nos lábios. Meu coração se encheu de gratidão ao ver aquela cena. Eles eram a minha família. E por mais que a vida tivesse me surpreendido de formas inesperadas, era impossível não reconhecer que aquele havia sido o melhor ano da minha vida.Aproximei-me, apoiando os cotovelos na mesa e observando os dois.— Do que vocês estão rindo tanto? — perguntei, curiosa.— O Ethan estav
Jhulietta Duarte O ano mal tinha começado quando minha amiga me chamou para irmos ao shopping. Ethan quis vir atrás de mim, mas pedi que ficasse com seu pai. A contragosto, ele aceitou.Passamos uma tarde maravilhosa, saindo de lá com várias sacolas nas mãos, rindo e comentando sobre as roupinhas adoráveis que havíamos escolhido para o bebê de Renata. Eu adorava vê-la tão feliz, especialmente depois de tudo que tinha passado. Sua barriga já estava evidente, e ela estava radiante.— Você está linda — elogiei, observando-a com carinho.Renata sorriu, acariciando a própria barriga com ternura.— Eu sei! — disse, rindo. — Nunca me senti tão bonita na vida. Essa gravidez me transformou.Sorri, sentindo-me feliz por ela. Estávamos nos divertindo tanto que nem percebemos a aproximação do problema.— Renata! — A voz raivosa de Luís cortou o ar, e todo o meu corpo se enrijeceu ao reconhecer aquele tom odioso.Renata virou-se lentamente, seu sorriso desaparecendo. O olhar de terror em seu rost