Eduardo LopesA sala da casa da minha tia tinha aquele cheiro nostálgico de café recém-passado e madeira antiga. A decoração não mudava há anos – os mesmos quadros, os mesmos móveis de quando eu era criança. Era como se o tempo ali dentro seguisse um ritmo diferente, mais lento, mais paciente.— Quando é que você vai crescer, Eduardo? — A voz de tia Regina cortou o silêncio enquanto ela me servia uma xícara de café forte, do jeito que eu gostava.Suspirei, apoiando um cotovelo no braço do sofá. Essa pergunta sempre vinha, toda vez que eu a visitava.— Depende do que você quer dizer com crescer, tia. Eu trabalho, pago minhas contas… — Dei um gole no café, sentindo o calor se espalhar pela garganta.Ela se sentou na poltrona à minha frente, cruzando as pernas. Seus olhos, sempre atentos, me analisavam com aquele misto de carinho e desapontamento que só as pessoas mais velhas sabem demonstrar.— Isso é o mínimo que qualquer adulto faz, Eduardo. O que eu quero saber é quando você vai assu
Jhulietta DuarteEstava colocando Ethan para dormir quando ele me chamou de volta.— O que houve, meu amor? — perguntei, sentando ao lado dele.— Mamãe, podemos sair amanhã? Só eu e você? — Ele me olhou com expectativa.— Onde você quer ir?— No shopping e depois ao cinema. Saiu um filme novo e quero muito assistir.— Claro que sim, meu amor. Vamos ter um dia muito divertido.— Obrigado, mamãe!Sorri, acariciando seus cabelos antes de dar-lhe um beijo na testa.Quando cheguei ao quarto, Nicolas desligou o notebook e me chamou para sentar ao seu lado.— Amanhã, Ethie e eu vamos ao shopping. Ele me convidou para assistir a um filme.Nicolas sorriu.— Nosso filho gosta tanto de você. Às vezes, parece até que ele não gosta de mim.— Para com isso, ele te adora.— Mas gosta mais de você. — Ele suspirou, rindo. — Mas tudo bem, até eu gosto mais de você do que de mim.Ri junto com ele e, depois de trocarmos um carinho, nos ajeitamos para dormir.Na manhã seguinte, terminei de me arrumar e de
Respirei fundo, tentando manter a calma. — Cinco minutos. — Repeti. — E então, você vai me deixar em paz. Diogo assentiu. — Obrigado. Mas acho melhor irmos para um lugar mais reservado. Você sabe que estou sendo procurado pela polícia. A ideia de ficar sozinha com ele, ainda mais com Ethan ao meu lado, me deixava desconfortável. Mas não queria uma cena no meio do shopping, principalmente com Ethan ali. Olhei ao redor e avistei uma cafeteria próxima. — Vamos para lá. Ele concordou, e segurei firme a mão de Ethan enquanto caminhávamos até a cafeteria. Meu coração estava acelerado, e meu estômago revirava. Eu não sabia o que Diogo queria me dizer, mas tinha certeza de que não era nada que eu gostaria de ouvir. Assim que entramos, escolhi uma mesa perto da janela. Ethan sentou ao meu lado, e Diogo ficou à nossa frente. — O que você quer? — Perguntei sem rodeios. Diogo entrelaçou os dedos sobre a mesa e me olhou com intensidade. — Sei que você me odeia pelo que fiz co
Diogo LimaApertei os punhos com força enquanto caminhava até o carro de Coiote, meu coração batendo rápido, mas não de nervosismo. Eu estava irritado. A pirralha era mais teimosa do que eu imaginava. Jhulietta podia ser minha filha, mas tinha o dom de me tirar do sério. Abri a porta do carro e entrei, batendo-a com força. Coiote, ao volante, me olhou com um sorriso torto, já acostumado com meu mau humor. — E aí, como foi? — perguntou ele, acendendo um cigarro e tragando com calma. Passei a mão pelo rosto, irritado. — Aquela garota é insuportável. Parece que herdou minha teimosia. Coiote soltou uma gargalhada baixa. — Bom, ela é sua filha. — O filho da puta continuou rindo e olhei torto para ele que não se importou. — Vai se foder! Ele ergueu as mãos em rendição, ainda rindo. — E então? Conseguiu o que queria? Soltei um riso seco, sem humor. — Não cedeu a nada. Não quer me dar um centavo, acha que é dona da verdade. Mas mal sabe ela que a vida não é tão preto n
A cada minuto que passava, me sentia mais inquieta. Meu café esfriava na xícara enquanto minha mente rodava em um turbilhão de pensamentos. O que estava prestes a descobrir? Será que Diogo estava mesmo mentindo ou havia um fundo de verdade nas palavras dele? Sacudi a cabeça, afastando essa possibilidade. Minha mãe sempre foi um exemplo para mim, uma mulher forte, determinada, que batalhou para me criar sozinha. Não podia ser verdade. Não queria que fosse verdade. Olhei para o relógio no celular, contando os minutos até que o senhor Giovanni chegasse. Ele era a única pessoa que poderia esclarecer isso para mim, a única pessoa que conheceu minha mãe bem o suficiente para desmentir essa acusação absurda. Minutos depois, vi a figura imponente do senhor Giovanni entrando na cafeteria. Ele vestia um terno escuro, como sempre, e parecia carregado de preocupação. Assim que me viu, caminhou até minha mesa e se sentou à minha frente, analisando-me com atenção. — Jhulietta, o que acontec
Giovanni Santorini O dia estava nublado, como se o céu quisesse refletir o que eu sentia por dentro. Cada passo que eu dava até a empresa de Nicolas parecia mais pesado do que o anterior, e o turbilhão de pensamentos na minha mente parecia não dar trégua. Eu sabia que precisava conversar com ele, precisava entender até onde ele estava disposto a ir para afastar aquele homem da vida de Jhulietta.A porta do escritório de Nicolas estava entreaberta quando cheguei, e ao entrar, vi meu filho sentado em sua cadeira, os olhos fixos na tela do computador, mas sua mente provavelmente em algum outro lugar. Ele levantou o olhar ao me ver entrar e fez um gesto com a cabeça, convidando-me a me sentar.— Pai, aconteceu alguma coisa? — Ele perguntou, a expressão carregada de preocupação.— Estava com Jhulietta e resolvi dar uma passadinha aqui.— Aconteceu algo com ela? A Jhulie não me ligou.Me acomodei na cadeira à frente de sua mesa, observando-o por um momento antes de falar. Nicolas sempre fo
Nicolas SantoriniO dia seguia tenso. A conversa com meu pai ainda ecoava em minha mente, e as palavras dele estavam gravadas como um estigma. Ele sempre soubera como manipular as situações, e agora eu me via diante de um dilema. Diogo Lima, o homem que parecia ser a sombra constante sobre a vida de Jhulietta, não dava sinais de desistir, e eu estava determinado a tirar esse peso das costas dela de uma vez por todas.Caminhei até a janela de meu escritório e olhei para o horizonte, onde as nuvens ainda pairavam no céu cinza, refletindo o caos que parecia estar à minha volta. Eu tinha um objetivo claro: afastar Diogo da vida de Jhulietta. Eu sabia que ele não era um homem qualquer, que jogava sujo e que só se importava com poder e dinheiro. A proposta que meu pai sugerira – uma oferta financeira – era o que eu precisava para alcançar o que queria. Mas, para isso, eu precisava do número de Diogo, e Pedro, o único que poderia conseguir isso, era a minha única esperança.Puxei o celular d
Nicolas SantoriniCheguei em casa e não encontrei ninguém. Chamei por dona Bryana e perguntei onde estavam Ethan e Jhulietta. Ela me informou que os dois estavam na sala de estudos. Assim que cheguei lá, os vi concentrados em uma pilha de livros e cadernos. Meu filho franzia o cenho enquanto tentava resolver um problema de matemática, e Jhulietta, paciente como sempre, explicava cada passo com calma. Aproximei-me lentamente e, sem dizer nada, beijei o topo da cabeça de Ethan. Ele sorriu brevemente, mas permaneceu focado no que estava fazendo. Em seguida, toquei o queixo de Jhulietta, fazendo com que ela levantasse o rosto para mim. Nossos olhos se encontraram por alguns segundos antes de eu selar nossos lábios em um beijo suave e demorado. Quando me afastei, vi que ela franziu o cenho, a desconfiança estampada em sua expressão. — O que aconteceu? — perguntou, estreitando os olhos. Sorri de lado, balançando a cabeça. — Mais tarde conversamos. Ela não pareceu convencida, mas