03. O sequestro

Mia Miller

Atualmente.

Abri a janela do carro, sentindo o vento gelado balançar meus cabelos desarrumados. O clima mais frio sempre me atraiu, mas hoje parecia penetrar em minha pele, arrepiando meu corpo instantaneamente.

Olhei para Lorenzo, que dormia confortavelmente no bebê conforto e recordei daquela noite. Dois anos se passaram, e ele era idêntico ao homem com quem perdi a virgindade no estacionamento de um bar.

Descobrir a gravidez foi um completo choque.

Aquele teste de gravidez me fez desabar no chão, como uma criança.Eu não queria esse filho. Mas no momento em que ele nasceu, e eu vi o seu rosto… a traição de Collin, o desespero de não saber como me virar, tudo sumiu.

Somente ele importava.

"Você acha que isso vai dar certo?" perguntei, minha voz trêmula, enquanto tentava manter a compostura.

Vocês devem estar se perguntando como tudo isso aconteceu…

E até eu me pergunto.

"O emprego lá paga bem", ela respondeu, seu olhar firme tentando me convencer.

"O que você realmente faz lá?" indaguei, arqueando as sobrancelhas, a ansiedade me consumindo.

"Mia," ela me encarou séria, "você quer ou não o emprego?"

"Eu quero qualquer coisa. Preciso pagar o tratamento do meu pai", confessei, sentindo um nó na garganta ao pensar na doença dele.

Outra novidade terrível a seguir: Meu pai havia descoberto um câncer.

E ele era a única pessoa que eu tinha, já que minha mãe morreu precocemente.

O peso das preocupações me golpeou com força quando me dei conta da situação financeira desesperadora. Charlotte parecia ter a solução, embora seus próprios segredos me atormentassem.

Dor e medo: Era tudo o que sentia. Hipoteca, desemprego, contas a pagar.

Lágrimas já não eram suficientes para expressar a magnitude do desespero.

Fiz o acordo com o banco de pagar a hipoteca lentamente, porém agora demitida, nem isso eu conseguiria.

"Farei qualquer coisa por eles", pensei em silêncio, com determinação ardente.

Encarei minha reflexão no vidro do carro, mínimas mudanças em minha aparência. Os cabelos mantinham a mesma textura, os olhos verdes brilhavam, e eu usava um vestido simples, como de costume.

"Me explica sobre esse emprego", solicitei, tentando focar na questão crucial.

"Bom, Mia… Trabalho agradando homens milionários. Acha que consegui esse carro, essas roupas com um diploma universitário?" ela explicou naturalmente, e meus olhos se arregalaram." Eles me dão o que quero se eu fizer o que eles querem."

Estava determinada a qualquer coisa.

Me sentia um fracasso, e se tivesse que me deitar com homens para dar o básico ao meu pai e filho, eu faria.

"Você teria dinheiro suficiente para pagar a hipoteca e o tratamento de seu pai. Pense somente nisso.Sendo bonita assim, poderá ter qualquer homem aos seus pés".

Suspirei.

O silêncio se instaurou no caminho, e observei meu pequeno adormecer, seus traços tão semelhantes ao homem que eu tentava esquecer. Preferi manter essa gravidez em segredo, temendo as consequências de envolver outra pessoa nesse caos que era minha vida.

Eu era pai e mãe de Lorenzo com orgulho.

O trajeto até a tal boate para a entrevista de garçonete se desenrolava por caminhos desconhecidos, enquanto me perdia nos pensamentos, observando o céu de Nova York pela janela.

De alguma forma eu considerava a vida como algo instável.

Há dois anos atrás, eu afirmava que iria me casar com Collin. Seríamos felizes,teríamos dois filhos e um cachorro, mas nada nunca seria do jeito que planejamos.

E em meio a promessas estúpidas, veio a traição.

Alguns dizem que não entendem qual o sentido da vida. Outros procuram insaciavelmente preencher seus vazios.

Eu também me perguntava isso.

Mas depois de me ver com um filho de um homem que provavelmente nem lembra que eu existo, mãe solteira e uma carga enorme para dar conta eu só afirmo que o sentido da vida é: resistir. E meu diploma de merda não me ajudava em nada.

Ninguém queria contratar uma mãe solteira que cuidasse do pai doente.

O mundo vai te desestabilizar, as pessoas vão te foder psicologicamente e te trair, mas você vai encontrar forças de onde nem sabia que existiam.

Pois nada nunca é sobre nós. A vida nunca para por você.

"Por que está indo por aqui?" Olhei ao redor. "Nunca vi esse caminho, é bonito", comentei sorrindo ao olhar as cerejeiras que haviam.

"É bem bonito, mas vazio. Por isso, sempre corto caminho para a boate por aqui, é bem melhor."

De repente, nosso carro foi interceptado, e pude ouvir a batida forte. Quando me levantei, estávamos rodeadas por homens encapuzados. Meu coração acelerou, e um frio na espinha anunciou que algo terrível estava prestes a acontecer. Lancei um olhar de pânico para Charlotte, que compartilhava do mesmo temor.

A ação foi rápida e brutal. Homens armados nos ordenaram a sair do carro, apontando armas e gritando ameaças. O desespero tomou conta de mim quando Charlotte foi violentamente levada como vítima, deixando-me atônita e sozinha à beira da estrada.

Um deles se aproximou e pegou meu filho também. Os olhinhos de Lorenzo me encarando sem entender o que estava acontecendo.

"Por favor, levem tudo, mas não machuquem o meu filho!" implorei, as palavras saindo trêmulas enquanto via meu mundo desmoronar diante dos meus olhos.

"Se você se mexer antes de darmos partida no carro, eu te mato", um dos homens falou com uma frieza assustadora. "E nem pense em ligar para a polícia, pois quem pagará é o moleque."

Engoli seco.

O carro arrancou com força, deixando-me ali, perdida e confusa. O desespero misturado com o medo se manifestava em lágrimas incontroláveis enquanto eu tentava compreender o que acabara de acontecer. Meu filho foi levado, e eu não sabia quem estava por trás daquela ação cruel.

Ao chegar naquele beco sombrio, encontrei Charlotte no chão, machucada e atordoada. Seus olhos revelavam um terror que eu mal conseguia compreender. Minha mente girava em um turbilhão, mas o que mais me desesperava era a ausência de Lorenzo.

"Onde está meu filho?" gritei, quase sem ar, enquanto uma onda de pavor me dominava. As palavras de Charlotte eram confusas, seu rosto contorcido pela dor e pelo medo.

Cada segundo parecia uma eternidade, e a ansiedade me corroía.

"Que inferno", gritei. "Preciso salvar meu filho."

Pedi ajuda e conseguimos uma carona que nos deixou mais próximo ao carro de Charlotte. Eu dirigi e deixei ela na casa de seus pais com o carro. Eu não tinha tempo!

Minha pequena criança só tinha dois anos, sozinho com esses monstros. Eu precisava fazer alguma coisa, mas se ligasse para as autoridades, tinha medo do que poderia acontecer. Esses homens pareciam perigosos.

Charlotte virou-se para mim ainda debilitada e falou.

"O que fizeram com Lorenzo, amiga?"

"Eu não faço a menor ideia", as lágrimas escorriam. "Preciso de ajuda… Não tenho recursos, irei atrás do pai dele."

"Não!" praticamente gritou, e eu a encarei. "Você não deveria ir atrás do pai dele", sugeriu.

Não dei ouvidos a ela, naquele momento eu era uma mãe desesperada que iria salvar a sua cria.

O desespero me empurrava para uma única solução: O pai de Lorenzo.

Um homem com quem compartilhei uma noite intensa e que agora era minha última esperança.

Enquanto as lágrimas misturavam-se com a chuva que começava a cair, eu me perguntava: por que diabos fizeram isso?

O que fazia dele alguém tão importante para esses homens?

Aquelas perguntas ecoavam na minha mente, tornando o desespero ainda mais profundo.

Meus pés adentraram e eu reparei a fachada, estava diferente da noite que eu me lembrava.

O local onde minha vida mudou totalmente.

Minhas mãos tremiam e meu coração batia rápido.

Retiro meu casaco molhado e me encostei no balcão parecendo sentir cada batida do meu coração.

Me escorei no balcão e falei com o homem alto à minha frente.

"Preciso achar um homem, ele se chama Ethan" falei com as mãos trêmulas.

Só de ter a possibilidade de encontrar ele novamente eu quase ficava sem ar.

"Quem é você?"ele me analisou de cima a baixo.”

"Mia Miller."

Eu não tinha respostas, mas uma coisa era certa: eu faria qualquer coisa para ter Lorenzo de volta, inclusive confessar que nunca contei para seu pai que ele tinha um filho.

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