Avisei Nathaniel e os sombras sobre nosso afastamento. Eu precisava falar com minha companheira a sós. Galopamos até o alto do penhasco de Varghast, o ponto mais alto da região, onde era possível ver o mar de árvores que compunham o coração do território. O vento aqui era feroz, mas límpido.- Cyrus? – ela chamou. – Por que nos afastamos dos outros? – ela perguntou, preocupada.— Ravena. — Desci do cavalo, estendendo a mão para ajudá-la. Ela a pegou, relutante.— O que foi? — sua voz soava desconfiada, mas doce e suave.Levei-a até a beirada do penhasco. As árvores salpicadas de branco, dançavam como sombras sob nossos pés. Os picos nevados das montanhas e a longínqua barreira me fizeram prender o fôlego por um instante.— Preciso que saiba de uma coisa. Algo que não era relevante, mas agora acabou se tornando importante. Independente do que eu diga, você precisa se lembrar que somos companheiros, e isso é imutável, e nada ficará entre nós.Ela cruzou os braços. Defensiva. Seus olhos
Continuamos seguindo o rastro de Ravena, ela havia parado em um antigo altar druida, onde a lua vazava por entre as copas das árvores como uma lâmina de prata. Ela arfava, parcialmente transformada, transmutando entre um ser e outro, os olhos completamente carmesins, os dedos com garras parcialmente expostas, o peito arfando em ondas de ódio e mágoa.— Fique longe de mim! — ela rugiu ao vê-lo se aproximar.— Ravena, ouça-me!— Por que agora?! Por que me contar isso agora, Cyrus? — O meu nome saiu como um açoite de sua boca, um insulto. — Você não me devia explicações? Ou pensou que eu seria tao idiota que não me importaria com isso? Que eu ficaria feliz em saber que o meu companheiro gosta de orgias depravadas tanto quanto aqueles alfas!Eu parei, a alguns metros de distância, cauteloso como se ela estivesse prestes a saltar, e de fato era. Mas mais que isso, era minha companheira, e o vínculo entre eles agora vibrava em dor, ressonante, quase insuportável.— Eu devia, sim — ele disse
RavenaMeus olhos mal conseguiam se manter abertos. Cada músculo do meu corpo doía, como se eu tivesse sido sugada para fora de mim mesma e moldada outra vez com fogo e gelo. Era como se algo antigo tivesse me rasgado por dentro… e deixado parte de si no meu lugar.Os braços de Cyrus me envolviam com firmeza, carregando-me para fora das ruínas. O corpo dele, totalmente vestido contrastava com o frio sobrenatural que impregnava minha pele nua. A floresta ao redor parecia sussurrar, os galhos das árvores vergando-se como se me reverenciassem… ou me temessem.— Ravena — a voz de Cyrus soou baixa, grave, quase cautelosa. — Você sabe o que aconteceu lá dentro?Virei o rosto lentamente em direção ao dele. Cada palavra que saía da minha boca parecia arrancada do fundo do abismo onde minha alma havia mergulhado.— Não… não exatamente. Mas eu ouvi uma voz… compassada e profunda. Ela veio de dentro de mim. Não era minha… mas era. — Pisquei devagar. A dor atrás dos olhos latejava. — Ela mandou q
CyrusAtrás de nós a sombra translucida de Aero, rosnou em sinal de alerta. Algo se aproximava. Puxei Ravena para mim, ignorando sua pouca resistência, ela também estava em alerta de repente. Um cheiro pútrido cortou a névoa.— Não estamos sozinhos — Aero sussurrou, em sua forma espectral.A floresta começou a pulsar. Ao longe, urros de criaturas que não pertenciam à natureza ecoaram como prenúncio. O grito aterrador de criaturas sombrias. As Fúrias.Ravena se amparou em mim, ainda abalada, mas o instinto lupino falando mais alto. Nesse momento senti o vínculo entre nós selar mais uma camada invisível. Ela estava comigo, apesar de tudo. E isso nos fortalecia.— O que vamos fazer? — Perguntou ela.— Vamos destruí-los. – Respondi, sentindo minha aura se expandir, a medida que Aero e eu nos uníamos, nos preparando para a batalha. – Ravena, você precisa se abrigar no manto de Aero agora. Ela apenas acenou com a cabeça, enquanto Aero e eu a envolvíamos no manto poderoso de meu espectro. E
Empregada Antes do dia clarear eu já estava na casa da alcatéia. Precisava ajudar a preparar o café da manhã de todos, e hoje eu sabia que as coisas seriam ainda mais difíceis, por causa dos convidados. A cozinheira gritava com todos, a cozinha estava quente e cheia de fumaça. Alguém tinha queimado alguma coisa. Encarregada de preparar o bacon e os ovos, eu me concentrei no que fazia ignorando todos, como eles faziam comigo. - Ei, você, escrava. – gritou a cozinheira. – Largue isso. O Alfa te convocou ao salão de jogos. Um arrepio sinistro percorreu minha espinha. Da última vez que estive naquele lugar, Alexander quase não me deixou sair viva. Ele me amarrou nua de cabeça para baixo, e rebateu bolas de beisebol contra o meu corpo, como se isso não bastasse, o alfa chamou Marcel e ordenou que ele me desse uma surra por não ser uma boa diversão. Caminhei na direção da sala de jogos tremendo, eu ainda estava muito machucada do dia anterior. Talvez esse fosse meu fim. Bati e es
Não sei por quanto tempo fiquei amarrada naquela mesa, coberta de esperma, sangue e suor. Marcel mantinha seu olhar sobre mim, pronto para recomeçar aquela tortura.Percebi há muito tempo que ele tinha prazer somente no meu sofrimento, isso o excitava demais. - Eu vou te partir ao meio, minha coisinha safada. – meu companheiro me disse enquanto soltava as cordas que prendiam meus tornozelos. Fui puxada para a beirada da mesa de bilhar. Mas de repente alguém bateu na porta, interrompendo a todos. O alfa vestiu suas calças e caminhou até lá. Marcel se vestiu rapidamente, ligando seu link mental com os guardas. - Estamos sob ataque meu alfa! Alguma coisa está dizimando a alcateia! – um dos guardas gritou. O silêncio pairou sobre a sala, podia sentir que eles estavam se preparando para contra atacar. Afinal de contas, eram todos alfas, os mais poderosos dos territórios vizinhos. Um calafrio percorreu meu corpo febril, senti como se algo gelado tomasse conta da sala. Meu corpo enrij
Minha consciência ia e vinha, se perdendo no que aconteceu e temendo encontrar o monstro de olhos vermelhos. Revivi memórias dos dias anteriores em que eu caminhava em direção ao escritório da alcatéia segurando uma bandeja de bebidas com toda a minha força.Sentia que poderia desabar a qualquer momento, mesmo assim tentava fazer o meu trabalho para que nada desse errado. Por que se isso acontecesse seria o meu fim. - Sirva e saia, sua coisa imunda. – a voz autoritária do alfa Alexander ressoou pela sala. Deixei cada copo de bebida na frente de cada convidado, alguns deles não disfarçavam sua devassidão e me tocavam, enfiando a mão por baixo do meu vestido gasto. O conselho das matilhas começou, e eu saí o mais rápido que pude daquela sala. Quanto mais tempo ficava perto deles, mais chances teria de ser um alvo. Fechei a porta atrás de mim, com um suspiro silencioso. - O que está fazendo aí parada, seu pedaço de merda inútil?! – abaixei a cabeça imediata
Uma figura alta, imponente, e intimidadora me olhava com desinteresse. Ele tem cabelos dourados como sol, que descem até seus braços fortes; as íris cintilantes como o ouro, e a pele branca como a mais fina porcelana, sem nenhum detalhe que estrague sua perfeição. Os traços de seu rosto são milimetricamente proporcionais, a boca parece macia como um pêssego maduro, o lábio superior ligeiramente inclinado para cima, numa representação de sua superioridade. Ele vestia preto dos pés à cabeça. As abotoaduras do punho da camisa reluziam contra a luz, revelando a joia de que era feita. O terno era sob medida, o colete de veludo negro tinha botões de dourados trabalhados. Não havia capa e nem coroa, mas instintivamente eu sabia que esse homem era de algum tipo de realeza. Os olhos dele faiscaram, quando eu me movia inquieta. Por alguma razão eu senti o cheiro estranho que provinha dele me nocautear, como se estivesse embriagada. - Não tem um nome? – ele perguntou, me analisando abertame