Dakota acordou com o céu claro acima de si, o vento forte e o ar rarefeito a fez perceber-se no alto de uma montanha, sob o sol escaldante e cercada por pássaros que se aproximavam cuidadosamente de seu corpo. Ela sentou-se e espantou os animais com gritos e gestos, agarrou seu arco, olhou ao redor e viu a imensidão plana e rochosa ondular sob o calor e caminhou até à beirada do abismo. Vai ser uma longa descida.
Olhou de volta para o local onde acordara e notou algumas poucas árvores secas e arbustos frutíferos. Coletou algumas amoras e as comeu saboreando-as como se fossem as últimas da Terra. Em seguida quebrou alguns galhos e com o auxílio de pequenos seixos, os transformou em setas para o arco.
Depois de prender as flechas com um cipó e ata-las às costas, Dakota caminhou pela montanha em busca de uma trilha que a levasse para baixo. O sol castigava sua pele, estava suada e
O trio estava reunido ao redor de uma fogueira vívida e crepitante. Seus corpos iluminados pela luz alaranjada e bruxuleante estavam diferentes desde que se reuniram pela última vez. Embora não houvesse nenhuma mudança física permanente, suas almas haviam se transformado. O conceito que cada um aceitou para si, engendrou-se de tal maneira à sua realidade espiritual, que as mudanças mentais e espirituais acabaram por iluminar a forma física deles ao ponto de parecerem diferentes aos olhares uns dos outros.Ubirajara havia pintado seu corpo com urucu e argila preta, desenhando pequenos símbolos que se uniam uns aos outros e se tornavam uma grande e única pintura tendo como tela toda a extensão de sua pele. Ele segurava um graveto e cutucava as brasas do fogo para que as fagulhas subissem com o ar quente. Olhava-as subindo e desaparecer no céu. Com exceção ao crepitar do fogo e o cr
O céu denunciou o momento em que Monã fora libertado emitindo clarões e trovões. Embora tais eventos estivessem ligados à fúria de Tupã, não se viu mais nenhuma manifestação do mesmo.No exato momento em que a prisão mágica criada pelo deus dos trovões se rompeu, todo ser habitando o mundo além do véu teve conhecimento disso. Como que por instinto, todos se dirigiram para o mesmo lugar.A floresta ainda apresentava as marcas da batalha que ocorrera ali. O cheiro de fumaça ainda pairava pelo ar, algumas mulheres trabalhavam duramente para reconstruir a aldeia, enquanto outras preparavam a celebração que estava por vir.No centro da aldeia ardia uma grande fogueira crepitante. Ao seu redor estavam Curupira, Anahí, Yagateré-abá e alguma das Icamiabas.Aos poucos a aldeia recebeu mais e mais visitantes, até
O velho indígena estava sentado numa rocha à beira de um riacho de águas cristalinas, observando a correnteza e os peixes nadando contra ela. Seu cachimbo aceso exalava um fino fio de fumaça branca que subia tortuoso em direção ao céu. Seus pés tocaram suavemente a fria água corrente, e o alívio tomou conta de seu ser.Ele fechou os olhos e inclinou o corpo para trás apoiando-se com os cotovelos, enquanto seu rosto era banhando pela luz cálida da manhã. O som das águas chocando-se contra seixos e pequenas rochas, era extremamente relaxante.De repente o céu tingiu-se de cinza, grandes nuvens negras urrando e disparando raios se acumularam sobre ele. Sem que tivesse tempo de se retirar dali, um raio atingiu o solo ao seu lado e quando se dissipou por completo, ali estava Tupã com seu tacape numa mão e o arco na outra. Os olhos do deus dos trovões
Tupã encontrava-se sentado em seu trono esculpido num imenso tronco de árvore de cor avermelhada, com pequenos brotos e fungos espalhados por sua superfície. Ao seu lado estavam suas armas e um globo mágico transparente, o qual ele mesmo o construíra. Dentro do globo agitava-se incontrolavelmente um ser de forma fantasmagórica como se fosse constituído de fumaça e água unidas de maneira sobrenatural.Jaci aproximou-se de seu esposo, tocou-lhe o braço com suas suaves mãos e suplicou-lhe:— Por favor, solte-o! Não aguento vê-lo dessa maneira.Tupã levantou-se abruptamente e afastou-se de Jaci, segurando o globo mágico em suas mãos. Virou-se para ela e com um tom de voz agressivo diz:— Sabe que não posso fazer isso. Ele está disposto a tudo para lhe conquistar. Não vou permitir esse ato hediondo.— Talv
A sala estava escura com apenas um ponto de iluminação direcionado ao painel fixo na parede sobre o qual eram exibidas imagens vindas de um projetor preso numa armação fixada no teto. A turma estava em silêncio, não por respeito, não por interesse, mas porque a maioria estava entediada com a aula e acabavam se ocupando com rabiscos nos cadernos e mensagens nas redes sociais.Cadeiras rangendo, bocas mascando chicletes, lápis e canetas girando e batendo contra o apoio de mão, zíperes fechando e abrindo, bocejos e pigarros se uniam numa sinfonia matinal preguiçosa e desestimulante embalada pela voz calma e sonora do professor de “Interação Oceano-atmosfera e mudanças climáticas”.— A Lua tem se afastado da Terra nos últimos anos sem que saibamos o real motivo desse afastamento gradativo — disse o professor caminhando calmamente pelo tabla
A música alta, os flashes coloridos e freneticamente pulsantes ditavam o ritmo em que os corpos deveriam se movimentar. O cheiro de fumaça química misturava-se ao odor de suor dos corpos dançantes. Cada movimento selava o destino do inevitável choque com outro corpo. Pele deslizava sobre pele por conta da camada escorregadia de suor que se formava sobre a cútis.O ar era pesado e doce. As bocas abertas esperavam que outros lábios viessem aplacar a sede de beijo e os olhos fechados davam asas à imaginação guiada pelo prazer químico. Janaina abria os olhos esporadicamente, apenas para se guiar e não se perder da companheira. Seus braços e pernas se moviam instintivamente, sua cabeça chacoalhava de um lado para o outro fazendo seu cabelo suado chicotear o próprio rosto.Aos poucos o volume diminuiu até que a música cessou e seu corpo parou junto. Ela abri
O sol queimava seu rosto, o suor escorria pela face e lhe pingava nos lábios. O gosto salgado e o calor o fez despertar. A visão embaçada dificultava sua orientação. Piscou algumas vezes e só então percebeu vozes. Sua visão voltara ao normal gradativamente; olhou ao redor e se viu perdido no meio de uma grande floresta, com árvores colossais, cheias de cipós, flores, frutos e pássaros canoros, além de macacos e outros bichos correndo pelos galhos. Seu olhar desceu até o nível do solo e deparou-se com três jovens garotas, sendo uma delas, uma bela indígena aos moldes estereotipados e as outras duas pareciam garotas da cidade com um leve parentesco indígena.— O que aconteceu? Como vim parar aqui? — perguntou Bira levantando-se devagar se apoiando num tronco caído e coberto de musgo e líquen.— Ao que parece você &eac
Ao atravessar o feixe de luz Janaina deparou-se com um lugar sinistro tomado por uma atmosfera tenebrosa e com sutil aspecto de morte, como nos filmes antigos de terror.Ela olhou para Anahí e tentou decifrar as emoções estampadas no rosto da mulher. Era quase impossível, pois, seu semblante apresentava muitas facetas, cada uma com uma emoção diferente.O ar era pesado e frio, a neblina dificultava a visão de média e longa distância, o cheiro de podridão era nauseante, as sombras dançando sob os escassos feixes de luz que dardejavam através das imensas copas das árvores ao redor, aumentavam a tenebrosidade local, mas nada era pior que os guinchos e uivos que vinham das entranhas da floresta. A pele de Janaina arrepiou-se completamente; seus pés travaram e ela não conseguiu sentir nada além de pavor.Uma mão pousou em seu ombro e imediatamente ela