Eu saí daquele torpor no dia seguinte, e, finalmente, cheguei à conclusão de que meu avô estava certo. Tomei um banho demorado, lavei meus cabelos e hidratei minha pele. Quando passei pelo porteiro, ele nem acreditou que eu estava saindo. Dei um bom dia e fui para o salão de beleza fazer as unhas, enquanto ele ligava para o Danilo para contar a novidade.Com as unhas feitas, liguei para a Laila e avisei que estava indo para o escritório, perguntando se ela poderia almoçar comigo antes e entrar mais tarde. Laila ficou emocionada. Foi difícil para ela ser bloqueada e não poder segurar a barra da amiga, mas o Danilo convenceu todo mundo de que eu precisava daquele tempo.O almoço foi emocionante. Nos abraçamos, choramos, e depois disse que não queria mais falar sobre aquilo, pedindo para ela me contar todas as fofocas do escritório. Depois que Laila me colocou a par de tudo, ela falou:— Amiga, de verdade, se eu ainda sirvo para te dar conselhos, acho que você não deveria ir para o escri
— Não. Nem pensar. Absolutamente não, Sheila!— Danilo, sei que você não perdoou sua irmã, mas você não sabe se a Isadora perdoou.— Eleanor não é minha irmã. E não sabemos se a Isa perdoou ela, mas sabemos claramente que ela não quer contato com nenhum de nós. Ontem foi aniversário dela e ela não quis vir pra cá, não aceitou que fôssemos e até a melhor amiga ela recusou.— Pelo menos fale com ela, Danilo.— Está fora de cogitação.— Danilo, sei que tudo o que você passou te deixou amargo, mas minha filha está precisando de ajuda agora.— E vocês acham justo com a Isadora? Caramba, Sheila. Sua filha sequestrou ela, tirou a Isadora do conforto e segurança do lar dela pra deixar um psicopata bater nela até matar os nossos filhos. Agora, na hora de parir o filho do psicopata, só abre as pernas se a Isadora tiver lá?— Filho, eu sei de tudo o que a Eleanor fez. Ela está arrependida, filho, ela quer a Isadora perto dela. As duas passaram por um trauma naquele dia e foi a Isadora quem alert
Eu estava dirigindo para o orfanato, onde pretendia alinhar meus planos com o Daniel. Era uma linda sexta-feira. Já tinha passado na academia, feito minha aula particular de luta diária e também meus exercícios. Os médicos disseram que foi muita sorte não precisar fazer uma cesárea para tirar os bebês. Na época, não concordava muito com isso. Preferia que tivessem feito a cesárea e evitado que eu tivesse que fazer força para parir dois bebês mortos, que não ajudaram nada a sair. Quando acordei, não lembrava disso, mas às vezes, quando estava bebendo ou dançando, tinha flashes do parto e das vezes em que a obstetra pedia para eu fazer força. Lembro de Danilo segurando minha mão e implorando para que fizessem a cesárea, para que eu não tivesse que passar por aquilo.Essa memória me assombrou bastante. Sempre me perguntava por que os médicos optaram por fazer aquilo comigo. Depois, hackeei meu prontuário e descobri que, no ultrassom que fizeram quando cheguei no hospital, não só encontra
Isadora entrou esbaforida na clínica em que Eleanor estava internada. Tinham uma sala cirúrgica esterilizada lá para emergências, e preparada para o parto de Eleanor. Ela foi direto para sala se preparar e eu fiquei aguardando na sala de espera. Quem via de fora, diria que eu parecia um pai nervoso. Ninguém entendia que eu estava mais preocupado em como Isadora iria lidar com tudo aquilo.Durante o voo, fiquei perdido em pensamentos. Eu finalmente entendi. Laila me ludibriou. Ela sabia que Isadora não ia questionar, que ia aceitar a situação porque ela é assim: sempre colocando os outros acima de si mesma. Mas o que Laila realmente queria era que eu enxergasse tudo pelos olhos da Isadora.E foi aí que percebi: eu não conseguia perdoar Eleanor. Eu sabia que ela tinha problemas mentais, que os distúrbios sempre estiveram lá, desde que éramos crianças. Mas não conseguia aceitar que a mente perturbada dela tinha me tirado tanto.Parado na sala de espera da clínica, isso ficou ainda mais c
Nós dois hesitamos bastante em sair do hospital e deixar a Lissandra lá, mas tínhamos muitas coisas para resolver. Isadora decidiu pegar um carro por aplicativo para o apartamento dela, enquanto eu ficava com a responsabilidade de contar para Sheila sobre a perda e providenciar o funeral. Tudo correu bem, sem surpresas, e a Isadora foi buscar a menina enquanto o funeral acontecia. Antes disso, ela mandou buscar na mansão um dos berços que tínhamos comprado para nossos bebês e algumas outras coisas. Já havíamos montado o quarto dos bebês na mansão, pois planejamos morar lá depois do casamento. Como tínhamos comprado tudo em dobro, a ideia era ficar um pouco na casa dela e um pouco na nossa.Após o funeral, fui direto para o apartamento dela, para ficar com a bebê. Quando entrei no apartamento, vi a Isadora e a Lissandra. A Isadora até se emocionou ao ver como eu estava encantado com a bebê. Ela percebeu, claramente, que eu estava apaixonado por aquela pequena, não importando se o bebê
Os dias foram passando e Danilo voltou ao trabalho. Eu já havia montado uma rotina para a Lissandra, o que fez ele perceber como as coisas estavam mudando rapidamente. Naquela tarde, eu iria à faculdade fazer minha rematrícula e também descobrir como estava minha situação com as DPs que peguei no final do semestre. As aulas voltariam na semana seguinte e, sinceramente, eu estava incomodada com a ideia de ter que contratar uma babá.Enquanto Lissandra tirava uma soneca, aproveitei para arrumar o apartamento. Até comentei com Danilo que, se uma só dava tanto trabalho, imagina dois ao mesmo tempo! E o lembrei que a nossa filha mal estava fazendo um mês. Ele me observava de longe, admirando a forma como eu lidava com tudo isso. Eu estava forte, mas ele via que, por dentro, as coisas ainda não estavam totalmente resolvidas.Foi quando a campainha tocou. Estranhei, porque o porteiro só deixava subir o Danilo e meu avô sem anunciar. Ao abrir a porta, encontrei a Elza, toda sorridente, me abr
O apartamento estava em meia luz, criando o clima perfeito. Eu tinha deixado tudo preparado, a champanhe no balde de gelo, as taças sobre a mesa, e pétalas de rosas vermelhas flutuando na banheira. Eu tinha imaginado aquilo como algo especial, algo só nosso. Coloquei uma lingerie super provocante, a camisola transparente que ele adorava, e me senti, por um momento, um pouco brega, mas também excitada. Quando ele chegasse, eu ligaria a banheira e a noite começaria da maneira que eu queria.A ideia foi minha, mas Elza me ajudou em tudo. Arrumamos algumas coisas da Lissandra e fomos para a mansão. Eu entreguei nossa filha para Sheila, que logo se encantou com ela. Sheila, como todos, ficou maravilhada com Lissandra. Ela era um bebê lindo e ativo, cheia de vida e fofura, mas também trazia um peso que eu ainda não sabia como lidar. Olhei para Sheila com a menina no colo e senti aquele medo apertando meu peito. Lissandra tinha vindo para trazer alguma ordem a tudo isso, mas será que seria s
Os meses estavam passando rapidamente, e eu me sentia completamente absorvida pelo trabalho e pelos projetos. Danilo sempre esteve ao meu lado, me ajudando com os detalhes, seja na parte prática ou nos aspectos mais complexos. Eduardo, meu avô, também havia se envolvido, usando sua posição pública para ajudar a expandir meus projetos sociais. Eu não podia deixar de me sentir grata pela ajuda deles, mas, ao mesmo tempo, algo me incomodava.Foi numa das chamadas de vídeo que resolvi perguntar diretamente ao meu avô, sem pensar muito nas consequências.— Vovô, você está usando meus projetos pra se promover pra tentar a prefeitura ano que vem?Eu estava sentada no chão da sala da mansão, assistindo Lissandra engatinhar atrás dos brinquedos. Cada vez que ela aprontava algo, parava, se sentava e sorria com os dentinhos da frente, fazendo meu coração derreter. Eu a puxava para brincar e até fingia morder ela, só para ouvir aquelas risadas gostosas. Quando fiz a pergunta, me distrai um pouco