Achei que seria mais difícil manter o profissionalismo no escritório depois de tudo o que aconteceu, mas me vi tão atolada de tarefas que a manhã passou voando. Nem tive tempo para flertar com o Danilo, que só me lembrou da hora do almoço e do encontro importante que eu tinha.Saí apressada, e no elevador vi a mensagem da Laila avisando que já tinha chegado. Queria muito contar tudo para ela, mas sabia que não dava para despejar todas as novidades no almoço. Minha vida estava de cabeça para baixo, e eu precisava da ajuda dela e do John para resolver a situação com a Juliete.Quando a encontrei, Laila me abraçou como se não nos víssemos há anos e, sem cerimônia, gritou:— O que aconteceu? Você está totalmente diferente!Tentei ser prática.— Vou resumir tudo pra te manter informada, prometo que conversamos com calma tomando vinho no fim de semana, está bem? Só não faz perguntas agora, porque preciso da sua ajuda e do John urgentemente.— Tá bom, eu sempre te tiro de confusão mesmo. Mas
Cheguei ao escritório naquela segunda-feira com um único objetivo: sondar. Precisava entender o que estava acontecendo e, para isso, esperei pacientemente até que a estagiária — bonita demais para estar ali — saísse para almoçar.Queria ter resolvido tudo no sábado, mas Danilo simplesmente não voltou para casa. Nem no domingo. Ele estava com aquela esposa misteriosa, a mesma que levou para conhecer Juliete. Um verdadeiro absurdo!Eu sempre soube que o casamento dele era apenas uma fachada, uma saída conveniente para fugir de um contrato. Com Juliete naquele estado, imaginei que ele não teria olhos para outra mulher, o que me daria tempo suficiente para me aproximar. Mas tudo mudou quando a Juliete simplesmente acordou. A enfermeira me avisou, e fui correndo encontrá-la. Consegui convencê-la de que seria melhor continuar fingindo sua condição. Expliquei que, se revelasse estar consciente, Danilo a mandaria de volta para a França sem nada.Foi difícil no início, mas Juliete acabou ceden
Saí da universidade respondendo as mensagens de Danilo no celular. Será que aquilo era mesmo real? Eu já estava com saudades dele. À tarde, tive uma conversa produtiva por telefone com Jhon, o namorado da Laila, e ele me indicou um neuro que poderia ajudar na situação. Falei com o médico, expliquei o caso, e ele disse que teria um horário na sexta-feira. Embora eu quisesse algo mais próximo, sabia que precisava respeitar as agendas.Contei isso ao Danilo numa chamada enquanto dirigia para casa, e ele disse que eu seria a responsável por levar o neurologista para ver Juliete. Estava cansada e comentei que precisava descansar, que falaríamos sobre o assunto no dia seguinte. Ele fez um muxoxo no telefone, dizendo que já sentia minha falta.Meu coração derreteu com aquelas palavras, mas lembrei a ele que precisávamos ser responsáveis. Ao chegar em casa, desliguei o carro, peguei minhas chaves e subi. Quando o elevador parou no meu andar, vi um buquê de flores na porta do meu apartamento.
Eu aguardava o Johnny do lado de fora da sala de Isadora, fingindo interesse em um e-mail qualquer enquanto meus pensamentos fervilhavam. Meus olhos estavam fixos na porta fechada, e o coração batia freneticamente no peito. Como Danilo pôde cair tão baixo? Dormir com uma estagiária qualquer, traindo Juliete... e a mim.A noite passada havia sido reveladora. Depois de ligar para Juliete, passei horas digerindo tudo. A ideia de Danilo estar realmente envolvido com outra mulher era insuportável. Decidi agir. Planejei tudo: orientei Juliete a “acordar” naquela madrugada, forçando um contato imediato com Danilo antes que qualquer outro médico pudesse intervir. Precisava atrapalhar qualquer momento que ele pudesse ter com aquela garota.Mas é claro que não contei a Juliete o restante do meu plano. Depois daquele tumulto inicial, eu me certificaria de estar ao lado de Danilo, ocupando o lugar que sempre foi meu por direito. Seria naquela noite. Ele finalmente me faria mulher, e Juliete seria
Ainda estava tentando recuperar meu ritmo no trabalho quando ouvi o som inconfundível dos saltos de Eleonor se aproximando. Não foi surpresa quando ela entrou sem bater, carregando no rosto aquele deboche típico.— O que você ainda está fazendo aqui? Por que não está arrumando suas tralhas pra dar o fora daqui? — disparou, cruzando os braços como se já tivesse vencido alguma batalha.Respirei fundo, mantendo a calma. Eu sabia que teria que lidar com Eleonor em algum momento, mas ainda não tinha decidido como. Meu instinto me dizia que ela estava por trás de grande parte das dificuldades que Danilo vinha enfrentando — e, agora, das minhas também. Sem me apressar, comecei a fechar as abas do computador uma a uma, evitando olhar diretamente para ela. Por fim, virei minha cadeira e respondi com tranquilidade:— Trabalhando.Ela franziu o cenho, claramente surpresa com a minha resposta.— Mas você foi demitida!— Sim, como estagiária. Agora sou assessora do Danilo.— E o que isso quer dize
Na manhã seguinte, estacionei no prédio espelhado e fiquei por um momento no carro, imersa nos meus próprios pensamentos. O peso de tudo parecia estar sobre mim. Antes de sair de casa, liguei para Laila em uma chamada de vídeo. Conversamos bastante, mas, pela primeira vez, ela não tinha um conselho que pudesse realmente me ajudar. Era como se nem ela soubesse o que fazer com essa bagunça.Danilo também tentou várias vezes. Chamadas perdidas no meu celular e mensagens que ele começava a digitar e apagava antes de enviar. Por fim, só recebi um seco “boa noite”. Não sabia se estava agindo certo em ignorar, mas, naquele momento, parecia a única coisa que eu podia fazer para manter minha sanidade.Suspirei e olhei para o espelho retrovisor. Lá estava eu, com o rosto cansado, mas com a determinação de sempre. Baixei o vidro e disse para mim mesma:— A Cinderela só teve até meia-noite e perdeu o sapatinho. Você está no lucro. Teve um fim de semana inteiro... e mais uma noite. Mas chega. Eu q
Deitado na cama dela, senti o peso do cansaço e do dia tumultuado, mas ali, com Isadora atravessada na cama e a cabeça apoiada na minha barriga, tudo parecia mais leve. Meus dedos brincavam com uma mecha dos cabelos dela, longos e macios, enquanto o silêncio confortável nos envolvia. Até que, de repente, ela o quebrou:— Como a Juliete está? — perguntou, a voz baixa, mas firme.Suspirei antes de responder, sabendo que a conversa que viria não seria fácil.— Confusa, o que era esperado. Fizeram todos os exames clínicos e neurológicos. Fisicamente, ela está bem. O cérebro também. Mas... perdeu a memória.— Não se lembra de nada?— Nada do acidente, nem de eu ter vindo para o Brasil. Para ela, ainda estamos na França, meu pai está vivo e a pandemia nem aconteceu.— Então, ela acredita que é sua mulher e que vocês são felizes... Você já contou?— Não. Os médicos pediram para ir aos poucos, deixar que ela recupere a memória sozinha. Só dissemos que ela sofreu um acidente e que estamos no B
Os dias seguintes foram um misto de tortura e calma forçada. No escritório, Isadora mantinha a distância emocional, dirigindo-se a mim apenas sobre assuntos de trabalho. Respeitei seu espaço e sua decisão, mesmo que cada segundo daquela barreira invisível entre nós me consumisse por dentro. Às vezes, enquanto ela estava concentrada nos projetos, eu me pegava observando-a, admirado pela mulher incrível que estava perdendo.Enquanto isso, em casa, Juliete seguia seu caminho de recuperação. Douglas e eu estávamos focados em ajudá-la a reconstruir a memória e a vida. Ela parecia determinada a assumir o papel de esposa perfeita, mas tudo aquilo soava vazio para mim. No primeiro final de semana, ela tentou se aproximar de mim de maneira mais íntima, mas recusei. Não só por respeito à Isadora, mas porque simplesmente não sentia mais nada por Juliete. Tudo que fazia era movido pela culpa e por respeito à nossa história de cinco anos. Queria encerrar aquele capítulo de forma digna e rápida par