Capítulo 6
Meu recomeço está tão carregado de paz que chega a dar medo. Estou com as duas pessoas que mais amo e que mais importam para mim no mundo: Ayla, minha melhor e única amiga, e Luan, meu irmão, meu sangue. Observo os dois jantando e conversando, e desejo, do fundo do meu coração, que eles se acertem. Eu só quero que eles sejam felizes, nada mais. — Nossa, um jantar animado na minha casa e nem fui chamada? — Alex apareceu na sala de jantar, falando alto. — Sua casa? Essa casa é nossa, minha e de Caio. Não lembro de você ser dona de algo aqui — respondeu Willian, sem disfarçar a ironia. Ela pareceu furiosa com ele, mas antes que pudesse responder, Caio se levantou da mesa, jogando o guardanapo com força e caminhando até ela. — Você está passando de todos os limites, Alex! O que está pensando que está fazendo? — Eu tô cansada... de ser um nada. Sou só uma incubadora pra vocês? — E nós apenas seu caixa eletrônico? Cada um tem seu papel, Alex — Willian disse da mesa, sem sequer levantar os olhos para encará-la. E logo completou: — E não esqueça: seu tempo de vida boa e mansa está acabando. — Willian, você não pode falar assim comigo! — Eu posso. E sabe por que eu posso? Porque você já perdeu o respeito por nós faz tempo. Mesmo que eu e Caio tenhamos feito de tudo por você, você quer sempre mais. E pra mim, chega. Nosso único assunto agora é a Helena. Nada mais. Ela grunhiu alto de raiva e saiu batendo os pés, como uma criança contrariada. — Peço desculpas por essa cena, Luan. Infelizmente, tem coisas que precisam ser paradas — Willian disse, direcionando sua atenção para Caio, que permaneceu em silêncio. O clima que antes estava descontraído se tornou pesado. O silêncio tomou conta do resto do jantar. Após a refeição, saímos para dar uma volta pela noite de Nova York. Caio, no entanto, preferiu ficar. Willian era sério — uma versão aprimorada da Ayla. Criado pelo pai, era mais seco, mas extremamente educado. E era visível o quanto ele amava a irmã. Eu e Luan começamos a andar na frente, e não demorou para que ele me perguntasse sobre o que realmente havia acontecido... — Agora me fale, Mile, o que aquele lixo humano do João fez? — Ah, Luan... não vamos estragar a noite. Está tão boa, tão tranquila... — Mile, eu sou seu irmão. Eu preciso saber. — Ele... era ciumento demais... — E? Sei que tem mais! — Ele me agrediu... — Ele fez o quê? — Calma... olha, era por isso que eu não queria falar. Sabia que você ia ficar assim. — Eu vou acabar com ele! Quando ele fez isso? — Foram... foi... — Foram? Você tá falando sério? Ele te agredia e você nunca me contou nada? Ele parou abruptamente e segurou meus braços com força. Puxei rapidamente, assustada. — Me desculpa, não queria te machucar quando segurei... — ele falou, visivelmente abalado. — Você devia ter me contado. Eu teria ido até lá, eu teria te protegido! — João é perigoso, você não imagina do que ele é capaz. Ele tem muita influência, compra todo mundo ao redor. A Ayla já se arriscou muito me tirando de lá... e eu serei eternamente grata a ela por isso. — Então sou eu quem tem que agradecer a ela. Não vamos mais pensar nele, mas me prometa uma coisa: se ele te procurar, me fale. Nunca mais vou deixar que ele te machuque. Por que você não fica aqui? — Não... eu não quero sair do Brasil. E eu quero ajudar o Caio e o Willian com o bebê... acho que vai ser o mais perto de ter um filho que eu vou conseguir chegar... Falei com dor na alma. O peso de não realizar o meu maior sonho sempre vai me rondar... Afastei esse pensamento e disfarcei, olhando para o grande painel da Times Square. Um pedido de casamento estava acontecendo — algo lindo de se ver. — Deve ser maravilhoso ser amada assim! — Ayla falou, olhando para Luan, depois disfarçou rapidamente. — Deve ser... mas pra mim, amor é sinônimo de dor. Não é algo que eu queira na minha vida novamente. Não conheci o lado bom... e hoje em dia, teria medo de tentar. Falei meio sem pensar, e percebi que Willian me observava enquanto eu dizia cada palavra. — O amor é algo genuíno, Milena. O seu ex-marido não é base de exemplo. Apenas se permita... um dia, o amor de verdade vai chegar até você. Ele falou olhando para o telão, onde o casal se beijava, depois da moça aceitar o pedido. Eram um casal de influencers brasileiros: Mell e Jordan. Voltamos caminhando para o apartamento. Willian convidou Luan para ficar por lá, e ele aceitou. Estávamos na sala, e percebi que a conversa entre Ayla e Luan estava extremamente entrosada. Me retirei discretamente, sem nem me despedir. Willian logo fez o mesmo. — Eles parecem estar se entendendo — Willian comentou, já no corredor dos quartos. — Espero que sim. Ayla merece isso. — Ele parece um bom rapaz. Nossa... me senti um velho de 70 anos agora! Acabei dando uma risada alta demais. — Nossa, estão animados! Posso saber o motivo? — Caio perguntou, abrindo a porta. Ele parecia alterado, e quando se aproximou, senti o cheiro forte de bebida. — Foi por isso que ficou aqui? — Willian perguntou, num tom sério. — Willian, chega! Estou cansado... pare de tentar me controlar! Estou de férias! Alex saiu do quarto onde Caio estava, e o semblante de Willian mudou completamente. — O que ela estava fazendo aí com você? — Estávamos conversando! — Já tínhamos combinado que isso nunca mais aconteceria, Caio! Me senti no meio de uma guerra e fui saindo de fininho. Mas Alex me segurou pelo braço. — Preste bem atenção, garota: você com toda certeza será o próximo brinquedinho dos dois. É só isso que eles fazem com as mulheres que passam na vida deles. Não pense que com você vai ser diferente. Porque não vai! Senti meu corpo gelar com as palavras dela. É claro que eles não me viam assim... eu apenas trabalho para eles. Apenas isso... Não é?Capítulo 1Milena SilveiraNão aguento mais. Meu corpo inteiro dói, e, mais uma vez, acordo em um hospital. Isso está me destruindo...Olho para o lado ainda zonza: flores como sempre, um quarto moderno, cheio de aparelhos. Qual será a mentira no prontuário desta vez? Com dificuldade, a vista ainda turva li..."Paciente queda, caiu da escada."Moro em uma cidade do interior do Paraná. Quando conheci João, nunca imaginei que, ao assinar os papéis do casamento, estaria selando minha possível sentença de morte. Tudo mudou depois que meus pais morreram. Sem ninguém no mundo, tornei-me prisioneira dele. O filho que eu não podia lhe dar era sempre a desculpa para as surras no começo, raras, mas agora quase diárias. Mas João é o prefeito da cidade, um exemplo de cidadão de bem. Eu? Apenas uma mulher desastrada, que vive se machucando sozinha...— Ah, meu amor, você acordou. — Sua voz melosa me enoja. — Quando cheguei em casa, você estava caída aos pés da escada. Foi desesperador, meu amor, o
Capítulo 2Milena SilveiraEstava extremamente sonolenta, os remédios são fortes, queria acreditar que foi apenas um pesadelo, que meus olhos e mente me pregaram uma peça. Escutei o barulho do chuveiro e, logo depois, ele se deitou ao meu lado. Apaguei novamente...Quando acordei, ele estava em um sono pesado, me levantei, e vi que infelizmente nada daquilo, foi um pesadelo, as camisinhas abertas, e uma usada no lado do chaise me deram a certeza que aquilo não foi um pesadelo, foi real, ele realmente fez isso.Com certeza mais um dos fetiches nojentos do João, me humilhar é o hobby favorito dele...Me vesti e fui até a cozinha, eu me sentia suja só por ele ter deitado ao meu lado depois de ter feito isso, disquei o número de Ayla, que atendeu no segundo toque.— Ayla, sou eu. Preciso ser breve. Eu vou com você. Quando você vai?— Saio na sexta. Passo aí assim que ele sair para o trabalho.— Aqui não, é perigoso, te encontro na praça, da Arará, lá é mais afastado, as 10:00 estarei lá
Capítulo 3MilenaA ideia me pareceu uma loucura, mas Ayla estava certa. Era uma oportunidade que eu não podia deixar passar, liguei para ela:— Então, Mile, me fala, você aceita? É um bom recomeço para você, e não tem ninguém melhor pra esse cargo.Engoli em seco. O medo ainda me assombrava, mas eu precisava recomeçar. Respirei fundo antes de responder:— Eu aceito, Ayla. Eu aceito sim, parece realmente uma ótima idéia.— Perfeito! Vou te enviar o endereço e te espero aqui em meia hora.Com o coração acelerado, corri para me arrumar. Juntei minhas coisas e fechei minha conta no hotel. Agora era oficial. Um novo capítulo da minha vida estava começando, e vou enfim deixar o João e meu maldito casamento com ele no passado, escondido e enterrado, escrevi tudo no diário, coloquei na bolsa, e segui hora de recomeçar.Quando cheguei ao endereço enviado por Ayla, me deparei com uma mansão luxuosa. Era imponente, cercada por câmeras de segurança. Fazendo com que meu coração se acalmasse um po
Capítulo 4Milena Silveira Quando cheguei no meu quarto eu ainda sentia o coração acelerado depois do encontro inesperado com o senhor Caio na cozinha. A forma como ele me olhou, como se pudesse ver através de mim, me deixou um pouco inquieta. Não estava acostumada a ser notada, aliás a menos que fosse para apanhar depois. Tento manter a minha aparência discreta sempre, exatamente por medo. Mas não posso ter medo aqui, onde eu quero apenas recomeçar eu preciso esquecer meu passado a todo custo, e se tornar a melhor babá que esse anjinho pode ter.Me tranquei no quarto assim que entrei, ainda são reflexos do medo, e um modo de me proteger, mesmo sabendo que o João não vai entrar por essa porta, ainda é difícil assimilar que estou livre, que estou em paz.Peguei novamente meu diário, contando todas as sensações da minha nova vida, do meu primeiro dia aqui...O sono demorou muito a chegar, e quando veio, foi repleto de sonhos confusos, que me deixaram atordoada. No meio da madrugada, a
Capítulo 5Os dias passaram rapidamente. É estranho como se sentir em paz faz com que o tempo passe sem notarmos.Hoje viajaremos para os EUA. É hora de conhecer a barriga de aluguel e comprar o enxoval da pequena Helena.Ayla está extremamente ansiosa com a viagem, mas sei que o que realmente a inquieta é a possibilidade de ver Luan. Ela sempre foi apaixonada por ele...Vamos para Nova York, mas Nova Jersey, onde ele mora, é bem perto. Por isso, combinei um encontro para matarmos a saudade.Após horas de voo de primeira classe, finalmente chegamos ao destino. Pegamos dois táxis: um comigo, Ayla e algumas bagagens, e o outro com Caio, Willian e o restante das malas.A cidade é incrível, repleta de arranha-céus, e só agora percebi que nunca perguntei com o que os dois trabalham...— Ayla, o que eles fazem? Qual é o trabalho deles?— Sabe a C&W Segurança de Alto Padrão?— Sim.— Eles a fundaram do zero. Hoje, fazem a segurança das pessoas mais famosas e influentes do Brasil, com equipes