A janela é aberta por James soltando um sorriso satisfeito, hoje seria o dia em que me tornaria o imperador, o rei. Talvez fosse apenas um título comparado a qualquer outro, mas para mim não, era o meu destino, era algo que eu almejava desde criança. Sim eu faria sacrifícios a partir de agora, a cada mísero minuto eu o faria mas ainda sim valeria a pena quando em meus devaneios mais obscuros eu visse meu pai aprovando cada um dos meus passos.
Ao sair do meu quarto ele deixou uma folha sobre a mesa e fechou a porta, me levantei davagar indo ao banheiro tomar um banho refrescante e deixar minha ansiedade de lado por alguns minutos. A água da banheira estava morna e repleta de espuma, normalmente eu não teria tempo suficiente para um banho tão relaxante, mas hoje não era um dia normal. Respiro pesado ao colocar minha nova farda tão ornada quanto a antiga em um branco reluzente e único. Escovo meus cabelos loiros para trás deixando um ar sério tomar conta do meu rosto jovem, os olhos azuis glaciais quase em uma total paralisia na feição que fui acostumado a manter. Ao abrir a porta me lembro do papel que James havia deixado na mesa e sabia que eram minhas obrigações diárias, ontem quebrei outro celular então esse seria o jeito mais simples de me passar as informações.
Me apressei para tomar um café da manhã sozinho, o banquete foi imenso e finalmente comi do jeito que eu tinha vontade, em paz e em grande quantidade para suportar o dia agitado que viria a seguir. Todos estavam alvoroçados e sorridentes ao meu redor, os empregados do Castelo andavam rápido de um lado para o outro, com flores e tecidos, tapetes e jarros. Alguns ministros já perambulabam pelas salas de reuniões do palácio, parando vez ou outra para me seguir e me parabenizar ou desejar bençãos ao reinado, o padre estava a caminho e tudo teria que estar visivelmente perfeito em pouco tempo. O salão do trono estava decorado de vermelho, azul e branco com bandeiras espalhadas e a foto de todos os imperadores antes de mim, um orgulho inundou meu peito fazendo minha confiança aumentar consideravelmente.
- Majestade, Como se sente essa manhã? - era o pai de Lammona eu sabia, sua voz áspera me seguia por todo o lugar. Todo homem queria ter sua filha casada com o rei de uma das maiores potências econômicas do mundo, ele faria qualquer coisa e eu sabia disso. Infelizmente eu não podia fugir de Lammona, nunca poderei. Ela e sua família estão no topo da sociedade quase se igualando a realeza, ela seria minha noiva e logo depois minha esposa e eu nunca a amaria de verdade, eu não seria feliz e ela não se importava nem um pouco com esse sentimento.
- Me sinto poderoso, Juno. - declarei embora não fosse, me sentia corajoso mas não poderoso, triste de certa forma mas não com a celebração, me sentia triste por ter perdido as pessoas que eu amava e em seguida ter que tomar seu lugar tão rapidamente. Me sentia triste por ter que me casar com alguém que não amo e viver minha vida repleta de mentiras, de ter que fugir para manter minha liberdade e depois voltar novamente as algemas por vontade própria. - Confiante, decidido.
- Isso é ótimo, majestade. - Não podia repassar nada do que eu realmente sentia para ele, apenas o orgulho abafado e a confiança de que farei o meu melhor já me deixava com um olhar autoritário. Eu não podia tentar eu tinha que ser igual ao meu pai ou melhor que ele nesse reino; tinha que mostrar que não sou apenas um garoto assustado pegando um cargo pesado demais para as costas, sou um imperador agora.
- Como esta Lammona? - claro que isso não me interessava mas não poderia me casar com alguém e não demonstrar o mínimo de preocupação por ela, mas la no fundo eu sabia que todos tinham a certeza que eu não a amava.
- Esta feliz e ansiosa, majestade. - claro que está, ela não me quer, tudo que interessa a Lammona é uma coroa e poder nas mãos, dinheiro e status.
- Também estou. - menti novamente, minha vida era a base de mentiras descaradas que eu contava a mim mesmo para simplesmente tentar manter as aparências.
Pedi que ele se retirasse e voltei ao meu quarto pegando o papel que James havia deixado, eu teria uma semana para resolver assuntos com os ministros e assinar algumas leis, na outra seria meu noivado com Lammona e em seguida uma série de viagens antes do casamento. Respirei fundo anotando tudo mentalmente para não esquecer, hoje era um dia que eu não poderia ficar abatido, triste e muito menos ansioso eu teria que desfrutar e me alegrar com meu povo mostrando que o nosso reino continua forte e que um homem está a sua frente, um híbrido para ser sincero.
Meu lobo esta agitado, por mais que ele saiba o quanto sou obrigado a fazer tudo isso não teme em mostrar sua insatisfação, talvez meu lado insubordinado e dominante venha dele. Sorri satisfeito ao saber que meu melhor lado não era de fato meu, um garoto assustado que precisou se tornar homem em poucos meses antes que seu país simplesmente caísse em um profundo precipício. As horas se avançavam enquanto eu fazia minhas obrigações e escutava atentamente as instruções de James para a hora da coroação embora a única frase que eu pude realmente focar foi: não surte, anotado.
Muitas e muitas pessoas a minha volta, todos me olhando como se esperassem algo de mim. Não surte. Eu me repreendia mentalmente andando por entre a multidão e me aproximando do altar onde o padre daria a bênção sobre a coroa. Meu estomago revirou ao sentir o nervosismo penicando minha pele e me lembrando que agora eu não podia mais voltar atrás, agora era tudo ou nada. Meu lobo se agitava em desespero e o caminho era aberto rumo a escada vermelha, o padre segurava a bíblia e falava algumas palavras em latim enquanto eu subia com as pernas tremulas e me ajoelhava diante dele repetindo a mesma coisa: não surte.
Não tinha dúvida nenhuma de que eu amava o sol, a janela do meu quarto estava aberta deixando a luz esquentar minha pele enquanto me dispertava do sono aconchegante. Acordar cedo não é algo que eu venero mas depois que eles partiram se tornou necessário, e uma coisa que me lembrava a animação deles em ter os primeiros raios de sol apenas para si. Se eu fechasse os olhos podia ver mamãe dançando na sala, papai rindo enquanto prepara o café da manhã e idólatra sua esposa. Se respirasse fundo, ainda podia sentir o cheiro de ovos fritos e panquecas meio queimadas. Levantei devagar abrindo a porta do quarto e me separando com a casa silenciosa e vazia. Tudo bem, eu sabia que nada iria mudar apenas porque a saudade me bateu.Depois de um bom banho e ovos quentes na barriga saio para a biblioteca da pequena vila Avon. As pessoas me cumprimentam em todos os lugares, era bom morar aqui, era um lugar pequeno e afastado demais da civilização para que algo pudesse interferir em
Reuniões, falatório, discussão, dor de cabeça. Estou andando pelos corredores do palácio massageando as têmporas doloridas depois de uma reunião de quase quatro horas sobre a importância do turismo. Nosso país ganha milhares de euros por ano apenas com pessoas entrando e tirando fotos, um insignificante parlamentar idiota queria restringir nossas áreas mais famosas por um capricho. Resultado, gritarias e discussões até eu realmente me alterar e mandar todo mundo calar a maldita boca.Já faz uma hora que o almoço está sendo servido nos restaurantes e eu praticamente corro para a ala real, estaria sozinho e poderia beber um belo copo de sangue quente enquanto como igual um animal. Estava tranquilo até abrir a porta e notar convidados indesejados; a família de Lammona deveria esta em qualquer um dos quinze restaurantes espalhados pelo palácio mas não na minha mesa. Fitei cada um com os olhos semicerrados de raiva e ela se encolheu como um coelho a
A chuva ainda persistia do lado de fora dando um susto em qualquer desavisado, aqui era assim, o sol pouco aparecia e a chuva predominava fazendo a lareira ser meu canto preferido. Dias escuros faziam todo o vilarejo parar, ninguém abria suas lojas e a biblioteca também estava fechada. Me lembro de ter quebrado meu único guarda chuva nas costas de Jurgen há alguns dias. Me levanto preguiçosamente da cama quentinha que me acolhe e arrasto os pés até o chuveiro, ligo o quente e começo meu banho torcendo para que meu dia não seja tão nublado quanto o céu. Quando comecei realmente o banho a água ficou rapidamente fria me fazendo gritar e sair correndo para fora do box. Enrolei a toalha em meu corpo quando uma montanha rompeu pela porta me causando outro susto que eu respondi com um dos meus finos gritos alarmados.- Pelos deuses! O que aconteceu? - Jurgen tapava os ouvidos sensíveis, seu rosto estava amassado e seus olhos brilhantes quando levantou a cabeça para m
Rosas e mais rosas amarelas, o salão de festas estava repleto de pessoas e rosas amarelas para todos os lugares que eu olhasse. Eu estava com minha tradicional farda branca de gala, Lammona estava com um vestido amarelo longo e os cabelos presos em um coque sofisticado, deslizava como se seus pés mal tocassem o chão, sorrindo e acenando como de esse fosse o dia mais feliz da sua vida.Todos me parabenizavam pela linda mulher que eu iria possuir, o local estava lotado demais com conhecidos de Lammona que desfilava feliz e tranquila entre elas. Nem um sorriso falso saia dos meus lábios, dizia a todos que estava preocupado com assuntos do governo,.para não deixar os bons modos de lado e acabar socando alguém sem motivo satisfatório.Ela não é nossa.Eu sei amigão, eu sei.Nada em mim se sentia atraído por ela, não vou ne
Izzi me encarou assustada, alguns gritos podiam ser ouvidos do lado de fora. Meu corpo tremeu em um aviso de perigo desesperado, ela correu para a porta da frente observando se os betas estavam controlando a situação. O tumulto cessou de repente.- Ebby, eu vou olhar se esta tudo bem. Feche a porta assim que eu sair. - assenti, ela saiu e eu me aproximei para fechar a porta esperando ver ela se afastar, sinto um vento gelado passar por mim e fecho a porta com força soltando o ar que eu nem sabia que prendia.- Sobrenaturais não se juntam com humanos... eles são comida. - a voz animalesca vinha de um homem careca, eu não fazia ideia de como ele tinha conseguido entrar em minha casa. Era alto e esguio, seus passos ameaçadores eram lentos ele queria se divertir.Me afastei da porta correndo em direção a lareira, peguei um atiçador e o segure
Quase duas semanas se passaram e minhas malas já estavam prontas, quando eu voltar de viagem irei me casar com Lammona, minha condenação por tudo de ruim que já tinha feito em minha vida. Respirei fundo colocando a última mala para fora do quarto que foi rapidamente recolhida e levada.- Lembre-se, você é o rei... um alfa, um híbrido. Você é um grande homem Kwan, use isso. - eu odiava os jeitos que James usava para me motivar, seus discursos eram falsos e repletos de desdém ensaiado.Desci as escadas a sua frente ficando o mais distante possível da sua voz irritante, o carro já estava a minha espera em ftente as portas duplas do palácio e a família de Lammona estava lá para me desejar uma boa viagem. Diversos repórteres batalharam por uma foto exclusiva e isso era realmente irritante.- Sentirei saudades, querido. Volte logo para mim. - não consegui sorrir mas fiz um carinho forçado em sua bochecha que não demorou a ser regist
Já era noite quando acordei sozinha em minha Casa, todos os acontecimentos do dia estavam passando como memórias de um filme de terror; eu perdi mais alguém. A dor estava ali apenas esperando que eu acordasse para se mostrar presente, um vazio, um frio dentro do próprio corpo. Não existiam casacos ou chamas do lado exterior que conseguisse me aquecer, não tinha como fugir dele.Levantei da minha cama e sentei no sofá, as chamas da lareira mostravam que alguém a acendeu durante a tarde. As horas no meu celular indicavam que já se passava da meia noite e uma mensagem de Izzi brilhava na tela.Assim que acordar, ligue para mim.Estou preocupada.Joguei o celular no canto do sofá e fiquei encarando as chamas dançantes, era tão hipnótico que as vezes mesmo que por poucos segundos o calor me invadia mas, a voz da idosa cheia de alegria sussurrava em meu ouvido e a brisa gélida tomava conta do meu corpo novamente. Me sentia uma estra
Alex não demorou a sair do banheiro, estava limpo e as roupas serviram embora a blusa de algodão tenha ficado um pouco apertada em seus braços mais definidos do que os do meu pai eram. Ele sentou no banco da Ilha e sem falar uma só palavra começou a atacar o prato que eu tinha posto para ele, realmente estava com fome.- Alex, você sabe que é um lobisomem, certo? - ele me encarou por alguns minutos e depois assentiu. Parecia aquelas crianças que não queriam manter uma conversa sobre a realidade, mas acabavam cedendo com a persistência.- Eu sabia que era algo diferente, me sinto estranho. E os ferimentos que você falou não existem mais. - Ele comentou parando um pouco de comer. Ao menos não tinha surtado, já era um início.- Bom, aqui é uma alcatéia. Pode falar com o Jurgen para ficar um tempo até que recobre sua memória. Ele é o alfa. - Alex assentiu mas não disse nada continuou comendo como se não houvesse amanhã.<