Já era noite quando acordei sozinha em minha Casa, todos os acontecimentos do dia estavam passando como memórias de um filme de terror; eu perdi mais alguém. A dor estava ali apenas esperando que eu acordasse para se mostrar presente, um vazio, um frio dentro do próprio corpo. Não existiam casacos ou chamas do lado exterior que conseguisse me aquecer, não tinha como fugir dele.
Levantei da minha cama e sentei no sofá, as chamas da lareira mostravam que alguém a acendeu durante a tarde. As horas no meu celular indicavam que já se passava da meia noite e uma mensagem de Izzi brilhava na tela.
Assim que acordar, ligue para mim.
Estou preocupada.
Joguei o celular no canto do sofá e fiquei encarando as chamas dançantes, era tão hipnótico que as vezes mesmo que por poucos segundos o calor me invadia mas, a voz da idosa cheia de alegria sussurrava em meu ouvido e a brisa gélida tomava conta do meu corpo novamente. Me sentia uma estra
Alex não demorou a sair do banheiro, estava limpo e as roupas serviram embora a blusa de algodão tenha ficado um pouco apertada em seus braços mais definidos do que os do meu pai eram. Ele sentou no banco da Ilha e sem falar uma só palavra começou a atacar o prato que eu tinha posto para ele, realmente estava com fome.- Alex, você sabe que é um lobisomem, certo? - ele me encarou por alguns minutos e depois assentiu. Parecia aquelas crianças que não queriam manter uma conversa sobre a realidade, mas acabavam cedendo com a persistência.- Eu sabia que era algo diferente, me sinto estranho. E os ferimentos que você falou não existem mais. - Ele comentou parando um pouco de comer. Ao menos não tinha surtado, já era um início.- Bom, aqui é uma alcatéia. Pode falar com o Jurgen para ficar um tempo até que recobre sua memória. Ele é o alfa. - Alex assentiu mas não disse nada continuou comendo como se não houvesse amanhã.<
Ao sair de casa lembro de passar na pequena padaria e pegar os bolinhos, Alex olhava tudo admirado, nossa vila era muito bonita. As lobas farejavam o ar e encaravam Alex que se quer dava atenção a elas, sua preocupação era olhar o lugar e tomar cuidado para não se perder. Abri a pequena porta da biblioteca que, por causa das chuvas estava fria e com um cheiro de poeira.Atrás do balcão de atendimento onde eu recebia e despachada os livros peguei dois panos amarelados e acendi as luzes fortes do lugar. Alex encarou as prateleiras com um olhar fascinado e em seguida desceu os olhos até mim.- É muito bonito, eu gosto de livros. - Ele falou simplesmente, lhe entreguei um dos panos e apontei para as mesas.- Me ajuda a limpar ? - ele assentiu sem demora. Começamos a tirar a fina camada de poeira do lugar, enquanto ele limpava as poucas mesas eu espanava as prateleiras tirando as poeiras dos livros. Em seguida varri o chão e por fi
A noite começou a se erguer devagar, eu fechava as portas da biblioteca com a ajuda de Alex, ele tem se mostrado bem ativo, aceitava qualquer tarefa sem reclamar e estava sempre sorrindo como se isso aqui fosse uma colônia de férias.Diferente da manhã, as ruas estavam quase vazias, as janelas coloridas das casas estavam cobertas com tecido negro, apenas alguns betas andavam por ali fazendo ronda ou arrumando o local por onde os corpos passariam. O clima pesado e fúnebre se instaurou sobre meus ombros, eu me lembrava bem disso, foi tão idêntico a quando eles partiram.Alex colocou a mão quente em minhas costas e só então me dei conta que estava parada no meio da rua estreita. Olhando para o horizonte levemente escurecido pelo cair da noite. Com uma leve pressão nos dedos ele me incentivou a continuar caminhando em direção a minha casa. Fechei a porta após ele ter entrado e suspirei pegando o tecido negro que eu guardava em uma das gaveta
Pov. Alex.Quem eu sou?Essa pergunta serpenteava minha cabeça a cada segundo, não lembrava de nada, era como se tivesse uma neblina extremamente densa entre o meu eu atual e minha memórias. Queria descobrir o meu passado, saber quem sou e por fim tirar Ebby daqui. Não posso deixa-la em um lugar que só lhe trás lembranças ruins, na verdade eu não sei se conseguiria deixa-la. Sinto que sou alguém para ela e esse sentimento faz meu coração bater forte contra o peito como se nunca tivesse sido importante para alguém.Depois de tomar um banho e colocar aquelas roupas brancas eu me deparei na frente do espelho, cabelos dourados e olhos azuis era a única coisa que me chamava realmente a atenção. Não lembro nem da minha aparência, me sinto um estranho em meu próprio corpo, como se estivesse preso a ele. Passo a mão pelos dois únicos botões da blusa fina e algo como uma memória passa diante de mim.Eu
Pov. Alex.Ficamos ali até os corpos serem totalmente consumidos pelas chamas, Ebby não quis ir embora como os outros. Ela não queria deixar a senhora Reeys sozinha. Nos sentamos ali perto e ficamos observando o vento levar as cinzas embora para longe, Izzi também ficou, ela segurava na mão de Ebby com força como se passase a ela todos os seus sentimentos.Obrigatoriamente, Jurgen também estava, ele só podia sair dali depois que todos os corpos fossem totalmente consumidos, era parte do ritual. Explicou Izzi. Ebby passou o tempo inteiro em silêncio, apenas olhando as chamas, ela parecia perdida ali como se tentasse descobrir o que faria depois que tudo acabasse.- Ebby, como você está? - Jurgen se aproximou cauteloso e se abaixou a frente dela, Ebby não teve outra saída a não ser olhar nos olhos do alfa, tinha dor ali, muita dor.- Viva. Graças a você. - aquilo não foi um agradecim
O dia amanheceu cinza assim como todos os dias da semana longa e tortuosa. Todos agiam como se não tivesse acontecido um funeral alguns dias atrás. Minha rotina continua a mesma, abrir a biblioteca todos os dias é o que me faz ter coragem para levantar de manhã, sem contar as tentativas de Alex na cozinha que me fazia acordar com fumaça dentro de casa. Não podia dizer que era algo ruim porque não era, ainda podia ver toda aquela correria para apagar o fogo antes que decorasse minha casa inteira.Eu ainda estava dormindo quando a fumaça entrou em meu quarto, mal podia enxergar o cômodo. Meu desespero foi enorme enquanto me levantava trombando nos móveis e tentando abrir a porta enquanto tocia. Abanava as mãos a frente do rosto como se isso de alguma forma fosse ajudar em alguma coisa, parecia que quanto mais me movia mais fumaça entrava em meu campo de visão. Depois de muitas tentativas falhas eu consegui abrir a porta e a cozinha estava tão pior quant
A cada dia daquela semana eu me sentia mais apegado a Ebby, era como se eu não conseguisse me afastar e acabei deixando que esse sentimento me tomasse. Foi ai que entendi, eu estava me apaixonando por ela. Estava começando a sentir um laço forte demais e queria que ela sentisse também o que talvez nunca fosse possível, mas eu tinha que tentar. Por fim eu tentei fazer para ela o que ela fazia para mim, mas não deu muito certo. Sou um desastre na cozinha, arrumar a casa também era um desafio para mim. Apesar de acabar nos levando a altas gargalhadas durante o dia, e as vezes a noite quando chegamos do trabalho. Não sabia se era a minha mente que ainda não tinha se lembrado de como fazia as coisas mais simples eu era realmente um completo imbecil em atividades domésticas.Ao retornar para a biblioteca vejo ela e Izzi tensas, o coração acelerado e um monte de mentiras mal formadas sendo jogadas em mim. O que será que elas estavam conversando? Depois de ouvir os
A noite chegou em um piscar de olhos, estávamos na casa de Ebby nos arrumando para a festividade. A cada momento eu sentia vontade de dizer a ela o que meu coração machucado tanto gritava dentro do peito mas, olhando a situação atual de tudo que ela passou em apenas uma semana toda a coragem se esvaia.Coloquei uma blusa social Preta e uma calça bege clara, não entendo como eu me sentia tão a vontade com essas roupas, talvez o fato de ser Príncipe não me permitia usa-las. Decidi manter tudo em segredo por enquanto, precisava saber mais de mim para poder falar a ela.Saí do banheiro tentando manter os cabelos escovado para trás, Ebby já estava na sala calçando suas botas de cano curto. Estava com um lindo vestido amarelo que terminava um palmo acima dos seus joelhos, o tecido era pesado de um jeito que não balançava muito, tinha alças grossas e um decote comportado, seus cabelos negros estavam soltos e encaracolados.— Está pr