Não tinha dúvida nenhuma de que eu amava o sol, a janela do meu quarto estava aberta deixando a luz esquentar minha pele enquanto me dispertava do sono aconchegante. Acordar cedo não é algo que eu venero mas depois que eles partiram se tornou necessário, e uma coisa que me lembrava a animação deles em ter os primeiros raios de sol apenas para si. Se eu fechasse os olhos podia ver mamãe dançando na sala, papai rindo enquanto prepara o café da manhã e idólatra sua esposa. Se respirasse fundo, ainda podia sentir o cheiro de ovos fritos e panquecas meio queimadas. Levantei devagar abrindo a porta do quarto e me separando com a casa silenciosa e vazia. Tudo bem, eu sabia que nada iria mudar apenas porque a saudade me bateu.
Depois de um bom banho e ovos quentes na barriga saio para a biblioteca da pequena vila Avon. As pessoas me cumprimentam em todos os lugares, era bom morar aqui, era um lugar pequeno e afastado demais da civilização para que algo pudesse interferir em nossa vida mas, era como um pedacinho de paraíso flutuante. Paro na pequena padaria do senhor Mith, um estabelecimento rústico com algumas flores na entrada, várias cestas de pães já se amontoavam nas prateleiras enchendo toda a vila com o cheiro saboroso dos doces quentinhos que acabavam de sair do forno, faço uma pequena mesura e pego a cesta de bolos para os clientes.
- Lindo dia não é Ebby? - ele sorri enquanto pago a cesta, mesmo ele sendo obrigado a recusar o meu dinheiro acaba o recebendo depois de alguma insistência da minha parte.
- Sim, senhor Mith. - aceno para ele continuando meu percurso rotineiro ao trabalho.
Na verdade quase ninguém aqui gosta de ler mas todos gostam de bolinhos e eu sempre gostei de ter companhia na biblioteca, a senhora Reeys adora quando tudo está lotado, o sorriso dela é mais bela visão que eu posso ter durante o dia, é muito bom poder fazer ela feliz depois de tudo o que aconteceu conosco. Não demoro a bater na porta e ela abre sorridente, a senhora Reeys é uma idosa loba que já lutou bravamente por essas terras, seus cabelos são brancos e delicados e seus olhos esverdeados estão perdendo a visão aos poucos o que já deixa claro sua avançada idade.
- Loren, linda como sempre. Entre querida, já irei abrir as portas. - Não demorei a entrar e organizar os bolinhos sobre uma das mesas do centro da biblioteca e outra parte sobre o balcão da recepção.
- Como a senhora está hoje? - perguntei acendendo as lâmpadas uma a uma, avançando pelas paredes cobertas de livros bem organizados nas estantes altas.
- Ainda com inveja dos seus cabelos negros. - ela gargalhou alto abrindo as portas duplas. - Eu estou bem querida. Mas me diga, quando você me dará netinhos?
Depois da morte dos meus pais ela passou um longo tempo cuidando de mim como podia, a vila abrigava alguns humanos prometendo proteção contra os vampiros que são descontrolados nos limites do país. Desde então ela é como uma mãe para mim, aconselhando e ajudando como pode. Já tínhamos conversado sobre casamento antes, algumas regras aqui eram um tanto antigas como a idade de casamento.
- Não pretendo me casar Sra. Reeys. - sorrio me sentando sobre o balcão encarando ela com um sorriso meio zombeteiro pela naturalidade da conversa.
- Ah, mas o alfa gosta muito de você. - minha pedra no sapato, Jurgen nunca me deixava em paz. Ele pensa que o motivo de eu estar aqui é porque me sinto atraída por ele, mas a verdade é que tudo fora daqui é desconhecido para mim, ainda que não tivesse medo de tentar a vida em outro lugar aqui foi onde meus pais viveram quase toda a sua vida e eu queria manter essa parte deles em mim.
- Não alimente as ilusões de Jurgen por favor. - supliquei quase suplicando a ela para isso, e como um carma ele aparece na porta da biblioteca sorrindo. Jurgen não é feio, longe disso é o homem mais lindo que já vi. Cabelos castanhos claro e olhos âmbar, pele bronzeada e bem definido, mas não era o homem que me enchia os olhos, não conseguia olhar para ele e me ver acordando ao seu lado todos os dias da minha vida.
- Falavam de mim? - seu sorriso cafajeste estava lá estampado como um adesivo no rosto jovem, que escondia muito bem sua idade mas não suas intenções.
- Alfa, gostaria de ler algum livro em especial, algo sobre vampiros talvez? Recentemente eu achei um muito interessante em meu sótão Eu posso busca-lo, já volto. - Ela se ofereceu para nos deixar a sós, não adianta o que eu diga para ela isso sempre vai se repetir. A verdade é que eu não quero ter nenhum tipo de relacionamento com um lobo, nenhum.
- Como esta Ebby? Ouvi dizer que continua pagando ao padeiro. - ele ama me da ordens e como uma boa habitante da sua vila eu tenho o prazer de desobedece-las. Ele não consegue entender que não sou uma de suas ômegas obedientes.
- Eu recebo para isso. Não ouse dizer que eu não deveria. - minha paciência estava chegando ao fim, perdi as contas de quantas vezes rejeitei os pedidos dele, ou as ordens.
- Porque não pode ser obediente como os outros? - ele fechou os olhos ficando visivelmente irritado.
- Não se engane Jurgen, não sou um dos seus lobos. - rebati, o ar estava ficando denso. Vez ou outra nós brigávamos e coisas feias aconteciam.
- Tenho varias formas de faze-la ser obediente sem que precise ser através da dominância. - seus olhos agora vermelhos me faziam tremer mas não deixei que ele percebesse, ou pelo menos pensei que não.
- Continue sonhando com isso. - desci do balcão seguindo para o andar de cima e me afastando o máximo possível de sua visão.
Não sei em qual momento ele resolveu sair mas o burburinho em baixo me fez descer rapidamente para catalogar os livros devolvidos e coloca-los em seus devidos lugares em seguida. Como esperava o dia hoje foi cheio, a biblioteca estava lotada e eu não tive tempo de pensar naquele infeliz que vive me perseguindo.
- Loren, querida. Preste atenção, o Jurgen não é um péssimo homem. De uma chance ao seu coração apaixonado, você não é uma lupina querida não vai ser jovem pelo resto da vida. - estava pronta para sair quando ela me lançou essa chantagem emocional. - Faça essa velha sorrir um pouco vendo você ser feliz e bem cuidada. Só uma chance, que mal há nisso?
- Sim senhora. - eu sabia que ela já tinha cerca de trezentos anos ou mais, os dias da Sra. Reeys estava acabando assim como foi com seu marido, suspirei. Eu não gostava de fato dele e não queria de jeito nenhum me envolver com um lupino.
Fechei a porta atrás de mim notando a escuridão do lado de fora, as ruas da vila estavam bem iluminadas e gélidas. Meu corpo tremeu repentinamente denunciando que eu tinha esquecido o casaco e que o vestido largo não foi a melhor opção para o trabalho hoje. Abraçada a meu próprio corpo andei davagar ouvindo passos atrás de mim e de repente uma jaqueta pousa em meu ombro me cobrindo do frio.
- Esta querendo ficar doente? - Jurgen, o quão surpreendente seria se eu não esperasse essa atitude dele? Resolvi não responder como deveria e aproveitar em silêncio o calor que sua jaqueta me proporcionava. - Acho que já está doente...
- O fato de não lhe responder como deveria não quer dizer que estou doente, apenas agradecendo silenciosamente seu gesto. E não vou nem perguntar o motivo de estar sem blusa. - revirei os olhos, malditos lobos com resistência ao frio. Ele soltou seu melhor sorriso e parou na porta da minha casa.
- Acho que... - ele ficou confuso quando eu abri a porta.
- Vamos, entre de uma vez, que tipo de ser humano eu seria se não oferecesse um chocolate quente nessa tempestade? - ele riu, dessa vez foi diferente eu nunca tinha visto um sorriso sincero dele.
Entramos, eu corri para a cozinha e ele fez o favor de acender a lareira enquanto eu começava a preparar os chocolates com amendoim e marshimellow. Coloquei as duas xícaras no balcão da cozinha e me sentei do lado oposto.
- Acho que vai chover. - ele sussurrou e como se alguma alavanca tivesse sido puxada de repente começa a chover e eu não consigo conter as gargalhadas e acabamos rindo juntos. - As vezes é bom ser lobo.
- As vezes? - questionei degustando do meu chocolate.
- Sim, porque me lembro que você não gosta de lobos. - seu olhar triste partiu meu coração em mil pedaços. Ah Ebby, não, não, sua idiota sentimental.
Reuniões, falatório, discussão, dor de cabeça. Estou andando pelos corredores do palácio massageando as têmporas doloridas depois de uma reunião de quase quatro horas sobre a importância do turismo. Nosso país ganha milhares de euros por ano apenas com pessoas entrando e tirando fotos, um insignificante parlamentar idiota queria restringir nossas áreas mais famosas por um capricho. Resultado, gritarias e discussões até eu realmente me alterar e mandar todo mundo calar a maldita boca.Já faz uma hora que o almoço está sendo servido nos restaurantes e eu praticamente corro para a ala real, estaria sozinho e poderia beber um belo copo de sangue quente enquanto como igual um animal. Estava tranquilo até abrir a porta e notar convidados indesejados; a família de Lammona deveria esta em qualquer um dos quinze restaurantes espalhados pelo palácio mas não na minha mesa. Fitei cada um com os olhos semicerrados de raiva e ela se encolheu como um coelho a
A chuva ainda persistia do lado de fora dando um susto em qualquer desavisado, aqui era assim, o sol pouco aparecia e a chuva predominava fazendo a lareira ser meu canto preferido. Dias escuros faziam todo o vilarejo parar, ninguém abria suas lojas e a biblioteca também estava fechada. Me lembro de ter quebrado meu único guarda chuva nas costas de Jurgen há alguns dias. Me levanto preguiçosamente da cama quentinha que me acolhe e arrasto os pés até o chuveiro, ligo o quente e começo meu banho torcendo para que meu dia não seja tão nublado quanto o céu. Quando comecei realmente o banho a água ficou rapidamente fria me fazendo gritar e sair correndo para fora do box. Enrolei a toalha em meu corpo quando uma montanha rompeu pela porta me causando outro susto que eu respondi com um dos meus finos gritos alarmados.- Pelos deuses! O que aconteceu? - Jurgen tapava os ouvidos sensíveis, seu rosto estava amassado e seus olhos brilhantes quando levantou a cabeça para m
Rosas e mais rosas amarelas, o salão de festas estava repleto de pessoas e rosas amarelas para todos os lugares que eu olhasse. Eu estava com minha tradicional farda branca de gala, Lammona estava com um vestido amarelo longo e os cabelos presos em um coque sofisticado, deslizava como se seus pés mal tocassem o chão, sorrindo e acenando como de esse fosse o dia mais feliz da sua vida.Todos me parabenizavam pela linda mulher que eu iria possuir, o local estava lotado demais com conhecidos de Lammona que desfilava feliz e tranquila entre elas. Nem um sorriso falso saia dos meus lábios, dizia a todos que estava preocupado com assuntos do governo,.para não deixar os bons modos de lado e acabar socando alguém sem motivo satisfatório.Ela não é nossa.Eu sei amigão, eu sei.Nada em mim se sentia atraído por ela, não vou ne
Izzi me encarou assustada, alguns gritos podiam ser ouvidos do lado de fora. Meu corpo tremeu em um aviso de perigo desesperado, ela correu para a porta da frente observando se os betas estavam controlando a situação. O tumulto cessou de repente.- Ebby, eu vou olhar se esta tudo bem. Feche a porta assim que eu sair. - assenti, ela saiu e eu me aproximei para fechar a porta esperando ver ela se afastar, sinto um vento gelado passar por mim e fecho a porta com força soltando o ar que eu nem sabia que prendia.- Sobrenaturais não se juntam com humanos... eles são comida. - a voz animalesca vinha de um homem careca, eu não fazia ideia de como ele tinha conseguido entrar em minha casa. Era alto e esguio, seus passos ameaçadores eram lentos ele queria se divertir.Me afastei da porta correndo em direção a lareira, peguei um atiçador e o segure
Quase duas semanas se passaram e minhas malas já estavam prontas, quando eu voltar de viagem irei me casar com Lammona, minha condenação por tudo de ruim que já tinha feito em minha vida. Respirei fundo colocando a última mala para fora do quarto que foi rapidamente recolhida e levada.- Lembre-se, você é o rei... um alfa, um híbrido. Você é um grande homem Kwan, use isso. - eu odiava os jeitos que James usava para me motivar, seus discursos eram falsos e repletos de desdém ensaiado.Desci as escadas a sua frente ficando o mais distante possível da sua voz irritante, o carro já estava a minha espera em ftente as portas duplas do palácio e a família de Lammona estava lá para me desejar uma boa viagem. Diversos repórteres batalharam por uma foto exclusiva e isso era realmente irritante.- Sentirei saudades, querido. Volte logo para mim. - não consegui sorrir mas fiz um carinho forçado em sua bochecha que não demorou a ser regist
Já era noite quando acordei sozinha em minha Casa, todos os acontecimentos do dia estavam passando como memórias de um filme de terror; eu perdi mais alguém. A dor estava ali apenas esperando que eu acordasse para se mostrar presente, um vazio, um frio dentro do próprio corpo. Não existiam casacos ou chamas do lado exterior que conseguisse me aquecer, não tinha como fugir dele.Levantei da minha cama e sentei no sofá, as chamas da lareira mostravam que alguém a acendeu durante a tarde. As horas no meu celular indicavam que já se passava da meia noite e uma mensagem de Izzi brilhava na tela.Assim que acordar, ligue para mim.Estou preocupada.Joguei o celular no canto do sofá e fiquei encarando as chamas dançantes, era tão hipnótico que as vezes mesmo que por poucos segundos o calor me invadia mas, a voz da idosa cheia de alegria sussurrava em meu ouvido e a brisa gélida tomava conta do meu corpo novamente. Me sentia uma estra
Alex não demorou a sair do banheiro, estava limpo e as roupas serviram embora a blusa de algodão tenha ficado um pouco apertada em seus braços mais definidos do que os do meu pai eram. Ele sentou no banco da Ilha e sem falar uma só palavra começou a atacar o prato que eu tinha posto para ele, realmente estava com fome.- Alex, você sabe que é um lobisomem, certo? - ele me encarou por alguns minutos e depois assentiu. Parecia aquelas crianças que não queriam manter uma conversa sobre a realidade, mas acabavam cedendo com a persistência.- Eu sabia que era algo diferente, me sinto estranho. E os ferimentos que você falou não existem mais. - Ele comentou parando um pouco de comer. Ao menos não tinha surtado, já era um início.- Bom, aqui é uma alcatéia. Pode falar com o Jurgen para ficar um tempo até que recobre sua memória. Ele é o alfa. - Alex assentiu mas não disse nada continuou comendo como se não houvesse amanhã.<
Ao sair de casa lembro de passar na pequena padaria e pegar os bolinhos, Alex olhava tudo admirado, nossa vila era muito bonita. As lobas farejavam o ar e encaravam Alex que se quer dava atenção a elas, sua preocupação era olhar o lugar e tomar cuidado para não se perder. Abri a pequena porta da biblioteca que, por causa das chuvas estava fria e com um cheiro de poeira.Atrás do balcão de atendimento onde eu recebia e despachada os livros peguei dois panos amarelados e acendi as luzes fortes do lugar. Alex encarou as prateleiras com um olhar fascinado e em seguida desceu os olhos até mim.- É muito bonito, eu gosto de livros. - Ele falou simplesmente, lhe entreguei um dos panos e apontei para as mesas.- Me ajuda a limpar ? - ele assentiu sem demora. Começamos a tirar a fina camada de poeira do lugar, enquanto ele limpava as poucas mesas eu espanava as prateleiras tirando as poeiras dos livros. Em seguida varri o chão e por fi