Capítulo 2

Apesar da aparente altivez de Selena ao deixar a sala de reuniões, ela estava em frangalhos. As discussões com seu pai de modo geral sempre eram desgastantes e previsíveis, e nem mesmo o fato de eles serem pai e filha era empecilho para declararem guerra um ao outro, e, inevitavelmente, ambos acabavam discutindo por qualquer banalidade. Tanto Selena quanto Henrique tinha o gênio forte e nenhum dos dois estava disposto a ceder, de forma que Henrique e Selena viviam em conflito e medindo forças a todo instante. 

Aos olhos de Selena tudo o que o seu pai fazia era para proveito próprio e para tirar vantagens sobre os outros. Henrique era um mau caráter, um homem ambicioso ao extremo que não hesitaria em nenhum momento em roubar-lhe o restante das ações que um dia pertencera a Margareth Navarro: ex-esposa dele e mãe de Selena.

Depois da pausa na reunião, ela achou mais conveniente dirigir-se ao setor de trabalho dela. O ânimo de Selena naquela manhã não era o dos melhores o que a tornava de certo modo pouco receptiva. Talvez por isso a discussão com o seu pai tenha enveredado para o lado pessoal: Henrique representava o pior dela. Ela era senão o reflexo do que seu pai aprontara no passado. 

Henrique em parte foi o grande responsável pelo que ela era hoje: uma pessoa amarga e hostil. Uma mulher marcada por dentro e por fora. Uma mulher que via em seu próprio pai um inimigo perigoso e cruel: um homem impiedoso que destruiu a vida e os sonhos de Margareth Navarro, assim como destruíra os dela. 

Desde cedo Selena fora privada da companhia de sua mãe. De Margareth ela tinha apenas uma tênue lembrança. Nada muito relativo que a fizesse construir uma imagem dela. As lembranças de sua mãe vinham através de álbuns de fotografia e de outros objetos pessoais que estavam em seu poder. Porém o estranho de tudo isso era não conseguir associar nada daquilo a imagem de sua mãe. Era como se Margareth Navarro fizesse parte da vida de Selena apenas no papel e que fosse apenas uma fantasia dela e que, nunca existiu de fato.

Deixando suas mágoas de lado ela voltou a sua atenção a negociação daquele dia, que não aconteceu segundo os termos de Henrique. O que ele não sabia era que Selena estava por trás do fracasso dos planos minuciosamente traçado por ele, para assumir o controle da Munhoz.

Mas Selena estava equivocada quanto a ele não saber da intervenção dela na negociação, pois embora Henrique não tivesse certo de ser ela a delatora; ele tinha certeza de que indiretamente ela contribuiu para que Daniel Barcellos tivesse acesso àquela informação. E ela pode constatar isso no momento em que ele entrou na fábrica e a acusou contrariado.

— Satisfeita, Selena, por ter arruinado os meus planos?

— Pelo que consta-me o único perito em arruinar planos aqui é o senhor. — Ela observou altiva. — Só que no caso em arruinar os planos dos outros.

— Vou dar-te um aviso: não se mete nas minhas negociações. — A advertiu duro. — Se eu sonhar que você está por trás deste boicote, você pode dá adeus a essa fábrica. Eu a enxoto desta empresa com ou sem os seus míseros cinco por cento... Fui claro Selena!

— Se vieste aqui com o intuito de intimidar-me, pode dar meia volta. Eu não tenho medo das suas ameaças. Eu sei muito bem do que o senhor é capaz.

— Pois é bom mesmo que saibas do que eu sou capaz; assim você pensa duas vezes antes de tentar prejudicar-me outra vez — a advertiu mais uma vez.

Diante da advertência dele; ela observou.

— O que está esperando então para demitir-me?

— Apenas a confirmação de minhas suspeitas — respondeu encarando-a firmemente. — Assim que eu tiver essa informação em minhas mãos; você poderá dar adeus a está fábrica e a tudo o que estar ligada a ela.

A indignação no rosto de Henrique era visível e Selena tinha certeza de que ele estava esperando apenas que ela desse, um passo em falso para ele passar-lhe uma rasteira. Seu pai sempre a viu como uma garota enfadonha e encrenqueira. Como uma pedra de tropeço, e, ela era sem dúvidas o calcanhar de Aquiles, dele.

— Sinto desaponta-lo, mas infelizmente não conseguirás provar nada. Apenas que o senhor Barcellos não é idiota para cair nas suas armadilhas.

— Como sabes que foi o Daniel Barcellos que embargou a nossa transação?

— Esta empresa é um antro de fofocas, e para o senhor ter uma ideia, essa informação chegou a mim em primeira mão — respondeu encarando-o com certo prazer no olhar e logo depois observou com uma calma surpreendente, que o fez duvidar de sua suspeita inicial. — A uma hora dessas até o porteiro já está sabendo da rasteira que o senhor levou dos Munhoz.

— Não penses que conseguiste enganar-me. Cedo ou tarde eu vou desmascará-la. Fique certa disse. — Ele observou seco.

— Se já disseste tudo o que vieste dizer, peço que retire-se. Ao contrário do senhor e de sua esposa; eu tenho mais o que fazer. — Selena disse sem deixar-se intimidar pelas ameaças dele.

Reconhecendo que tinha perdido mais àquela batalha para a sua filha, ele lançou-lhe um olhar de advertência, porém não disse nada. Logo após informar-se sobre o andamento da fábrica, ele saiu a passos largos, em companhia de Penélope, que, para surpresa de Selena, manteve-se em silêncio o tempo todo.

Mas, a cota de problemas de Selena estava longe de terminar e ela pode constatar isso no momento em que deixou a empresa de seu pai e quase atropelou um desavisado que cruzou o caminho dela.

— Compraste a tua carteira no barzinho da esquina, sua doida! — O desconhecido a afrontou após constatar que era uma mulher no volante.

— Ao invés de questionar a origem de minha carteira de habilitação, deverias era prestar atenção por onde andas. — Ela o repreendeu nada satisfeita com o comentário machista dele.

Como aparentemente ele resolveu fazer do carro dela, bengala; ela desceu do veículo e encarou aquele homem atrevido de frente, que aliás era de tirar o fôlego de qualquer mulher.

O rapaz à sua frente era moreno alto, de beleza exótica, corpo atlético e dono de um belo par de olhos terrivelmente verde; mas toda aquela beleza parecia desaparecer diante do jeito grosseiro com que ele dirigiu-se a ela.

Ao contrário de Selena que o analisou detidamente, ele apenas deteve-se no crachá dela, e após descobrir de quem tratava-se, ele observou rude.

— Só poderia ser mesmo uma Navarro no volante... Qual é garota! Brigou com o escroto do teu pai e da tua mãe e agora quer descontar a tua fúria nos transeuntes?

— Olha aqui seu insolente! Eu não vou admitir que você fale da minha mãe desse jeito. — Ela o advertiu dura. — Meça suas palavras quando dirigir-se a ela. — Acrescentou sentindo-se afrontada.

— Não é porque você é filha do trapaceiro do Henrique Navarro que irá intimidar-me. Sei muito bem como lidar com corjas do tipo de vocês. — Thiago observou possesso de raiva por saber que por pouco Henrique não conseguiu enganá-los.

— Já que está empenhado em acabar com a corja dos Navarro, sugiro que pegue senha e entre na fila: a lista dos que querem acabar conosco é imensa. 

Após disse-lhe essas palavras, ela entrou novamente em seu carro, deu a partida e o deixou plantado em frente aos portões da empresa de Henrique Navarro. Porém algo dentro dela gritava que aquela não seria a primeira e nem a última vez que iria cruzar com aquele insolente.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo