Em pé, ao lado da janela envidraçada, Thiago Barcellos olhava do terceiro andar da empresa Munhoz Computer para o centro da cidade, sem nada ver. Todos os seus sentidos estavam em alertas. A discussão de seu pai — Daniel Barcellos —, com seu sogro, Rui Munhoz, estava acirrada. Nenhum dos dois estava disposto a dar o braço a torcer. Cada qual do seu jeito queria provar que era o dono da razão. À primeira vista àquela discussão não daria em nada. Seu pai era turrão quando lhe convinha, de modo que nada do que o senhor Munhoz dissesse iria mudar a opinião de Daniel Barcellos. Ele estava simplesmente determinado a usar sua influência na empresa para infiltrar a intragável da Selena Navarro, nas empresas de seu sogro.Aos olhos de Thiago aquela discussão parecia infantilidade ou implicância de seu pai, pelo fato de eles terem-se aliado com Henrique Navarro. Uma aliança que certamente os colocaria numa posição privilegiada frente ao mercado da informática, se o canalha do Henrique não tive
Selena acordou na manhã seguinte bem revigorada e com a certeza de que, a proposta de trabalho de Daniel trouxe-lhe um novo ardor para sua alma. E foi nesse clima de recomeço que após o banho e o café da manhã, Selena pegou o carro e saiu animada em direção a empresa Munhoz.Por estar morando afastada do centro da cidade, Selena gastou alguns minutos a mais para chegar na Munhoz Computer. Mas, como pontualidade era uma de suas características, ela chegou consideravelmente cedo para o seu primeiro dia de trabalho.Após identificar-se na portaria ela foi conduzida para a sala de Daniel Barcellos que a recebeu calorosamente e, após o cumprimento de ambas as partes, ele a informou.— Como você vai trabalhar diretamente com o meu filho, ele faz questão de acompanhá-la até a fábrica. Tudo bem para você? — Perguntou sorridente. Antes de Selena esboçar qualquer comentário, Thiago entrou na sala como um furação e sem dar-se conta da presença dela, perguntou a Daniel.— A senhorita arrogânci
Embora soubesse que estava metendo os pés pelas mãos, Selena seguiu firme com sua decisão de deixar a Munhoz Computer para sempre. Ela não era mulher de submeter-se aos desmandos de um homem, e, se, Thiago ainda não tinha-se dado conta desse detalhe, ela faria questão de mostrar a ele que ainda não tinha nascido o homem que a faria rastejar.Com esse firme propósito enraizado em sua mente, ela andou o mais rápido possível, até chegar ao escritório de Daniel; ciente de que Thiago vinha furioso no encalço dela, pronto para fazê-la pagar o desaforamento dela, na mesma moeda.Tão logo adentrou na sala do senhor Barcellos, ela disse num fôlego só, temerosa de que as palavras fugissem antes de ela as professar.— Agradeço muito a oportunidade e a confiança que depositou em mim, senhor Barcellos, porém não posso aceitar o emprego. Como já era de se esperar, antes mesmo de ela ter tempo de justificar a sua recusa, Thiago entrou na sala de Rui Munhoz como um furação, acusando-a terrivelmente
Depois da intransigência de Thiago com Selena, coube a Daniel a incumbência de mostrar as dependências da empresa para ela, que, apesar de ter assumido sua postura costumeira, e escondido suas emoções em meio a uma couraça de indiferença, por dentro estava em frangalhos e amaldiçoando silenciosamente o inconsequente e desagradável, Thiago Barcellos.Após eles percorrerem toda a empresa e Daniel mostrar-lhe todo o funcionamento da fábrica, ele a conduziu ao setor de trabalho dela e a apresentou aos seus colaboradores que ficariam sob a supervisão dela, por tempo indeterminado.— Chefe! O Sr. Thiago foi transferido para outro setor? — Um dos funcionários o questionou surpreso, após as apresentações.— Como vocês devem saber, a Munhoz pegou uma grade cota de serviço, o que estar exigindo muito de Thiago e o deixou sobrecarregado de trabalho; de maneira que tivemos que contratar uma auxiliar para o ajudar no andamento da fábrica e da produção e, de agora em diante, na ausência do Thiago,
Retornar para a empresa e encarar Selena, depois de a ter submetido aquela situação constrangedora não era nada fácil para Thiago, pois aquilo o obrigava a reconhecer que fora arbitrário com ela e, que, Selena, aproveitou a situação para pousar de vítima diante de todos, de maneira que ele parecesse um tirano perante a empresa.Mas, como infelizmente ele não tinha uma varinha mágica capaz de a transportar para outra dimensão, ele estacionou o seu carro, pegou o ramalhete de rosas que Felipe praticamente o obrigou a comprar, e dirigiu-se apresado para o setor de produção da empresa, torcendo para não a encontrar, pois, pior do que reconhecer sua insanidade, somente ter que desculpar-se.Para o descontentamento dele, Selena continuava na fábrica, porém não se encontrava na sala da recepção, o que o fez cogitar que ela estivesse ocupando a sala dele. Seguindo o aroma de fragrância feminina, ele entrou em sua sala e teve a desagradável visão de Selena abarrancada em sua sala.— Boa noite,
Depois que Selena o deixou a ver navios, Thiago retornou para a fábrica abalado, e com a terrível sensação de ter extrapolado mais uma vez com ela, e essa certeza estava expresso nas marcas da imprudência dele que ainda queimava-lhe os lábios. Inconsequentemente ele a beijou e isso nunca poderia ter acontecido, pois mais do que uma mulher marcada, ela miseravelmente era uma Navarro.Assim que ele entrou na fábrica, a faxineira falou retirando as flores da lixeira.— É um pecado jogar um arranjo de flores tão lindo desses no lixo. — Se gostou delas, leve-as. — Thiago falou entrando no galpão.— Obrigada, senhor Barcellos. — A serviçal falou agradecida já com o buquê de rosas nos braços.Ver a felicidade da servente diante daquele simples buquê de rosas aumentou a indignação de Thiago frente ao pouco caso de Selena em relação às rosas, e a indignação dele triplicou ainda mais ao perceber que o escritório dele estava impregnado do perfume dela por todos os cantos. Se não bastante ter q
Mesmo sabendo que os dias dela na Munhoz Computer estavam contados, Selena decidiu fazer deles o melhor possível, dentro de seus limites, a começar pelo uniforme que ela resolveu vesti-lo na manhã seguinte; acompanhado de uma de suas calças sociais pretas.Depois de estar devidamente uniformizada e maquiada, de acordo com as normas e diretrizes da empresa, Selena pegou a chave de seu carro e deixou o quarto de pensão rumo à vaga dela na garagem.Mas por ironia do destino o pneu estava seco e trocá-lo não seria uma tarefa tão fácil para ela, que sempre contou com terceiros para fazer esse serviço.O receio de chegar atrasada no segundo dia de trabalho a fez optar pelo táxi, assim ela ganhava tempo e não correria o risco de ganhar uma advertência de Thiago, que com certeza não a pouparia de um belo puxão de orelhas.Assim que ela chegou ao pequeno escritório cumprimentou polidamente a secretária de Thiago, a qual retribuiu o cumprimento dela com um risinho debochado no canto dos lábios,
Depois que Daniel a deixou sozinha na sala de Thiago; Selena aproveitou aquele momento para recolher seus pertences pessoais do banheiro, e qual foi a surpresa dela ao encontrá-los no cesto de lixo. Indignada com a audácia dele, ela decidiu pagar na mesma moeda e num gesto impensado, pegou os produtos de higiene pessoal dele e os jogou na lixeira junto com os dela.Depois de sentir-se vingada, ela deixou temporariamente a sala e só retornou às onze e trinta, quando uma mesa foi improvisada para ela. Não era grande coisa, mas era melhor do que nada.Pior do que dividir um espaço pequeno com alguém que a queria ver pelas costas, só mesmo constatar que sua concentração era constantemente interrompida pelo toque do telefone que, naquele dia, resolver buzinar no ouvido dela.Passado algum tempo o silêncio voltou a reinar na sala e ela conseguiu dar andamento em seus afazeres mais tranquilamente. Mas sua tranquilidade foi maculada por um jovem funcionário que entrou na sala e, ao invés de