Não vi Rain pelo restante do dia, tentei ligar no início da tarde mas ela não atendeu e eu não insisti. Também não ouvi nada de Giny, apenas o meu porteiro me avisou que ela havia deixado a chave do apartamento com ele.Passei o dia no escritório, ajudei com alguns processos, conversei e não fiz nada de efetivo. Cheguei ao aeroporto não eram quatro horas da tarde ainda, tomei um café e entrei no avião assim que posicionaram a aeronave. Era impossível não reconhecer qual era, afinal tinha o nome dela escrito em letras garrafais na lateral.Pontualmente às 17h um grande SUV preto para ao lado da aeronave e ela desce acompanhada de um homem de uns 40 anos, os dois parecem discutir fervorosamente. Faço o movimento para levantar do assento onde estava e vejo Ana, a comissária, parada na minha frente. -Ela não vai gostar se você interromper. A Srta. Brennan resolve as próprias coisas desde que eu a conheço. E estou na tripulação dela há mais de 10 anos já. -fala. -Uma coisa que eu aprendi
Minha cabeça dói. Eu não consigo parar de pensar e as mais de 5h que levamos até chegar em Roseburg parecem infinitas.Devorei um pote inteiro de sorvete de morango e vi Willian me encarar com um olhar curioso cada vez que achava que eu não estava vendo. Minha cabeça está cheia e a culpa não é dele, mas não consigo pensar em mais nada hoje. Eu preciso correr para aliviar os meus pensamentos ou nadar. Mas já são 11h da noite e agora que estamos chegando em Roseburg. Me despeço de todos, pego as minhas malas e saio em direção ao meu carro. Até que enfim posso deixar de ser a Srta Brennan e posso ser apenas a Rain de novo. Antes de ir embora vou até onde o carro de Willian está estacionado, perto do meu, e me encosto na frente vendo ele guardar a mochila no banco de trás. -Obrigado por ontem, foi bom ter você nessa viagem comigo. -digo e ele me olha. -Você tem certeza? -questiona e eu reviro os olhos. -Sim Willian, eu tenho. -confirmo. -Posso ganhar o meu beijo agora? -pergunta e
O dia amanheceu com neve. Já era de se esperar que a temperatura fosse baixa tão próximo ao final do ano. Mas a neve sempre me incomoda um pouco porque traz muita burocracia, preciso tirar a neve da entrada, trocar os pneus do meu carro… E se eu aparecer usando menos que duas camadas de roupa na rua, mesmo sem sentir frio, me chamam de maluca. Esses são os dias que sinto falta de Miami, do calor, do sol e da praia. Mesmo com o tempo assim, acordei às 5h30 da manhã e fui correr. E adivinha só? Escorreguei na neve e torci o pé. 6h30 da manhã estava no pronto socorro e agora às 8h estou chegando na Prefeitura usando uma bota ortopédica e sentindo dor cada vez que encosto o pé no chão.Como as muletas não foram necessárias porque foi só uma torção, ainda estou dirigindo e caminhando manca por aí. -O que aconteceu contigo Furacão? -Brenda pergunta assim que entro mancando no Hall de entrada da Prefeitura. -Escorreguei na neve quando estava correndo hoje pela manhã. Mas é só uma tor
Eu já não estava no meu melhor dia hoje. Logo cedo enfrentei as milhares de perguntas da minha família sobre o fim do noivado. Mas nenhum deles escondeu a satisfação de não ter mais a Giny como um membro da família. Então cheguei cedo à Prefeitura para conversar com Rain e tentar entender o que estava acontecendo. Mas a julgar pela cena que acabo de presenciar no corredor, ela só não quer falar COMIGO, com os outros está tudo bem.Vejo Robert colocá-la no chão com cuidado e a bota ortopédica no pé. -Oi Will, como você está? -ele estende a mão para mim e demoro um pouco mais que o convencional para estender a minha de volta. -Estou bem. Seguindo a vida. -respondo tentando fingir um carisma que não tenho no momento. Que bom. Eu vou indo. -ele se vira para Rain antes de sair. -Se precisar descer, ou de alguma coisa lá de baixo antes do elevador voltar, me avisa ok? Ela apenas assente e agradece pela ajuda. -Bom dia Willian. -diz enquanto me dá as costas e segue mancando em direção
Esse dia pode ficar pior? Eu duvido muito. Eu estou com raiva, com dor, com ódio, humilhada e muito arrependida. Como eu posso não ter aprendido ainda? Eu lembro de tudo que aconteceu nas vezes em que eu acreditei nos homens, não esqueci de nada, e mesmo assim eu sempre acho que vai ser diferente dessa vez. Estou a quase 10 minutos parada na porta do gabinete esperando Anne voltar para mim perguntar se posso entrar na sala quando a porta se abre. -Eu menina, o que faz parada aí? -o Prefeito pergunta abrindo a porta. -Podemos conversar? -pergunto séria. -Claro, entra. -diz abrindo espaço para que eu entre. -Parece sério. Sento em uma das cadeira em frente a mesa e ao invés de sentar no lugar dele, ele senta na outra ao meu lado, a puxando mais para perto de mim. -Você está bem Rain? -ele fala me olhando nos olhos. -Eu não estou. Mas essa não é a questão. -explico. -A questão é o que está acontecendo em Nova Iorque e Miami. As coisas estão complicadas, minha mãe está tentando
Descendo do carro, eu não precisava olhar duas vezes para saber que era ela. Aqueles olhos de gelo, os traços afiados, o cabelo impecavelmente preso em um coque que parecia mais uma coroa de espinhos. Minha mãe. Olivia Brennan.Ela estava parada na entrada da Prefeitura, vestida como se tivesse saído de uma reunião de negócios, mas com uma expressão que revelava que esta visita não era meramente social. Mesmo depois de tantos anos, a presença dela ainda conseguia apertar algo dentro de mim, algo que eu jurava ter matado.A dor no meu pé me trouxe de volta para a realidade. A bota ortopédica tornava cada passo uma lembrança do meu tombo na neve desta manhã, como se o universo quisesse me lembrar da minha fragilidade antes desse encontro.— Mamãe — soltei, sem emoção.— Rain — ela respondeu, com aquele sorriso educado, mas afiado o suficiente para cortar.Ela não me abraçou. Não perguntou como eu estava. Apenas me analisou, da cabeça aos pés, seu olhar repousando na bota ortopédica por
Eu estava furioso. Furioso comigo mesmo, com Rain, com a maneira como essa mulher bagunçava minha cabeça sem o menor esforço. Desde a nossa discussão mais cedo, minha mente estava uma tempestade de pensamentos desconexos. Eu não conseguia aceitar que ela simplesmente me descartasse como se nada entre nós tivesse acontecido. Como se Nova Iorque nunca tivesse existido. Como se eu fosse um qualquer.E agora tinha o Robert. Ela podia dizer o quanto quisesse que eram só amigos, que não havia mais nada entre eles, mas eu conhecia aquele olhar, aquele sorriso. O mesmo sorriso que ela me deu quando finalmente cedeu a mim. Eu sabia que não era da minha conta, que ela não me devia satisfações. Mas isso não tornava mais fácil aceitar.Por isso, fui até sua casa. Não sabia exatamente o que ia dizer, mas precisava vê-la. Precisava acabar com essa guerra dentro de mim.Foi quando vi uma mulher saindo da casa dela. Na casa dos 40, com postura elegante e um ar de superioridade. Nunca a tinha visto pe
Eu mandei Willian embora.A porta se fechou atrás dele e um silêncio pesado caiu sobre a casa. Meu peito subia e descia rapidamente, ainda tomada pela raiva da discussão. Eu não deveria ter cedido. Não deveria ter permitido aquele beijo. Mas, como sempre, Willian era uma tempestade em minha vida, bagunçando tudo, me fazendo esquecer qualquer lógica. O gosto dele ainda estava nos meus lábios, misturado com a frustração de tudo que tinha acontecido.Abracei meu próprio corpo e respirei fundo. Meus pensamentos voltaram para minha mãe. Ela apareceu depois de tantos anos, não para me ver, não para saber se eu estava bem, mas para tomar o que era meu. Para me processar pela herança do meu avô. A surpresa inicial havia se transformado em ódio puro. Como ela ousava? Depois de tudo o que ela permitiu que me acontecesse, depois de me deixar à mercê de um monstro, agora queria me arrancar aquilo que era meu por direito?Eu sabia que isso aconteceria em algum momento. Ela nunca se importou comigo