Eu mandei Willian embora.A porta se fechou atrás dele e um silêncio pesado caiu sobre a casa. Meu peito subia e descia rapidamente, ainda tomada pela raiva da discussão. Eu não deveria ter cedido. Não deveria ter permitido aquele beijo. Mas, como sempre, Willian era uma tempestade em minha vida, bagunçando tudo, me fazendo esquecer qualquer lógica. O gosto dele ainda estava nos meus lábios, misturado com a frustração de tudo que tinha acontecido.Abracei meu próprio corpo e respirei fundo. Meus pensamentos voltaram para minha mãe. Ela apareceu depois de tantos anos, não para me ver, não para saber se eu estava bem, mas para tomar o que era meu. Para me processar pela herança do meu avô. A surpresa inicial havia se transformado em ódio puro. Como ela ousava? Depois de tudo o que ela permitiu que me acontecesse, depois de me deixar à mercê de um monstro, agora queria me arrancar aquilo que era meu por direito?Eu sabia que isso aconteceria em algum momento. Ela nunca se importou comigo
Cheguei cedo na Prefeitura. Mais cedo do que o necessário. O prédio ainda estava silencioso, sem o fluxo habitual de funcionários e visitantes. Me acomodei no meu escritório improvisado ao lado da sala de reuniões, mas não consegui focar em nada. Minha mente estava em um turbilhão desde a noite passada.Rain.Fechei os olhos e apertei a ponte do nariz, tentando afastar a lembrança da discussão. Nós sempre fomos como fogo e pólvora, mas daquela vez foi diferente. Havia algo quebrado nela, algo que eu não tinha percebido antes. Algo que, de alguma forma, fazia minha culpa crescer.Eu queria pedir desculpas. Mas mais do que isso, queria entender o que estava acontecendo.Quando o relógio passou das oito, saí do escritório e fiquei perto da recepção. Não demorou muito para vê-la chegar. Ela usava um sobretudo preto fechado até o pescoço, uma calça social escura e a bota ortopédica que ainda precisava usar por causa da torção. O rosto dela estava pálido, as olheiras mais fundas do que nunc
O silêncio na minha sala era quase reconfortante, interrompido apenas pelo som rítmico dos cliques no teclado e do leve zumbido do computador. O trabalho era a única coisa que me mantinha ocupada, impedindo que minha mente vagasse por lugares dos quais eu preferia manter distância. Editar vídeos e organizar fotos da última campanha municipal estava longe de ser a atividade mais emocionante do mundo, mas era melhor do que lidar com a bagunça emocional que insistia em me assombrar.Marcus tinha saído para acompanhar a equipe responsável pela construção do novo hospital e, sem ele por perto para me distrair, eu estava sozinha com meus pensamentos. Grande erro. Meus pensamentos ultimamente não tem sido bons comigo. Não consigo evitar, afinal, não consigo esquecer. Uma batida na porta me tirou da minha bolha de concentração. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, a porta se abriu e Maya entrou com sua energia contagiante.— Rain! Você sumiu, mulher! — Ela sorriu, se jogando na cadeira
O dia se arrastava de uma maneira cansativa. Eu estava sentado na sala improvisada da Prefeitura, os papéis e processos do escritório de Nova Iorque espalhados à minha frente. Poderia ter feito todo esse trabalho em casa, mas me permiti ficar ali, na Prefeitura, por um motivo que eu não queria admitir para mim mesmo. A proximidade com Rain, ainda que distante, parecia ser o único consolo em meio à rotina. Ela estava por ali também, em algum lugar da grande sala de reuniões, ou talvez em seu escritório, mas eu não sabia ao certo onde ela estava. Só sabia que a observava de longe sempre que a via. Era como se o ar ao nosso redor ficasse mais denso quando estávamos no mesmo espaço. Cada movimento dela, cada palavra que dizia, parecia me atingir de forma mais intensa do que eu imaginava ser possível.Eu sabia que deveria me concentrar no trabalho. O escritório de Nova Iorque exigia resultados, e eu precisava colocar a ordem nos processos e relatórios. Eu podia fazer tudo aquilo em casa, m
Eu não sabia o que dizer. As palavras dele ecoavam na minha mente, mas meu corpo não respondia. Ele queria conversar, sobre o quê, eu não sabia, mas sabia que não estava pronta. Eu o vi ali, naquele momento, em frente a mim, com um olhar desesperado, como se tudo fosse simples de resolver. Mas não era. Nada sobre nós era simples. Não depois de tudo o que eu passei. Não depois de tudo. A pressão na minha mente foi intensa, e, sem conseguir falar, me virei e fui embora. Sem dar uma resposta, sem olhar para trás. Eu estava perdida, e, por mais que eu quisesse a ajuda dele, o que eu realmente precisava era de distância.A festa estava acontecendo na casa da família dele, e Melissa, a aniversariante, estava radiante. Ela estava encantada, e meu coração se derretia só de ver aquela criança tão cheia de vida, tão cheia de alegria. Eu não sabia o que fazer comigo mesma, então fiz o que sabia de melhor. Me concentrei nela. Eu não podia deixar que o caos dentro de mim estragasse a festa para a
Eu não sabia o que fazer. Não sabia o que estava acontecendo, nem por que Rain tinha entrado no meu quarto e se atirado nos meus braços daquela maneira. Eu apenas a segurei, em silêncio, sem conseguir dizer uma palavra. Eu sentia o peso de seu corpo contra o meu, sua respiração irregular e seu choro abafado, e eu não sabia o que a estava fazendo sofrer tanto. Ela estava tão frágil, tão quebrada naquele momento, e tudo o que eu podia fazer era manter as mãos firmes ao redor dela, tentando transmitir alguma segurança, algum consolo que fosse.Eu podia sentir as lágrimas dela se encharcando em minha camisa, e a cada soluço, a cada tremor, minha preocupação só aumentava. Eu queria perguntar o que havia acontecido, o que a tinha levado a esse estado, mas as palavras pareciam escapar. O que eu ia dizer para ela? Como poderia pedir explicações quando ela estava naquele estado, quando parecia que estava prestes a desmoronar completamente? O que eu podia oferecer, senão meu silêncio, e meu abr
Chegamos à minha casa em silêncio. O ar estava tenso entre mim e Willian, mas eu não sabia o que dizer. Ele ainda parecia preocupado, e eu não conseguia afastar a sensação de que as ameaças que eu estava recebendo estavam pesando sobre nós dois. Na verdade, havia muito mais peso nas minhas costas do que eu gostaria de admitir. Nós entramos pela porta da frente, e eu fui na frente, tentando não parecer nervosa. Não sabia se ele iria se sentir à vontade aqui, mas não tinha outra escolha senão deixá-lo entrar. A casa estava quieta, mas eu podia sentir o olhar dele em mim, como se estivesse tentando avaliar cada detalhe.-Quer um café? -perguntei, tentando quebrar o silêncio de uma forma que não parecesse forçada.-Sim, claro. - respondeu ele, sua voz ainda carregada de uma tensão que não sabia de onde vinha. Ele observava tudo ao redor como se estivesse buscando algo, mas não falava nada. Fui até a cozinha e comecei a preparar o café, sentindo a presença dele atrás de mim, mas sem sabe
São quase sete horas da tarde, o sol já está se pondo no horizonte, estou a mais de 15 horas na estrada e ainda não estou nem perto da metade do caminho até Roseburg. Ninguém conseguiu entender o motivo de eu sair de Miami e aceitar esse emprego na prefeitura de uma cidade com menos de 25 mil habitantes, as vezes nem eu mesma tinha certeza dessa escolha. Eu apenas precisava fugir daquele lugar, da forma que as pessoas me olhavam e de tudo que tinha acontecido. A essa altura eu já estava concordando com todos que achavam uma loucura eu atravessar o estado de carro, devia ter ido de avião e conseguido outro carro lá. Mas eu tenho um apego emocional com o meu Mustang 69 GT vermelho sangue. O meu avô me deu esse carro, e ele foi a única pessoa nesse mundo que parece ter me amado de verdade. Assim como eu amei ele, parece que tudo na minha vida começou a desandar depois que ele morreu. Foi aí que todos os problemas aconteceram. Sempre fomos só nós dois, e às vezes a maluca da minha mãe,