- Aquilo meu amigo… -ele continua. - É o diabo em um vestido vermelho. Se ela é o diabo, eu vendi a minha alma, esse é o meu inferno e ela está me castigando. Ela arrancou o meu coração do peito. Ela parecia mais alta, mais poderosa, mais imponente e de alguma forma conseguia estar ainda mais bonita. Até um minuto atrás eu acreditava que isso não era possível. - Com licença. -pedi já me afastando dele e me aproximando de onde ela estava com um grupo de pessoas. Ela ria e conversava como se estivesse extremamente confortável naquela situação. - Hei. -não consegui formular mais palavras. - Olá. -ela girou o corpo na minha direção. - Pessoal, acredito que a maioria de vocês devem conhecer, mas esse é Willian. O primogênito do Prefeito Myers. - Não costumamos te encontrar nesses eventos Willian. -alguém no meio do grupo falou.Não consegui prestar atenção em quem foi, não conseguia pensar direito tão próximo a ela e nem desgrudar os meus olhos da figura a minha frente. - Eventos so
Acho que esqueci como respirar. Parece que o ar do mundo todo está preso em meus pulmões. A voz dela é o mais próximo da perfeição que eu já ouvi. Eu sei que a música foi para me provocar, e Deus sabe que ela conseguiu. Ela se levantou do piano sorridente em meio aos aplausos acalorados e meio bêbados dos colegas. - Mais uma Rain, a saideira. -meu irmão pede. -Uma mais alegrinha agora, que com essa eu quase cortei os pulsos. - Eu não conheço as alegres. Eu gosto de fazer sofrer. -ela ri enquanto faz uma careta. - Só uma. -Anne insiste. - Por favor? Por essa velha que precisa de uma alegria.-Jesus, que drama.- Ela continua exibindo um lindo sorriso. Um sorriso que nunca é direcionado para mim. Senta-se novamente, toca Here Comes The Sun dos Beatles para a alegria de Anne que canta junto a plenos pulmões. Quando Anne tentou puxar um acapela de Piano Man e ninguém a acompanhou ficou claro para todos de que a noite tinha terminado. Aos poucos todos se levantaram, se despediram e co
Acordei com os raios de sol entrando no meu quarto. Hoje é o meu primeiro dia de folga em um longo tempo e eu estava decidida que seria dedicado a dar um jeito nessa casa. Apesar de não ser dia da empregada, não vejo motivos pelos quais eu não possa fazer isso sozinha e enfim conseguir localizar todas as minhas coisas. O dia amanheceu com uma temperatura muito atípica para essa época do ano, ontem estava -2ºc, hoje está 10ºc. Não que esteja calor, mas está confortável. Sempre fui muito resistente ao frio, enquanto as pessoas usavam casacos pesados, um moletom era o suficiente para mim, minha mãe costumava dizer que o sangue grego e ruim do meu pai que corria nas minhas veias me mantinha aquecida. Era apenas mais um motivo para ela esfregar as nossas diferenças na minha cara. Queria afastar esses pensamentos e todos os outros, então aproveitei que ainda estava cedo e vesti legging, um top e um casaco e saí para correr. Como eu amo essa cidade, as pessoas são tão gentis e as paisagen
- Você está tentando me matar? Está me perseguindo? O que você está fazendo aqui? -pergunto recuperando o fôlego. - Eu estava passando na rua. Te chamei e você não ouviu, faz 15 minutos que estou tentando te alcançar. -ele parecia mais cansado que eu. Ambos permanecemos em silêncio por um momento. - Pra que? - Para… -ele pausa. - Conversar? - Se nem você sabe, quem dirá eu. Estou de folga, se precisar de algo de trabalho me chame amanhã. Se for algo pessoal, já disse que prefiro que não diga. - Porque você é tão difícil? Você precisa aprender a escutar os outros. Não existe apenas o seu lado da história. -se defende.- Eu acho que você devia parar de falar comigo, de modo geral. Porque quanto mais você fala, com mais ódio eu fico. -levanto a voz mais do que deveria. Ele bufa e dá um passo na minha direção encarando os meus lábios, eu sabia que ele iria me beijar.. - Não ouse me tocar. - ele para quando me escuta. - Você não tem esse direito. - Desculpe. -ele suspira profunda
Levo alguns segundos para me situar no mundo de novo. Penso em ir atrás dela e fazê-la me escutar, nem tive chance de me explicar. Mas nenhuma explicação me vem à mente, nada para dizer que vá contra as verdades que ela me disse. “Um cara como você não vale a confusão”. Essas palavras continuam reverberando nos meus pensamentos e me deixando nervoso. O que ela quis dizer com isso? Ela se acha tão superior assim?Respiro fundo e me viro para retornar a cidade, com as pernas pesadas e o peito doído. Hoje acordei disposto a conversar com a Giny e cancelar nosso acordo. Agora vejo tudo de forma diferente. Entro em casa e procuro ela na sala, na cozinha e não a encontro. Hoje acordei disposto a conversar com a Giny e cancelar nosso acordo. Agora vejo tudo de forma diferente. Parece que nos últimos meses tenho vivido fora do meu corpo, coberto por ideias e pensamentos que não são meus. Sempre fui um cara cabeça e corri atrás dos meus objetivos, tenho um futuro idealizado atrás dele que
O restante do meu domingo foi dedicado a tentar esquecer os problemas por um momento, mas infelizmente meu cérebro não é fácil de ser enganado. Eu pulei alguns anos da escola, consegui admissão antecipada e me formei na Harvard Business School aos 20 com especialização em Marketing. Fui hiperestimulada por diversas atividades desde muito pequena, minha mãe me colocaria em qualquer coisa com tanto que ela não precisasse olhar para mim, mas isso combinado com a minha memória eidética e o meu QI de 176 formam o que as pessoas costumam chamar de superdotada. Parece loucura, mas o que eu queria mesmo era a física teórica, estudar o universo e o que faz de nós especiais. Mas aparentemente isso não era adequado para alguém como eu. Para alguém que passou por experiências traumáticas, não ter a habilidade de esquecer é um martírio diário. Eu fiz tudo que estava ao meu alcance para desafogar a minha mente, li um livro, escutei música, abri todas as caixas restantes da mudança (encontrei o
São quase sete horas da tarde, o sol já está se pondo no horizonte, estou a mais de 15 horas na estrada e ainda não estou nem perto da metade do caminho até Roseburg. Ninguém conseguiu entender o motivo de eu sair de Miami e aceitar esse emprego na prefeitura de uma cidade com menos de 25 mil habitantes, as vezes nem eu mesma tinha certeza dessa escolha. Eu apenas precisava fugir daquele lugar, da forma que as pessoas me olhavam e de tudo que tinha acontecido. A essa altura eu já estava concordando com todos que achavam uma loucura eu atravessar o estado de carro, devia ter ido de avião e conseguido outro carro lá. Mas eu tenho um apego emocional com o meu Mustang 69 GT vermelho sangue. O meu avô me deu esse carro, e ele foi a única pessoa nesse mundo que parece ter me amado de verdade. Assim como eu amei ele, parece que tudo na minha vida começou a desandar depois que ele morreu. Foi aí que todos os problemas aconteceram. Sempre fomos só nós dois, e às vezes a maluca da minha mãe,
Eu sei perfeitamente o que o tio Jack está tentando fazer e isso não vai funcionar. Ele sempre foi contra o meu namoro com a Giny, porque ela vem de uma família de políticos como a nossa e que ele considera “amaldiçoados”. E é por isso que ele e o meu pai não se falam há quase 20 anos. Mas sempre que eu preciso de alguém para conversar é a ele que eu procuro. Giny terminou comigo nessa semana porque segundo ela eu não “valorizo a relação o suficiente” e estou “enrolando para dar o próximo passo”. No fundo eu sei que ela está certa e que já passou da hora de assumir o compromisso definitivo. Eu tenho 32 anos e estou namorando com ela a 10. Mas casamento me parece tão definitivo, e por mais que ela seja doce, bonita, inteligente e de uma família importante, eu não consegui criar coragem (e vontade) de fazer o pedido. E então aqui estou eu, em um bar de beira de estrada pedindo conselhos para a ovelha negra da família, que com 50 anos se veste de Cowboy, mesmo tendo nascido e crescido