EnryMeus irmãos e eu gostamos de treinar a noite. A lua está alta no céu, o vento fresco acerta minha pele nua e suada, deixando uma sensação de frescor em meu corpo já exausto dos treinos.— Você está muito mole hoje, Enry — meu irmão Killan, o de olhos negros, fala, me provocando.Amparo seu golpe de espada com a minha e sinto o peso de seu golpe. Ficamos medindo força. Ele é mais novo que eu um ano, mas é tão forte quanto eu.— Um inimigo vai aproveitar um segundo de distração, meu irmão — ouço a voz do Hiran, o gêmeo de olhos azuis, atrás de mim.Desfaço da espada de Killan e me viro para amparar o golpe de Hiran que sorri como um animal. Seu olhar parece doentio enquanto ri da cara de espanto.— Você me pegou desprevenido — reclamo enquanto meço força com meu irmão.— Desprevenido nada, eu avisei que estava atacando! Você acha que o inimigo vai te avisar? — Chuto seu abdomen com a planta de meu pé, afastando-o.— Ele vai arrancar a sua cabeça — o outro fala e me viro a tempo de
NaiaraVejo aquele lobo me encarando. Não o conheço, não sei o que ele quer comigo. Estou em terreno estranho, posso estar em suas terras, posso estar em perigo.Cautelosamente saio da água e me transformo em lobo, me tornando o lobo cinza de uma tonalidade mais escura que sou. Ele me encara e então desce as pedras. Seus passos são lentos e seus olhos focados aos meus.“Você é um lobo cinza” — fala em minha mente, constatando o óbvio.“E você é um lobo branco” — rebato. — “Mas nunca ouvi falar de um clã de lobos brancos”“Você nunca ouviu porque não existe” — Ele se aproxima, cheira o ar, me analisa e completa — “Princesa”“Não sou uma princesa.” — Enrijeço todo o meu corpo. Não sou uma princesa porque minha mãe não é mais uma rainha há muito tempo. — “Quem é você?”Começo a caminhar em sua direção agora, não vou ficar recuando de um lobo que nem sei quem é. Nem faço ideia de qual clã ele pertence.“Meu nome é Enry Kall Fury. E o seu?”Com a revelação de seu nome eu fico confusa. Esse
Handall— Você sabe que criticou tanto o rei lobo e agora está não está sendo melhor que ele, não é? — fala Lanny, mãe de Marry, que se tornou minha aliada após ter tomado os dois reinos.Estamos na sala privativa do castelo tomando chá e comendo biscoitos de ervas, feitos pela mulher a minha frente. Teoriacamente eles têm propriedades que auxiliam no retardo do envelhecimento. Eu não sei o quanto meu corpo resistirá, a magia que usei é algo sem precedentes e não tenho com quem comparar. Mas o fato é que com o passar de vinte anos notei um pequeno sinal de envelhecimento.Cheguei a pensar que tivesse me tornado imortal, mas ao que perece só obtive a dádiva de uma vida mais longa.— Não acho que seja tão miserável quanto Yan e o pai dele. — Levo uma xícara de chá à boca.— Não, você é pior. — Olho-a, analisando a mulher de cima a baixo.— Está do meu lado ou não? — questiono-a.A mulher se levanta da cadeira em que estava sentada e caminha até as janelas, contemplando algo pelos jardin
EnryO orgulho preencheu meu corpo quando ela me aceitou, mas eu vi um brilho de desafio em seus olhos. Eu a escolhi, e farei o que for preciso para conquistá-la.Decidimos que voltaríamos a nossa forma humana, eu retorno para onde deixei minhas roupas e então a vejo nua, sentada sobre a rocha. Me aproximo dela, terminando de encaixar as minhas armas em mim.— Por que está nua? — questiono, mas no mesmo momento já sei a sua resposta. Elas não resistiram a transformação.— Acredito que saiba que as roupas simplesmente... puff... — Ela faz um gesto com as mãos para reafirmar o que diz. — Desaparecem, se destroem completamente quando a gente se transforma, não é?Me controlar em não olhar os seus seios molhados, sua pele nua, e me concentrar em seus olhos é uma tortura.— Por que não as retirou antes? — Ela ri com vontade da minha pergunta e eu me sinto um imbecil. Acho que sua beleza misturada a sua nudez está me deixando meio lerdo.— Eu fugi, Enry, acha que eu poderia simplesmente gua
NaiaraQuando vi o olhar do irmão de Enry para mim, descobri por que ele não queria que eu fosse nua para a sua aldeia.Me senti incomodada com todas aquelas perguntas, mas o que eu estava esperando? Sou uma estranha, uma herdeira de um clã rival, é claro que ficariam alarmados com a minha chegada. Mas algo que gostei foi ver a confusão nos olhos lindos de Enry quando eu disse que seria sua, mas não como ele estava achando.Ele é bonito, gostoso e me ajudou, mas eu não vou facilitar as coisas. Sinto uma atração forte quando estou perto dele, mas acredito que é melhor manter esse limite estabelecido, pelo menos por enquanto.Subo as escadas sendo conduzida por uma adolescente com cabelos escuros longos e lisos, há um sorriso animado em seu rosto e ao chegar no seu quanto é impossível não sorrir com ela.— Você vai ficar aqui com a gente, não é? — pergunta ela, muito animada e sorrindo. — Eu sou cercada de machos, é um saco. — Ela desaba em sua cama. — Eles querem controlar o meu passo
EnryPrecisei explicar a meu pai que faço pequenos serviços para ter moedas, ele não ficou nada feliz, reclamou um monte, mas o que eu posso fazer?Depois de uma boa bronca e das risadinhas dos meus irmãos acima, os dois imbecis que se saíram bem dessa, ouço algo que faz o meu estômago pesar.— Enry, se vai mesmo insistir em ficar a filha do meu irmão, deve ir até a aldeia deles e pedir permissão para se casar com Naiara.Volto meu olhar desesperado para ele.— O quê? Por quê?Meu pai ergue a sobrancelha e cruza o braço sobre o seu peito largo.— Não passa pela sua cabeça que os pais dela estão a sua procura? O que acha que vai acontecer se eles a encontrarem aqui?Penso no que ele diz. Será que este simples ato traria problemas que romperiam a tranquilidade de nosso clã?— Eu não pensei sobre isso — revelo.— É claro que não, mas precisa começar a pensar, você tem 20 anos, com 21 assumirá a liderança da aldeia. Ser alfa não é só um título, é uma grande responsabilidade.Suspiro fundo
NaiaraPassar o dia com Margot e Marry não foi ruim, pelo contrário, foi bem divertido, mas não podia afastar por muito tempo o pensamento dele. As perguntas invadiam a minha cabeça sem permissão, será que ele conseguiu convencer a minha mãe? A quem quero iludir, é claro que não. Minha mãe jamais permitiria, mesmo usando o fato de que ele me escolheu e eu o aceitei, principalmente pelo fato de que não consumamos o ritual.Várias vezes mergulhava nesses pensamentos enquanto Margot contava animadamente suas histórias. O tempo passou e finalmente Enry e Yan chegaram. Ouvi a porta da casa se abrir e vozes no andar de baixo.Margot e eu estávamos em seu quarto costurando uma blusa nova para mim, com um tecido que havia sobrado de seus próprias roupas. Agradeci a generosidade antes de começarmos a tarefa e fiquei imersa na atividade e em meus pensamentos até que ouvi a porta da frente bater.— Eles chegaram — falo me colocando de pé e Margot acompanha meu movimento.— Vamos lá, vamos ver se
NaiaraO erro me atinge assim que ouço passos a minha volta. Viro-me bruscamente, mas não há nada em meio a floresta escura. Os homens saíram para a caçada, talvez eles não estejam tão distantes e eu os ouça com minha audição aguçada.Afasto a preocupação tola e continuo a correr e a ouvir o chamado da lua em meu sangue. Acabo no mesmo lugar onde me encontrei com Enry pela manhã. A luz pálida do luar que infiltra pelas folhas da floresta densa atingem a água do riacho que corre tranquilamente.O som calmo das águas aquieta o meu sangue e finalmente relaxo. Deito-me sobre a pedra e fecho os olhos, concentrando-me nos sons da floresta noturna: as corujas, o vento, as folhas, as águas... Tudo ao meu redor me tornando parte desta natureza complexa. Como meu pai sempre disse a mim, somos animais. Me sinto assim agora, como um animal parte da floresta.Me lembro vagamente do que Enry havia me dito quando saiu para a caçada. Quando o chamado lunar me hipnotizou não me lembrei de nada, só pen