EnryPrecisei explicar a meu pai que faço pequenos serviços para ter moedas, ele não ficou nada feliz, reclamou um monte, mas o que eu posso fazer?Depois de uma boa bronca e das risadinhas dos meus irmãos acima, os dois imbecis que se saíram bem dessa, ouço algo que faz o meu estômago pesar.— Enry, se vai mesmo insistir em ficar a filha do meu irmão, deve ir até a aldeia deles e pedir permissão para se casar com Naiara.Volto meu olhar desesperado para ele.— O quê? Por quê?Meu pai ergue a sobrancelha e cruza o braço sobre o seu peito largo.— Não passa pela sua cabeça que os pais dela estão a sua procura? O que acha que vai acontecer se eles a encontrarem aqui?Penso no que ele diz. Será que este simples ato traria problemas que romperiam a tranquilidade de nosso clã?— Eu não pensei sobre isso — revelo.— É claro que não, mas precisa começar a pensar, você tem 20 anos, com 21 assumirá a liderança da aldeia. Ser alfa não é só um título, é uma grande responsabilidade.Suspiro fundo
NaiaraPassar o dia com Margot e Marry não foi ruim, pelo contrário, foi bem divertido, mas não podia afastar por muito tempo o pensamento dele. As perguntas invadiam a minha cabeça sem permissão, será que ele conseguiu convencer a minha mãe? A quem quero iludir, é claro que não. Minha mãe jamais permitiria, mesmo usando o fato de que ele me escolheu e eu o aceitei, principalmente pelo fato de que não consumamos o ritual.Várias vezes mergulhava nesses pensamentos enquanto Margot contava animadamente suas histórias. O tempo passou e finalmente Enry e Yan chegaram. Ouvi a porta da casa se abrir e vozes no andar de baixo.Margot e eu estávamos em seu quarto costurando uma blusa nova para mim, com um tecido que havia sobrado de seus próprias roupas. Agradeci a generosidade antes de começarmos a tarefa e fiquei imersa na atividade e em meus pensamentos até que ouvi a porta da frente bater.— Eles chegaram — falo me colocando de pé e Margot acompanha meu movimento.— Vamos lá, vamos ver se
NaiaraO erro me atinge assim que ouço passos a minha volta. Viro-me bruscamente, mas não há nada em meio a floresta escura. Os homens saíram para a caçada, talvez eles não estejam tão distantes e eu os ouça com minha audição aguçada.Afasto a preocupação tola e continuo a correr e a ouvir o chamado da lua em meu sangue. Acabo no mesmo lugar onde me encontrei com Enry pela manhã. A luz pálida do luar que infiltra pelas folhas da floresta densa atingem a água do riacho que corre tranquilamente.O som calmo das águas aquieta o meu sangue e finalmente relaxo. Deito-me sobre a pedra e fecho os olhos, concentrando-me nos sons da floresta noturna: as corujas, o vento, as folhas, as águas... Tudo ao meu redor me tornando parte desta natureza complexa. Como meu pai sempre disse a mim, somos animais. Me sinto assim agora, como um animal parte da floresta.Me lembro vagamente do que Enry havia me dito quando saiu para a caçada. Quando o chamado lunar me hipnotizou não me lembrei de nada, só pen
EnrySaímos para a caçada, mas meu coração está na aldeia, onde Naiara está. Meu pai sempre declarou a importância desta tradição, e eu até concordo, mas neste momento só consigo pensar na segurança da minha escolhida.A caçada não é segredo para ninguém e com a chegada da lua mais potente do ano, aquela que fala intensamente com nossos instintos de lobo, a alfa pode se aproveitar deste evento.Dois lobos negros me cercam, um de olhos negros e outro de olhos azuis, os gêmeos. Estou para trás quando deveria estar ao lado do meu pai.“O pai vai arrancar a sua cabeça” — fala Killan em meus pensamentos, enquanto corre ao meu lado.“Se eu fosse você o alcançava, antes que ele o chame” — É a vez de Hiran se manifestar.Eu sei que meus irmãos estão certos e preciso estar ao lado do meu pai. Mas a minha mente não está nesta caçada. Corro por entre os outros lobos até alcançar meu pai que está liderando a alcateia.Ao lado do alfa deveria estar o seu beta, mas depois da morte de Huan ele jama
NaiaraEstava paralisada, olhando os olhos de minha mãe. Ainda não consigo acreditar que ela me vendeu para um ser desprezível como o Max. E meu pai? Ele ainda não apareceu. Será que ele sabe que serei levada a força? Será que ele sabe quem é o homem para o qual estou prometida?Os questionamentos rondam a minha mente, mas não tenho muito o que fazer. Preciso me concentrar e pensar em algo, pois se eu for levada será meu fim.Onde será que o clã de Yan está caçando? Se eu ao menos soubesse para que lado eles foram, onde eles estão caçando.... Se eu pudesse alcançar um lugar mais alto e avistá-los...O sorriso da minha mãe amplia e isso não é um bom sinal, preciso pensar rápido. Do meu lado direito está o riacho, do meu lado esquerdo a floresta aberta, pronta para me receber em minha fuga, mas eles me alcançam em meio minuto ou menos. Na minha frente há a minha mãe. Só me resta olhar para trás de mim. Quando olho por cima do ombro vejo Max se aproximar com seus passos imponentes e vigo
EnryAo menos agora ninguém pode dizer que estou louco ou ouvindo coisas. Ouvi claramente o grito de socorro de Naiara chamando meu nome.“Eu vou atrás dela” — declaro, não é um pedido ao meu pai e ele sabe disso.“Nós vamos com você” — meus irmãos se prontificam. É bom saber que posso contar com eles.“Levem a caça para a aldeia” — meu pai dá a ordem para alguns lobos, apontando quem ele havia designado para tal função. — “O restante vem conosco em busca da Escolhida de Enry.”Os lobos designados para a função de levar a caça para a aldeia pegam os animais abatidos e disparam pela floresta. Não espero nenhum sinal, corro na direção do som que ouvi.Tenho certeza que veio desta direção.Avanço por entre a mata, o solo se tornando cada vez mais encharcado sob nossas patas e então alcanço o rio. Nesta parte da floresta, o rio é muito mais volumoso e largo. Abaixo o focinho e cheiro as proximidades, tentando encontrar o cheiro dela.Vejo que os outros lobos também procuram por pistas. De
NaiaraMinha cabeça lateja e aos poucos os sons ao redor me despertam. Há dor por todo o meu corpo, o frio atravessa minha pele e minhas entranhas. Me estremeço. Tento me sentar, mas me sinto dolorida.Ao olhar para a entrada da caverna, vejo Max caído no chão com um lobo branco sobre ele, Enry. Dois lobos negros estão agarrados em suas pernas enquanto ele ataca o homem.— En... Enry? — A cena na minha frente ´é confusa para a minha mente atordoada.Assim que ouve a minha voz, o lobo branco vem em minha direção e se transforma. A face preocupa dele parte meu coração. Não deveria ter saído, deveria ter lutado contra os meus instintos e me afastado da janela. O retirei de um evento importante e o deixei desesperado e lutando por minha causa. Me sinto culpada e lágrimas escorrem por meu rosto.— Não se preocupe, eu vou cuidar de você. — O toque de Enry é gentil e ele colhe a lágrima que escorre por minha face.— Enry eu... — Ele coloca um dedo sobre meus lábios e beija a minha testa.— N
EnryAmarro o pulso do grandalhão com cipó fino, mas muito resistente, e o empurro com a faca em sua garganta. Ele vai pagar pelo o que fez com Naiara. Meus irmãos gêmeos me flanqueiam, oferecendo a sua segurança e apoio.Chego entre os outros lobos, inclusive Vik que tagarela com meu pai tentando convencê-lo de sua autoridade. Eu sei que ambos já foram aliados no passado, em um momento que a união significava a sobrevivência do povo, mas agora não há nada desta época estampado na face da alfa que a todo momento se reafirma como autoridade.— Este homem será levado como prisioneiro e será morto no centro de nossa aldeia, e sua morte será comemorada com carne de caça — afirmo e os lobos negros ao redor festejam, uivando para a lua que já se afasta do centro do céu.— E o que ele fez que mereça a morte? Ele é prometido de minha filha e se consumou a união foi com a minha autorização — afirma fria e calculista, como uma mulher pode falar assim da própria filha.— Ele a estuprou — afirmo