YanA medida que me aproximava do castelo, vi lobos cinzentos por toda parte, atacando inocentes. Aquele poder ainda me chamava, ainda emanava, mais fraco, mas ainda estava lá.Coloquei toda minha força e velocidade desde que saí da Vila Velha, deixando a maioria dos lobos que estavam comigo para trás, apenas meu beta conseguia acompanhar meu ritmo.O cheiro de sangue atinge as minhas narinas e vejo corpos por toda parte, um verdadeiro caos. Com um rosnado espanto meia dúzia de lobos que estavam em um frenesi, se alimentando dos corpos mortos à minha frente, infelizmente não há o que fazer para salvar as vítimas. Eram todos servos indefesos, todos usando seus colares que impediam de utilizar seus poderes para se defender. A culpa atravessa meu coração, mas a afasto, pois no momento tenho outra preocupação.Sigo para as escadarias da porta de entrada do castelo e a sensação de poder está ainda mais forte ali dentro. O silêncio me preocupa.Vejo a fonte da energia que senti: meu filho.
YanTento tranquilizar minha escrava, acaricio seu cabelo escuro e beijo sua testa. Ela chora e soluça constantemente enquanto minha mente trabalha, tentando pensar em algo.— Acalme-se, Marry, e me conte por que acha que ela me amaldiçoou.— Não está acreditando em mim, não é? — Afasta-se e me encara, seus olhos vermelhos pelo choro agora parecem enraivecidos.— Não disse isso, só quero entender seus motivos. Conheço Vik desde que seu marido era vivo e nunca ouvi nada do tipo — me justifico, pois preciso que ela me conte o que sabe antes que eu vá até a mulher e arranque dela a verdade.— Eu nunca vi uma — começa a contar, endireitando-se ao se sentar de forma mais reta. Seus olhos encontram os meus. — Mas, minha mãe sempre falava que haviam bruxas amaldiçoadoras e que a última que ela conheceu já havia morrido há muito tempo.— Bruxa amaldiçoadora? — questiono, pois ainda não havia escutado sobre isso.— Sim. Cada bruxa herda um poder, você sabe. — Aceno a cabeça em concordância, po
YanEncaro a face enlouquecida da rainha, sua determinação custou sua sanidade. Agora está entregue às minhas mãos para fazer o que eu quiser.— Diga, rainha Vik, como quebro essa maldição?Ela se arrasta para se encostar na parede e se cobre ainda mais com o manto dado a ela, mas se mantém em silêncio. O cheiro dos lobos que ela matou ainda impregnam o ambiente.Fecho a porta da cela onde a mulher se encontra e fixo meu olhar sobre ela.— Não irá responder? Então a deixarei com fome, com sede e não mandarei recolher os corpos, ficará em meio a podridão daqueles que matou. — Um sorriso maligno percorre seu rosto.— Está vendo, rei Yan. Para você a punição é mais importante até mesmo que dar uma despedida digna a seus soldados. Como quer se libertar de sua maldição?Rosno de raiva para a mulher, que parece ter aceitado o seu destino e se deita sobre o feno mofado ao fundo da cela.— O que quer dizer?— Suas ações irão te consumir, Yan — sussurra de olhos fechados, como se estivesse se p
MarryA notícia me atinge com uma imensa felicidade. Eu sabia que da maneira como vínhamos nos relacionando com frequência, que em breve engravidaria, mas não sabia que seria tão rápido. Me lembro do dia que falei com a deusa, ou que ela falou comigo, não sei ao certo. Ela quebrou a maldição que havia em mim, e agora não apenas gerei um filho, mas também estou com mais dois em meu ventre.Yan volta a sua forma humana e me abraça, agacha-se e beija a minha barriga, acariciando e murmurando algo para nossos filhos, algo que eu não consigo ouvir. Sua reação com esta gravidez foi diferente da anterior, quando engravidei de Enry, foi como se ele tivesse um troféu nas mãos. Mas agora, vejo orgulho e felicidade em seus olhos.Ela se levanta e segura em meus ombros. Por um segundo acho que me possuirá, mas ele me senta na cama e se acomoda ao meu lado.— Marry, falei com a rainha Vik. — Percebo uma urgência em seus olhos e algo mais que ainda não consigo identificar. — Ela confirmou a maldiçã
MarryMinha mãe havia desaparecido desde a invasão dos lobos cinzentos ao castelo. Yan exigiu que eu dormisse em seus aposentos com nosso filho para a nossa segurança, e ele me garantiu que enviaria alguns lobos em busca da minha mãe no dia seguinte.Pela manhã a luz do sol entrou pelas janelas amplas do quarto, me despertando. Olho para o lado e vejo Yan adormecido. O rosto do rei estava sereno pelo sono, mas ao levar a mão até seu rosto, notei que a pele estava quente.— Yan — chamo, mas ele não me responde. — Yan — insisto, ficando desesperada.“A maldição”A primeira coisa que passa por minha cabeça é a maldição lançada pela rainha Vik. Preciso encontrar um quebrador com urgência.Saio da cama e vou até o bercinho do meu filho e vejo que ele ainda dorme tranquilamente. Pela primeira vez terei que pedir algo às servas, pois o rei não está em condições de dar ordens. Tento colocar a minha melhor postura e vou em busca de algumas servas.Ao chegar na cozinha, a conversa que desenrola
MarryAdentrei os corredores que levavam ao local onde o Fosso ficava escondido. Como aquela mulher sabia sobre o Fosso? Essa e outras perguntas rondam a minha mente, enquanto percorro o caminho que da última vez fiz ao lado da minha mãe.Vim até aqui em busca de alguma informação sobre um bruxo quebrador, mas aqueles que antes choravam ao meu lado, agora olham para mim com desconfiança. Minha esperança é encontrar a minha mãe, ela pode me ajudar.Encaro a porta estreita entreaberta, um brilho estranho brilha do lado de dentro e, antes que eu entre, aquele bruxo que vi da última vez impede a minha passagem, colocando-se na minha frente.— O que faz aqui? Como chegou aqui sozinha? — o homem pergunta com uma voz rouca, como se não a usasse há muito tempo.— Eu vim em busca da minha mãe. Ela está aqui, não está? — O homem me analisa dos pés a cabeça e abre a boca para me responder, mas antes que sua voz saia, escuta a voz da minha mãe escapar de dentro da pequena sala.— Handall? É Marry?
MarryLevei minha mãe para o castelo. As pessoas que a viram naquele estado ficaram espantadas e perguntando o que havia acontecido. Para evitar qualquer coisa desagradável, preferi dizer que não sabia.Ela foi cuidada e alimentada por outras servas. Agradeci as mulheres que cuidaram de meu filho e que chamaram uma curandeira para atender Yan.Com minha mãe adormecida em seu quarto, se recuperando da perda de poder excessiva, volto para os aposentos do rei, onde encontro uma mulher com longos cabelos brancos, fazendo alguma reza para o alfa.Yan ainda estava adormecido, o quarto cheirava a ervas e a mulher balançava ramos na direção do rei enquanto entoava um cântico.Ela me olha pelo canto do olho e faz um gesto para que eu entrasse no cômodo. Enry está em meus braços, desde o momento que cheguei que não consigo largar meu filho.— O que ele tem? — sussurro uma pergunta, mas ela não me responde.A mulher idosa continua o circundando e batendo as folhas sobre seu corpo e entoando um câ
YanPodia sentir a dor rasgando dentro de mim, mas não podia me mover, gritar, pedir socorro... Não sabia o que estava acontecendo. Aquele martírio dura um tempo que não faço a menor o ideia, poderia ser uma hora ou um dia, mas ela começou a ceder.Com dificuldade, volto a minha consciência, mas ainda estou com os movimentos limitados. Escuto a voz da velha loba curandeira, e ela parece falar com alguém. Tento entender o que diz, mas minha mente está confusa demais e não consigo entender o que dizem.Logo, sinto que alguém se senta perto de mim e pelo cheiro sei que é Marry. Ouvir que ela não irá desistir, mesmo quando eu já havia desistido, fez algo dento de mim se aquecer e não é algo dolorido ou desconfortável.Observar meu filho, bonito e saudável em seus braços me motiva a sair deste estado, mas como farei isso se não sei o caminho? Como farei o que a rainha Vik designou? E ao pensar nela, outra preocupação me invade. A rainha alfa está aqui, qual será a reação de seu povo? Eles