Killan— Quem vai? — pergunto ao meu irmão que acabou de enviar a mensagem para nosso pai sobre o navio que partirá em breve.— Eu não sei — responde observando a fila de trabalhadores que estão se colocando a disposição para o dia de hoje. — Vamos tirar na sorte.Hiran pega uma moeda e segura sobre o punho fechado.— Cara ou coroa? — pergunta.— Cara — respondo.— Então eu sou coroa. O que sair vai se candidatar ao trabalho de hoje — declara e joga a moeda para cima.Ele a apanha e bate sobre a mão esquerda e revela quem irá se candidatar ao serviço hoje.— Saiu cara — revela e eu balanço a cabeça em concordância.— Perfeito, então eu vou e você fica de olho em tudo.— Não se esqueça de que nosso nome é Hugo.Aceno em concordância, pois sempre trabalhamos sob um nome falso e o mesmo nome para os dois. A cor dos olhos sempre foi o que fazia as pessoas questionarem por que um dia estava azul e no outro estava preto. Mas já tínhamos uma resposta preparada. Nosso tom de azul era tão escu
EnryDecidi que minha esposa ficaria melhor na casa de meus pais até que eu retornasse, por isso arrumamos nossas malas e eu a levei para casa do alfa.— Tem certeza que é melhor se afastar neste momento? — ela questiona insegura.Eu sei que mal tivemos a chance de consumar o nosso casamento e já precisaremos nos afastar, mas infelizmente meu casamento foi marcado pelo desaparecimento de minha irmã.— É o melhor a se fazer, quando souber que o navio zarpou, retorno já com a solução para irmos atrás de meus irmãos.Passo a mão por seus ombros e a puxo para mais perto de mim, deixando um beijo em sua cabeça.— Eu tenho medo que algo aconteça a você, Enry — sussurra, a voz apertada pelo temor.Jogo nossas malas sobre meus ombros enquanto caminhamos rumo à casa de meus pais.— Não vai acontecer nada. Vou trazer meus irmãos de volta, isso é o que vai acontecer. Aquele velho não vai conseguir o que quer.Ela acena, tentando se convencer de que eu tenho razão, mas sei que ela está insegura.
MargotPassei a noite em claro. Não consegui pregar os olhos um só segundo, imaginando que logo serei levada para longe do alcance da minha família.O castelo é enfeitiçado e ninguém sem permissão sai ou entra nele, o que impossibilita que alguém o invada para me livrar de meu cativeiro. Além disso estou impossibilitada de me transformar, pois a coleira em torno de meu pescoço me impede. Tudo isso me deixa derrotada, com um sentimento de impotência que não estou conseguindo lidar.Só consigo pensar em meus pais e em meus irmãos, em como eles estão lidando com o meu desaparecimento. O som da porta se abrindo me tira de meus devaneios e viro a cabeça para ver quem adentra o cômodo. Ao contemplar a mulher de cabelos grisalhos que entra no ambiente, suspiro pesadamente e volto a me deitar. O olhar perdido em algum lugar do quarto que foi designado a mim.— Anime-se, minha querida. Em breve partiremos!Gostaria de saber por que essa mulher acha que eu deveria estar animada em ser levada
EnryCavalgo em direção à cidade dos bruxos, sei que levarei algumas horas para chegar e que a melhor forma de conseguir informações ainda hoje é me hospedando em alguma taverna. As moedas guardadas me serão úteis agora.Quando finalmente cheguei na cidade, o sol da tarde havia me esgotado. A fome e sede me assolam, a exaustão de estar horas sobre um cavalo também me invade, e tudo o que quero agora é comer, beber e dormir.Amarro o animal do lado de fora da taverna que costumava frequentar quando vinha até aqui e adentro o ambiente. Este não é o momento mais lotado, pois muitos ainda estão trabalhando a esta hora.Me direciono ao balcão a peço um quarto, água e comida. Depois de pagar e pegar a chave do meu quarto onde irei descansar, me sento à mesa, esperando por minha refeição.A tigela de guisado e a bandeja de pães são colocadas à minha frente, juntamente com uma moringa de barro, contendo água fresca. Me sirvo e como ávidamente. Está uma delícia.Ao fim da refeição, o cansaço p
MargotSubo derrotada as escadas que levam para dentro do navio. Se não fosse toda a situação que envolve a minha partida para Terra de Eva, poderia até dizer como a paisagem é linda e como o navio é grande e impressionante. Mas tudo que quero é me encolher em um canto e esperar tudo isso passar.Suspiro fundo quando minha dama de companhia me puxa pelo punho.— Vamos, mova-se. — Ela puxa com mais força o meu braço e eu tropeço, quase caindo.— Cuidado com a garota! — minha vó ralha, mas Lily não se importa com ela e continua me arrastando.O convés do navio está uma verdadeira confusão. Há homens trabalhando, arrastando caixas, fardos e barris. Gritos de ordens ressoam ao meu redor, a movimentação deveria me incomodar ou me irritar, mas nada acontece. Eu só estou em um torpor onde me afundo cada vez mais.Sou levada a uma cabine que mais se parece um quarto de luxo.— Tem mais do que merece, princesinha — zomba Lily, ao me empurrar para dentro do cômodo. — Ordens de Handall que tenha
KillanVi minha irmã ser levada de volta para a sua cabine e não pude fazer nada, além de acompanhá-la.— Você realmente é uma coisinha muito esperta, não perdeu tempo e na primeira oportunidade tentou fugir, mas eu disse que não iria muito longe se tentasse, lembra-se? — a voz azeda do homem que a conduz adentra nossos ouvidos.Os seguimos em silêncio, mas o esforço é gigantesco para não agarrar o homem pelo pescoço.A distração da briga já está se extinguindo e as pessoas estão retornando aos seus afazeres. A chance de fuga de minha irmã chegou ao fim.Chegamos ao seu quarto e ela é jogada lá dentro pelo bruxo como um saco de batatas.— Partiremos em poucos minutos, fique a vontade para tentar fugir pelo oceano — o homem comenta e ri de sua péssima piada.Entramos sorrateiramente e vimos o canalha sair do cômodo e fechar a porta atrás de si.Margot se lança sobre a cama e começa a chorar.Meu irmão e eu desfazemos a magia e nos tornamos visíveis novamente. Aproximo-me da cama com
HandallO navio acabou de zarpar e eu preciso começar a colocar em prática o que eu tanto planejei. Poder reunir um grande número de escravos de uma só vez, vai permitir que eu me concentre no objetivo de trazer toda tecnologia do mundo dos humanos para terra de Luna.Os humanos são frágeis, adoecem com frequência e muitos vêm sem o hábito de trabalhos pesados e logo já não servem para mais nada. Tudo isso faz com que eu precise estar ativamente em busca de novos escravos, e a magia usada atualmente é capaz de capturar apenas alguns punhados por vez.No momento estou em uma sala luxuosa deste navio que roubei dos humanos, ele tem de tudo: tem piscinas e quartos luxuosos com aparelhos que guardam e conservam a comida. Tudo é muito bem iluminado e todos os detalhes muito bem feitos e pensados para fornecer conforto àqueles que o usarão, no caso, eu.Os bruxos escolhidos a dedo estão à mesa, aguardando o que tenho a dizer. Lanny, a mãe de Marry e avó da pirralha chorona, está sentada a m
EnryQuando o dia amanhece, eu saio da taverna em busca de um trabalho no castelo do supremo. Tory conseguiu a informação de que o navio partirá agora pela manhã. Eu não imaginei que seria tão rápido.Porém, ao chegar no castelo, descubro que o todos os trabalhadores já haviam sido contratados antes que o sol nascesse e que o supremo já havia partido. Galopo o mais rápido que consigo fazer o cavalo correr, mas não é o suficiente, ao chegar onde o navio estava ancorado, o vejo a uma distância considerável. Cheguei tarde demais.Fico observando o navio até sumir completamente na linha do horizonte. Suspiro e a sensação de impotência toma conta de mim. Não sei o que fazer agora. Vim até aqui e de nada serviu, minha irmã foi levada para Terra de Eva.— Perdeu o navio do supremo? — uma voz me tira de meus pensamentos.Viro na direção da voz, e vejo um homem de cabelos grisalhos, barba grande e grisalha, usando uma camisa com apenas alguns botões presos sobre a sua barriga proeminente.— É.