Perola Campbell
Fico parada, olhando fixamente para ele, incapaz de me mover ou falar alguma coisa. É como se o tempo tivesse parado, congelando-me no lugar. Meu corpo parece ter perdido a capacidade de responder aos meus comandos, cada músculo rígido e imóvel. A cena diante de mim parece surreal, como se eu estivesse observando através de um véu nebuloso, distante e desconectado da realidade.Minhas mãos começam a suar, e sinto a umidade fria contra a palma da mão, que permanece aberta ao meu lado. Meu coração martela no peito, cada batida ressoando como um tambor em meus ouvidos. A respiração se torna superficial, quase inaudível, enquanto tento processar o que está acontecendo.Seus olhos encontram os meus, um olhar intenso que parece perfurar minha alma. Vejo uma mistura de emoções em seu rosto — raiva, frustração, talvez até um traço de tristeza, só talvez.— Olha, o fato de você ser virgem, não importa — continua ele, sua voz fria e calculisPerola CampbellFugir das garras do meu avô é algo que sempre imaginei fazer, desde que meus pais morreram e eu tive que ficar sobre a custódia dele, o velho é a própria encarnação do diabo.Me batia, me humilhava e ficava com todo o meu dinheiro, porém nunca tive a coragem necessária para tal feito. Mas, tudo mudou quando eu conheci a minha tia, é até engraçado lembrar do meu grau de parentesco com a Jade, ela é só uma garotinha.Garotinha essa que merece um destino melhor, ninguém escolhe em qual família nascer, e quando ela me contou as insinuações com o velho maldito fez, gosto nem de lembrar, sinto asco, só de imaginar.Não podia ficar parada, não diante do risco iminente e a coragem que eu tanto precisava, conseguir reunir. Verdade seja dita, eu não tinha outra opção.A atmosfera da casa está especialmente tensa. A chuva bate contra as janelas como se a própria natureza soubesse do terror que vivemos aqui dentro. Esperei até que os roncos do meu avô ecoassem pelo corredor, sinal
Três anos depoisPerola CampbellAcordo quando o celular desperta com um som estridente, indicando que o dia já amanheceu e que preciso ir trabalhar. O toque penetrante ecoa no pequeno quarto, quebrando o silêncio da madrugada. Respiro fundo, sentindo os pulmões se encherem com o ar ligeiramente frio da manhã. Estico os braços acima da cabeça, alongando os músculos tensos, e meus ossos estalam suavemente.A luz da manhã começa a se infiltrar pelas frestas das cortinas, banhando o quarto com um brilho suave e dourado. A parede descascada ao lado da cama reflete essa luz, criando sombras dançantes que se movem lentamente. Observo essas sombras por um momento, permitindo que a tranquilidade do momento me envolva.Com cuidado, deslizo para fora da cama, tentando não fazer barulho e acordar Jade. O piso de madeira range sob meus p
Perola CampbellEm um dia comum, no horário do meu expediente, atendo uma pessoa que jamais imaginei ver novamente. Um calafrio sobe pela minha espinha quando vejo a figura de meia-idade bem vestida chamando pelo meu nome. Seus olhos, tão familiares, me prendem no lugar, incapaz de acreditar no que estou vendo.Como ele me encontrou?Logo agora que a minha vida e a da Jade tinham se estabilizado. Justo agora, essa sombra do passado aparece. O medo de ser encontrada por mais pessoas começa a falar mais alto e já começo a mentalizar uma rota de fuga. Meu coração acelera, o pânico ameaçando me dominar.— Preciso conversar com você, Perola — ele diz de forma tranquila, alheio à minha luta interna. Sua voz é calma, quase reconfortante, mas para mim soa como uma ameaça velada — Não fuja de mim.Essas foram as palavras do Senh
Perola CampbellO senhor Beaumont me encara como se eu fosse um bilhete premiado, seus olhos fixos nos meus com uma intensidade desconcertante— Mas me responda querida, ainda é virgem? — ele tem a audácia de perguntar.Fico momentaneamente paralisada, tentando processar a pergunta invasiva e inapropriada. Meu coração bate acelerado, e sinto um calor subir pelo meu pescoço, alcançando meu rosto, tamanha é a minha vergonha.Por acaso eu deveria falar da minha vida intima com esse velho enxerido?E quando eu digo velho, quero dizer o triplo da minha idade praticamente, será que isso tem a ver com a proposta de emprego? Só contrata se forem mulheres virgens?Que absurdo!— É ou não? — pergunta impaciente.Respiro fundo dia da pergunta, a sobrancelha grisal
Perola CampbellTenha certeza que entendi errado, na verdade eu tenho que ter entendido errado! O filho dele?O homem que me humilhou, que brincou comigo e o Super – Man dos negócios?CEO de uma rede de clinicas particulares, hospitais, restaurante e outra porrada de empresas, além de play- boy nas horas vagas?Nos últimos anos eu não vi mais nenhuma noticia do Apolo, deletei completamente tudo que dizia respeito a minha vida antes de fugir.— Como é que é? — meu nervosismo chega a um ponto descontrolado e se transforma em gargalhada — É uma pegadinha, né? — pergunto em meio ao riso, tentando desesperadamente encontrar uma saída para a loucura da situação — Até que foi engraçada essa história doida de barriga de aluguel — respiro fundo tentando me controlar — Olha, foi bom rever o senhor e saber que eu e a Jade estamos livres do diabo para sempre, mas não pode brincar a minha vida e as dificuldades que passo! Qual é o emprego de verdade?Engulo em seco, o humor desaparece por completo
Perola CampbellHesito por um momento, minha mente uma tempestade de pensamentos e emoções conflitantes. Finalmente, estendo a mão e seguro a dele, selando o acordo. Sua mão é quente e firme, contrastando com o frio que sinto na espinha.— Temos um acordo — digo, minha voz soando estranhamente distante — Qual o prazo para a realização de tal feito? — pergunto, tentando focar nos detalhes práticos para evitar ser engolida pelo turbilhão de sentimentos.— Tentaremos por um ano. Se em um ano você não engravidar do meu filho, eu deposito o dinheiro em sua conta e você estará livre de mim — fala dando de ombros, como se fosse a coisa mais simples do mundo — Claro que estou torcendo para que nossa empreitada dê certo.— Um ano — repito, suspirando enquanto concordo. Só preciso enrolar por um ano.O silêncio que se segue é pesado, carregado com a tensão do acordo que acabamos de firmar. Olho para ele, a mente girando com pos
Perola Campbell.A viagem de volta à minha antiga cidade foi mais rápida do que eu imaginava. Na manhã seguinte à proposta indecente do senhor Rafael, ele apareceu à porta da pequena kitnet que eu chamava de lar para levar a mim, Jade e duas malas pequenas com todos os nossos pertences.Decidi que não iria querer ajuda financeira dele; temos um acordo e, até que ele seja finalizado, o senhor Beaumont não tem o dever de me bancar. Preciso ter um pouco de dignidade, afinal.O salário de secretária é bom, melhor do que o valor que eu ganhava como garçonete. Com esse aumento, consegui alugar uma casa pequena, mas aconchegante, em um bairro simples. Diferente dos últimos lugares onde morei, a estética da casa está boa: as paredes estão pintadas e os móveis, bem conservados. É um alívio poder oferecer a Jade um lar decen
Perola Campbell. Após me acomodar na minha antiga mesa, começo a organizar alguns papéis quando o tormento dos meus pensamentos chega em forma de um metro e noventa de pura gostosura, ele está mais bonito do que eu conseguia me lembrar. — Não me interessa o que você acha que está certo — meu chefe grita ao telefone, sua voz ecoando pelo escritório. Consigo sorrir aliviada por não ser a pessoa do outro lado da linha, mas sei que seu novo temperamento explosivo é uma constante ameaça. Ele passa ao meu lado, tão envolto em sua raiva que não me nota. Um baque alto ecoa quando ele coloca a maleta com força em cima da mesa. Seu rosto está tenso, as linhas de preocupação profundas em sua testa. — Se eu disse que os números da tabela estão errados, é porque está errado! Revise e conserte! Ao menos da outra vez que fui sua secretária ele não era assim tão amargo, nunca o vi esbravejar dessa forma. Com certeza eu teria chorado assustada. Sem se dar o trabalho de me olhar, ou fechar a porta