Perola Campbell
Hesito por um momento, minha mente uma tempestade de pensamentos e emoções conflitantes. Finalmente, estendo a mão e seguro a dele, selando o acordo. Sua mão é quente e firme, contrastando com o frio que sinto na espinha.
— Temos um acordo — digo, minha voz soando estranhamente distante — Qual o prazo para a realização de tal feito? — pergunto, tentando focar nos detalhes práticos para evitar ser engolida pelo turbilhão de sentimentos.
— Tentaremos por um ano. Se em um ano você não engravidar do meu filho, eu deposito o dinheiro em sua conta e você estará livre de mim — fala dando de ombros, como se fosse a coisa mais simples do mundo — Claro que estou torcendo para que nossa empreitada dê certo.
— Um ano — repito, suspirando enquanto concordo. Só preciso enrolar por um ano.
O silêncio que se segue é pesado, carregado com a tensão do acordo que acabamos de firmar. Olho para ele, a mente girando com pos
Perola Campbell.A viagem de volta à minha antiga cidade foi mais rápida do que eu imaginava. Na manhã seguinte à proposta indecente do senhor Rafael, ele apareceu à porta da pequena kitnet que eu chamava de lar para levar a mim, Jade e duas malas pequenas com todos os nossos pertences.Decidi que não iria querer ajuda financeira dele; temos um acordo e, até que ele seja finalizado, o senhor Beaumont não tem o dever de me bancar. Preciso ter um pouco de dignidade, afinal.O salário de secretária é bom, melhor do que o valor que eu ganhava como garçonete. Com esse aumento, consegui alugar uma casa pequena, mas aconchegante, em um bairro simples. Diferente dos últimos lugares onde morei, a estética da casa está boa: as paredes estão pintadas e os móveis, bem conservados. É um alívio poder oferecer a Jade um lar decen
Perola Campbell. Após me acomodar na minha antiga mesa, começo a organizar alguns papéis quando o tormento dos meus pensamentos chega em forma de um metro e noventa de pura gostosura, ele está mais bonito do que eu conseguia me lembrar. — Não me interessa o que você acha que está certo — meu chefe grita ao telefone, sua voz ecoando pelo escritório. Consigo sorrir aliviada por não ser a pessoa do outro lado da linha, mas sei que seu novo temperamento explosivo é uma constante ameaça. Ele passa ao meu lado, tão envolto em sua raiva que não me nota. Um baque alto ecoa quando ele coloca a maleta com força em cima da mesa. Seu rosto está tenso, as linhas de preocupação profundas em sua testa. — Se eu disse que os números da tabela estão errados, é porque está errado! Revise e conserte! Ao menos da outra vez que fui sua secretária ele não era assim tão amargo, nunca o vi esbravejar dessa forma. Com certeza eu teria chorado assustada. Sem se dar o trabalho de me olhar, ou fechar a porta
Perola Campbell.Apolo levanta uma sobrancelha e me encara dos pés a cabeça, me sinto mais insignificante do que já sou.Jade em uma escola particular, sem atraso nas mensalidades, nós duas cursando uma faculdade, plano de saúde, uma vida digna com o mínimo de conforto.Mentalizo os meus motivos para está aqui, só preciso trocar tudo isso por minha dignidade.— Sente-se — ordena.Quando penso que está tudo bem, ele tira uma carteira do bolso, após se acomodar em sua cadeira. Ele nem sequer me olha mais uma vez antes de começar a escrever um cheque.Péssimo sinal.— Vou te compensar pelo tempo perdido ao vir aqui e servido o meu caf&
Apolo BeaumontEssa semana merece uma medalha de ouro por ser uma das mais desastrosas do ano. Primeiro, uma empresa de telecomunicações que eu pretendia adquirir, de repente, saiu do mercado sem qualquer aviso prévio, arruinando meus planos de expansão. Para piorar, houve um assalto em um dos meus supermercados, deixando clientes e funcionários aterrorizados e gerando uma perda significativa. Além disso, a equipe de Marketing estava em um beco sem saída, incapaz de acertar a logomarca que eu queria, apesar das inúmeras tentativas e revisões. E, para completar o caos, minha secretária, em quem eu havia investido dias de treinamento, foi substituída.Pior!Foi substituída por ela.Pérola Campbell, a mulher por quem eu tinha sentimentos conflitantes, a mulher que eu expulsei da minha mente e da minha vida quando decidi que não queria m
Apolo BeaumontA ameaça paira no ar, clara e inegável. É um bom motivo para demiti-la, sem justa causa. Eu poderia pagar uma indenização pelo transtorno e os direitos trabalhistas. Ela iria procurar outro emprego e eu ficaria com a consciência limpa, sem precisar encarar a confusão de sentimentos que sua presença me traz.Ela hesita por um momento, claramente desconcertada pela severidade da minha demanda. Tento não deixar que meu olhar revele qualquer coisa além de frieza calculada.— Meu almoço deve ser servido ao meio dia em ponto — reforço, a voz firme e sem espaço para discussão.Quase desejo boa sorte para completar, mas a verdade é que eu sei que ela não vai conseguir. Estou torcendo para que chegue a hora em que ela irá embora da minha vida de novo, como um fantasma que finalmente se dissipa.&md
Perola CampbellSerá que alguma alma assumiu o controle do Apolo?Essa é a única explicação plausível que encontro para o meu chefe ter me convidado para almoçar com ele. Pode ser um teste ou até mesmo uma pegadinha, tinha certeza que ele ia dizer que o risoto não era do Antonius e eu tentei enganá-lo. O que é verdade de fato.O senhor Rafael se propôs a me ajudar, mas nem a sua influência conseguiu realizar esse milagre eu já estava prestes a desistir quando encontrei um lugar aqui perto com cardápio inspirados no Antonius. Vendo a lista de pratos, descobri que era uma versão mais barata e com o mesmo sabor. Afinal o dono do restaurante é o antigo cozinheiro do Antonius.Quando a comida chegou, coloquei em uma travessa e servi com um bom vinho, só espero que isso baste para enganar o paladar exigente dele.Ap
Perola Campbell— Tivemos alguma evolução?A pergunta ecoa no interior silencioso do carro assim que me acomodo no banco de trás, sentando ao lado dele. O cheiro leve de couro novo e o zumbido suave do ar-condicionado são as únicas distrações momentâneas enquanto procuro as palavras certas.— Para ser bem sincera, sim. — Respondo após um breve instante, tentando parecer despreocupada. — Ele sequer notou a diferença entre os restaurantes e ainda me convidou para almoçar com ele.O velho abre um longo sorriso cúmplice. É um sorriso que revela uma fileira de dentes perfeitamente brancos e alinhados, dentes tão impecáveis que tenho quase certeza de serem uma chapa.— Sabia que pedir o dobro era uma ótima ideia! — Ele exclama, a satisfação evidente em sua voz.Ele ent&ati
Perola CampbellO senhor Rafael, sentado confortavelmente em uma poltrona próxima bebendo uma taça de champanhe, levanta os olhos e me observa por um momento antes de sorrir.— Vamos deixar essas formalidades de lado — pede, com um aceno de mão. — Me chame apenas de Rafael. Agora me diga, está indo para um velório?Abaixo os olhos para me olhar no espelho novamente. O vestido preto é sofisticado, sem dúvida, mas a sua observação me faz rir por dentro. Se essa roupa é para sepultar alguém, então o caixão deveria ser de ouro, penso comigo mesma.Volto para o provador, troco o vestido por outro mais jovial, um vibrante amarelo com uma faixa laranja na cintura, que destaca minha figura de uma maneira mais alegre e descontraída. Sinto-me mais leve e com uma energia diferente quando saio novamente.— E agora, o que ac