Perola Campbell
Em um dia comum, no horário do meu expediente, atendo uma pessoa que jamais imaginei ver novamente. Um calafrio sobe pela minha espinha quando vejo a figura de meia-idade bem vestida chamando pelo meu nome. Seus olhos, tão familiares, me prendem no lugar, incapaz de acreditar no que estou vendo.
Como ele me encontrou?
Logo agora que a minha vida e a da Jade tinham se estabilizado. Justo agora, essa sombra do passado aparece. O medo de ser encontrada por mais pessoas começa a falar mais alto e já começo a mentalizar uma rota de fuga. Meu coração acelera, o pânico ameaçando me dominar.
— Preciso conversar com você, Perola — ele diz de forma tranquila, alheio à minha luta interna. Sua voz é calma, quase reconfortante, mas para mim soa como uma ameaça velada — Não fuja de mim.
Essas foram as palavras do Senh
Perola CampbellO senhor Beaumont me encara como se eu fosse um bilhete premiado, seus olhos fixos nos meus com uma intensidade desconcertante— Mas me responda querida, ainda é virgem? — ele tem a audácia de perguntar.Fico momentaneamente paralisada, tentando processar a pergunta invasiva e inapropriada. Meu coração bate acelerado, e sinto um calor subir pelo meu pescoço, alcançando meu rosto, tamanha é a minha vergonha.Por acaso eu deveria falar da minha vida intima com esse velho enxerido?E quando eu digo velho, quero dizer o triplo da minha idade praticamente, será que isso tem a ver com a proposta de emprego? Só contrata se forem mulheres virgens?Que absurdo!— É ou não? — pergunta impaciente.Respiro fundo dia da pergunta, a sobrancelha grisal
Perola CampbellTenha certeza que entendi errado, na verdade eu tenho que ter entendido errado! O filho dele?O homem que me humilhou, que brincou comigo e o Super – Man dos negócios?CEO de uma rede de clinicas particulares, hospitais, restaurante e outra porrada de empresas, além de play- boy nas horas vagas?Nos últimos anos eu não vi mais nenhuma noticia do Apolo, deletei completamente tudo que dizia respeito a minha vida antes de fugir.— Como é que é? — meu nervosismo chega a um ponto descontrolado e se transforma em gargalhada — É uma pegadinha, né? — pergunto em meio ao riso, tentando desesperadamente encontrar uma saída para a loucura da situação — Até que foi engraçada essa história doida de barriga de aluguel — respiro fundo tentando me controlar — Olha, foi bom rever o senhor e saber que eu e a Jade estamos livres do diabo para sempre, mas não pode brincar a minha vida e as dificuldades que passo! Qual é o emprego de verdade?Engulo em seco, o humor desaparece por completo
Perola CampbellHesito por um momento, minha mente uma tempestade de pensamentos e emoções conflitantes. Finalmente, estendo a mão e seguro a dele, selando o acordo. Sua mão é quente e firme, contrastando com o frio que sinto na espinha.— Temos um acordo — digo, minha voz soando estranhamente distante — Qual o prazo para a realização de tal feito? — pergunto, tentando focar nos detalhes práticos para evitar ser engolida pelo turbilhão de sentimentos.— Tentaremos por um ano. Se em um ano você não engravidar do meu filho, eu deposito o dinheiro em sua conta e você estará livre de mim — fala dando de ombros, como se fosse a coisa mais simples do mundo — Claro que estou torcendo para que nossa empreitada dê certo.— Um ano — repito, suspirando enquanto concordo. Só preciso enrolar por um ano.O silêncio que se segue é pesado, carregado com a tensão do acordo que acabamos de firmar. Olho para ele, a mente girando com pos
Perola Campbell.A viagem de volta à minha antiga cidade foi mais rápida do que eu imaginava. Na manhã seguinte à proposta indecente do senhor Rafael, ele apareceu à porta da pequena kitnet que eu chamava de lar para levar a mim, Jade e duas malas pequenas com todos os nossos pertences.Decidi que não iria querer ajuda financeira dele; temos um acordo e, até que ele seja finalizado, o senhor Beaumont não tem o dever de me bancar. Preciso ter um pouco de dignidade, afinal.O salário de secretária é bom, melhor do que o valor que eu ganhava como garçonete. Com esse aumento, consegui alugar uma casa pequena, mas aconchegante, em um bairro simples. Diferente dos últimos lugares onde morei, a estética da casa está boa: as paredes estão pintadas e os móveis, bem conservados. É um alívio poder oferecer a Jade um lar decen
Perola Campbell. Após me acomodar na minha antiga mesa, começo a organizar alguns papéis quando o tormento dos meus pensamentos chega em forma de um metro e noventa de pura gostosura, ele está mais bonito do que eu conseguia me lembrar. — Não me interessa o que você acha que está certo — meu chefe grita ao telefone, sua voz ecoando pelo escritório. Consigo sorrir aliviada por não ser a pessoa do outro lado da linha, mas sei que seu novo temperamento explosivo é uma constante ameaça. Ele passa ao meu lado, tão envolto em sua raiva que não me nota. Um baque alto ecoa quando ele coloca a maleta com força em cima da mesa. Seu rosto está tenso, as linhas de preocupação profundas em sua testa. — Se eu disse que os números da tabela estão errados, é porque está errado! Revise e conserte! Ao menos da outra vez que fui sua secretária ele não era assim tão amargo, nunca o vi esbravejar dessa forma. Com certeza eu teria chorado assustada. Sem se dar o trabalho de me olhar, ou fechar a porta
Perola Campbell.Apolo levanta uma sobrancelha e me encara dos pés a cabeça, me sinto mais insignificante do que já sou.Jade em uma escola particular, sem atraso nas mensalidades, nós duas cursando uma faculdade, plano de saúde, uma vida digna com o mínimo de conforto.Mentalizo os meus motivos para está aqui, só preciso trocar tudo isso por minha dignidade.— Sente-se — ordena.Quando penso que está tudo bem, ele tira uma carteira do bolso, após se acomodar em sua cadeira. Ele nem sequer me olha mais uma vez antes de começar a escrever um cheque.Péssimo sinal.— Vou te compensar pelo tempo perdido ao vir aqui e servido o meu caf&
Apolo BeaumontEssa semana merece uma medalha de ouro por ser uma das mais desastrosas do ano. Primeiro, uma empresa de telecomunicações que eu pretendia adquirir, de repente, saiu do mercado sem qualquer aviso prévio, arruinando meus planos de expansão. Para piorar, houve um assalto em um dos meus supermercados, deixando clientes e funcionários aterrorizados e gerando uma perda significativa. Além disso, a equipe de Marketing estava em um beco sem saída, incapaz de acertar a logomarca que eu queria, apesar das inúmeras tentativas e revisões. E, para completar o caos, minha secretária, em quem eu havia investido dias de treinamento, foi substituída.Pior!Foi substituída por ela.Pérola Campbell, a mulher por quem eu tinha sentimentos conflitantes, a mulher que eu expulsei da minha mente e da minha vida quando decidi que não queria m
Apolo BeaumontA ameaça paira no ar, clara e inegável. É um bom motivo para demiti-la, sem justa causa. Eu poderia pagar uma indenização pelo transtorno e os direitos trabalhistas. Ela iria procurar outro emprego e eu ficaria com a consciência limpa, sem precisar encarar a confusão de sentimentos que sua presença me traz.Ela hesita por um momento, claramente desconcertada pela severidade da minha demanda. Tento não deixar que meu olhar revele qualquer coisa além de frieza calculada.— Meu almoço deve ser servido ao meio dia em ponto — reforço, a voz firme e sem espaço para discussão.Quase desejo boa sorte para completar, mas a verdade é que eu sei que ela não vai conseguir. Estou torcendo para que chegue a hora em que ela irá embora da minha vida de novo, como um fantasma que finalmente se dissipa.&md