Apolo BeaumontEsfrego os músculos do pescoço sentindo uma forte tensão, um aperto no peito, hoje completa exatamente trinta dias que enterrei a minha mãe. Um maldito infarto fulminante a tirou de mim para sempre. É uma dor indescritível, que consome cada fibra do meu ser.Fecho os olhos por um momento e lembro-me da última vez que vi o sorriso dela, das palavras de encorajamento que sempre tinha para mim, das histórias que contava com aquele brilho nos olhos. Agora, tudo isso é apenas uma memória que parece desvanecer cada vez mais.A cada dia que passa, a saudade só aumenta. Os momentos de alegria compartilhados agora são sombras que dançam na minha mente, trazendo um misto de conforto e tristeza. Sinto um pouco de arrependimento, por não ter passado mais tempo ao seu lado.Tudo aconteceu tão rápido, eu tinha acabado de deixar
Apolo BeaumontA cada dia que passava, a saudade da Perola se misturava com a dor da perda da minha mãe, criando um turbilhão de emoções do qual eu não conseguia escapar. Talvez, um dia, eu tivesse coragem de enfrentar esses sentimentos, de entender que amar alguém não significa necessariamente perder tudo. Mas, por enquanto, estou preso no meu próprio medo, incapaz de seguir em frente.A minha covardia foi tanta que pedi ao Felipo que a esse recesso das atividades e que cuidasse de tudo na minha ausência. Felipo, sempre confiável, aceitou sem questionar, mas pude ver em seus olhos uma sombra de preocupação e curiosidade. Eu não ofereci explicações e ele não pediu. No entanto, sabia que essa era uma solução temporária. Não posso continuar sendo um covarde para sempre e preciso encará-la novamente, mas estou a
Perola Campbell Respiro fundo, encarando o reflexo no espelho do banheiro que mal reconheço. Nesses últimos dias que fiquei de recesso do escritório, os dias foram de mal a pior, tive que suportar a presença do meu avô o dia inteiro, o velho maldito não me deixou em paz um segundo, pelo menos não me bateu mais e nem na Jade. Ele apenas fez algumas insinuações muito pesadas, que me deixaram muito temerosa.Cheguei à conclusão de que teria que sair dessa casa o mais rápido possível, antes que acontecesse uma tragédia.A jade está dormindo no meu quarto todo esse tempo, a porta fica trancada o tempo todo, não confio naquele velho maldito.Ele ficou vigiando todos os meus passos nesses dias que estive de folga, conseguir sair algumas vezes com desculpas de que precisava resolver algumas coisas do trabalho, não podia deixar ele sozinho com a Jade por mais tempo que o necessário já que ela não estava indo para escola, pois a mesma entrou em greve.Com muito custo conseguir ajeitar tudo para
Perola CampbellSinto os batimentos do meu coração acelerar, minha respiração fica trêmula e meus joelhos parecem querer fraquejar. O ar ao meu redor parece rarefeito, como se estivesse sendo sugado para fora do ambiente. Meus olhos encontram o rosto familiar, e a surpresa estampada nele ecoa a confusão dentro de mim. As lembranças dos nossos poucos momentos juntos voltam aos meus pensamentos como uma avalanche, esmagando minha tentativa de manter a compostura e deixando um gosto amargo na boca.É como se o ambiente estivesse se fechando ao meu redor, as paredes do escritório se aproximando de forma sufocante. Meu olhar se fixa na boca carnuda dele, que há alguns dias esteve colada na minha. A lembrança é vívida: suas mãos macias me apalpando, me pressionando contra seu corpo, o calor que irradiava dela e que parecia incendiar cada célula do meu ser. Posso quase sentir novamente a textura dos seus cabelos entre meus dedos, a resistência suave quando os puxei, querendo aprofundar ainda
Perola CampbellFico parada, olhando fixamente para ele, incapaz de me mover ou falar alguma coisa. É como se o tempo tivesse parado, congelando-me no lugar. Meu corpo parece ter perdido a capacidade de responder aos meus comandos, cada músculo rígido e imóvel. A cena diante de mim parece surreal, como se eu estivesse observando através de um véu nebuloso, distante e desconectado da realidade.Minhas mãos começam a suar, e sinto a umidade fria contra a palma da mão, que permanece aberta ao meu lado. Meu coração martela no peito, cada batida ressoando como um tambor em meus ouvidos. A respiração se torna superficial, quase inaudível, enquanto tento processar o que está acontecendo.Seus olhos encontram os meus, um olhar intenso que parece perfurar minha alma. Vejo uma mistura de emoções em seu rosto — raiva, frustração, talvez até um traço de tristeza, só talvez.— Olha, o fato de você ser virgem, não importa — continua ele, sua voz fria e calculis
Perola CampbellFugir das garras do meu avô é algo que sempre imaginei fazer, desde que meus pais morreram e eu tive que ficar sobre a custódia dele, o velho é a própria encarnação do diabo.Me batia, me humilhava e ficava com todo o meu dinheiro, porém nunca tive a coragem necessária para tal feito. Mas, tudo mudou quando eu conheci a minha tia, é até engraçado lembrar do meu grau de parentesco com a Jade, ela é só uma garotinha.Garotinha essa que merece um destino melhor, ninguém escolhe em qual família nascer, e quando ela me contou as insinuações com o velho maldito fez, gosto nem de lembrar, sinto asco, só de imaginar.Não podia ficar parada, não diante do risco iminente e a coragem que eu tanto precisava, conseguir reunir. Verdade seja dita, eu não tinha outra opção.A atmosfera da casa está especialmente tensa. A chuva bate contra as janelas como se a própria natureza soubesse do terror que vivemos aqui dentro. Esperei até que os roncos do meu avô ecoassem pelo corredor, sinal
Três anos depoisPerola CampbellAcordo quando o celular desperta com um som estridente, indicando que o dia já amanheceu e que preciso ir trabalhar. O toque penetrante ecoa no pequeno quarto, quebrando o silêncio da madrugada. Respiro fundo, sentindo os pulmões se encherem com o ar ligeiramente frio da manhã. Estico os braços acima da cabeça, alongando os músculos tensos, e meus ossos estalam suavemente.A luz da manhã começa a se infiltrar pelas frestas das cortinas, banhando o quarto com um brilho suave e dourado. A parede descascada ao lado da cama reflete essa luz, criando sombras dançantes que se movem lentamente. Observo essas sombras por um momento, permitindo que a tranquilidade do momento me envolva.Com cuidado, deslizo para fora da cama, tentando não fazer barulho e acordar Jade. O piso de madeira range sob meus p
Perola CampbellEm um dia comum, no horário do meu expediente, atendo uma pessoa que jamais imaginei ver novamente. Um calafrio sobe pela minha espinha quando vejo a figura de meia-idade bem vestida chamando pelo meu nome. Seus olhos, tão familiares, me prendem no lugar, incapaz de acreditar no que estou vendo.Como ele me encontrou?Logo agora que a minha vida e a da Jade tinham se estabilizado. Justo agora, essa sombra do passado aparece. O medo de ser encontrada por mais pessoas começa a falar mais alto e já começo a mentalizar uma rota de fuga. Meu coração acelera, o pânico ameaçando me dominar.— Preciso conversar com você, Perola — ele diz de forma tranquila, alheio à minha luta interna. Sua voz é calma, quase reconfortante, mas para mim soa como uma ameaça velada — Não fuja de mim.Essas foram as palavras do Senh