Perola Campbell
Abro meus olhos lentamente, quando a luz do sol invade meu campo de visão, tento me acostumar com a claridade enquanto vou despertando. Cada parte do meu corpo dó, como se cada músculo e osso estivessem sendo esmagados sob um peso insuportável. Tento me mover um pouco, mas uma onda de dor me paralisa, como se meu corpo se recusasse a obedecer aos meus comandos.
Fecho os olhos com força, tentando de alguma maneira me acostumar coma dor que me aflige, sinto um pano úmido ser passado em torno da minha boca, sem ter forças para me mover, apenas aceito o cuidado desconhecido.
A minha mente ainda está um pouco turva, como se estivesse emergindo de um abismo escuro, lutando para encontrar a superfície da consciência. A lembrança dos eventos anteriores é uma névoa conf
Perola CampbellVejo ela me olhar com curiosidade e aflição.— Não, ninguém iria querer ser filha daquele homem — tento oferecer algum conforto, mesmo sabendo que minhas palavras são insuficientes para apagar a dor que ela carrega — Continue.Ela assente, como se minhas palavras fossem um lembrete necessário de que ela não está sozinha em sua dor. Ainda assim, sua expressão permanece sombria, como se as lembranças dolorosas de seu passado não pudessem ser dissipadas tão facilmente.— Por um tempo, minha mãe foi exclusiva apenas dele, por isso ela sabe que sou filha dele. Quando ele soube, ficou louco, indignado que teria um filho com uma indigna, fez exame de DNA e confirmou, mas por muito tempo ele não quis saber de mim.A tristeza nas palavras de Jade é palpável, como se cada memória dolor
Perola CampbellChego no escritório mais cedo do que de costume, na manhã de segunda. Preciso pegar um táxi já que estou tão ansiosa para conversar com o Apolo e pedir ajuda. Munida com uma xícara de café expresso sem açúcar e muita coragem, sento na minha mesa e aguardo ansiosamente a chegada do meu salvador.Preciso confessar que não sei por onde começar, ele pode me achar uma doida que quer se aproveitar do seu dinheiro, mas eu não tenho muita escolha.O escritório ainda está silencioso, com apenas o som ocasional do ar-condicionado funcionando, criando um contraste com a agitação que se apodera de mim. A luz suave do sol da manhã penetra pelas janelas de vidro, lançando um brilho suave pela enorme recepção. Cada segundo parece se arrastar como horas enquanto eu tamborilo os dedos na borda da xícara de café, o aroma forte e reconfortante preenchendo o ar.Reviro papéis na minha mesa, tentando manter a mente ocupada. As palavras nos relatórios dançam diante dos meus olhos, incapazes
Apolo BeaumontEsfrego os músculos do pescoço sentindo uma forte tensão, um aperto no peito, hoje completa exatamente trinta dias que enterrei a minha mãe. Um maldito infarto fulminante a tirou de mim para sempre. É uma dor indescritível, que consome cada fibra do meu ser.Fecho os olhos por um momento e lembro-me da última vez que vi o sorriso dela, das palavras de encorajamento que sempre tinha para mim, das histórias que contava com aquele brilho nos olhos. Agora, tudo isso é apenas uma memória que parece desvanecer cada vez mais.A cada dia que passa, a saudade só aumenta. Os momentos de alegria compartilhados agora são sombras que dançam na minha mente, trazendo um misto de conforto e tristeza. Sinto um pouco de arrependimento, por não ter passado mais tempo ao seu lado.Tudo aconteceu tão rápido, eu tinha acabado de deixar
Apolo BeaumontA cada dia que passava, a saudade da Perola se misturava com a dor da perda da minha mãe, criando um turbilhão de emoções do qual eu não conseguia escapar. Talvez, um dia, eu tivesse coragem de enfrentar esses sentimentos, de entender que amar alguém não significa necessariamente perder tudo. Mas, por enquanto, estou preso no meu próprio medo, incapaz de seguir em frente.A minha covardia foi tanta que pedi ao Felipo que a esse recesso das atividades e que cuidasse de tudo na minha ausência. Felipo, sempre confiável, aceitou sem questionar, mas pude ver em seus olhos uma sombra de preocupação e curiosidade. Eu não ofereci explicações e ele não pediu. No entanto, sabia que essa era uma solução temporária. Não posso continuar sendo um covarde para sempre e preciso encará-la novamente, mas estou a
Perola Campbell Respiro fundo, encarando o reflexo no espelho do banheiro que mal reconheço. Nesses últimos dias que fiquei de recesso do escritório, os dias foram de mal a pior, tive que suportar a presença do meu avô o dia inteiro, o velho maldito não me deixou em paz um segundo, pelo menos não me bateu mais e nem na Jade. Ele apenas fez algumas insinuações muito pesadas, que me deixaram muito temerosa.Cheguei à conclusão de que teria que sair dessa casa o mais rápido possível, antes que acontecesse uma tragédia.A jade está dormindo no meu quarto todo esse tempo, a porta fica trancada o tempo todo, não confio naquele velho maldito.Ele ficou vigiando todos os meus passos nesses dias que estive de folga, conseguir sair algumas vezes com desculpas de que precisava resolver algumas coisas do trabalho, não podia deixar ele sozinho com a Jade por mais tempo que o necessário já que ela não estava indo para escola, pois a mesma entrou em greve.Com muito custo conseguir ajeitar tudo para
Perola CampbellSinto os batimentos do meu coração acelerar, minha respiração fica trêmula e meus joelhos parecem querer fraquejar. O ar ao meu redor parece rarefeito, como se estivesse sendo sugado para fora do ambiente. Meus olhos encontram o rosto familiar, e a surpresa estampada nele ecoa a confusão dentro de mim. As lembranças dos nossos poucos momentos juntos voltam aos meus pensamentos como uma avalanche, esmagando minha tentativa de manter a compostura e deixando um gosto amargo na boca.É como se o ambiente estivesse se fechando ao meu redor, as paredes do escritório se aproximando de forma sufocante. Meu olhar se fixa na boca carnuda dele, que há alguns dias esteve colada na minha. A lembrança é vívida: suas mãos macias me apalpando, me pressionando contra seu corpo, o calor que irradiava dela e que parecia incendiar cada célula do meu ser. Posso quase sentir novamente a textura dos seus cabelos entre meus dedos, a resistência suave quando os puxei, querendo aprofundar ainda
Perola CampbellFico parada, olhando fixamente para ele, incapaz de me mover ou falar alguma coisa. É como se o tempo tivesse parado, congelando-me no lugar. Meu corpo parece ter perdido a capacidade de responder aos meus comandos, cada músculo rígido e imóvel. A cena diante de mim parece surreal, como se eu estivesse observando através de um véu nebuloso, distante e desconectado da realidade.Minhas mãos começam a suar, e sinto a umidade fria contra a palma da mão, que permanece aberta ao meu lado. Meu coração martela no peito, cada batida ressoando como um tambor em meus ouvidos. A respiração se torna superficial, quase inaudível, enquanto tento processar o que está acontecendo.Seus olhos encontram os meus, um olhar intenso que parece perfurar minha alma. Vejo uma mistura de emoções em seu rosto — raiva, frustração, talvez até um traço de tristeza, só talvez.— Olha, o fato de você ser virgem, não importa — continua ele, sua voz fria e calculis
Perola CampbellFugir das garras do meu avô é algo que sempre imaginei fazer, desde que meus pais morreram e eu tive que ficar sobre a custódia dele, o velho é a própria encarnação do diabo.Me batia, me humilhava e ficava com todo o meu dinheiro, porém nunca tive a coragem necessária para tal feito. Mas, tudo mudou quando eu conheci a minha tia, é até engraçado lembrar do meu grau de parentesco com a Jade, ela é só uma garotinha.Garotinha essa que merece um destino melhor, ninguém escolhe em qual família nascer, e quando ela me contou as insinuações com o velho maldito fez, gosto nem de lembrar, sinto asco, só de imaginar.Não podia ficar parada, não diante do risco iminente e a coragem que eu tanto precisava, conseguir reunir. Verdade seja dita, eu não tinha outra opção.A atmosfera da casa está especialmente tensa. A chuva bate contra as janelas como se a própria natureza soubesse do terror que vivemos aqui dentro. Esperei até que os roncos do meu avô ecoassem pelo corredor, sinal