Harry percebeu só agora a mulher ao seu lado, que estava com a cabeça cabisbaixa, um olhar perdido e, ao mesmo tempo, ansioso.— Eu não sei se Esther quer vê-la nesse momento – Harry disse. Ele não pretendia dar detalhes de como Esther estava assustada e fragilizada. Sabia que todos no hotel haviam visto a cena minutos antes e não queria dar mais satisfações sobre o quanto ela estava sofrendo.— Ela é a minha filha... passei a minha vida toda esperando por ela. Não me deixe esperar mais, por favor – Brenda suplicou. Havia algo em seu olhar que mostrava que ela estava sendo sincera. Harry podia ver que Brenda estava sofrendo com tudo aquilo. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, seus ombros caídos como se um peso estivesse sobre suas costas. Ela parecia cansada, como se não quisesse mais lutar contra qualquer que fosse o pensamento que a atormentava.— Deixe ela entrar – Esther pediu. Harry não sabia que Esther estava conseguindo ouvir a conversa. A porta era longe o suficiente
Brenda parecia em choque, paralisada no lugar, enquanto refletia sobre o que acabou de ouvir.— Vocês pareciam uma família feliz. Lorena me enviava fotos e, nelas, você sempre estava sorrindo. Pensei que eles poderiam dar algo que eu jamais poderia dar. Era melhor do que saber que o seu pai morreu e sua mãe era uma viciada – Brenda falou em desespero.— Não, Brenda, você mesma admitiu que havia abandonado o vício. Era para ter ficado comigo e lutado por mim, mas, como todas as outras pessoas, você me abandonou – Esther se levantou, falando alterada.— Esther, me desculpe… – Brenda começou, mas foi interrompida.— Aquelas pessoas só pensavam em dinheiro. Lorena e Benjamin nunca me amaram. Estavam até dispostos a me vender para sair da falência. Caso você não saiba, Benjamin era viciado em jogos e perdeu tudo. Se não fosse por Harry, eu estaria casada agora com um homem arrogante que nem mesmo gostava de mim. Eles tiraram tudo de mim, Brenda: a minha liberdade, os meus sonhos, o amor
Harry sorriu ao ver uma estante com várias edições dos livros de Jane Austen, mostrando o quanto aquelas pessoas amavam a escritora. Se aproximou e pegou um volume de uma edição especial de Orgulho e Preconceito, em capa dura.— “É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro e muito rico deve precisar de uma esposa” – uma voz soou do outro lado do cômodo, fazendo-o pular de susto. Harry se virou para encarar a senhora de cabelos grisalhos que se apoiava em uma bengala, caminhando lentamente em sua direção.— Me perdoe se eu o assustei – a mulher falou novamente.— Tudo bem, eu pensei que estivesse sozinho – ele tossiu, tentando não demonstrar seu desconforto.— Gosta de Jane Austen? Harry sorriu com aquela pergunta.— Sim, minha namorada é uma grande fã e meio que me obrigou a ler todos os livros da autora – Harry confessou.— Deveria agradecê-la por isso. Harry observou a boca dela se curvar para o lado, imaginando que aquilo poderia ser um vislumbre de um sorri
Fazia tempo que Harry não via tantas pessoas dançando alegremente. Ele sorriu quando o som dos instrumentos invadiu seus ouvidos. A dança era diferente daquelas das quais estava acostumado. Por sorte, naquela mesma semana, Kath e Elizabeth deram uma aula para todos os hóspedes, para que pudessem aproveitar mais a festa e se divertir. Era como se tivessem voltado no tempo. As mulheres rodopiavam pelo imenso salão, e com o movimento, suas saias se levantavam suavemente. Esther estava com um enorme sorriso no rosto quando Harry a puxou para uma dança. Ao girar, ela não se conteve e soltou uma gargalhada alta, da qual ninguém ali parecia se importar. — Você também sente como se estivesse entrando em um dos livros da Julia Quinn? Se dermos sorte, encontraremos Daphne e Simon se agarrando no jardim – Esther brincou.— Sim, sinto que a qualquer momento irão anunciar a chegada de algum conde ou duque saído dos livros de romance de época que você tanto lê – Harry brincou.— Tudo está perfe
Tudo estava tão quieto e escuro. Ele ligou a luz e procurou por cada canto, até mesmo as coisas de Esther não estavam mais ali. Ele não sabia o que fazer a seguir. Esther pediu que se afastasse, ela precisava de um tempo, mas o desespero o fazia acreditar que a havia perdido para sempre. Harry saiu do quarto em busca de ar fresco. Tudo ali o fazia pensar nela, nas memórias que, até algumas horas atrás, eram felizes, mas agora só faziam seu coração se apertar de tristeza. Quando passou pela biblioteca, ouviu um barulho. Nem mesmo sabia por que seus pés o haviam levado até lá, mas as palavras da mulher que ele encontrou alguns dias atrás ainda pairavam em sua mente. Ele precisava ter esperança novamente e sentia que estava no lugar certo. Depois daquele encontro, procurou pela mulher, mas nem mesmo sabia o seu nome. Era como se ela não existisse. Ninguém estava familiarizado com a descrição que ele havia dado, o que era estranho. Mas algo lhe dizia que ainda a encontraria em algum
Demorou um tempo para Harry se recompor. Quando se levantou, compreendeu o que estava acontecendo. Por mais que parecesse impossível, aquela linha de raciocínio fazia sentido. Ele havia sonhado com uma vida diferente da sua. O estranho era que o sonho parecia detalhado demais, ele podia sentir tudo como se estivesse vivendo aquilo em tempo real. Era impossível, pois levaria anos para viver tudo aquilo. Harry tinha apenas dezoito anos e estava prestes a começar a faculdade. Tudo aquilo era loucura. Ainda sentado no chão, com os olhos arregalados, a imagem de Esther veio à sua mente, assombrando-o.— Como isso é possível? Eu criei pessoas em minha mente. Se fechar os olhos, ainda posso sentir o toque e o sabor dos lábios de Esther nos meus – Harry sussurrou, falando sozinho, como se tentasse convencer seu cérebro de que ele estava ali, sentado no banheiro, e não no sonho que havia vivido naquela noite.— Nunca tive um sonho como esse. Parecia tão real, como se tivesse vivido anos de
— Obrigado, tenho sorte de ter uma academia à disposição na casa dos meus pais – Harry brincou. Nem sequer havia percebido que estavam distantes do grupo no qual a loira estava acompanhada.— Meu nome é Penélope, e é um prazer conhecê-los – ela falou, parando de correr e olhando para o seu grupo, que havia ficado para trás. Penélope gritou algo para uma garota que correu até eles, enquanto as outras desviavam o percurso.— Esta é Lilly – a loira sorriu novamente, apresentando sua amiga a eles. Harry a observou. Lilly era bem diferente da amiga. Tinha cabelos longos e cacheados, pele levemente bronzeada e lábios carnudos. Ele passou um tempo admirando suas curvas enquanto a cumprimentava.— Lilly é nova por aqui, também não é muito fã de acordar cedo. Quem sabe vocês possam se ajudar e levantar o astral um do outro? – a loira mordeu os lábios e piscou. Harry sorriu ao perceber as bochechas de Lilly corarem levemente.— O que acham de irmos para um lugar mais privado? – Lilly p
— Concordo, mas o seu pai tem razão. Estamos com o dia todo livre. Podemos pegar nossa carteirinha de estudante, assistir a alguma palestra e depois aproveitar como bem entendermos – Harry afirmou. Eles passaram por várias mesas onde as fraternidades estavam recrutando. Harry não estava interessado em entrar para nenhuma delas, muito menos Adam. Isso o surpreendeu, pois seu amigo sempre foi extrovertido, e ele tinha quase certeza de que Adam estaria ansioso para participar de alguma.— Não precisamos entrar para nenhuma fraternidade. Podemos fazer amizades por aqui e aproveitar a companhia de belas garotas. Esses são os meus únicos interesses.— E estudar também – Harry completou, sorrindo ao ver a maneira como Adam descrevia a faculdade como se fosse apenas um lugar para se rodear de mulheres bonitas, festas e diversão.— Isso também, mas não é o meu foco principal – Adam deu de ombros. — Você tem a impressão de que esses caras de fraternidade nunca se desgrudam? Gosto de ter amigo