Uma semana depois de ter sido jogada em um quarto escuro contra minha vontade, lembrá-lo ainda faz minhas mãos tremerem. A angústia daquela noite, o pânico que senti e os pesadelos posteriores ainda estão lá no fundo. Culpo em parte o fato da cidade ter ficado escandalizada com a evacuação de um evento de tal magnitude, um incêndio que nunca ocorreu e o "suicídio" do infame Vladimir Kosnikov.As conspirações na internet sobre o que realmente aconteceu abundavam, assim como as teorias sobre quais eram os verdadeiros objetivos daquela noite por parte dos noticiários. Estes têm sido tópicos quentes que não me deixaram esquecer o assunto.Também não é como se eu pudesse fazer isso enquanto arrumo o arranjo floral que trouxe para Liam. Não sei quais flores seriam de sua preferência, só as trouxe por respeito.— As flores são o consolo por não ter alta hoje também?Virei-me surpresa ao ouvi-lo, Liam que havia despertado em sua cama de hospital. Quando entrei ele estava dormindo, e procurei n
— Aconteceu alguma coisa?— Não... nada... — responde ele sem me convencer.— Conseguimos. A alta. Prepare suas malas, velho, que Leandro está mandando seu avião — anuncia Luciano chegando ao quarto.O ânimo de Liam muda, fica mais alegre, ele me pede ajuda para levantar da cama porque tem dificuldade por causa da cicatriz. Eu o ajudo e nós três estamos preparando sua mala. Ou melhor, Liam indicando o que quer, e Luciano e eu cumprindo. Luciano se encarrega das roupas, eu das coisas que ele tem no banheiro. Quando saio do banheiro com alguns de seus pertences pessoais, ouço parte de uma conversa importante entre pai e filho.— Não poderei te acompanhar. Tenho que ficar com Marianne... — diz Luciano a Liam.O rosto de Liam parece triste.— Mas ela não pode vir conosco? — pede ele.Luciano o olha com muita pena, até para de colocar as roupas na mala. Aqui tenho que intervir. Preciso deixar o passado para trás, preciso esquecer os sustos e mal-estares de todos esses anos.— Se isso é um c
— Tiaaaa! — me cumprimenta animada Amy.Inclino-me na direção dela para corresponder ao grande abraço que ela quer me dar. Guardo isso com tanto carinho, e beijo sua cabecinha. Amy não estava sozinha, está com Amanda. Desde que o perigo acabou, Amy tem estado com sua mãe.— Olá Marianne...— Olá... entrem... — convido as duas.Amanda é a primeira a perceber a desordem no meu apartamento, seu olhar vai rapidamente para a porta aberta do meu quarto com minha cama cheia de roupas para empacotar. Também vai para as malas que tenho encostadas na parede, prontas.— Você vai viajar? Para onde? — questiona preocupada.— Queria falar sobre isso com vocês, com as duas... — pego cada uma pela mão, para que nos sentemos as três no sofá — Decidi ir embora com Luciano para fora do país.O medo de Amanda é automático para minha surpresa, e a emoção de Amy também... para minha surpresa.— Podemos ir visitá-los nas férias?! — questiona Amy.— Sim, claro que sim, minha vida — acaricio sua cabecinha feli
As oportunidades existem para serem aproveitadas, e quando se apresentam não devemos desprezá-las. No entanto, estou me sentindo um tanto arrependida de tais pensamentos agora mesmo. Passeio pelo amplo banheiro do meu quarto de hotel enquanto penteio meu cabelo. Isso de andar de um lado para o outro li na internet, sobre como acalmar as náuseas.O que acontece é que as náuseas não tinham me abandonado desde a semana passada, nem queriam me abandonar por mais remédios naturais que eu tomasse. Por que Marianne Belmonte não se livrava delas? Talvez fosse pela falta de descanso à qual havia submetido seu pobre corpo. Como? Poderia ser a mudança improvisada para outro país, a renúncia improvisada ao seu trabalho e a recepção esmagadora por parte da sua família política.Quando chegamos à mansão Brown foi demais a reação deles. Embora Liam precisasse de repouso, seus irmãos e sobrinhos o trataram como se estivesse nos últimos momentos de vida. Por sua vez, Luciano recebeu mais broncas do que
— Positivo? Já deu positivo? — ouço Giana falar pelo celular, volto a me concentrar na câmera.— Qual é a sua pressa? Na caixa diz 5 minutos no mínimo...— OLHE AGORA! — ela grita desesperada.Tenho que fazer isso, olhá-lo... de repente me sinto a mulher mais estúpida do universo.— Estou grávida... — digo atônita com o resultado que estou lendo.— EU TAMBÉM ESTOU GRÁVIDA! — ela volta a gritar.Entro em duplo choque. Ela grávida, eu grávida, as duas grávidas, só uma reação é possível.— AAAAAAHHHHHH! — grito de emoção por ela, de emoção e medo por mim mesma.— AAAAAAAHHHHASSDDFFDS! — grita Giana pela emoção e zombaria direcionada a mim.— Você está bem, Marianne? — questiona espantado Luciano na porta. Ele tinha chegado.Fecho a boca e desligo bruscamente o celular sem olhá-lo. Finjo que estou bem.— Perfeita, sem objeções. Vamos sair?.....Sei que deveria estar apreciando a linda vista que tenho no presente. Estamos nos Jardins Indro Montanelli, vou apoiada no braço do homem que amo
Narrado por Luciano BrownPosso dizer sem necessidade de exagerar que enfrentei todo tipo de risco em minha vida. Brigas a socos limpos nas quais quase me torceram o pescoço, balas que marcaram minha pele permanentemente, já saltei de carros em movimento e fugi correndo de um monte de mulheres ressentidas pelo meu imprudente passado. Saí em pé de tudo isso, mas não sei se sairei vivo desta nova aventura, a de ser pai.Me pergunto quando acabará este martírio e esta preocupação eterna, no entanto, olhando para a barriga redonda de Marianne, sei que ainda me faltam no mínimo 18 anos. Porque nossa bebê ainda não nasceu, faltam duas semanas para isso.Duas semanas poderiam passar rápido para uma mulher cujo único trabalho deveria ser descansar na cama, satisfazer seus desejos e comprar roupas online para nossa bebê. Mesmo assim, coube a mim me apaixonar e engravidar uma mulher muito ativa, excessivamente ativa.Depois de nossa lua de mel pela Itália, ao chegar pensei que Marianne levaria a
Sua explicação não me convence, mas como ninguém ganha de Marianne, acabamos indo ao aniversário da filha de Lemuel.......O que você pode esperar do aniversário de uma filha de Selena? Isso mais que um aniversário parece uma exposição de fornecedores de festas infantis. Estou dizendo isso pela extravagância em que se transformou um dos salões da mansão Brown. O tema é de sereias, então Salomé está vestida como uma, e sua mãe, ou seja, Selena está vestida combinando com sua filha.Movo minha mão para estourar as bolhas que flutuam diante dos meus olhos. Eu achava que o bolo de seis andares, os atores fantasiados como tritões e animais marinhos, mais a quantidade de estações de entretenimento infantil, eram muito. Me enganei, muito é que Marianne seja a babá designada dos filhos dos meus primos.Marianne está sentada em um sofá em forma de concha marinha enquanto é rodeada por Louis (o filho de Leonel); Luke, Levi e Luisella (os de Leandro); e claro, Salomé (a filha da múmia do meu tio
— Aqui vem, aqui vem — anuncia a médica tirando a bebê.Imediatamente na sala de parto se ouve o choro da nossa filha. A mudança de expressão de Marianne é impressionante, suas feições se aliviam e sua respiração se torna normal. Embora seu alívio acabe quando colocam a bebê em seu peito nu.— Olá, meu tesouro. Tudo ficará bem, mamãe está aqui — recita ela deixando as lágrimas saírem, nesse momento a bebê para de chorar.Enquanto uma enfermeira limpa a bebê como pode ainda sobre Marianne e a médica me pergunta se quero cortar o cordão umbilical, ao que me recuso, sinto que não pertenço a este lugar. Tudo me parece um contrassenso.— Quer conhecer o papai? Olha, ele está ali... — Marianne fala com a menina.Sem que me peçam e sem poder recusar, a enfermeira pega a bebê e a passa para mim. Me vejo obrigado a carregar esta menina que de alguma forma eu ajudei a fazer em uma bebedeira. Fico olhando para ela estranhamente e ela fica olhando estranhamente para mim.— Por que ela está me olha