Narrado por Luciano BrownO gosto de sangue invade minha língua, é isso que me permite recuperar a consciência. Tento mover minhas mãos, mas elas estão amarradas aos braços da cadeira. Estou imobilizado onde estou sentado, mal consigo recobrar os sentidos após a surra que me deram. A nova surra que me deram.Enquanto meu pescoço não funciona para levantar a cabeça, e a imagem que tenho do chão é embaçada, repasso os acontecimentos que me trouxeram a esta situação em que eu não deveria estar. Tudo corria conforme o plano até que vi meu primo e tio na festa. Mais preocupante foi a certeza de que até mesmo Liam estava no prédio, especificamente com um dos nossos inimigos.Minha relação com Liam durante esses anos tem sido estranha, e isso vem de um homem acostumado a ter relações fora do comum. Digamos que o incluí na minha lista exclusiva de contatos durante minha caçada aos Kosnikov. Minha lista exclusiva que costumava incluir apenas Leandro, para os demais era a cada ano bissexto.Infe
Volto ao local onde acordei, pegando outra cadeira e me sentando para fingir que continuo inconsciente nela. Enquanto escondo minhas mãos atrás das costas, a porta se abre.— Aqui está ele. O que vai fazer com ele? — ouço a voz de Mateo.Também ouço uma risada desagradável e nauseante, uma que me lembra algumas marcas nas minhas costas. Era uma risada inconfundível, a dele, Vladimir.— O rato veio sozinho até mim — menciona ele — Preciso de muito tempo a sós com ele para fazê-lo pagar pelo que me fez.— Não vai ser possível. Você precisa subir para o heliponto, o curto-circuito para o incêndio logo será provocado... — explica Mateo.Curto-circuito? Heliponto? Não me diga que querem fazer Vladimir escapar num helicóptero por causa de um suposto incêndio. Isso foi planejado? O quê? Fazê-lo passar por morto? Matar minha família no processo? Mesmo que eu não tivesse vindo, teriam conseguido tudo isso. Eu estava ferrado fizesse o que fizesse.— Chame seus homens. Eu o quero comigo — ordena
Mas...Isso Mateo... não sabe.— O que te faz pensar que poderiam me responsabilizar por uma morte acidental? — o aterrorizo, ele está morto de medo — Você poderia ficar preso em qualquer quarto do prédio e ser devorado pelas chamas. Como eu seria culpado por isso?Os lábios de Mateo tremem. Eu o tenho.— Me leve até onde eles estão. Será a última vez que vou pedir.Mateo se dá por vencido e pouco a pouco se dirige à porta. Passamos por cima do corpo de Vladimir e descemos um andar. O som do alarme se ouve com mais força daqui. Depois ele se concentra em uma das portas do corredor, tira uma chave do bolso enquanto continuo apontando para sua cabeça.Suas mãos tremem, mas ele consegue abrir a porta. Ao fazê-lo, a alma volta ao meu corpo. Vejo Marianne ilesa, agachada no chão junto com Liam. Ambos se surpreendem, primeiro se assustam ao ver Mateo, em seguida se aliviam ao me verem.Com Mateo tendo servido ao seu propósito, é prudente dar-lhe uma boa coronhada na nuca para que não interro
Uma semana depois de ter sido jogada em um quarto escuro contra minha vontade, lembrá-lo ainda faz minhas mãos tremerem. A angústia daquela noite, o pânico que senti e os pesadelos posteriores ainda estão lá no fundo. Culpo em parte o fato da cidade ter ficado escandalizada com a evacuação de um evento de tal magnitude, um incêndio que nunca ocorreu e o "suicídio" do infame Vladimir Kosnikov.As conspirações na internet sobre o que realmente aconteceu abundavam, assim como as teorias sobre quais eram os verdadeiros objetivos daquela noite por parte dos noticiários. Estes têm sido tópicos quentes que não me deixaram esquecer o assunto.Também não é como se eu pudesse fazer isso enquanto arrumo o arranjo floral que trouxe para Liam. Não sei quais flores seriam de sua preferência, só as trouxe por respeito.— As flores são o consolo por não ter alta hoje também?Virei-me surpresa ao ouvi-lo, Liam que havia despertado em sua cama de hospital. Quando entrei ele estava dormindo, e procurei n
— Aconteceu alguma coisa?— Não... nada... — responde ele sem me convencer.— Conseguimos. A alta. Prepare suas malas, velho, que Leandro está mandando seu avião — anuncia Luciano chegando ao quarto.O ânimo de Liam muda, fica mais alegre, ele me pede ajuda para levantar da cama porque tem dificuldade por causa da cicatriz. Eu o ajudo e nós três estamos preparando sua mala. Ou melhor, Liam indicando o que quer, e Luciano e eu cumprindo. Luciano se encarrega das roupas, eu das coisas que ele tem no banheiro. Quando saio do banheiro com alguns de seus pertences pessoais, ouço parte de uma conversa importante entre pai e filho.— Não poderei te acompanhar. Tenho que ficar com Marianne... — diz Luciano a Liam.O rosto de Liam parece triste.— Mas ela não pode vir conosco? — pede ele.Luciano o olha com muita pena, até para de colocar as roupas na mala. Aqui tenho que intervir. Preciso deixar o passado para trás, preciso esquecer os sustos e mal-estares de todos esses anos.— Se isso é um c
— Tiaaaa! — me cumprimenta animada Amy.Inclino-me na direção dela para corresponder ao grande abraço que ela quer me dar. Guardo isso com tanto carinho, e beijo sua cabecinha. Amy não estava sozinha, está com Amanda. Desde que o perigo acabou, Amy tem estado com sua mãe.— Olá Marianne...— Olá... entrem... — convido as duas.Amanda é a primeira a perceber a desordem no meu apartamento, seu olhar vai rapidamente para a porta aberta do meu quarto com minha cama cheia de roupas para empacotar. Também vai para as malas que tenho encostadas na parede, prontas.— Você vai viajar? Para onde? — questiona preocupada.— Queria falar sobre isso com vocês, com as duas... — pego cada uma pela mão, para que nos sentemos as três no sofá — Decidi ir embora com Luciano para fora do país.O medo de Amanda é automático para minha surpresa, e a emoção de Amy também... para minha surpresa.— Podemos ir visitá-los nas férias?! — questiona Amy.— Sim, claro que sim, minha vida — acaricio sua cabecinha feli
As oportunidades existem para serem aproveitadas, e quando se apresentam não devemos desprezá-las. No entanto, estou me sentindo um tanto arrependida de tais pensamentos agora mesmo. Passeio pelo amplo banheiro do meu quarto de hotel enquanto penteio meu cabelo. Isso de andar de um lado para o outro li na internet, sobre como acalmar as náuseas.O que acontece é que as náuseas não tinham me abandonado desde a semana passada, nem queriam me abandonar por mais remédios naturais que eu tomasse. Por que Marianne Belmonte não se livrava delas? Talvez fosse pela falta de descanso à qual havia submetido seu pobre corpo. Como? Poderia ser a mudança improvisada para outro país, a renúncia improvisada ao seu trabalho e a recepção esmagadora por parte da sua família política.Quando chegamos à mansão Brown foi demais a reação deles. Embora Liam precisasse de repouso, seus irmãos e sobrinhos o trataram como se estivesse nos últimos momentos de vida. Por sua vez, Luciano recebeu mais broncas do que
— Positivo? Já deu positivo? — ouço Giana falar pelo celular, volto a me concentrar na câmera.— Qual é a sua pressa? Na caixa diz 5 minutos no mínimo...— OLHE AGORA! — ela grita desesperada.Tenho que fazer isso, olhá-lo... de repente me sinto a mulher mais estúpida do universo.— Estou grávida... — digo atônita com o resultado que estou lendo.— EU TAMBÉM ESTOU GRÁVIDA! — ela volta a gritar.Entro em duplo choque. Ela grávida, eu grávida, as duas grávidas, só uma reação é possível.— AAAAAAHHHHHH! — grito de emoção por ela, de emoção e medo por mim mesma.— AAAAAAAHHHHASSDDFFDS! — grita Giana pela emoção e zombaria direcionada a mim.— Você está bem, Marianne? — questiona espantado Luciano na porta. Ele tinha chegado.Fecho a boca e desligo bruscamente o celular sem olhá-lo. Finjo que estou bem.— Perfeita, sem objeções. Vamos sair?.....Sei que deveria estar apreciando a linda vista que tenho no presente. Estamos nos Jardins Indro Montanelli, vou apoiada no braço do homem que amo