Este é um encontro interessante, é o que posso pensar ao reencontrar Julia depois de tantos anos. Lembro-me dela por sua voz grave e a intensidade de seus olhos felinos; se não fosse por essas características, não poderia reconhecê-la.Parece diferente no geral graças ao conjunto de blazer e calça que usa, mais o rabo de cavalo que tem. Seu cabelo agora é castanho claro. Parece uma executiva que acabou de deixar seus filhos na aula de futebol. Não a mulher de quatro anos atrás com uma evidente paixão por couro.— Como vai, Marianne? Quanto tempo se passou... — ela estende a mão.Eu a pego e aperto. Lembro a mim mesma que nossas últimas interações foram "em bons termos", também que supostamente Luciano e ela não reataram. E mesmo que tenham feito isso, é ridículo fazer cobranças neste contexto.— Então, esta é sua sobrinha... é um encanto — elogia ela a Amy, que se esconde atrás das minhas pernas.— Ela é tímida com pessoas que não conhece... — explico.— Eu também era quando pequena, e
Preciso vê-lo em confusão.— Por que você está me falando sobre isso?Julia respira fundo, seu pescoço se tensiona e ela olha para o lado para evitar me encarar enquanto fala.— Quando você é a escolhida, simplesmente é.— A escolhi-— Por que não avisou que tinha chegado?! — exclama Luciano se aproximando de nós.Ao se aproximar, ele coloca a mão nas minhas costas, sinto que está tenso, e o ouvi falar bastante exaltado.— Você descobriria de qualquer forma. E além disso, eu estava passando um tempo de qualidade com a Marianne — diz ela em tom de desafio.Luciano me olha preocupado e alarmado.— Tempo de qualidade? Sobre o que estavam conversando? — agora ele soa nervoso.— Assuntos de mulheres. O resto já chegou? — pergunta Julia enquanto se dirige à casa.Sei que ele quer me fazer mais perguntas sobre a conversa com Julia, mas não estou pronta para falar sobre isso. Não agora. Preciso encontrar uma forma melhor de dizer o que vou dizer.— Você vai finalmente me contar o que estão pla
Narrado por Luciano BrownUma última aposta, uma última recompensa. É isso que espero obter hoje. Mas primeiro, termino meu cigarro para relaxar e deixar rolar, estou com as costas apoiadas em meu carro e vejo as pessoas passarem à minha frente absortas em seu cotidiano.Foi uma manhã tranquila, exceto pela mulher que vem até mim com um rosto desesperado e uma atitude para combinar.— Onde vocês estão com a minha filha? Onde se meteu a Marianne? — pergunta angustiada a mulher em questão.Não se trata de outra pessoa senão Amanda. Ela atendeu à ligação que fiz mais cedo informando onde eu estaria e que a esperaria. Evitei responder qualquer questionamento que ela tivesse. Não é como se agora eu fosse responder com honestidade.— Amy está bem. Aproveitando as férias com a tia dela. Achei que ela tinha te contado — comento com tranquilidade.Amanda tem tudo menos tranquilidade. Parece desarrumada e descabelada.— Férias no meio do ano letivo? Sem me avisar com antecedência? Não minta para
Narrado por Luciano BrownTodos os adjetivos negativos que a América merece estão no ar. É uma mãe terrível, que deu à luz dois filhos terríveis. Ou agora que penso com uma nova luz, talvez a culpa disso tenha muito a ver com ela.América não esperava que Amanda defendesse Marianne. Ela quer encarar isso como uma piada. Amanda, curiosamente, não o faz.— Ah, qual é, Amanda. Você odeia Marianne e ela odeia você. Sabe que ela cuidou da sua filha por pena e para tirá-la de você algum dia, sua grande vingança — garante América.— Ela pode me odiar, mas... mas eu não a odeio mais. E... Marianne não vai tirar Amy de mim. Eu sei que ela não fará isso — afirma Amanda.— Não te tiraram a tempo de dentro de mim e o oxigênio chegou muito tarde ao seu cérebro, com certeza — zomba com malícia América, e os olhos de Amanda se enchem de lágrimas — Por que Marianne não seria capaz de tirar sua filha?— Porque ela não é como você... você é um monstro sem sangue nas veias. Como pode falar assim comigo d
Narrado por Luciano BrownDirigir de um lugar afastado para outro lugar afastado é um enorme aborrecimento. Embora o aborrecimento passe a ser um susto de morte ao estar sendo apontado por uma arma sem trava e com um dedo no gatilho. O que vai contra todas as medidas de segurança para o manuseio de armas de fogo. Isso efetivamente deixou de ser um aborrecimento para se tornar um jogo perigoso.— Sabe o que poderia ser um ato de compaixão comigo? — digo a Anfisa enquanto ainda dirijo.— Se você merecesse algum tipo de compaixão, eu seria a primeira a te dar. Mas você não merece nada disso — sorri.— Você falando de merecer compaixão ou não, soa fora de lugar.— O que você ia me pedir? Uma última ligação para sua vagabunda? Não vou dar. Depois de você, honrarei sua memória indo atrás dela — garante Anfisa.A calma que eu tinha até este momento vai diminuindo, e me amaldiçoo por Anfisa saber disso. Ela detecta como a bruxa que era, como meu sorriso caiu e como meu corpo ficou tenso.— Tem
Isso o desorientou, o suficiente para que eu desse outro golpe nele e ele soltasse a arma. Nesse momento, estou no banco traseiro distribuindo socos e chutes com ele. Finalmente, consigo agarrá-lo pelo pescoço com meu braço e usar isso para bloquear sua respiração.Exerço mais força enquanto ele estica o braço para alcançar a arma que caiu no chão. Não adianta nada. Ele perde a consciência antes que possa alcançá-la. Seu corpo desfalece e, com isso, Anfisa, que estava encolhida apavorada, me olha aterrorizada. Aproveito para tirar o homem de cima de mim e pegar a pistola.— Agora sim, vamos passear? — pergunto a ela.Anfisa sai como alma que o diabo carrega do carro. Da mesma forma, saio dele com mais calma. Vejo-a correr com dificuldade pelo terreno abandonado, querendo chegar à entrada do galpão.Limpo a boca do sangue que brota dela e me encho de paciência para ir atrás de Anfisa.Só que... escuto um disparo perto de mim.Depois... vejo Anfisa desabar no chão.Viro-me para a origem
Não sei nem como continuo viva com o estresse que suportei esta manhã. É impossível que meu corpo aguente outra xícara de café, quer dizer, só seria possível se eu estivesse disposta a ter taquicardia e mais tremores do que os que já tenho por si só.Agradeço estar protegida nesta casa de campo, mas ao mesmo tempo me irrita que o relógio continue avançando e eu ainda não tenha informações de Luciano. Olho novamente pela janela do meu quarto, preocupada. Não há ninguém entrando.Então, meu celular toca. Viro-me para vê-lo naquela prateleira e corro para atendê-lo. Fico desanimada ao perceber que não é Luciano, mas sim Amanda. Ela está solicitando uma videochamada, aceito de acordo com o plano. Qual era o plano? Se Luciano não se comunicasse comigo, era porque o plano havia continuado; se ele se comunicasse, era porque o plano havia mudado. Complicado? Eu sei.Esta incerteza não me convence, então, dou uma olhada em Amy que está assistindo televisão, e saio para o corredor. Ali, atendo o
Levanto minha cabeça sem deixar de abraçá-lo, para notar que ele tem o lábio superior rachado e com um pouco de sangue.— Você está inteiro. Volte inteiro todos os dias e vou garantir que me alegre com isso — asseguro.Ele sorri e acaricia meu rosto. O alívio que sinto é imediato, embora a mão com que me acaricia tenha os nós dos dedos machucados.— Acabou? Vocês pegaram os dois? — questiono esperançosa.— Só a Anfisa. Vladimir ainda está foragido, estivemos perto — revela.Já não estou tão aliviada, me afasto dele.— E agora? Onde a estão mantendo? Vão usá-la como isca?— Julia está com ela. Gostaria de dizer que, interrogando-a como uma vez me interrogaram por culpa dela, obteremos informações, mas ela não deve saber do paradeiro dele. Vladimir se livrou dela. Não acreditamos que ela interesse a ele neste nível. Ele está... quase... sozinho — explica.— Quase?— Nossa teoria é que ele buscará uma forma de sair do país, que veio precisamente pelo abrigo que um dos aliados que lhe rest