A refeição transcorre bem se eu ignoro sua existência, comemos a salada, o macarrão, o frango, e chegamos à sobremesa. Mas preciso ir ao banheiro, me retiro rapidamente para lá, faço o que tinha que fazer e quando saio...Leonel está me esperando do lado de fora, no corredor.— Podemos conversar por alguns minutos, filha? — pergunta ele abatido e sem energia.Quero dizer que não, mesmo assim, faz tanto tempo que estou brigada com ele, que cedo. Me abraço de desconforto.— Que seja rápido. O tiramisù está me esperando...Leonel sorri com minha piada. Céus, não gosto de estar assim com meu pai. Tê-lo por perto é pior.— Desde que você chegou à minha vida, minha maior prioridade foi cuidar de você. Ganhar sua confiança e carinho. Recuperar o tempo perdido — afirma, meu coração se sente pequeno como de um pintinho — Nada do que faço é para o seu mal, ou pelo menos não penso que seja para o seu mal.— Do que você pensa para o que é real, há uma grande distância. Você sabe que agiu errado...
Tente escapar de alguém com quem você compartilha o mesmo círculo social, e estará querendo fazer algo impossível. Com absoluta certeza, estou me apresentando na festa de aniversário da Amber. Seus aniversários eram dos mais comentados todos os anos por sua opulência e por não economizar em nada. Uma prova disso é a temática deste ano, Old Hollywood Glam.Tive que pular a entrada na mansão que simulava um tapete vermelho, com fotógrafos reunidos fingindo desespero para obter fotos dos convidados. Era parte da fantasia, assim como a ambientação, e nós presentes parecíamos ter voltado 70 anos no tempo.Esta é a casa de campo dos avós da Amber, a mesma pela qual passeio entre os convidados e cumprimento a nata da sociedade. Ou pelo menos, os que vivem nesta cidade. Recebo vários elogios pelo meu vestido vermelho de seda, aquele que tem um grande decote nas costas e na frente. Combinamos que não tenho vergonha de mostrar meus atributos, e de qualquer forma as joias serviam de distração.Em
— Embora, agora que estamos tão próximos... seria bom examinar sua obsessão particular por eles — diz Ryan, focando no longo colar de diamantes que cai pelo meu decote e costas.Sei que ele não está olhando para o colar, está olhando para os meus seios. Reviro os olhos e empurro seu rosto para longe de mim com a palma da mão.— Quanto álcool você já bebeu? Não é muito cedo para estar se fazendo de ridículo? — comento com rispidez.O grupo leva na brincadeira, assim como Ryan. Outra aposta que posso jurar que ele tem com Kit é que os dois querem me levar para a cama. Ainda não caí, nem penso em cair; a aposta deles me parece uma piada boba. Claro que para Lorenzo a piada não tem graça, ele está mais sério do que nunca.— Então não há mágoa entre vocês dois? A paz foi declarada? — pergunta Ana Maria.— Mágoa? De jeito nenhum. Isso nunca existiu entre nós. Na verdade... — pego uma taça da bandeja que um dos garçons traz — Já que estamos todos reunidos, está na hora do Loren dar a boa notí
— Ele é... maravilhoso, tão atencioso, gentil e responsável. Nunca conheci um homem tão maduro nessa idade. Sou sortuda por ele ter se interessado por mim — continua Emma.Eu forço um sorriso, meu pescoço dói de tanta tensão. Tento beber, mas minha bebida acabou, faço um sinal para o garçom mais próximo me trazer outra dose. Ele me entrega.— Obrigada... — digo com a tensão ainda no pescoço.— E o pedido de casamento. Você deveria ter estado lá. Foi ao entardecer, ele cobriu a areia com rosas e se ajoelhou na minha frente. Lindo, tão íntimo, só nós dois — continua.Eu bebo mais. Não me reconheço, não sei quem sou neste momento.— Parece... encantador — digo com o rosto doendo de tanto segurar o sorriso.— Eu sei. Se você soubesse das conversas que temos sobre nossos futuros filhos...Bebo mais, mais do que seria prudente. O celular de Emma toca, e ela me faz gestos de que precisa atender. Ela desaparece pelas portas que dão para o jardim. Eu peço outra taça, porque preciso.— Quer venc
Isso me faz sentir bem. Me sinto vingada por ter previsto o comportamento de Loren. Por ver como seu rosto de desespero se transforma em um de compreensão, de perceber que ele caiu na armadilha sozinho.— Perdeu alguma coisa por acaso, Loren? — pergunto com maldade.— A única que perdeu algo foi você. A cabeça — responde ele irritado. Isso me diverte, toco minha cabeça.— É mesmo? Acho que ela ainda está grudada no meu corpo — sorrio — Você é quem parece ter perdido algo por aqui. Seu suposto desinteresse por mim.Ele sorri olhando para o lado. Como se apenas me ver o irritasse. O sentimento era recíproco.— Me desculpe por guardar um mínimo de preocupação por você. Por me preocupar que você não fosse dormir com um canalha como Ryan depois de ter bebido tanto esta noite — exclama furioso.Isso me faz sorrir ainda mais.— Você ainda se preocupa comigo? Essa é nova.— Esquece, para você sou apenas mais um jogo — ele tenta ir embora.Eu o impeço, adiantando-me e bloqueando a porta que fec
— Não tem graça — diz Lorenzo.— Ninguém disse que tem. É que o riso é um efeito colateral do álcool — rio mais e olho para ele.Nossos ombros estão se tocando, na verdade todo o lado direito do meu corpo está em contato com todo o lado esquerdo do corpo dele. Se sente natural, como antes da briga na minha casa.— Ainda vai negar que te falta maturidade quando sua primeira reação foi nos esconder debaixo da cama? — ele pergunta, embora desta vez o faça em um tom nostálgico, acessível.— Ah, era melhor que Amber, Ryan e Emma nos vissem discutindo sozinhos em um quarto. Isso seria melhor? — pergunto.— O mais engraçado seria se eles pensassem como você e olhassem debaixo da cama — propõe divertido.— Isso teria sido devastador — respondo igualmente divertida.Ambos sorrimos, ele olhando para o chão e eu olhando para ele. Assim, de perto e na escuridão, me pergunto como posso consertar isso, como podemos voltar a ser como antes. Nunca tinha sido amiga de alguém por tanto tempo, Loren e eu
Narrado por Lorenzo LewisEu adorava o jeito como seus olhos brilhavam ao falar das coisas que a apaixonavam. Adorava como, quando ria, sua voz podia ser ouvida a quilômetros de distância. Adorava seu caráter forte e obstinado em cumprir com o que se propunha. Adorava sua gentileza e coração nobre, aquele que surgia quando eu menos esperava. Até mesmo adorava como seu cabelo ondulava ao vento quando ela corria para onde eu costumava estar. E em cada uma dessas pequenas coisas, nascia uma explicação para o meu amor por Sara Brown.Um amor não correspondido do qual todos pareciam ter percebido, menos ela. Algumas vezes me perguntei se ela sabia dessa intensidade com que a amava e que me assustava a mim mesmo; dessa paixão que me consumia como o fogo consome a lenha. Mas a um desejo condenado ao fracasso como era o meu amor, devia ser mais fácil ignorá-lo do que considerá-lo.Por que fiquei tanto tempo nesse limbo venenoso? Essa era uma boa pergunta, uma cuja resposta era muito dolorosa d
É uma grande, grande ironia, que ela tenha voltado à minha vida para virá-la de cabeça para baixo. Meter-se onde ninguém a chamou e ignorar meu pedido para não comparecer ao meu casamento. Não calculei bem o grau de teimosia de Sara. Nem liderar o projeto que sabotará seu projeto ou mentir mil vezes dizendo que a quero longe de mim serviu para que ela deixe de se aproximar. Quanto mais a afasto, mais ela se aproxima.E não gosto, não gosto do que acabou de acontecer entre nós. Como ela me deixou tocar seu corpo daquela maneira, como meu próprio corpo reagiu à sua proximidade no armário, e como chegou a se iludir debaixo daquela cama.Para quê? Para sair correndo ao deixar de ouvir os gemidos de Ryan e Amber. O que acrescentava uma boa dose de patetismo. O único modo em que Sara chegou a reagir a mim como homem foi na escuridão de um armário, sem me ver, sem falar e pela excitação de ouvir o que ouvimos.Não estou irritado com ela. Estou irritado comigo. Essa mesma irritação é o que res